Capítulo 4


À noite em minha casa não consigo vibrar pelo fato de ser uma sexta feira porque eu trouxe uma montoeira de documentos para conferir e lançar pelo acesso remoto que tenho ao servidor do escritório. A concentração não acontece. Os assuntos se misturam em minhas ideias. Meu divórcio. As decisões do seu Camilo às minhas costas. Meus filhos. Meu excesso de zelo e afazeres na profissão. E o tal de Braz. Queria entender porque ele ocupa alguns segundos de meus pensamentos...

Minha consciência perturba com força. Devia buscar minhas crianças na manhã seguinte, porém sou obrigado a me explicar com a mãe deles sobre a reunião às quinze horas com um cliente da contabilidade. Ouço-a apenas respirar fundo como demonstração de saturação e o seu silêncio é meu momento de achar uma defesa, mas eu corto e digo que depois do "evento" eu pego as crianças. Sinto falta deles e nada me esforço e, sinto uma raiva tão grande de mim que não consigo me compreender. Porque eu ainda faço isso? Será que se eu mudasse, se eu pedisse uma nova chance, adiantaria? Será que eu mudaria para ter minha família de volta?

Quando mencionei a palavra separação pela primeira vez, Iraci não me forçou a nada, apenas deu-me espaço e disse que me sentia infeliz. Como poderia ser feliz tendo dois filhos queridos e pequenos que choram em cada despedida? Eu fui feito para eles e eles por mim, mas não consigo dar um passo e resgatar meu passado. Meu divórcio é um fato.

Saí de casa há seis meses e pelo menos metade desse tempo, traduzo-me em apatia total. Nem sexo. Não procuro por companhia, pois se fosse o caso não teria ido adiante com a separação. Não sei se posso chamar de vida o que descrevo em seguida, pois respiro meu trabalho, almoço lendo qualquer artigo contábil, aproveito a fila de espera da Receita para ler uma Instrução Normativa ou uma Lei Complementar no banheiro ou algum novo Decreto antes de dormir. Pessoas mais maduras tentam me alertar sobre os aspectos nocivos de meus exageros. Alguns dizem apenas por dizer e outros por terem vivido o mesmo que eu. 

Ainda tenho esperança de me salvar.

Acordo cedo no sábado quente, exatamente dia 9 de janeiro de 2010. Sempre fui bom com datas, pelo menos até aqui. Paro meu carro na Praia Brava e corro em média dois quilômetros. Perdi tanto peso nos últimos meses que minha ex esposa demonstra preocupação, talvez mais do que eu, ao me agendar um endocrinologista. Eu não fui à consulta. Não vi motivos para essa preocupação e o tipo de especialidade do médico não me parece necessária. Depois do almoço que eu mesmo preparei, analiso uma dúzia de balancetes de micro empresas e marco nestes as contas que me chamam a atenção para eu gerar um razão e investigar. Perto das quatorze, tomo um banho morno e sequer hesito na escolha de roupa: bermuda e uma camisa polo, roupa de dia de folga e um pouco usual (para eu) tênis. Ainda que eu seja o mesmo engomadinho de sempre, eu penso que alguém possa me olhar como pessoa descolada.

Eu chego uns quinze minutos antes e a pontualidade dele me recebe nesses quinze minutos antes do agendado. Isso conta pontos comigo. Seu aperto de mão não pode ser diferente de firme, sua mão é grande, Braz é monumental e só isso me causa um arrepio estranhíssimo e logo sou convidado a entrar na sala deliciosamente refrescada pelo ar condicionado.

Nem sei porque fiquei travado como um adolescente ao receber uma olhada sua dos meus pés até a cara que já devia estar vermelha. Seu olhar faz-me sentir nu. Isso é estranho, jamais me aconteceu na presença de um homem que simplesmente olha nos olhos de outro homem de eu ficar tão desconcertado. Juro que quase dei uma risada cheia de desprezo pra espantar a loucura dos meus últimos pensamentos.

— Seus colaboradores não trabalham no sábado à tarde?

— Aqui no escritório não. 

Claro, pensei, senão a tal secretária dele é quem teria me atendido ao interfone e não o próprio seu Braz. 

— Depois que saí ontem eu pensei em te ligar para cancelar. Não havia tanto assuntos pendentes... era só a questão do inventário. Não havia razão pra te fazer perder tempo comigo. — eu explico.

— Não tem problemas, vamos conversar mais à vontade hoje — essas palavras dele quase me impelem a questionar: "porque eu estou tenso?". Ele me sorri e parece tentar de verdade me deixar mais calmo — Aceita um cafezinho, água, um suquinho?

— Não, obrigado, Braz. Seu pai e você também sempre consultaram o seu Camilo, então quero aproveitar para me colocar a disposição, pra qualquer assunto. Não sei como explicar, mas sou obrigado te convencer sobre a necessidade do valor do Estoque. Eu trouxe uma planilha pra demonstrar, posso?

— Claro... — Braz escuta minha explicação e demonstração do resultado enquanto eu tento ser o mais ético que é possível para não detonar meu patrão com quem não consigo contato há quase uma semana. Eu vou à casa desse velho ainda hoje e exigir que me expliquei porque está fazendo esse tipo de coisa. 

O dono dos mercados comenta como que adquiriu suas cotas e também reclama da falta de comunicação com seu Camilo:

— Olha Túlio, eu agradeço tua disponibilidade, realmente está muito complicada a comunicação com seu chefe. Eu vou passar isso para o meu gerente geral. Mas não preciso contar todas as minhas mercadorias a cada três meses né?

— Acho que não. Eu entendo que se alimentar o sistema corretamente e não vender nada sem cupom fiscal, dar entrada das mercadorias somente com nota, fazer devolução de venda com nota quando o cliente quer trocar algo e não aceitar que essas empresas levem as devoluções de compra sem notas, tem chance de não dar furo...

— Só isso? — ele sorri largamente e eu sinto um gelo na barriga.

— Aham... — eu sorrio, mas desvio do seu olhar para o antebraço peludo do homem. Meu celular vibra no bolso. — Desculpa...

— Pode atender.

Eu rapidamente informo à Iraci que estou quase liberado e ela diz que minha filha estava chateada e febril com saudades de mim. Eu omito isso durante a conversa com o Braz que de repente se acha confortável para falar de suas aquisições, o que ele "acha" que deve declarar e o que ele não entende porque TEM que declarar. Bastante teimoso, chega a irritar às vezes, mas pelo menos é seguro do que fala. Inclusive descubro que seu Camilo deixou de fora de uma de suas declarações, um terreno onde ele tem planos de construir imóveis para locação em algum futuro sem previsão.

— Percebi que tu tá bem disperso, Túlio. — ele pronuncia meu nome e me causa outro arrepio estranho — Problemas?

— Estou separado há poucos meses e providenciando o divórcio. Aí vem a culpa de ter me doado demais ao trabalho e deixado a família de lado. — comento sem graça — Minha filha, ontem era um bebê e hoje está no primeiro ano do fundamental. Desculpe trazer isso para a reunião, acho que... deixa pra lá. Esse é meu final de semana, entende?

— Desculpar? Por mim está tranquilo... quando agendei contigo nem imaginava sua situação.

— Achei que você não ia aceitar bem se eu desmarcasse.

— Ah, por favor. Eu não tenho filhos nem ex esposa... mas um mínimo de empatia com problemas alheios. Tem dois filhos, de que idade?

— Ela tem seis e ele tem dois.

— É complicado... filhos, separação, falta de atenção, ruptura. Se afastando agora, você nunca mais conseguirá recuperar-se dessa distância. 

— Estou lutando pra isso não acontecer. Me sinto péssimo por ter me separado de uma pessoa como a Ira, se fosse o caso, lutaria por uma segunda chance. — não sou emotivo, nunca o fui, ainda mais na frente de um homem estranho que parece capaz de extrair minhas confissões. E até mesmo parece ter interesse em toda a minha história de repente. Abro demais meu coração, falo sobre minhas motivações e meus erros confessos. Ele absorve tudo, cada palavra. Seus olhos penetram além de minha íris.

— Posso ser sincero? — eu simplesmente não lhe nego nada — Você é o tipo de cara que sempre vai focar mais no seu trabalho do que em sua família. Se sua família fosse sua prioridade, não teria vindo hoje. Se estiver para divorciar-se vá em frente com isso, separados nunca conseguem "emendar" o que foi desfeito, correto?

Assusto-me com a forma imperativa deste homem que nem me conhece e diz o que devo fazer. Ele é mandão, tanto que faz minha azia queimar com mais força. Detesto ser mandado.

— Fala com tanta propriedade, já foi casado? — pergunto de forma ríspida sentindo raiva do seu julgamento sobre um assunto que me causa tanto pesar — É fácil julgar quando não sente na pele...

Meu antebraço apoiado sobre a mesa não reage ao toque de sua mão quente quando pousa sobre a minha, tirando-me a aliança lentamente para aproximar de seus olhos escuros.

— Iraci. Não tá separado? Ainda está usando sua aliança... — Não consigo reagir, nem retrucar ou no mínimo tomar de volta o pequeno objeto anelar. — Ainda tem tesão por ela?

— Hã? — Não creio nas palavras que saem desobedientes de minha boca. Ele sorri malicioso. — Não. Mas porque me pergunta...

— Tem amante? Ou teve?

— Não. — Não consigo lhe mentir e dizer sim, não ou "te fode, cuida da sua vida que cuido da minha". Eu simplesmente não reajo. 

— Você é jovem, um homem bonito, tem um corpo bonito e olhos lindos. Tem muita vida para viver. Não se limite ao trabalho, Túlio. Tem alguém esquentando sua cama?

— Não. Eu não...

— Se masturbou ontem ou hoje?

— Não. — Sinto-me febril, dominado, sem respirar, sem piscar os olhos, sem coragem de afronta-lo e acabar com o clima. Ou meter um soco nesse homem abusado.

— Isso é o que te faz falta... 

Não argumento, não sei o que argumentar. Deixo que meus olhos desçam dos seus para seu nariz, seu sorriso, abaixo do pescoço para os pelos de seu peito que escapam pela parte superior da camisa social azul clara, seus braços fortes, então seu antebraço forrado de pelos pretos e abundantes. Estou maluco e desejo tocar, sentir sua textura. 

Deus, que pensamento horrível!

— Pode tocar. — Ele diz e estica seu braço. — Isso te excita?

Movo a cabeça negando, mas meus dedos não obedecem ao comando de meu cérebro e sim a vontade dele, de Braz e logo me percebo acariciando seus pelos grossos. Estou mais que atordoado, estou excitado com meu membro saindo da inércia após meses sem tesão algum. Sou seduzido por um homem e não consigo lutar contra.

— Vem... quero te sentir. Vem aqui...

Novamente parece uma ordem e que prontamente obedeço. Levanto-me e contorno a mesa para ficar de pé entre suas pernas afastadas. Braz levanta-se e com isso sinto uma lufada de perfume marcante misturado ao cheiro viril de homem. Sem tirar seus olhos escuros dos meus, ele abre a camisa para desvendar-me um peitoral amplo, musculoso e peludo no qual afundo meus dedos para senti-los. Todos os meus sentidos além do tato querem senti-lo. Seu cheiro, seu sabor, seus batimentos cardíacos, seu sorriso... Suas mãos me puxam pela cintura acabando com a distância, então ele me beija, forçando seus lábios contra os meus, a língua atrevida e grossa abre passagem entrando em minha boca alimentando-me. Estou febril com fome e tesão. O imito quando Braz chupa meu lábio inferior com força sem delicadeza, quando sua barba áspera arranha minha cara e suas mordidas deliciosamente dolorosas alcançam meu pescoço. Solto um pequeno e lânguido gemido e me empurro contra o corpo desse homem. Um homem que massageia minha ereção por cima da roupa, enquanto sua boca me alimenta e seu cheiro me deixa bêbado. Meu corpo está sob seu domínio, não tenho força para lutar, nem mesmo quero impedi-lo. Jamais senti tanto prazer com apenas um beijo e um toque sobre a roupa em meu pênis...

Percebo que agarrei seus cabelos com minhas mãos desesperadas, com intuito de me fundir a ele. Braz muito lentamente abre o velcro de minha bermuda e pela primeira vez sinto a mão forte de um homem agarrando meus testículos e amassando-os deliciosamente, como se meu saco implorasse pelo toque, reclamando sua carência.

Sou envolvido pelo êxtase...

Estou à beira de um orgasmo...

Minha pelve queima, meu ânus se contrai e dilata repetidas vezes, meus mamilos ficam tão sensíveis faz o atrito com a camisa se tornar uma fricção dolorosa e deliciosa. Meus gemidos são impossíveis de controlar, meus pelos arrepiam-se pelo corpo inteiro e me vem a sensação deliciosa de prazer, alívio e alegria de um clímax sexual. Preciso ser amparado para não cair, então encosto meu rosto quente em seu peito enquanto pequenos espasmos me ocorrem antes que eu caia na real...

— Você é louco?! Não me encosta!

— Já encostei.

— Fica longe. Isso é assédio.

— Não é assédio quando as duas partes colaboram e VOCÊ aproveitou bem o momento.

— Faz isso com todo mundo!

— Não afirme isso. Vai negar que tivemos uma boa química agora há pouco? VOCÊ também quis.

— Não sou viado. Isso foi a coisa mais absurda e nojenta... Fica longe. — Falo com muita raiva e com intenção de ofender, mas ele não se rebaixa e chega mais perto, perigosamente perto enquanto fecho meu velcro ao me ajeitar da pior maneira.

— Acha que nossa brincadeira o transformou em algo repugnante? Que pensamento limitado o seu. Acha que EU sou viado? O que é viado? Quando fala dessa maneira tenta menosprezar um homem gay. Fica tranquilo que quando a lua cheia aparecer você não vai virar viado como eu.

Desconsertado, sequer me despeço, bato sua porta ao sair e não olho na cara de quem quer que passe por mim. Sinto medo de que o acontecimento recente fique muito explícito em minhas feições.

Principalmente medo de minhas próprias reações.

***



*** 

Oi pessoal obrigado pelos desejos de melhoras. Estou lutando muito e reagindo um pouco melhor e o cara aqui do lado cheio de paciência coitado, mas é assim, um cuida do outro. ♥

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