Capítulo 20


Um ano a mais é um bom tempo para se vivenciar as possibilidades de um romance e quando percebemos, desde aquele dia nove de janeiro de 2010, dois anos parecem ter voado.

A tranquilidade quando alcançada nos leva ao comodismo e estávamos bem tranquilos àquela altura. Com relação aos meus filhos, eu ainda não via a necessidade de abordar o assunto e quanto aos amigos, a maioria não fazia comentários diretamente (alguns nem sabiam). 

Como não abordei antes com amplitude, pretendo expor um pouco da minha relação com meu pai, seu Pedro. Um descendente de alemão que basicamente se criou falando a língua germânica que a família manteve até sua geração. Já eu tive pouco contato devido às divergências deste homem com minha mãe. De modo algum eu falarei mal, mas falarei sobre a relação não muito apegada, nem muito afetuosa, porque ele sempre foi um homem seco, aparentemente frio e do qual lembro de ter abraçado poucas vezes. 

Exato. Para muitas pessoas, isso pareceria um absurdo ao ler. 

Seu Pedro é até hoje um homem igual àquele pai trabalhador, sem tempo para ouvir ou falar bobagens, principal modelo de caráter que procuro imitar, bom companheiro para tomar um chimarrão enquanto explica sobre sua lavoura, suas duas ou três vacas leiteiras, suas dezenas de galinhas e ninhadas novas, seus pés de frutas e sobre seus devedores, pequenos empresários que compram leite e ovos semanalmente. Um homem simples e que dá valor à simplicidade das coisas, porém um homem difícil de mudar de opinião sobre assuntos ultrapassados, feridas doloridas como o racismo ou conceitos que simplesmente herdamos e passamos adiante, como eu já comentei. Fora que é a pessoa mais teimosa desse universo. Se ele disser que o céu tá verde com bolinhas coloridas, não há quem o convença do contrário... e quando erra, não se rebaixa.

— Teu pai é teimoso??? Aham...

— Não começa, Braz...

Bem, vamos mudar de assunto, é melhor. 

Penso muito mais em minha falecida mãe quando o assunto é família, na falta que ela me faz até hoje. Me questiono se seríamos mais próximos caso ainda estivesse viva, afinal não lembro de momentos exageradamente fofos com dona Ingrid também. Sempre foi bastante direta e fechada no que se refere à demonstrações de sentimentalismo e exposição de seus dramas particulares. Um pouco mais carinhosa que ele, me chamou de neném até os dez anos, sem imaginar o quanto os coleguinhas e primos debochavam de mim por isso. Enfim, meus pais tinham uma convivência que posso afirmar ter sido bastante respeitosa, sem momentos que me deixassem perceber a afetividade entre eles. Tinha no lar o que eu precisava para crescer e reproduzir valores morais bem ensinados e bem aprendidos. 

Só não trabalhei na enxada, porque minha mãe brigou para que eu fosse à escola e sempre entrava na briga por mim quando o pai dizia que eu ia virar mulherzinha caso não trabalhasse no pesado para aprender lições da vida. Após o falecimento dela, ele não se opôs quando minha madrinha de Itajaí me levou para morar com sua família, foi apenas em minha formatura em 2001 e negou-se em ir ao meu casamento... por um motivo que eu nunca compreendi, embora saiba do que se trata. No entanto não resistiu em conhecer a primeira neta e ficou apaixonado pela criança, mas decepcionado quando Iraci disse que não pretendia batizá-la naquela fase. Como católico que sou, fiquei um tanto perturbado até aceitar outra visão diferente da minha. Iraci é kardecista e a favor da liberdade dos meus filhos optarem pelo batismo ou não ao crescerem.

Ele não aceitou ser contrariado na época e a chamou de macumbeira, discutimos feio e por anos não nos falamos. Então ele soube que eu seria pai novamente e foi se achegando de maneira muito reservada e jamais opinou em minha separação.

— Seu pai ligou pra cá Túlio. Estranho...

— Estranho porque?

— Me tratou bem, perguntou como eu estava e quando eu abri a boca, me cortou: "deixa eu falar com os netinhos". — Iraci dá uma risada e diz que acha esse jeito dele engraçado. Eu retruco que achei meio mal educado da parte dele. — Para um homem que desligava na minha cara quando não eras tu que atendia ao telefone, acho que evoluiu... 

— Pelo menos te tratou bem, menos mal.


Janeiro de 2012, dia seis, Braz fez questão de comemorar e meio que me forçou a pedir dois dias de férias para emendar com o final de semana, depois de discutirmos que eu recém tinha retornado das férias coletivas.

— Aham, atendeu gente a três por quatro na minha frente. Que tipo de férias são essas? Não desligasse daquele escritório!

— Tu desliga do ter comércio?

— Tá... sem briga, hoje. Dois aninhos de amor da minha parte, teimosia da sua, sua coisa braba.

— Sou insuportável.

— E dramático.

— Poxa...

— E manhoso... Tem dia que faz jus à tua ascendência de alemão brabo. Tem dia que é um dengoso, abusa de mim e me coloca de quatro.

— Nunca coloquei não.

— Figurativamente, alemão. Ei, sh... tem uma coisinha pra ti aqui no meu porta luvas. — Braz dirige concentrado enquanto encontro uma sacola de joalheria e dentro dela uma caixinha. Minhas entranhas remexem quando abro a caixa preta que contém dois anéis iguais em ouro branco. — Não vou me ajoelhar e nem fazer cerimônia. Mas queria...

— Entendi, seu Braz. Não significa pedido de casamento né? Sabe...

— Não é pedido de casamento, amor da minha vida, paixão bandida, é um anel de compromisso, um dengo pra comemorar dois aninhos contigo. E que sorte a tua, hein? Ah, de nada.

— Obrigado, amor...

— Pessoa pra cortar clima, és tu.

— Parece que me odeia...

Pelo caminho até o hotel onde vamos nos hospedar, paramos para abastecer e sem cerimônia, ele coloca o anel em meu dedo da mão direita...

— Um dia ele vai pra mão esquerda... — diz brincando e rindo, sem me beijar.

— Seu gostoso. — digo quando adentramos o flat e eu agarro ansioso, iniciando minha tarefa de despi-lo para usufruir inteiramente de seu grande corpo. Estamos quase dançando ao tirarmos as roupas um do outro, sempre aos beijos molhados. Sua boca morde a pontinha da minha orelha, descendo com essas mordidas deliciosas por meu pescoço até meu ombro. Meu celular toca na tentativa de me atrapalhar, mas o ignoro. Aperto seu pau até arrancar um gemido e ele aperta forte minha bunda como vingança depois dá-me um tapa e leva uma mordida na boca. Assim nos provocamos mais um pouco. De novo o toque irritante quase me desconcentra.

— Porra, eu vou desligar essa merda. — Quando vejo o número de Ira não hesito em ligar de volta. — Fala Ira.

— Túlio, que merda, quer me matar do coração? Você estava em casa... não tá em casa... onde tá?

— Ira, eu não estou em casa, não me assusta, o que aconteceu com as crianças?

— Tudo bem, não são eles, é sua casa. Seu vizinho ligou para me avisar que alguém tentou arrombar, mas como disparou o alarme, a pessoa fugiu de moto, também disse que seu carro estava lá e você não me atendia, cabeção.

Eu não consigo falar de tão assustado, Braz tira-me o aparelho das mãos estando mais calmo e conversa com minha ex. 

— E se nós estivéssemos lá, Braz. — Ele não fala só me abraça e beija o topo da minha cabeça.

— Se acalma. Bens materiais, nós construímos de novo se precisar, mas uma vida ninguém pode repor. Furtos acontecem, sorte que o alarme disparou, a vizinhança chamou a polícia... calma. 

— Eu sei, mas estou assustado.

— Vamos voltar, se acalma, anjo. 

Registro o boletim de ocorrência, ainda que não tenham furtado nada, minha porta dos fundos foi arrebentada e ali deixaram uma garrafa pet de 600 ml com gasolina. Meu Deus... entro em pânico e começo a tremer. Só penso em me mudar pra longe e apavorado imagino coisas horríveis que poderiam acontecer comigo e meus filhos se estivéssemos por ali. 

Meu patrão liga, minha secretária também liga chorando e eu estranho como essas pessoas já ficaram sabendo. Mas como a cabeça tá uma confusão absurda, volto ao pânico.

— Não consigo ficar aqui em casa hoje. 

— Nem amanhã. Vai ficar lá em casa até resolver isso, porque eu que não fico tranquilo se tu voltar pra cá. Calma, não treme assim.

— Tô muito apavorado. 

Perdi a conta de quantas noites passei em claro trabalhando nas madrugadas, organizando mentalmente minha agenda, lendo alguma instrução nova, tentando entender alguns procedimentos novos, podendo assim interagir com o líder competente de cada setor ou muitas vezes fazendo cursos EAD em casa, deixando de brincar com os pequenos ou conferindo extratos de banco com o razão das empresas no lugar de estar namorando gostoso minha ex esposa. Trabalhei feito maluco para trazer clientes e segurar cada um deles, afim de ter um patrimônio decente e não dever nada a ninguém. Hoje minha falta de sono é devido a um incidente em minha residência, pela qual luto para manter as parcelas do financiamento em dia. Nenhum bem foi subtraído, mas minha paz foi roubada.

O dia clareou e sinto a brisa da manhã balançando a cortina do quarto de Braz que dorme placidamente de bruços. O homem que se tornou o meu porto seguro. Em meu dedo há uma prova de que ele quer estar comigo e que considera nossa relação um compromisso inquebrável. 

— Se a pessoa tentou uma vez e não conseguiu, não vai tentar de novo?

— Não pensa mais nisso. Você tá seguro aqui. Logo a polícia descobre quem é esse filho da puta.

Eu sei que Braz só quer me deixar mais calmo, mas não é tão fácil. Prometi a mim mesmo que não ficaria acusando pessoas mentalmente, por tudo deste mundo, queria que fosse apenas um equívoco. Braz levanta, toma seu banho, me traz um analgésico e sua empregada me traz até café na cama quando ele vai para o mercado, me prometendo que antes do almoço volta para ficar a tarde comigo. Ligo para Ira que me tranquiliza dizendo que está tudo bem com ela e as crianças e que está recebendo visita de uns amigos nossos. Depois ligo para o meu patrão que me sugere pegar uns dois dias para organizar tanto as ideias como as questões ligadas ao (quase) furto e ameaça à minha integridade e desta forma, passo meu aniversário de namoro ocupado com isso. Alguém quis me assustar ou será que tentaria me matar?

— Pai? — meu pai ligando durante a semana fortalece minha neurose — Quando vai aparecer por aqui?

— Não dá para viajar nessa época porque as meninas tem aula. Olha piá, o pai ligou pra saber se você tá "bão". Só soube hoje que roubaram na tua casa.

— Como que o senhor soube disso?

— Uma moça ligou pra mim, só que não falou o nome e disse que era tua namorada.

— Quê??? Qual nome? Como... — quase que pergunto "como era a moça". Tudo que ele tem de informação é uma voz e uma mentira — Pai, não tenho namorada, entendeu? 

Meu Deus, quem será?

— Quando eu for te visitar, vou levar um monte de coisa, mas só lá pro final de dezembro... — nossa conversa prossegue, fazendo-me lembrar do tanto de coisa que me faz carregar quando volto de sua casa: sabão caseiro, carne de porco, banha, ovos, quilos de erva mate, feijão, milho de pipoca, salame, queijo colonial e abobora moranga tamanho monstro, sempre um exagero. 

Levanto e tomo uma ducha rápida, escovo os dentes com uma escova que Itália me comprou. Eu e ela conversamos um pouco e sinto sono que me faz lutar para manter os olhos abertos. Caio na cama antes das dezenove horas e apago, sem sonhar com nada dessa vez, tal o efeito da "baga" que tomei. Sinto minhas costas coçando e acordo irritado.

— Porra, não estou com cabeça para isso. O pai me ligou...

— O meu sogro? Contou que ficou noivo? — ele tira sarro, eu fico desconfortável e finjo não ter ouvido. Relato a conversa e a "namorada" que ligou pra lá. Braz coloca duas pulgas atrás de minha orelha quando pergunta se eu já iludi alguma mulher e dois nomes vêm a minha cabeça, mesmo que eu não tenha interesse amoroso por ambas. Já que é para suspeitar... — Olha essa filmagem que o teu vizinho mandou... o cara da moto tava rondando a casa quando nós ainda estávamos dentro. Passou várias vezes... ó! Passou por nós aqui, tá vendo, ele cuidou a hora que a gente saiu. 

— Invadiu de manhã, que cara doido! Acho que foi lá só pra me fazer mal. Acho que ele pensou que você tinha ido e eu fiquei sozinho. 

— Não, não pensa uma coisa horrível dessas. Vou conversar com meu amigo "paredão", o filho da Itália que logo descobre quem foi. Agora se acalma que tô precisando transar... 

— Porra, para de me tratar como uma puta!

Ele revira os olhos e me solta, mas logo depois entra no chuveiro comigo.  É sempre o maior tesão ver o meu cara pelado com a água a escorrer por seu corpo. Seu cabelo preto com fios grossos tende a armar se não o manter num corte curto, gosto da forma como ele conserva seus pelos tão naturalmente sem aparar em qualquer parte, o rosto é charmoso e não tem a beleza clássica de traços comuns e isso o torna ainda mais atraente. Enquanto ele enxágua a cabeça mantem os olhos fechados deixando a água espumosa a escorrer pelo rosto, a mesma água faz escorrer a espuma do sabonete do peito, da barriga e da região pubiana. Que se foda, adoro olhar isso, o fio de água que cai do seu pau durante o banho parece uma torneira, esse pensamento me faz rir. Braz já lavou o rosto e está me olhando, até olha para seu pau seguindo meu olhar.

— Porque tá rindo? — Braz pergunta sério e desconfiado. — Depois, eu que trato a pessoa como puta. Lembra no começo do namoro? Era meio assim né?

— Que grosseria!

— É assim né meu amor. Pá de lá, pá de cá. Já disse que tu é sortudo, porque eu te amo com força. — e depois de mexer no meu pau, ele tem coragem de falar — Seu tarado, fica de pau duro facinho, facinho só de ver um homem pelado e inocente a se banhar. 

— Não, não...

— Hoje o papai aqui está muito bravo com meu menino de olhos verdes... — diz enquanto me beija de levinho fazendo um barulho estalado com seus beijos, não me deixando beijar de língua. — Vou te dar castigo hoje, eu posso?

— Castiga que mereço... — É tesão demais, mas ele resolve me deixar sem graça com seus comentários brincalhões.

— Arrebentar essas pregas... 

— Isso é grosseiro. 

— Isso é romantismo segundo os escorpianos.

— Mentira, nós não somos tarados assim... 

Acho que não, pensando bem.

 


***

oi pessoal♥ 

não abandonei não♥ 

deixo um carinho em todo mundo e desejo uma semana maravilhosa♥

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