Capítulo 15
Que vontade de atirar a caixa de chocolates nas costas desse sujeito que anda rebolando até a saída. Ele não vai tirar minha paz. Não vai.
Ai que ódio!
A cabeça de pessoas inseguras com aparência ou de autoestima baixa parece ter uma imaginação mais fértil que as outras. Imagina só se eu tivesse ciúmes, seria pior...
O que aquele cara tem de interessante? Nada!
Ele é só... bonito, perfumado em excesso, independente, baixinho, delicado e de certo, talvez, quem sabe, uma pessoa adorável. Ou não. Pessoas adoráveis não chamam o homem dos outros de "homão". Braz é meu. Mas que ele vai me explicar o que foi isso, por Deus como vai.
Cadê a pessoa que focava só no trabalho, que desligava até da família, que sofria mais quando algum cliente criticava um funcionário da empresa do que quando a ex me criticava por eu trabalhar demais?
— Quem era a menina?
— Para com isso, Júnior. Ele vai ser cliente daqui e não quero que fique debochando.
— Já pensou se a pessoa come esse chocolate e se transforma em borboleta?
— Júnior, chega filho. Vai lançar aquelas despesas da contabilidade que preciso fazer nosso fechamento. — seu pai adentra minha sala e à princípio me salva, só estranho que meu patrão tenha me tirado o acesso às informações da própria contabilidade como se estivesse perdendo a confiança ou querendo apenas ocultar alguma coisa — Aquilo era homem ou mulher?
— Um rapaz, seu Camilo.
— É de programa?
— Claro que não... O Carlinho fabrica chocolate artesanal fino e pelo jeito é bem caprichoso. Deve gastar muito com embalagens e pelo que ele comentou, usa de matéria prima chocolate amargo com teor de cacau acima de 70%...
— Parece mulher de programa.
— Seu Camilo, esse mês fechamos com dois clientes novos...
— Todo desmunhecado... — e de novo interrompe, antes de desaparecer da minha sala. É isso, sempre foi isso que me apavorou. Ia ser uma árdua batalha manter minha decisão. De um lado eu quero ser feliz com o Braz e na contramão vêm todos esses comentários imbecis e julgamentos.
Nesses anos de contabilidade é a primeira vez que uma causa pessoal interfere tanto em meu trabalho. Minha concentração é muito difícil, irritado eu fico coçando a cabeça e sinto azia que só vai embora com a magnésia bisurada. Ao final da tarde ligo para o Braz. Caixa de mensagens. Ligo mais umas vinte vezes e nada dele me atender. Tá me ignorando??? O ciúme nasce, lentamente vira desconfiança, que se transforma em insegurança e engrossa o caldo da raiva. Ele tá fodido!
Deixa eu sentir ciúme.
— Você me ligou?
— Só umas vinte vezes. Não atendeu porque?
Estou puto e ele dá risada do outro lado.
— Deixei o celular na minha sala... agora que voltei.
— Voltou de onde? Tava com quem?
— Eu tava na empresa, tô moído de cansado hoje. — ele parece ofegante. — Como assim "com quem"? Ficou tolo da cabeça?
— Quero falar com você ainda hoje.
— Hoje tô arrebentado, anjo, mas amanhã vou, tá.
— Já sei: "hoje não posso ir na sua casa, alemão, eu tava comendo chocolate". Né, porque você adora bombom. Nem precisa vir nunca mais, vai encher o rabo de bombom de café, HOMÃO.
Ai que raiva! Em menos de uma semana, estou chorando de novo e agora é de ódio!
Porque ele faz isso? É culpa do Braz Joaquim Vieira. Não consigo parar de lembrar do rapaz bonitinho que acha charmoso o MEU namorado.
E depois de secar duas lágrimas, tomo um banho, respiro e ainda assim não me acalmo. Tanto é que não consigo jantar, sem fome total. Olho para aquela caixa de chocolate em cima da minha cama e imagino que possa conter algum feitiço. Quem sabe ele é apaixonado pelo Braz e sabe que estamos juntos e por isso quer nos separar. Pronto! Conseguiu! Instaurou a desconfiança em mim e no Braz a falta de vontade de ficar comigo.
Sem amar novela, é a única coisa que me distrai pela próxima meia hora e perto das dez horas da noite, começa a bater o desespero outra vez. Eu sei o que eu disse no calor da raiva. E se...
— Amor! — tomo um susto grande e o sorriso vai na orelha, mas murcho rapidinho. Tão grande foi a surpresa que "arrotei" a primeira coisa que veio na cabeça. Ele tá brabo? Tá sim. Dá um pouco de medo de olhar o machão caminhando para perto da minha cama.
— Amor é pra me amaciar? Seu malcriado. Repete o que disse no telefone.
— Acho que você que tem coisa pra explicar. Olha aquilo — aponto com o pé a caixa de bombons finos. Ódio. — Conhece ou...
— É do cliente que indiquei, conheço sim. Qual o teu problema?
— Se ouvisse o assanhamento dele quando falava de você... chamou de homão. Aquele oferecido do caralho. Falta de respeito... você é comprometido.
— Ai São Jorge... e a culpa é minha?
— Porquê tava tão cansado? Ele já deu em cima de você? Esse cara foi aquele namorado de dois anos? Vai falando...
— Não tô acreditando nisso.
— Melhor responder.
— Claro amor do Braz, respondo sim: vai tomar no cu.
Mas... Ele tá indo embora?
Eu sabia que tinha coisa errada nesse bombom. Me largo correndo atrás dele, percebendo que estou de cueca boxer e uma camiseta branca das bem ridículas que é melhor o namorado não ver, mas se for me preocupar com vestimenta, já era. Antes que ele trave a porta do carona, eu entro rapidinho e recebo um olhar intrigado.
— Saiu na rua quase pelado! O que tá acontecendo, Túlio?
— Nada.
— Cara, tu parece uma pessoa bipolar às vezes. Tá tudo bem e do nada, inventa um disparate.
— Não vai me dizer porque tá cansado...?
— Eu trabalhei tanto hoje que só queria chegar em casa, tomar um banho, comer qualquer coisa, assistir o JN, me jogar na cama e ligar pro meu alemão, mas o cara que eu adoro consegue detonar tudo isso.
— Namorou com ele?
— Aiai...
— Só me diz... — Braz claramente não quer falar sobre o assunto e sou obrigado a mudar de ideia, então me aproximo dele, que segue me dando bronca enquanto me abraça, aperta minha cintura, provoca e chama de chato. Mas se eu fizer dengo, ele faz o que eu quero — Braz... fica hoje
— Não dá... — ele faz uma pausa — meu namorado não confia em mim e isso me deixou triste, então não posso ficar.
— Por favor.
— Olhos verdes, não fica me olhando com essa cara. Se no passado fiquei com aquele cara ou não, isso faz diferença? E não foi ele quem eu namorei. Ponto final, ouviu?
— Tá... então ficou?
— Túlio desiste, alemão.
Ali mesmo no seu carro, na frente da minha casa, ele me puxa carinhoso para o seu colo, sempre quente e gostoso, me beija, fazendo com que eu me esqueça por segundos que algum vizinho possa nos ver através do insulfilme não muito escuro. E na cama o sono nos aconchega se possível ainda mais, por isso deito minha cabeça sobre o lado esquerdo de seu peito para ouvir o pulsar do coração que me pertence. Quando ele puxa a manta leve sobre ambos, comenta:
— Abre aquele chocolate ali.
Vou fingir que não ouvi.
Acordo-me cedo ainda enlaçado pelo abraço quente de Braz e isso me faz "enforcar" a corrida na praia naquela manhã. Tomo um rápido banho, desço para fazer o café e o espero acordar para conversarmos um pouco. Tive uma noite de sonhos ruins que não fizeram muito sentido, onde eu escondia-me estando nu em locais mais ou menos cheios de pessoas conhecidas. Decido que a melhor forma de começar o dia é resolvendo algo que me perturba e estou pouco me lixando se Braz não quer conversar.
— Bom dia, gatinho. — Ele me beija, vários beijos apaixonados, antes de sentar-se comigo à mesa — Acha que não notei essa cara de inquisidor da Idade Média?
— Braz...
— Porque tu gosta de se torturar? Quer saber, tá fazendo questão de saber? Sim, já rolou um lance rápido, saí duas vezes com Carlinho. Duas! Faz uns cinco anos, hoje ele me respeita e eu o respeito e... respeito você muito mais. Assunto encerrado.
— Tá. — ele pensa que se livrou? Eu nem comecei o interrogatório. E o cara de pau confessou! — Indicou nosso escritório...
— Eu indiquei porque ele comentou que não tem um bom suporte com o seu contador e eu comentei que a minha contabilidade é até chata demais. Entendeu? Tem algum problema em receber indicação?
— Claro que não, isso é ótimo, mas...
— Chega, alemão, assunto chato esse. E já fica avisado, se eu perceber algum beiço por causa DESSE assunto, Túlio, eu vou brigar com você.
Entendi.
— Amor... hoje de noite quero ficar junto...
Ele me abraça e nega um beijo, soprando no meu rosto.
— Ganhei o dia com essa palavra. — e me beija carinhoso, enroscando seu dedo mindinho no meu — Meu alemão jurou jurado que não vai tocar no assunto, por isso, eu vou vir.
Droga. Tá mal explicado e ele quer enterrar o assunto.
— Não jurei não.
— Sh! Escorpiano até as próximas cinco encarnações, tu. — e outro beijo antes de ir.
Nada é tão bom que não possa... estragar. Minha manhã estava linda, ambientes em harmonia, nada fora de lugar aparentemente. Perto das onze hora uma funcionária pede pra falar comigo. Só pela entonação, suspeitei que fosse pedido de demissão e não é que acertei? Tento negociar com ela, mas a Natália vai mudar-se de cidade e antes de eu ligar pro SINE, seu Camilo tenta me jogar uma bomba nas mãos.
— Dá uma chegada ali na Rosa, hoje não tô com cabeça pra lidar com a dona encrenca.
— É sua cliente, seu Camilo. Não faço ideia de como estão as coisas.
— Acho que vou te passar essas nove empresas. Não vale a dor de cabeça. Eles me pagam um percentual do que deixariam de pagar pro fisco e é vantajoso pra todo mundo. Vou te explicar o esquema.
— Não quero saber. Não faço esquema. Sou quadrado, sou chato, pode me xingar de tudo e mandar embora, mas não vou fazer rolo nenhum. O senhor sabe que as declarações são todas digitais hoje em dia, um dia o fisco vai pegar.
— Só se tu denunciar.
— Por isso não quero nem saber.
— Mas no caso da Rosa, tu precisa entrar na jogada. Deixa eu te explicar. — internamente reviro os olhos e fecho a boca para ouvi-lo por meia hora sobre a empresa opta pelo Lucro Real para poder manipular despesas e geralmente declarar prejuízo, deixando de recolher impostos, preferindo se arriscar a pagar um valor para o Camilo em vez de fazer a coisa certa — A culpa é do marido que ela arranjou, vinte e dois anos mais novo, o cara parece um bibelô e aquela cega não acreditava que ele tava passando a perna...
Mais meia hora de papo e eu estou cheio de coisas pra fazer. A agenda sobre minha mesa não me deixa mentir, na folha da data não tem uma linha sobrando e esse homem não para de contar causos. Eu só queria entender que tipo de rolo ele acha que vai me meter. Já repeti umas cem vezes que não faço coisa errada e já brigamos de alterar a voz um com outro. Parece até que anda querendo que eu peça demissão e me foda.
— Pode agendar uma reunião, mas aqui na contabilidade e com o Mauro junto.
— Não, não coloca o Mauro nisso. Tem questões pessoais da Rosa que precisamos preservar. Ela tá querendo separar e vender a loja, precisa que dê lucro. Arruma um jeito que dê pouco lucro... Retifica dois trimestres pra trás...
— Não tenho acesso. Não tenho nada dessa empresa em mãos. Seu Camilo, eu não vou colocar a mão nessa empresa, muito menos meu CRC.
— Como que não vai? — ele ergue a voz e meu sangue borbulha — Aqui, você é pago pra gerenciar...
— As empresas nesse CNPJ e que assino com meu CRC. Inclusive pra eu colocar a mão na empresa do Braz Vieira, o senhor deve me transferir a responsabilidade.
— Tá, tá. Mas olha o balanço... depois falo contigo. Faz nesse final semana em casa, vou trazer meu notebook.
Não seria o primeiro final de semana que eu trabalharia na minha vida pós contabilidade.
Eu já estava há tanto tempo vendo meus filhos todos os finais de semana que fiquei com um peso, entre agregar mais um valor aos meus vencimentos, já que seu Camilo pediu pra acertar a empresa, segundo ele, me garantindo que não é mais pra fazer qualquer maquiagem... e ficar com as crianças. Eu levaria o final de semana inteiro pra revirar o notebook do patrão e ia pesar num lado. Meus filhos estavam acostumados, ansiosos a semana inteira para ficar com o papai e no final da tarde de sábado, o Braz ia engrossar muito se eu não lhe desse atenção. Juro que mentalmente pedi para que o patrão se esquecesse de mim durante a semana. Como o conheci e o que ele vem se tornando é de uma disparidade absurda.
Só queria que a noite chegasse, só queria que quarta, quinta e sexta fossem mais tranquilas e relaxo quando às dezoito em ponto, cometo algo incomum:
— Oi, vamos, vamos todo mundo, hoje sem hora extra. Sexta-feira. — com meu PC desligado, vou entrando nos setores nos quais os funcionários já estão quase todos de pé, se alongando, terminando de desligar estabilizadores, luz da sala, ar condicionado, rindo alto, batendo o ponto e comentando sobre o que acabei de fazer.
— Achei que ia morrer sem ver meu chefinho, vibrando pela sexta. Isso aí Túlio. — Monique debocha e outros entram na sua onda, enquanto confiro se tudo está em ordem para trancar a empresa e dar no pé.
— Tá namorando? — alguém me pergunta e faz uma dedução — Não quer deixa ela esperando, que fofo!
— Ai, vocês, tudo românticas — e eu desconverso — É só cansaço mesmo.
Comento com a Iraci que vou buscar os dois de manhã no sábado e ela diz algo parecido com "fica tranquilo", porque não era o meu final de semana, embora não tenhamos que obedecer ao que foi estipulado com relação aos filhos. Falamos no viva voz e até o Edu está tagarelando bastante para seus quase três anos, que me dá vontade de correr para ficar com ele. Desligo sorrindo, feliz mesmo pelo momento e o que vem mais tarde então...
Braz.
Tomo um banho demorado, muito demorado mesmo, viajo tanto nos meus pensamentos. Penso em cozinhar, sabendo que ele adora quando o agrado dessa maneira. Um mimo, pois ele adora cozinhar pra mim e é maravilhoso também nisso. Um pouco de cansaço me leva a pensar em algo fácil de fazer e que não suje muita louça. Demoro também pra pensar na comida até que ele chegue e eu completamente apavorado comente:
— Braz... quer sair?
— Oh Glória! Hosana nas alturas! Um convite desses partindo duma coisa linda dessas... até se for pra comer pão com ovo frito.
— Pão com ovo?
— Que carinha de nojo é essa. Lógico que já comi e ainda como. A Itália frita ovo com a gema meio mole. Que delícia cremosa que fica.
— Ovo? Não posso sentir o cheiro. — só de mencionar o ovo, me arrepio com força.
Braz fica inquieto se tem fome e por incrível e absurdo que me pareceu, não está animado pra sair, explicando que prefere optar novamente por um pedido de comida pelo telefone. E enquanto isso, sobe para tomar seu banho e todo quente, me agarra por trás, beijando minha nuca, dando mordidas que tornam-se ásperas devido à barba.
— Seu bicho ruinzinho, não é mais chato porque é um cara só.
— Sou bem querido.
— Ei... sábado que vem, quero sair da rotina. Andei pesquisando e achei um lugar bacana, com águas termais, café da manhã estilo colonial, hum? Só pra dar uma variada. Não fica tão sério, alemão.
— Pode ser. Só que preciso falar com a Ira.
— Tu não tá divorciado? Tem que falar comigo, eu namoro com você agora. — no começo parece ciúme tolo.
— Por causa das crianças.
— Não, tudo bem, fala com ela. Mas é um final de semana, só. A serra catarinense não é no fim do mundo.
— Serra?
— Aham. Já paguei as duas diárias tá. Sábado que vem vamos sair daqui às sete da manhã pra chegar, mais ou menos, ao meio dia.
— Nem perguntou se eu podia.
— Te vira.
Deu vontade de socar ele... não gosto de decidam as coisas por mim. Tenho esse problema e nunca vou mudar.
***
***
oiiii pessoal, tô bem vivo tá, mas não tive nenhum tempinho na semana para postar. desculpem por isso. Deixo beijos e carinho e vou dormir porque tô fazendo hora até aos sábados e tô só o pó da rabiola... por enquanto. ♥♥♥
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