Capítulo 10
Aceitação. Aceitar-se é fundamental.
Essa é umas das matérias de uma revista, Nova ou Claudia, que está sobre a mesa da Kelly. Pelo que compreendi nas primeiras linhas, se trata de autoestima, que nunca foi o meu forte. Braz cansa de me alertar sobre minha autoestima baixa e o quanto esse tipo de afirmação é nociva. Iraci diz que sou bonito, mas eu sei que as pessoas que nos amam veem além do nosso físico. Ou seja, eu fico surpreso quando sou paquerado ou ouço elogios, tipo:
— Alemão, o pai e a mãe Schneider capricharam. Tu é gato, hein? — Ele nunca poupou elogios e eu demorei (anos) muito tempo pra agir naturalmente diante disso que o Braz faz abraçado ao meu corpo sempre cheio de paixão — Agora eu sou dono dessas esmeraldas aqui, hum?
— Aham... e eu?
— Tu? Tu manda em mim, faz, desfaz, me manda embora, me chama de volta.
— Não te mandei embora não.
Minha ex namorada Jaqueline quando soube do meu divórcio tentou forçar umas conversas e abrir possibilidade para um encontro e Kelly, a secretária confessou que seu marido sente ciúmes dela comigo, vê se pode? Eu me expressei juntando os ombros e abrindo as mãos como quem tenta primeiro entender a situação antes de comentar isso é um absurdo.
— Eu nunca olhei diferente pra você e nenhuma outra colega aqui dentro, Kelly. Quer que eu fale com ele? Não precisa se demitir por isso.
— Acho que ele ficou meio assim... quando eu disse que tu se separou.
— É... mas não significa que eu sou uma pessoa sem moral. Eu tenho... na verdade, caso eu quisesse sair com alguém, não ia dar em cima de pessoas comprometidas. Sempre fui bem careta pra esse tipo de envolvimento.
— Sim, eu sei. Eu vou conversar com o Edison.
— Converse. Aqui nós temos um ambiente misto, é complicado um homem ter uns pensamentos tão arcaicos com relação ao fato da esposa ter colegas masculinos. — ela para de chorar e seu olhar foge. Busco-lhe um copo de água e aponto a ela que é a segunda vez que me pede demissão. Mais uma vez eu reforço a ideia de conversar com o seu esposo, mas digo que não posso ficar tentando convencê-la a ficar na empresa se isso tende a prejudica-la em casa. Na realidade isso ainda ocorre mesmo que pareça ficção.
Mauro me avisa sobre a validade da minha certificação digital e diante da minha cara de indignação, acabo relatando parte da conversa com a Kelly.
— Eu conheço o Edison, marido dela, ele tem uma fabriqueta de mármore e granito. O bicho é tranquilo, trabalhador e bem simplório. Ela que tá de história pra "ganhar atenção". A guria tá apaixonada, tá na cara isso.
— Só o que me falta.
— Diz pra ela que tu já tem outra namorada, ficante, aí a mulher para com isso. Ou dispensa, manda embora e pega uma menos dramática.
— Eu gosto do jeito dela trabalhar, mas por duas vezes veio pedir a conta. Fico com medo de prejudicar a moça...
— O problema é prejudicar aqui dentro. Tu já foste mais xucro, dá-lhe uns coices, Túlio — eu rio do sotaque gaúcho e o jeito brincalhão do Mauro. — Domingo, tu te ajeita, compadre, que é o batizado da Gabi. Pega uns pila na guaiaca e compra um presente caro.
— Quando a afilhada crescer vou contar pra ela desse seu lado sangue-suga.
— Ei, a Jaque ficou na ponta do pé quando a Lívia disse que tu ia ser o padrinho. Dá uma chance. A guria é de família boa, tem aquele jeitinho meio metido e tal...
— Conheci bem esse jeito metido quando ela terminou comigo.
— É porque era muito novinha quando vocês ficaram.
— Você convidou ela pra ser madrinha da Gabriela só por...
— Não mesmo. Ela é amiga da Lívia, se conheceram na faculdade e se formaram juntas. Mas a Jaque nunca te esqueceu, seu safado, tu não é de perdoar fácil.
— Eu comecei a namorar logo em seguida e a Iraci, bem no fundo, sempre mexeu mais comigo.
— Mas agora, vocês já têm trinta anos, são livres e desimpedidos. Domingo no almoço troca umas ideias, de tarde dá uma carona... À noite né, porque meu pai vai fazer uma costela no fogo de chão, rapaz do céu, aquilo vai se desmanchar no espeto. É pra paranaense aprender como se assa uma carne e largar de se gabar.
— Ah, ainda bem que gaúcho não se acha — eu retruco em nossa eterna rivalidade saudável.
Sobre relacionamentos, eu não estava com o coração aberto para aceitar alguém, Braz havia tomado conta e o mais interessante era como eu carecia da sua companhia, de como me imaginava abraçado e desfrutando do imenso corpo masculino ao som de sua voz grossa falando baixo e especialmente suas safadezas na cama que eu tenho vergonha até de pensar.
Por telefone, ele me fez um caminhão de perguntas sobre a madrinha da Gabriela, como se pegasse no ar que já tivemos alguma coisa no passado e eu falei com honestidade sobre os oito meses de namoro adolescente até que ela se interessou por um mauricinho, solto, bonitão e que fazia ela e suas amigas entrarem de graça numa casa noturna famosa da região. Depois, Braz tentou me dar um horário pra voltar e eu retruquei que no domingo não era o "nosso dia" e ele ficou sentido comigo, eu aproveitei pra esculachar o ciúme sufocante.
— Desconfiança é uma coisa nojenta. Me sinto mal.
— Não tô desconfiando de você, alemão. Conta comigo: quinta, sexta, sábado, domingo... tu não sente vontade de antecipar um dia? Porra que pessoa dura, és tu.
— Aham. Perguntou tanta coisa sobre a profi da minha filha que eu me senti mal.
— O quê? É professora da tua filha? Isso você não disse.
— Se não confia, termina comigo, mas para de achar que sou essa pessoa "fácil". Isso é muito, mas muito desagradável.
— Sou MEIO possessivo.
— Eu sou MUITO correto quando me envolvo com alguém.
— Então diz pra mim que tu é só meu.
— Claro né.
— Fala tudo...
Eu fico sem graça, sozinho na garagem de casa ao celular, subindo a escada que acessa minha sala inferior eu falo pela primeira vez:
— Sou só teu.
E estranhamente, Braz amenizou uns 98% aquele jeitão possessivo quando estávamos longes um do outro.
Me senti imune aos olhares da Jaque que parecia certa que íamos dar sequência em algum programa depois do batizado, quis que saíssemos em várias fotos juntos, ignorou inclusive a presença da Iraci e dava atenção excessiva às minhas crianças quando nos aproximávamos. Edu sempre mais tranquilo aceitava o colo dela e sorria exagerado com as brincadeiras e beijos da educadora, mas cansou bem rápido do barulho do falatório e preferiu meus braços para dormir do que de sua mãe.
Mais uma vez, Jaqueline esteve ali quase colada no meu braço a observar meu jeito de lidar com meus filhos. Realmente se fosse o caso, sua beleza descendente de italianos sulistas era bem atrativa, junto com a demonstração de interesse de sua parte eram boas motivações para um envolvimento. Mas eu ansiava pela companhia que às dezenove horas me encontraria em casa. Bem como ele sugeriu, eu estava com saudades. Saudade não só do corpo, não só da luxúria, mas do jeito de abraçar minha cintura com posse, o beijo intercalado com uma bronca ou um riso seu e de como ele manda em mim contra minha vontade.
— O Edu é um sonho de criança. Tão fofo. Fico boba com os olhos dele. — Jaque me desperta. Ainda balanço meu menino nos braços sob um pé de tangerinas. — Ele tem olhos verdes né?
— Não. São de um castanho mais claro só. A cor da pele dele destaca.
— A Rafa na sala de aula, pensa numa menina rápida pra aprender as continhas. Lembro de como tu era bom em cálculos.
— Mas em português eu era bem burro. — relembramos alguns momentos em comum na fase adolescente, mas ela fica atenta, pois logo entraríamos no namoro e o motivo do "chute" que tomei quando ela quis terminar.
— Túlio, hoje depois que o pessoal se recolher por aqui, tu vai ficar mais um pouco? Ou vai levar a Iraci em casa?
— Não, a Iraci veio com um amigo nosso e eu tenho compromisso às sete horas. Não posso me atrasar.
— Hum... entendi. — ela olha em volta e eu penso que poderia ter sido só um pouco menos seco. Não sou do tipo que faz suspense.
— Vou devolver o Edu pra mãe dele, tá esfriando aqui. — percebo que eu quase fugi da ex namorada e preferi ficar onde havia maior concentração de pessoas. Iraci sem querer me chamou de amor perto de umas pessoas das quais algumas disseram que ainda voltaríamos a ficar juntos e a Lívia disse que nossa química não tinha acabado. Jaqueline interagiu mais um pouco com a Rafa, porém não me encarou mais e nem tentou buscar proximidade durante a hora a seguir. Me despedi das pessoas às cinco horas depois da Ira comentar que as crianças começam a ficar chatas no meio de tantos estranhos e ansioso, eu fui pra casa pra abraçar aquele homem que disse que ia fechar as lojas às dezoito e até às dezenove estaria liberado. — Já tô em casa...
Quando o aviso pelo celular, ele dá uma risada que me arrepia todo.
— Meu alemão gato. Vou te cheirar todo. — Eu fico com o rosto quente. — O paizão aqui vai dar um colo pra você hoje, tá cansado?
— Tô muito. — eu me derreto e sinto um pouco de vergonha por ficar assim abobado. Queria dizer pra ele que não quero sentar no colo de um macho, mas ele mal se larga no sofá, eu dou um jeito de me aninhar nos seus braços, sentando nas suas coxas poderosas pra ganhar beijo, amassar o peitoral forte até ele reclamar que o aperto com muita força. O beijo. Esse beijo. A barba bem feita todos os dias que mesmo assim desponta e me arranha um pouco os lábios, é um gesto feito de erotismo puro. Braz é quente. O suspiro. O apertão dele em minha cintura como se fosse meu dono. O cheiro do seu perfume me faz sentir ciúme também.
— Saudade?
— Aham...
— Então, a pessoa podia ser menos ruinzinha e ligar pro namorado pra convidar ele mais vezes pra ficar juntinho...
Namorado! Sinceramente isso me dá um choque estranho. Disfarço e levanto do seu colo. Abandono seu carinho de repente e sinto medo. É o medo de novo da sociedade. Do mundo à minha volta. Enquanto for segredo, minha vida continua a ser quase perfeita. Penso em quantos amigos deixarão de conversar normalmente comigo. Iraci. Aquelas pessoas da festa do batizado. Meu pai, madrasta e minhas irmãs. Patrão, colegas e o pequeno círculo de amigos.
Braz esfria comigo durantes as próximas horas. Pouco conversa e não temos sexo, que é algo bem explosivo entre nós. Não é mais casual, não temos só sexo e até eu gostaria de confessar que sinto alguma coisa além do tesão. Braz toma um banho, liga a TV e pergunta sem olhar na minha cara se quero pedir algo para jantar, já que tem certeza que eu não sairia com ele por medo de me expor.
— Não precisa me tratar assim.
— Prova que eu tô blefando. Sabe que dá vontade de nem aparecer mais.
— Eu falei desde o começo o que eu queria.
— Quer parar de pisar nos meus sentimentos?! Tá com medo do mundo inteiro? Porra, quer mesmo esconder pra sempre?
— Sim.
— Quer ficar sozinho? Vou embora agora mesmo, continua fazendo isso, vai...
— Não. — sinto um caroço na goela e medo de ser largado de verdade... por ele — Eu já falei que não consigo nem pensar em assumir... nunca vou conseguir.
— Meu querido. Pode acreditar que não é fácil. Não vou aliviar só porque tu tens medo. Mas é isso ou ficar sozinho. Porque paciência tem limite. Vai pensando bem porque um dia vai ter que levar essas "pauladas" junto comigo. Eu não tô no armário há mais de dez anos e o respeito a gente conquista nem que seja no grito.
— Mas eu não consigo dizer ou pensar isso de mim: "gay". Dá muito medo.
— Dá. Mas se a pessoa que tiver do teu lado segurar na tua mão, o peso é mais leve.
— Eu gosto de você... — eu confesso e ele ri, me abraça e aperta minha cintura só pra mostrar como que funcionam as coisas. Eu já tinha um companheiro e não estava vendo isso na integralidade.
— Eu sempre gostei de você, alemão.
Enfim, além da segunda e quarta-feira, os domingos entraram no pacote de encontros em minha casa. Se permitisse mais, ele viria todos os dias e eu confesso que seria perfeito ter alguém para compartilhar minhas noites. Simplesmente amo deitar a cabeça no seu peito para mergulhar meus dedos na textura grossa dos seus pelos e tocar nos mamilos arrepiados, algo que o deixa excitado. Braz tenta concentrar a atenção em uma reportagem e eu aperto o bico do seu peito, torcendo-o até que ele tire minha mão duas vezes e me chame de putinho.
— Eu te faço carinho e você me destrata. — reclamo e dou-lhe as costas. Ele ignora por alguns segundos, depois quase arranca meu short e me provoca, roçando o seu membro cada vez mais duro na minha entrada cheia de cuspe até que comece a encaixar e entrar devagarinho.
— Diz pra mim que posso ir pra casa?
— Não. — aperto sua coxa para proibi-lo de parar de avançar para meu interior — Entra todinho...
— Fala então.
— Não quero.
— Acho bom.
Braz quase me monta por trás, algo doloroso pra mim em cada metida que me obriga a morder a fronha pra não reclamar alto. E o que mais me enlouquece, sua mão pesada me pegando na cintura e sua pelve batendo na minha bunda com força. Antes não acontecera de ejacular sem me masturbar, aquele final de tarde de domingo foi ainda mais delicioso porque rolou sem aviso e Braz também acabou gozando dentro de mim sem o preservativo. Acho que não pensamos em nada na hora do orgasmo, nem depois quando estávamos melecados procurando o ponto do relaxamento e algum assunto pós foda.
— Te adoro sua peste.
— Também te adoro...
***
***
oioi tentei postar antes, mas quase dormi kkk, tá tudo bem por aqui♥ beijão!
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