Amargo Doce - Parte 01
Nota: Antes da leitura deste, preciso informar que haverão menções ao abuso sofrido por Carlinho em sua infância. Expus de forma menos explicita possível, pois me causaria enjoo descrever com detalhes esse tipo de cena.
Este conto é fictício, os personagens e todas as situações deste também o são. Não é baseado em minha própria vida.
Só que infelizmente isso ocorre na vida real.
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Por Carlinho...
Desde muito pequeno, quando eu era ainda menorzinho, lembro que a minha mãezinha verdadeira meu deu para a sua patroa me criar e assim me dar uma condição de vida melhor. Eu poderia estudar e crescer, me tornando uma pessoa comum e batalhadora, mas teve algo que ela jamais imaginou que fosse me acontecer.
Minha mamãe tinha outros meninos, meus irmãos e eu provavelmente fui um acidente de uma recaída que ela teve pelo meu pai ou fruto da violência sexual dele para com ela, de quem herdei uma estrutura mirradinha, cabelo liso e cor escura.
Eu tinha uns seis anos quando Dona Rosa sua patroa, mudou-se de cidade e me levou junto, com seu consentimento.
No começo eu chorava mais, mas pela saudade do cheirinho da mamãe. Eu era o caçula e dormia agarrado com ela numa casa pequena onde ela tinha condições de pagar aluguel. Nossa memória é vaga e trazemos poucas lembranças de antes dos sete anos, a não ser que sejam momentos fortes e um desse foi o dia em que pedi a minha mãe adotiva se podia dormir no seu bracinho como fazia com minha mamãe e a dona Rosa disse que não porque eu era um macaquinho sujo. O tio Epa, marido dela só dava risada, eu me lembro disso. Mas ele era muito generoso e carinhoso comigo também. Sempre tinham muitas crianças lá em casa, que ele trazia para brincar comigo, mas nunca ficavam mais que um ou dois dias.
Tia Rosa não deixava eu lhe chamar de mãe e falava que eu era sujo. Eu começava a achar que ela não gostava de mim. Mas porque será que ela me quis pra ela?
Eu gostava muito quando vinham suas amigas, porque ela ficava tão diferente e legal que era até estranho. A mulher do prefeito ficou muito amiga da tia Rosa e dizia que ela uma pessoa generosa e sua atitude de adotar uma criança negrinha era algo admirável. Percebia que tia Rosa gostava dessas mulheres tão ricas e bem vestidas, então me comportava bem direitinho para ganhar um pouco de afeto seu quando elas iam embora. Mas isso nunca aconteceu.
Eu não gostava mais dela tanto assim, porque ela nem me chamava pelo nome, chamava de coisas que me entristeciam e fazia isso na frente de amiguinhos que na minha própria festinha de nove anos me chamaram de mariquinha.
Eu tinha um jeito mais delicado, mas era muito comportado e educadinho, não tinha motivos para me tratarem com desrespeito. Quando eu falava para ela, bom, não adiantava e era muito pior porque nesta época ela me dava castigos físicos com frequência, que eram melhores que os seus xingamentos.
Um dia enquanto estávamos no almoço, ela comentou com o tio Epa que ia para Nova Iorque fazer compras com umas amigas e eu fiquei muito feliz. Lembro que ele me olhou e piscou cúmplice. Eu entendi de forma inocente que dois meninos iam ficar sozinhos e seria muito divertido. Sim foi divertido, uns dois dias eu acho.
Tio Epa me levou passear e comprar brinquedos, roupas de menino e menina. Tia Rosa me vestia muito bem com roupas bonitas para sair comigo e impressionar as suas amigas. Mas o tio comprou umas roupas diferentes do que ela comprava, achei muito curtas e apertadas que achei que não era para eu mesmo.
Cheguei em casa pulando de felicidade porque ele me comprou um pacote de balas. Tia Rosa era muito rigorosa comigo e eu não comia doces, escovava meus dentes umas dez vezes por dia, lavava minhas mãos e se não estivesse com as unhas limpinhas, ela me batia em cima das mãos até eu perder as forças de tanta dor.
— Carlinho, vá tomar um banho para provar as roupinhas que te comprei.
— Tá, já volto, tio.
Eu nem me liguei na época que tinha provado na loja e fui correndo me esfregar, porque tomava banho sozinho e me lavava bem direitinho. Mas o tio Epa entrou no banho comigo e disse que ia me ajudar a ficar bem limpinho, porque a tia Rosa reclamava do meu cheiro e ele sabia como ela gostava de limpeza.
No banho ele esfregou meu corpo normalmente com uma esponja. Lavou meu cabelo e depois pediu para eu lhe dar banho... Eu era muito inocente. Imaginem-se aos nove anos. Minha cabeça tinha apenas brincadeiras, ir para a escola ou ficar sonhando e falando sozinho como as crianças fazem.
Eu nunca tinha visto um homem adulto pelado e o tio Epa era velho, branco e flácido, mas seu membro grande estava em ereção. Eu olhei com curiosidade, o que era normal, ele tinha pelos e eu por ser um menino, obviamente não os tinha e meu próprio genital era ínfimo, um penduricalho que naquela idade sabemos que serve apenas para fazer xixi. Tio Epa me fez segurar no seu pinto e me dava as instruções de como devia lavar aquela parte do seu corpo.
Naquele mesmo dia ele me tocou bastante e eu apenas obedecia, por respeitá-lo e não compreender o quanto grave era o que ele fazia comigo. Tio Epa sempre me pedia segredo e por esse segredo eu ganhava presentes, amava ganhar roupas bonitas e brinquedos diferentes. Depois, ele ainda não tinha me machucado e eu não sentia a maldade dele aos nove anos.
Num dia em que tia Rosa ainda viajava, o tio Epa me mandou pôr um vestido sem roupas íntimas por baixo. Ele me mandava fazer todo o tipo de pose onde fosse possível ver minha intimidade e quando eu sentia vergonha ele me dava broncas usando minha cor mais escurinha para associar a algo negativo e sujo. Não demorou para ele me mandar vestir calcinhas para me tocar em alguns lugares por cima dessa.
Tudo foi piorando e culminou naquele pior momento da minha vida na infância: minha primeira vez. Primeiro eu era penetrado dolorosamente por dedos, depois ele me lambia inteiro e eu quase vomitava com o cheiro dele, pois passei a ser obrigado a tocá-lo oralmente todas as noites. Tia Rosa podia estar em casa, que ele esperava ela dormir para vir ao meu quarto.
Uma empregada que tinha naquela época escutou meus gritos quando ele me violentou a primeira vez e coincidiu que foi a última vez que eu a vi. Apenas escutei que ela foi demitida, mas uma passadeira de roupa que vinha umas vezes na semana, comentou que a família estava procurando a tia Neuza, a tal empregada, que na verdade tinha sumido.
Passado um tempinho, eu já não ganhava brinquedos ou doces, ganhava ameaças e apanhava muito. Tinha febres que davam e passavam sozinhas, porque não tinha ninguém que me cuidava. Pensando hoje, acho que queriam que eu morresse mesmo e não perturbasse a paciência deles.
Depois que o tio Epa se matou, as coisas ficaram um pouco mais calmas, foi uma ou duas semanas. Mas aí... o médico e o policial falaram pro juiz que não encontraram nada no meu corpo, sendo que tio Epa ejaculava dentro de mim e fora isso eu tinha o corpo todo machucado por suas agressões. Mesmo uma psicóloga que conversou comigo, informou que eu era perturbado e precisava de acompanhamento. Aí a tia Rosa chorou na frente do juiz dizendo que eu tinha inventado tudo aquilo e tio Epa se matou por causa da "mentira" que "inventei".
Eu não entendi o porquê de ela ter feito aquilo, afinal ela mesma tinha chamado um advogado que me levou na delegacia para denunciar o tio Epa. Ela foi um monstro, chegando a contar que eu estava usando drogas e isso foi comprovado em exames. Eu tinha 15 anos e tio Epa com uns amigos nojentos seus me drogavam para eu dançar para eles e por esse motivo, talvez, acharam substâncias tóxicas no meu sangue e cocaína no meu quarto.
Imaginem só o horror, de um lado tinha a família do tio Epa, podre de rica e revoltada com que eu "havia" feito. Claro que eu era a verdadeira vítima, que jurava de pé junto que minha versão era a verdadeira, mas isso causava risada nas pessoas e meu choro causava nada além de irritação. É do outro lado desse "cabo de guerra" tava eu, Carlinho pequeno, afeminado e sozinho.
Meu corpo ficou com sequelas estranhas devido aos hormônios que tio Epa me fazia tomar, mas eu me achava bonito assim. Minha psicóloga atual disse que em algum momento eu devo ter bloqueado para não sofrer tanto naquele período. E aquilo foi uma forma inteligente que minha mente achou no lugar de eu chorar ou pensar em me matar, eu passei a me amar daquela forma e com isso tirava o foco do sofrimento. Minha força de vontade de viver era tão grande que inconsciente eu lutei para me manter tranquilo.
Eu tinha quase 16 anos quando a assistente social veio conversar comigo e dizer que eu faria parte de um programa de apoio ao menor infrator e com isso ficaria abrigado com outros meninos que tiveram problemas parecidos com os meus e estavam ali pelo mesmo propósito: reabilitação.
Tudo foi-me dito com a maior calma do mundo que achei que seria mil vezes melhor que ficar na casa da Rosa. Tudo foi diferente e mil vezes pior.
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