Ativo e Passivo - Só mais uma sexta-feira
Por Braz...
Um chêro na pessoa que você ama naquela hora do dengo que você perdoa a chatice, o beijo carinhoso na bochecha dele ao vê-lo acordar abrindo os olhos e me procurando imediatamente... uma manhã tranquila de sexta-feira.
Antes de eu cambar pro estresse, deixe-me curtir essa delícia que se espicha todo, diz um bom dia meio mal humorado e antes que eu levante com a bexiga incomodando, ele joga seus braços sobre meu peito.
— Saco... tenho que fazer a barba... — não demora, ele reclama de algo da rotina, diz que só vai aparar, passa a mão na cabeça e diz que precisa passar a máquina, cheira a própria axila e diz que odeia sentir seu cheiro de manhã — Amor não me beija, nem escovou o dente ainda.
— Coisa chata. Deus o livre. Só outra manhã acordando do teu lado. Nunca ouvi dizer que precisa passar um desodorante antes de dormir. Já ouvisse? Reclama mais, que tá pouco. Vou mijar, depois o banheiro é teu.
— Não demora.
Vai por água abaixo o tesão de mimar essa peste paranaense. Não queria embarcar no estresse antes de pensar nos mercados, mas ele fode com minha paciência.
Sem esperar eu "sacudir", ele entra no banheiro.
— Ai de mim se eu tocar na maçaneta quando tu tá meditando.
— Credo, Braz! Precisa engrossar?
— Privacidade. Não é o que tu diz quando eu bato na porta.
— Tá. — responde se olhando no espelho e tirando a cueca. Precisa disso pra fazer a barba? Ficar nu??? Caralho... e se espreguiça mais uma vez, fica nas pontas dos pés pra olhar o próprio pau no reflexo e com a maior cara de arrogante, abre o armário catando o creme de barbear, sacudindo a embalagem, tirando o lacre e caminhando até a lixeira. Ao friccionar o creme que vira espuma no seu pescoço, ele me nota — Vai me assistir fazendo a barba?
— Tá assim só pra provocar?
— Tô assim porque vou tomar banho ou você toma banho vestido?
— Tu provoca né...
E pra não perder o costume, um tapa na bunda dele só pra flagrar os olhos verdes revirando.
— Tô quieto, não gosto que fica me batendo.
O deixo desfrutar de sua privacidade e o bicho demora mais de meia hora pra ajeitar a barba e tomar banho. Espero na cama a minha vez e o felino vem caminhando pelado secando os braços, a carequinha e a barba.
— Amor, olha se cortou aqui. — ajoelhado ele se aproxima e monta nas minhas coxas, ergue a cabeça pra mostrar um cortezinho miudinho. A seguir ele me olha e sorri — Você brigou comigo porque?
— Quê? Eu briguei???
Olha o que ele tem coragem de fazer comigo!!! Tô sempre fodido na mão dele.
— Aham... amor, dá pra descansar só mais dez minutinhos?
Eu relaxo e aproveito meu Túlio pelado deitado de bruços com uma canela sobre as minhas, fazendo carinho no meu peito, enrolando os pelos enquanto fica pensativo.
— Ei... dez minutinhos.
— Ai... então tá, amor que quentinho você.
E apela mais, por que não faria? Fica cheirando e beijando meu peito de uma maneira preguiçosa, mantém os olhos fechados pra eu ficar com dó e sorri quando abre um dos olhos pra me espiar.
— Que foi?
— Essa medicação é uma bagunça. De noite tenho insônia e de manhã esse sono que não me larga.
— Teu patrão é bonzinho. Quer ficar descansando?
— Não.
O bipolar levanta e se estica de novo e com esse corpo gostoso despido, o homem quase me chama para uma luta greco-romana, mas como antecipei, tenho bronca pela frente.
Comerciante tem seus perrengues diários que às vezes, no meu caso raramente, levo pra casa os problemas. Tento deixar o Túlio mais de fora durante esse seu período mais tenso, pois antes me abria com ele, o que me dava um alívio de grande ajuda. Nesse momento preciso que recupere o equilíbrio à sua maneira, mesmo que esteja mais lento e manhoso.
Pior que gosto dessa manha.
Até no café, segue o dengo:
— Dona Itália, dava pra mandar uma mensagem ahh... — bocejo longo — pro Carlinho...
— Ué, tu não tem o telefone dele?
— Eu mando, meu anjo, só me diz o que você quer — corto a vecchia na hora.
— Quero uma cesta com trufas pra dar junto com o presente do amigo secreto.
— Pegou quem?
— Não vou te dizer.
— Então também não te conto quem eu peguei. Tu pediu o que?
— Não dei sugestão.
— Pra depois reclamar do presente?
— Eu nem reclamo.
— Como é que é? Ganhou uma camiseta ano passado e nunca te vi usando.
— Porque é amarela, mas guardei com carinho porque a pessoa teve o cuidado de escolher pra mim. Mas qualquer coisa tá bom.
Conheço tão bem essa criança...
Sexta-feira nós revelamos o amigo secreto que fizemos com o pessoal do escritório e não consegui arrancar dele quem era o seu.
— Amor... é verdade aquilo que o Raul contou?
— Quando e o quê? Porque tu pega umas memórias das profundezas quando tudo tá tranquilo...
— Tu já teve um lance com aquele conhecido nosso?
— Ai não... Eu respondi no mesmo dia e tu ficou chateado comigo, perguntou: "com quem tu não saiu?" como se eu fosse um canalha, três dias dormindo bunda com bunda por causa de um "lance" único que tive há mais de vinte anos com o rapaz.
— Não devia ter escondido.
— Túlio, é a terceira vez que tu volta nesse assunto. Me diz porque?
— Só acho...
— Agora vem cá, aquela professora da tua filha ou ex professora, não sabia que eu e você não éramos só amigos e tentou te abraçar na balada na minha frente. A Iraci que te chamava de amor a três por quatro até quando já sabia que estávamos namorando, Eliseu que disse na minha cara que tu era coisa demais pro meu caminhão, aquele ex gerente da filial dois que pediu teu telefone pro Danilo e mandou o cara guardar segredo, o Raul que disse na época em que namorava o Gustavo que só por respeito que não deu em cima de ti... tem mais coisas...
— Ah tá, a culpa é minha? Eu não me envolvi com nenhum deles ok?
— A...
— Também foi há mais de vinte anos que namorei com a Jaqueline e tava separado da Ira quando te conheci.
— Que fofo ele, posso ficar bravinho também? Te dar as costas, desenterrar as coisas como tu faz? Amor, eu transei UMA ÚNICA VEZ com o cara, foi estranho... ele terminou de fazer e começou a falar do cara que ele tava afim e eu ainda tinha uma trava com a família sobre o assunto. Enterra esse assunto pelo amor de Deus.
— Não precisa se alterar.
— Eu tô calmo. Tô fazendo de tudo pra te deixar calmo e light, valoriza isso, por favor. Segura o passado no passado, olha, chegamos na empresa, me dá um beijo e sem essa carinha de #xatiadu.
É assim mesmo e só não fiquei quieto porque senão monta em mim ainda mais. Mas tá chateado sim. Será que só o meu que tem esse costume de puxar esses assuntos esquecidos num momento tranquilo? Tem algo com o signo dele?
Eu disse que tinha estresses pela frente, mas nem por isso vou trazer à tona, porque pela manhã as coisas começaram a iluminar e certamente não vale minhas noites de sono, meu relaxamento, meu apetite, meu tempo precioso e minha vida. Nada dura eternamente. Não que eu seja um poço de calmaria, sou taurino afinal. Mas problemas existem para serem resolvidos.
E como sou escolado em matéria de Túlio, já espero um beiço de meio dia, mas seu silêncio não tira meu apetite, só ignoro que passa... ou não.
Passa sim porque ele se gruda na hora da "siesta" por vontade própria e reclama que estou suado, sempre igual.
Mais tarde, bem final de tarde, nos reunimos como deu na recepção da sobreloja para o momento da revelação e foi um barato quando apareci com uma sacola imensa, o alvoroço das funcionárias que diziam:
— Poxa, seu Braz ainda bem que me pegou.
— Tola, fui eu...
— Ainda bem que não peguei o patrão porque ia entrar em pânico.
— Ué, sou tão legal, Mary. Chato é o Túlio.
Todo mundo ri e o Túlio também, mas diz que EU estou exagerando e que ele é um anjo de pessoa. E como começa por mim, preciso dar características do meu amigo oculto, secreto ou sei lá como chama.
— Minha amiga secreta é uma pessoa de alta confiança, resolve uns problemas meus mesmo reclamando um pouco...
— A Jéssica.
— Só pode ser a Jéssica ou a Elisângela que coordena.
— Nop... é uma pessoa bastante cri cri.
— A Bruna.
— Seu Braz, se fosse amigo, eu ia dizer Túlio.
— Poxa Cris! Eu??? Que fama de chato que ganhei.
— Chatinho mais é querido.
— A Cris matou a charada.
— Você que me pegou?
— Dez anos pegando. — ouvimos vários risinhos e rimos com as pessoas.
Tivemos um clima super leve, Túlio aceitou as brincadeiras muito tranquilamente, as meninas pareciam estar com fogo porque queriam que déssemos um beijo, quando o abracei para entregar um anel belíssimo de prata em comemoração aos onze anos em janeiro. E a funcionária que ele pegou, tirou uma casquinha que eu notei e ergui uma sobrancelha.
— Olha o ciúme! Gente que fofo.
Sempre tem quem nota, nem ligo, demonstro mesmo.
Pelo menos no final da noite eu tinha uma pessoa bem mais tranquila nos meus braços e doce feito pirulito de bracinhos com outro anel no dedo.
— Olha... faltou o beijo.
— Podia ter me beijado hoje.
— Aham, tu ia me socar na frente do pessoal.
— Não mesmo.
Ele evoluiu, isso é visível. Sou obrigado a concordar com Patrick, o Túlio já não procura disfarçar tanto algum ou outro trejeito, parece confortável consigo e me sinto responsável por muito dessa mudança. Eu sempre o quis pra mim desde que o vi. Apelei, forcei um pouco, mas estou com a razão da minha vida colado no meu corpo, falando pelos cotovelos hoje sobre as reações dos funcionários, sobre as brincadeiras e do nada...
— Esqueci de tomar os remédios, já volto...
Ele sai correndo e volta uns minutos após, pulando na cama, me beijando e revirando umas vinte vezes antes de apagar. Enfim, essas insônias são um pé no saco. Dou uma hora pra ele arregalar os olhos e bufar irritado que perdeu o sono.
Informo que por algo Divino, ele apagou de verdade e só acordou no sábado pela manhã, daquele seu jeitinho.
*****
Nós amamos rotina né?
Deixo várias porções de carinho e beijos♥
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