Ativo e Passivo - Onde mora a felicidade?
Por Braz
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Quem passou pelo que passo no momento, certamente vai me compreender.
Não é mais um drama é um trecho de vida, pois quando amamos, nós suportamos muitas coisas. Também não é segredo que Túlio se trata com antidepressivo e outras "drogas" do bem que são vendidas com retenção de receita. Enfim, já teve vários momentos em que comentamos sobre isso, que parece apenas uma ficção e não um desabafo, uma maneira de extravasar sobre esse assunto que puxa (também) para baixo quem acompanha o ser depressivo.
Com certeza não são todos os personagens, mas "Túlio" realmente está nessa e muitas vezes se fecha em vez de se abrir comigo, por achar que me incomoda.
Olhando essa coisa linda adormecida, me certifico que ele é um pedaço físico meu, é alguém que eu daria anos de minha vida em favor de seu bem estar e ele luta para ser recíproco...
Mas tadinho, do jeito que as coisas andam, tem dias que é mais complicado que outros e hoje tive que dar um "sossega leão" no cara por conta própria.
Davi, Adriano, Raul e Patrick sempre estão mais juntos conosco em especial quando preferimos ficar no sítio nos finais de semana. Raul e Patrick desceram para iniciar um jantar e no segundo piso da casa, meu alemão parece um bebê dormindo num colchonete e embrulhado numa manta como se não fosse possível suar nesse calor de Luiz Alves. Praticamente passei o dia sem camisa.
— Ué, tá apagado de vez. — Adriano se curva e verifica que o Túlio está dormindo profundamente.
— Oh sim, meu querido, o alemão passou a noite acordado perambulando e eu preocupado não consegui dormir direito. Quando conseguia desligar do plano físico, ele me chamava e dizia: "amor, meu coração tá disparado", "Braz, acho que vou ter um ataque cardíaco, amor, não deixa eu dormir", "Braz, sente meu coração..."
— Isso é sintoma da depressão dele.
— Claro que é. Esses dias fez todo o checkup, eletro da cabeça, exames de sangue e mais outras coisas que solicitaram, nadinha, tudo sob controle e ele sabe disso, mas entra em pânico e me assusta.
— Tem que ficar de olho. Se tiver outro surto, melhor levar no P.A.
— Hoje quando acordei, isso às quatro da matina, ele tava sentado na sacada do quarto e chorando. O alemão não é disso, aí mandei tomar um banho e o tirei de casa. Almoçamos em um restaurante alemão ali de Pomerode. Deixei ele dirigir na volta porque quase dormi nas calças. Cheguei aqui, falei que ia dormir e começou o drama... ele antes de dormir vira cinquenta vezes. Nem consegui fechar o olho por uma horinha, chegou o Raul com o Patrick, eu deixei os dois aqui e fui na farmácia comprar Dramin.
— Não acostuma o Túlio nisso.
— Não, não doutor. Só hoje que tive que dar esse sossega nele porque tô com dó.
— Davi passou por isso, te entendo bem. Daqui a pouco ele melhora. Túlio é bem orgulhoso, demora pra se entregar, dá de ver que ele quer ficar bem.
— Sim... pior que o pai dele tá bem doente, aí junta mais isso no caldeirão de 2020. Oh urucubaca!
Meus amigos vendo meu estado, insistiram pra eu deitar um pouco e apaguei em minutos de tão podre de cansado que estava. Daí vem a parte delícia de acordar com um Túlio descansado, que sorri ainda sonolento e pergunta se o Davi veio.
— Veio sim, tá lá embaixo na cozinha...
— Ah que bom.
Depois disso, ele aperta meu peito, amassa, revira, haja paciência, vira de volta, levanta cambaleando, mija, volta, vira de costas, vou pro céu, reclama que tá calor, pede abraço e vira... finalmente apaga mais meia hora até que nos chamem no melhor do meu sono, porque a janta está na mesa.
— Tô fodido, tu dormiu a tarde toda, agora vai revirar a noite de novo.
— Não reclama de mim — ele faz manha na frente de todo mundo e se gruda em mim — Amor que suado você tá!
— Tu me tampa com esse calor.
— Oh duas pessoas pra discutirem o tempo todo!
— Mas ainda assim é fofo.
— O Davi acha que discutir é fofo.
— Raul não se mete.
— Ei, ei, mudando de assunto, vocês sabiam que o Túlio vai ser "pai" de novo?
— A Ira tá grávida???
— Braz! Faz favor. Vou ser padrinho.
— Gente, que tudo!
Raul se irrita com Davi mais de uma vez e diz que ele se faz de bobo perto do Túlio. Claro que o rapaz fica calado depois mesmo que Adriano e eu tentássemos reanimar as coisas. Sei da amizade deles, as confissões e como isso faz bem ao meu companheiro e por isso incentivo-os em pequenas coisas. Acho que lido bem com meu ciúme quando se trata dessa amizade. Comparo ambos com duas amiguinhas de escola. Não porque só as menininhas podem ser amiguinhas, mas pelo tom que compartilham as coisas. Uma amizade que faz bem a ele me faz bem também e somos dois casais que se tornaram muito próximos devido a essa sensação.
— É impressão minha ou o Túlio tá cada vez mais poc? — Patrick comenta quando observa o short do Túlio que parece mais justo dos quais ele usava há uns anos.
— Me deixa, Patrick. Ganhei esse short do marido.
— Vixi, tá perdendo o ciúme?
— Porque poc? — Túlio questiona.
— Mana, tu não é o mesmo Túlio de cinco anos atrás e muito menos o Túlio de dez anos atrás. Bonito sempre foi, mas hoje tu se valoriza mais. Tu é magro da bunda e das coxas grossas, chama mais atenção quando coloca uma camisa que não disfarça tudo. Não tem mais medo de dar pinta. Isso é o máximo!
— Verdade. Tem que mostrar. — Davi concorda. — Tem que se preocupar menos com os pensamentos alheios porque a felicidade nossa, acontece em boa parte porque nos aceitamos e os amamos em primeiro lugar.
— Na verdade, se ele se sente bem consigo, eu aprovo totalmente.
Mas o rabão dele fica uma delícia e o ciúme "pinica" meu corpo...
— Davi conseguiu horário na sua pedicure?
— Só na quinta que vem, Túlio.
— Tenta ver se me atende também. E antes que o Raul faça mais um comentário besta, sim, eu arrumo a unha do pé.
— Nem falei nada, foi o Patrick!
— Pois então colega, eu não uso essa sua maldade, então estou salvo.
— Mas no mercado eu não vou desse jeito. Aqui, é outra coisa.
— Roupa mais justa pra quem tem bunda é um luxo!
— Verdade Patrick, eu que sou magrelo tanto faz... já conquistei quem eu queria.
— Ai Davi, tens os teus dotes e se não é isso, as "surras" que eu tomo conquistam também.
— Adri! Seu doido. Achei que ia falar aquela palavra podre!
— Cuceta???
— Não, por favor, nada desses termos. — Túlio corta o barato porque o assunto ia "desaguar" em sexo e nós amamos soltar as verborragias sobre isso.
— Depende né. Não na frente de amigos.
— Transar não, mas falar umas bobagens é bom — Raul diz algo que eu concordo. — É saudável.
— Gente, vamos fazer um sexo em grupo? — Patrick grita. — Tu tem coragem de dividir o Davi?
Eu me espanto com a brincadeira. Ai a azia do meu ciúme vai atacar.
— Quem tu pegava Patrick?
— Tá louca, senhora Urologista??? Se eu falar, perco os olhos.
— Não sendo o Braz. — Túlio fala rindo perigosamente porque não é nada burrinho.
— Adri, tu ia me dividir?
— Desse teu tamanho? Não tem como.
— Credo! Magoou meus sentimentos e não vai ter "surra" uma semana.
— Perdão amor, claro que era bobagem, tu é praticamente um urso imenso.
— E mais duas semanas por que usou um tom irônico.
— Culpa tua Patrick, conserta agora.
— Te vira, uro. Tu falou besteira. Adoramos te ver sofrendo.
— Gente... melhores amigos, nem precisa de inimigos.
— E tu Braz?
— Eu??? Nem entraria nisso, Raul. Tás é louco.
— Fala, amor... — Túlio me encara e sinto um medo na hora. Um arrepio na espinha. — Só uma pessoa eu autorizaria você pegar...
Isso representa perigo e meu Olhos de Esmeralda coisa mais linda, tá só esperando eu dar corda para ser enforcado.
— Quem?
— Tá olhando pra essa pessoa. — Sorte que eu olhei pra ele. Jesushhhh!
— Tudo monogâmico demais. Precisa aquecer essa panela gente! Tô falando sério.
— Não Patrick, aceito o monogâmico muito tranquilamente — Adri, Davi, Túlio e eu concordamos.
Digamos que o Raul tomou um sossega e tivemos um atrito mais pesado e o motivo é calvo e tem 1,82 de altura... esse mesmo.
Teve o episódio em que Raul deu uma secada nas partes do Túlio e ele não queria me contar pra não dar confusão, depois disso, prometi a nós como casal que se ama, respeita e confia, que ia me policiar nessa questão e deixei rolar. Umas bobagens do Raul às vezes eram pra mim, outras vezes pro Patrick, pro Marcelo, pro Adriano, João e o Tiago, porém quando ele chegava perto do Túlio, algo em mim se inquietava. Era tipo:
— "O Túlio podia fazer uns vídeos solos praquele Onlyfans ou vocês dois... Vocês nunca pensaram nisso?"
— "Não."
Túlio é ótimo em dar cortadas, mas eu me cocei até criar feridas no meu couro cabeludo.
— "Braz, libera o Túlio pra um ménage".
— "Raul, dá um tempo com suas piadas sexuais com meu marido, por favor."
— "É brincadeira, só te perturbo pra te ver bufando."
— "Não gosto disso. Todo mundo fica desconfortável."
— "Não, meu amigo, eu brinco com todo mundo e tu és o único que leva a sério."
Aí pra não parecer um babaca, eu me abstive e ele moderou nas brincadeiras. Pra variar me pediu desculpas e pelo menos há um mês, ele tá calado e cuidando muito com o que fala.
Depois do jantar de sábado, os convidei para ocupar os quartos, mas eles tinham planos e Raul tem seus comércios que funcionam de terça a domingo, então se reservou o direito de tirar umas horas do sábado para conversar com os amigos. Mas Adriano e Davi preferiram ficar e com isso tivemos companhia até duas da manhã numa conversa que fluiu deliciosamente. Trabalho, saúde, política, polêmicas e planos, tudo abordado com tranquilidade, pois Davi é uma pessoa extremamente pacífica e Adriano puxa para esse lado também. Túlio é mais conservador e nem por isso nos alfinetamos, por fim dormimos "todos juntos".
Explicando melhor, nós arrumamos os colchoes de casal na varanda do sobrado e ligamos ventiladores. A brisa noturna estava fresca, apagamos em minutos acordando no domingo quase nove horas da manhã.
Adriano e eu conversamos até dez horas, Davi insistiu em ajeitar o café da manhã e desceu e o alemão ainda ressonava cansado que dava dó de chamar.
— Esse se apagou bonito.
— Ah sim. Tá "mortinho".
— Essa medicação dele dá uma bagunçada às vezes. Tira sono, dá sono, aumenta ou diminui peso, constipação... faz bem dum lado e altera outros. Mas com o tempo, ele voltando a se adaptar, melhora isso.
Aproveitando seu conhecimento médico, eu pergunto várias coisas que podem ajudar o alemão com esse aspecto e dez e vinte, quando Davi sobe avisando que a mesa está pronta, arranca um elogio apaixonado do seu companheiro e meu alemão se espicha todo, se espreguiça e com os braços relaxados acima da cabeça, abre seu par de olhos verdes e um sorriso.
— Oi amor... — diz e gruda em mim que já estou encalorado, mas lhe dou uma mimada costumeira.
— Que melação, hein? Parece um casal de bibas vocês dois. — diz Adriano abraçado com Davi
— Somos todas bibas. — Túlio solta a frase de maneira inesperada.
— Isso aí, amor! — concordo com ele e falo para o Adriano — se a senhora está incomodada, com licença.
— Estou é faminta. — ele responde.
Vinte minutos após nos ajeitamos à mesa e começam os planos de onde almoçarmos, pois cozinhar nesse calor não é opção e eu estou com o suor escorrendo.
— Cara, eu não me acostumaria a morar em Blumenau, Indaial, Pomerode ou aqui. Não tem vento nessas cidades. Em Itajaí parece mais fresco.
— Idem.
— Você sua o tempo todo, Braz. Nem parece homem, parece um urso de verdade.
— Como se não adorasse isso.
— Ah... sim, mas você tá sempre com calor. Até no frio fica com os braços de fora.
— Pra compensar esses picolés 39 ali na tua havaianas. Assim equilibra.
Equilibra sim. Sempre. No fim parece um capítulo de romance, mas é um pedaço de nossas vidas. E a felicidade mora nisso, mesmo que passe batido e que não percebamos muitas vezes, precisamos dar todo valor à rotina onde acontecem as coisas mais importantes.
***
Termino de escrever sorrindo. De sexta pra sábado não dormi, afundei na tristeza e alguns anjos agiram e conversaram comigo. Toda gratidão do mundo a essas pessoas. Pela manhã antes de sair pra almoçar, deixei uma mensagem aqui no perfil quando meu coração tava pesado e à tardinha quando vi tinham respostas fofas demais♥
kkkk ai que vergonha confessar isso, mas somos gente e isso acontece. Fiquem bem sempre e com saúde♥
Abaixo uma fotinho de onde fomos ontem em Pomerode/SC...
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