Ativo e Passivo - E... sempre
Por Braz
Volto a escrever sobre paixão. Porque ela impulsiona, ferve, alegra, faz bem e sem ela muita coisa não seria criada.
Por exemplo, meus pais não escancaram, mas minha mãe conta que fui "produzido" num momento de paixão ardente que o casal não segurou até em casa, parando em uma praia deserta e bem... cá estou para contar história. Fruto de uma paixão de um casal tão desigual, ele sisudo, moralista, meio indiferente aparentemente, ela doce, engraçada, meio da pá virada que o deixa de cabelo em pé quando abre a boca para "desaguar" suas loucuras. Meu pai, eu digo que já nasceu velho, minha velha, eu digo que é jovem por dentro e sempre será. Mas será que sempre foram assim?
Eu me lembro que a mãe sempre foi enérgica, mandona, dura e mole ao mesmo tempo. Capaz de me dar uns tapas e me abraçar chorando pedindo desculpas. Já o velho, educou na base do olhar e das palavras, deixava eu me ferrar pra aprender a criar resistência, capaz de rir dos meus tombos enquanto eu aprendia onde pisar ou não. Ela não. Ela me corrigia antes de eu enfiar um prego na tomada e mesmo assim o pequeno taurino teimoso aqui, ia lá e fazia o que queria.
Que memórias preciosas. Não há traumas de minha parte. Não há rancor e com isso, lembramos às risadas soltas de minha infância, sendo chamado por minha mãe de peste.
Mas amores também são, se não forem mais que a paixão, valiosos. Amores são diferentes e tem beleza nisso, claro que tem. Enquanto a paixão é intensa, ela alimenta, já o amor sustenta e é sempre brando, presente e obviamente muito mais duradouro do que somente uma chama quente.
Encontrar a pessoa certa para caminhar no seu lado é uma loteria. Algumas começam com a paixão desenhando os contornos do que será um relacionamento. O amor vinga a partir dos elementos acrescidos, os defeitos são desnudados, acontece um aprendizado e a beleza se sobressai, aparecesse para quem reconhece a diferença entre algo de passagem ou rotineiro.
Não é novidade, nem segredo e nem surpreendente quando digo que encontrei o amor ao lado dele, nascida de uma paixão tórrida que foi cedendo aos sentimentos, como um vinho que encorpa, fica melhor e mais caro com o tempo. E para um eterno apaixonado, o belo ou fora de padrão, é sempre belo, a posse e o ciúme vão se transformando em cuidado e devoção, não é que o fogo tenha apagado, mas o que aquece é tudo o que construímos na relação, não apenas o sexo que certamente diminui na quantidade, quem sabe até na qualidade, mas isso pouco importa se for com essa pessoa com quem sua intimidade é totalmente exposta, não tem vergonha, não tem nada de errado no que se compartilha, não é só uma satisfação física, mas uma aproximação de almas.
Observo cada detalhe seu e ainda sou capaz de me impressionar, as linhas que se formaram em volta dos grandes olhos verdes não me fazem olhá-lo com velho, mas charmoso com suas novas "aquisições" da idade. E acreditem, não é ilusão, isso é belíssimo, é a mesma pessoa que me despertou há onze anos atrás, o mesmo Túlio, o mesmo par de íris verdes claras, mesma boca fina, mesmos dentes bem cuidados, mesma calvície que ora ele deixa brilhante, ora deixa os ralos cabelos cobrirem um pouco. Mesmo corpo que ficou maior, mesmos pés finos, mesmas chatices diante das mesmas situações. Se enjoa para uns, sorry, para mim é incansável falar, olhar e o ter como meu.
Mas também houve mudanças, imaginem, nada se perde, mas se transforma, muda, piora ou melhora. Um mês traz mudanças, um ano mais ainda e onze, certamente altera cheiros e sabores. Um homem com medo de se conhecer melhor, se assumir, viver livre de todos os preconceitos dentro e fora de si, pode se tornar alguém confortável e feliz com o que foi escrito nas estrelas para ele.
Definitivamente é o mesmo Túlio, porém maduro.
— Que ódio! O que adianta treinar quatro dias por semana. Perdi peso! De novo!
— Que falta de maturidade, reclamar disso! — já esquenta meu sangue. — Porra, tem gente...
— Que passa necessidade, eu sei. Poxa, todo mundo reclama de alguma coisa. Nem...
— Tu gosta quando te interrompo?
— Você que tem esse costume.
Eu queria acrescer que detesto discutir com ele, mas é impossível não retrucar esse chato. Onde já se viu reclamar desse tipo de coisa. Tá, eu disse maduro, né? Mas tirando isso, é madurinho às vezes. Consegue ser doce.
(igual plutonita)
— Jura que não ficou chateado.
— Não. Odeio que me interrompe...
Tomar esculacho do doce amor é costumeiro, figurinha repetida, acontece o tempo todo, assim como retrucar, alfinetar durante o percurso do trabalho e agir profissionalmente depois de passar pelas portas da empresa. Sem mãos dadas, ele me sopra um beijo, sorri e eu sinto aquele calor. Percebo quando faz suas artes. Do nada o bom humor dele por estar na segurança de sua sala, sabendo que seu local sagrado de trabalho vai protegê-lo de um amasso tarado.
Não que eu seja.
E eu fico com seu sorriso na cabeça, o beijo soprado, a cara de levado. O sangue quente aqui quase entra em ebulição. É quase nada para quem não conhece, mas por mim são gestos que só me amarram mais, passa a vontade de brigar, arrumar motivo para prosseguir com a nossa marra. Dois homens maduros passados dos quarenta é o que nos tornamos. Me reservo o direito de ser peralta às vezes e mandar uma safadeza pelo Skype, uma pequena cantada que me faz rir ao imaginá-lo recebendo. Eu acho que ele irá revirar os olhos, não vai responder e muito menos comentar com o Davi.
"seu reclamão, quer tomar um café junto com seu patrão urso?"
"meu patrão gostosão? Agora?"
Peste! Curte surpreender, né?
Mando uma mensagem mais provocadora:
"café expresso ou ..."
"com leite bem gostoso?"
Filho da mãe!
"tu nem bebe leite"
"duvida?"
"com pão de queijo quentinho"
"quentinho? Prefiro seu colo"
Quase que sobe minha "pressão" com a conversa inesperada. Ambos apelamos à distância, porque juntos após uns minutos, nos encaminhamos até o café da padaria da matriz para nosso segundo café juntos, só porque não resisto à sua companhia.
— Sério, tu se chateou comigo hoje?
— Não. — então ele sorri e diz que estou precisando de uns abraços e beijos na hora do almoço. E quase cochichando diz que tá meio carente.
— Tu é um puto. Para de provocar. Hum? Ó tô indo pra minha sala antes que eu fique "daquele jeito". Tu tá atentado hoje.
E sempre.
Por Túlio
Um dia me ensinaram na rigidez dos padrões como que eu deveria me comportar. Me ensinaram o que é "certo" e "errado". O que Deus condena. O que é pecado. Estive preso nisso, sem entender o que significavam os períodos de vazio quando tinha até mesmo uma esposa e duas crianças. Um emprego. Uma aparente vida "perfeita". Aprendi depois disso, que ir contra padrões tem seu preço, mas que a recompensa é mil vezes melhor. Sou um homem absolutamente feliz. Do meu jeito é claro.
Faz alguns dias que passei a sentir-me bem melhor dentro do meu estado de ânimo que segura pra baixo há mais de um ano. O que ando sentindo é alegria, uma paz grande, motivação e provavelmente irradio isso, pois meu amor sente a diferença e nosso amor sente também, ficando mais leve. Isso me deixa mais feliz ainda, pois tinha na mente o quanto afetava o Braz com isso.
Pode ser apenas um momento, mas me agarrei nisso e procuro prolongar um sorriso, uma conversa aleatória, um abraço, o sono "da beleza", pós almoço nos seus braços, tudo aquilo que acho que nos faz bem. Não quero regredir, estou bem assim.
— Coisa linda do Braz. Jura que não ronca?
— Acordei de bom humor, retira o que você disse.
— Não retiro porque tu agiu na covardia hoje pela manhã.
— Sua culpa... quem manda ser um ursão assim, quente... gostoso... — o beijo do jeito que são nossos beijos. Beijos que contém além, muito além dum tesão poderoso, tem anos de amor e carinho. — Amor, notou que emagreci...?
— Ai sério isso? Não emagreceu. E se emagreceu qual o problema?
— Só comentei.
— Fecha esse bico — e de novo ele aperta meus lábios para me impedir de falar — Me provoca sem dó agora, aproveita que tem vinte minutos ainda. Dá tempo?
— Nem de eu tomar banho! Vinte minutos???
— Chatolino. Então deita no meu peito e fecha os olhos, descansa um pouco que a semana só começou.
Ainda bem que a semana só começou. Tenho um monte de serviço pra desenrolar nesses dias. Melhor seguir seu conselho e fechar os olhos por uns quinze minutinhos mesmo no lugar perfeito pra mim, sempre.
E sempre.
***
Até me emocionei hoje (de novo, chorar até faz bem) li suas mensagens de apoio e carinho. Obrigado por estarem em meu caminho♥
Achei que nunca mais ia escrever um capítulo sobre eles, isso me deixava bem triste, porque é bom compartilhar coisas que deixam as pessoas felizes. Por isso dedico a todos esse capítulo simples e mais um entre vários deste casal ♥
Os amo ♥♥♥
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