Yoongi abaixou a arma e olhou em volta. Não sobrara nada, a rua estava quieta novamente. Com a respiração ofegante o rapaz guardou sua pistola no coldre. Estavam todos mortos. Os corpos de seus amigos agora jaziam no chão, em meio a uma poça de sangue que lentamente manchava o asfalto...

    Todos mortos...

    Mortos por Yoongi...

    O rapaz levou as mãos a franja e puxou para trás, tirando da testa, o suor escorria por sua face molhando a camisa surrada, ele não sabia se de nervosismo ou pelo que ocorrera.

    Não sobrara nada...

    Com os passos vacilantes ele caminha até o prédio mais próximo, havia sido ferido durante o combate, e agora sabia que restava pouco tempo para si, se ele tivesse escutado o garoto...

    Após a eclosão de uma guerra mundial, uma das grandes potências, ninguém sabe a qual, mesmo que sequer importa quem começou tudo quando todos já estão mortos, decidiu liberar uma arma química. Esse foi só o começo do apocalipse, aos poucos as pessoas foram se transformando em zumbis sanguinários, os humanos que sobraram foram perseguidos... perseguidos pelos amigos, pela família, por quem mais amavam... qualquer um que tivesse contato com o vírus perdia toda a razão e se entregava aos seus instintos mais predadores.

    Yoongi e seus amigos conseguiram escapar, passaram alguns anos fugindo e sobrevivendo, aos poucos eles perderam a noção do tempo... mesmo que fosse 7 anos juntos escapando, para eles parecia 2 ou 3, mas afinal quem se importa com o tempo numa hora dessas? Sobreviver era mais importante.

    Mas um descuido pôs tudo a perder, em pouco tempo estavam cercados. Namjoon foi o primeiro, ele tentou se sacrificar pelos outros, como sempre tentando resolver a situação sozinho, logo Jin e Hoseok foram pegos também, eu não os vi, mas ouvi seus gritos, os próximos foram Taehyung e Jimin, a gente havia escapado por uma noite inteira, mas eles dormiram em um outro quarto e ele possuía uma janela... Yoongi ainda se lembra do olhar de desespero que Jungkook lhe lançou antes de implorar para que ele atirasse. Covarde, isso que se repetia na mente de Yoongi. Se tivesse atirado ao menos alguém teria sobrevivido, ao menos Jungkook não teria virado um deles... Não teria sido morto pelas mãos de quem tanto o cuidou.

    Foram horas mas pareceram dias de um pesadelo terrível, ver o olhar vazio e a fome de seus amigos os perseguindo, quando Jungkook foi pego Yoongi viu tudo, aconteceu poucos metros em sua frente... se tivesse atirado... viu seu olhar de agonia, e ouviu, ouviu seu grito agonizante enquanto tinha sua pele rasgada pelos dentes de quem um dia tanto protegeu, também ouviu seu último pedido... atire...

    Não sobrou outra alternativa. Yoongi teve que atirar. Atirar naqueles que tanto amava. Mesmo que doesse em si. Se deixasse eles vivos seria pior.

    Agora enquanto sentia seu corpo queimar e os ossos pareciam derreter, ele sabia que seu fim estava chegando, não haveria um amigo que atirasse em si... ele iria vagar sem rumo até ser morto por um sobrevivente ou algum outro zumbi faminto demais, iria sofrer até alguém lhe dar o golpe de misericórdia... ao menos os grunhidos dos zumbis, e o pouco que ele sentia com a transformação, era agonizante demais, parecia uma dor cruel demais...

    Antes de sentir sua mente apagar ele ainda conseguiu pegar o próprio canivete e escrever na parede um pedido de desculpas, um pedido de perdão. Perdão por apertar o gatilho. Perdão por sua covardia deixar que vidas se perdessem.

Em sua mente as lembranças de seus amigos voltaram... dos dias enrolados de sua juventude... onde nada de ruim parecia poder os atingir... da liderança de Namjoon mesmo em situações complicadas, de suas covinhas quando sorria... da habilidade de dança do Hoseok, assim como a habilidade de trazer luz a todos... do carinho que Jin tinha com todos e de suas piadas... do eye smile do Jimin e sua pequena (literalmente) rixa sobre quem era mais baixo... O sorriso quadrado de Taehyung e o modo como ele sempre via arte em tudo... e o abraço caloroso e sorriso de coelho de Jungkook... parecia tão real...

    Então um berro foi ouvido do interior do prédio, não restava mais o que fazer. E enquanto a lua invadia o cômodo, ela fazia brilhar a lâmina caída no chão.

    As palavras na parede eram o último pingo de humanidade naquela cidade.

    Havia acabado.

    Sem saída.

    Sem cura.

    Sem esperança.

    Apenas a poeira e um grito no vazio.

Apenas lembranças de mortos...

Apenas sorrisos apagados...

Apenas uma palavra ecoando...

Atire.