051
: O COMEÇO DO FIM
— 51 —
ELES ESTAVAM NA casa de Max, já era de manhã e o clima estava bem mais tenso e perturbador.
Nancy começou a contar-lhes tudo o que Vecna lhe havia mostrado.
Por outro lado, Jules estava sentada no sofá, com a cabeça apoiada no ombro de Eddie, tentando descansar.
Cada vez que fechava os olhos ela poderia continuar repetindo as memórias indefinidamente, então se proibiu de dormir, mesmo que os meninos lhe dissessem que era melhor.
Ela não queria fazer parte do plano de Vecna.
— Ele me mostrou coisas que ainda não aconteceram. — sussurrou a mais velha. — São coisas terríveis. Eu vi... Uma nuvem escura se espalhando sobre Hawkins. O centro em chamas. Soldados mortos. E uma... Uma criatura gigante com a boca aberta. E aquela coisa não estava sozinha, havia muitos monstros. Um exército inteiro. — Jules olhou para cima. — E eles estavam entrando em Hawkins. Para nossas ruas. Nossas casas. E então... Ele me mostrou minha mãe. Holly. — sua voz começou a falhar. — E Mike. E eles estavam... Eles estavam todos...
Ela parou ali, sem forças para continuar falando.
Jules sentiu suas mãos tremerem, então começou a brincar com seus anéis, tentando se acalmar.
Tudo parecia culpa dela.
— Bem, mas... — todos olharam para Steve. — Ele só queria assustar você, Nancy. Sim? Porque isso não é real.
— Ainda não. — respondeu ela. — Mas havia outra coisa. Ele me mostrou portais. Quatro portais ao longo de Hawkins. — eles olharam para ela com cuidado. — E esses portais... Pareciam com o do trailer de Eddie, mas continuavam crescendo. E não eram Hawkins do outro lado. Foi o nosso Hawkins. Nosso lugar.
Max falou, chamando a atenção deles.
— Quatro sinos. — Max olhou para eles. — O relógio de Vecna. Sempre toca quatro sinos. Quatro exatamente.
— Eu também os ouvi. — sussurrou Nancy, ainda angustiada.
A ruiva suspirou: — Ele nos contou seu plano desde o início.
— Quatro mortes. — Lucas falou. — Quatro portais. O fim do mundo.
— O começo do fim... — Jules sussurrou, beliscando-se inconscientemente.
Dustin falou: — Se isso for verdade, só resta uma morte.
Tudo estava se tornando demais para eles, muita informação, muito fardo sobre seus ombros sabendo de tal coisa.
— Temos que ligar para eles. — disse Steve a Max. — Tente novamente.
A garota de olhos azuis pegou o telefone e discou novamente, esperando que atendessem. A morena se levantou do sofá, com todos os olhos voltados para ela, deu alguns passos e olhou pela janela, depois caiu no chão, abraçando as pernas e escondendo o rosto nelas.
Jules não pôde continuar.
Não encontrou forças para fazer isso.
Dustin e Steve trocaram um olhar, enquanto ambos faziam caretas.
Max estava com medo de se aproximar depois do que aconteceu na noite anterior. Jules parecia distante, ela nem queria falar com eles, não queria contar o que tinha visto.
A ruiva desligou o telefone, absolutamente exausta.
— Algo? — perguntou o de boné.
Ela negou: — Não. Tocou algumas vezes e disse ocupado.
— Talvez você tenha digitado errado. — disse o mais velho. — Tente novamente.
Max relutantemente pegou o telefone novamente, — Não disquei errado. — ela esclareceu.
— Bem, eu não sei. — Steve murmurou em resposta. — Só estou dizendo que poderia ter acontecido.
Esperaram muito, mas deu o mesmo resultado das vezes anteriores. Ninguém atendeu o telefone.
Julie sentiu os olhos inchados, as mãos tremendo e o sono a matava, mas ela se proibiu de fechar os olhos novamente.
Já havia escuridão suficiente dentro dela sem acrescentar mais nada.
— Eles não respondem. — negou a ruiva.
Lucas franziu a testa. — Como isso é possível? — ele olhou para Dustin em busca de respostas.
— Eu te contei que Joyce trabalha com telemarketing. Ele está sempre ao telefone. — ele respondeu quando capturou o olhar dele. — Mike sempre diz isso.
A garota de olhos azuis interveio. — Tudo bem, mas há quanto tempo você está ocupado? Três dias? Não é por causa de Joyce. Claro que não. — ela disse. — Alguma coisa está errada.
Eleven, que estava olhando para eles assim que entrou em transe, caminhou lentamente em direção à morena que estava no chão, se abraçando.
Ela aproximou sua mão com cuidado, enquanto sua testa franzia.
— Jules? — ela perguntou, mas claramente não obteve resposta.
A última coisa de que ela se lembrava era de perdê-la naquela noite no STARCOURT. Na mesma noite ela também perdeu Hopper.
Sua primeira amiga estava viva e ela não estava lá para vê-la pessoalmente.
E se voltarmos para os outros, Nancy se aproximou lentamente da janela, enquanto em seus olhos ainda era possível ver o quão afetada ela ficou após seu encontro com Vecna/Henry/One.
— Não pode ser coincidência. — ela falou. — O que está acontecendo com os outros está relacionado a isso. É muito lógico. — Jules olhou para cima, evitando as caras de pena que os outros lhe fizeram. Ela se concentrou apenas em Nancy. — Mas Vecna não pode machucá-los. Não se ele estiver morto.
Steve franziu a testa quando a ouviu dizer isso, e então aconteceu o pior.
Nancy se virou: — Temos que voltar. Retornar ao Outro Lado.
Todos automaticamente começaram a negar, enquanto repetiam "Não" várias vezes, como se isso fosse fazer a mais velha cair em si.
— Não. — Harrington levantou-se. — Vamos pensar melhor, certo?
— O que temos que pensar? — Nancy perguntou.
Ele respondeu rapidamente: — Mal conseguimos sair com segurança.
— Sim, não estávamos preparados. — exclamou ela, elevando a voz. — Mas desta vez estaremos. Obteremos armas e proteção. Atravessaremos o portal, encontraremos seu covil e o mataremos.
— Ou ele nos mata. — respondeu ele, ainda negando a ideia de Nancy. — Você só sobreviveu porque ele quis.Mas não pode ter sido assim, ele poderia ter levado ela. — exclamou apontando para Jules, que engoliu em seco. — Ele não tem medo de nós.
Robin levantou-se, apresentando-se na conversa.
— E com razão. — eles trouxeram o olhar para ela. — Estávamos errados sobre Vecna. Henry. One. Desculpe, como devemos chamá-lo? — todos deram respostas diferentes, aumentando a confusão. — Claro. Aprendemos algo novo sobre Vecna, também conhecido como Henry, também conhecido como Um. Ele é um número, como Eleven, apenas uma versão maligna, assassina e doente dela com uma pele horrível. Mas o importante é que é muito poderoso. Poderia nos destruir num piscar de olhos. Não é uma luta justa.
Eles agora voltaram o olhar para Dustin, que também falou.
— E por que ser justo? — Dustin perguntou. — Você está certo. É como o Eleven, e isso nos dá vantagem. Conhecemos seus pontos fortes e fracos.
Erica franziu a testa. — Fraquezas?
— Quando Eleven viaja à distância ela entra em uma espécie de transe ou algo parecido. Tenho certeza que Vecna também.
— Isso explicaria o que ele estava fazendo naquele sótão.
Dustin assentiu: — Exatamente. — ele respondeu. — Quando ele atacar sua próxima vítima, aposto que ele estará naquele sótão e seu corpo estará indefeso.
— Indefeso? — Steve perguntou e então apontou para as marcas em seu pescoço. — E seu exército de morcegos?
— É verdade. — Dustin aceitou. — Teremos que superá-los ou distraí-los de alguma forma.
Eddie começou a se levantar do sofá. — E como exatamente vamos fazer isso?
— Não faço ideia. — ele negou.
— Ótimo. — ele respondeu sarcasticamente, caindo de volta no sofá.
Ainda assim, Dustin continuou com seu plano: — Mas quando eles partirem, será o fim deles. Será como assassinar Drácula dormindo em seu caixão.
Jules franziu a testa, isso parecia incrivelmente correto, mas havia algo, uma peça essencial faltando que os meninos não estavam cientes.
E ela teria que contar a eles.
— Isso tudo faz sentido em teoria. — Robin falou novamente. — Mas não há um padrão nos ataques de Vecna. Ou pelo menos não descobrimos. Não sabemos quando ele atacará novamente, não sabemos quem ele atacará.
— Sim, nós sabemos.
Jules automaticamente voltou seus olhos para a ruiva, enquanto franzia a testa, esperando ter entendido mal o que ela quis dizer.
— Ainda posso sentir. — Max murmurou. — Ainda estou marcado. — depois pensou melhor. — Droga. Se eu parar de música, ele vai me notar novamente.
Lucas olhou para ela. — Max. — ele falou. — Não faça isso. Ele vai matar você.
A garota de olhos azuis fez contato visual com Jules e depois respondeu a Lucas.
— Eu sobrevivi uma vez. Eu posso fazer isso de novo. — Max assentiu. — Eu só preciso mantê-lo ocupado até vocês entrarem no sótão...
Ela ia continuar falando, mas alguém a interrompeu. Todos observaram Jules se levantar lentamente, tirar o chapéu e deixá-lo sobre a mesa, enquanto suspirava.
— Você não precisará fazer isso. — Jules falou, recebendo olhares confusos de todos. — Eu farei isso por você.
Max balançou a cabeça. — Não, Jules...
— Está tudo bem. — Jules assentiu, interrompendo-a novamente. — Se eu tiver que morrer para te salvar... — então olhou para os outros. — Para salvar todos vocês, estou disposta a fazer isso.
— Como temos tanta certeza de que ele irá atrás de você? — Lucas perguntou.
— Porque ele me mostrou isso. — ela sussurrou. — E devo isso a ele...
Nancy franziu a testa: — O que você quer dizer, Jules?
Ela pediu que se sentassem e eles o fizeram, esperando que ela falasse novamente.
— Quando eu tinha nove anos, minha irmã morreu. — ela começou a dizer, fazendo com que todos prestassem o máximo de atenção possível. — Ela... eEla se suicidou por minha causa e eu não pude salvá-la, não pude deixar ela sabe que valeu a pena continuar. — ela sussurrou. — E...Quando Vecna atacou a mim e a Nance ontem, eu vi coisas... Coisas que estão me atormentando agora porque preciso saber o que significam..
— Julie. — Dustin sussurrou.
— Eu acredito no devorador de mentes. — disse ela, interrompendo seu melhor amigo.
Todos se entreolharam com carrancas.
— O que? — Nancy perguntou, dando um passo à frente.
Jules sentiu seu lábio inferior tremer, assim como sua voz, que mal saía.
— Ele nasceu comigo. Eu acreditei na sombra naquele dia no hospital. Eu... Eu fui e sou responsável por todas as mortes que ele causou. — ela olhou para Max, lembrando de Billy. — Vecna sabia disso, por isso toda vez que ele teve a oportunidade de me matar ele simplesmente não o fez. Porque ele precisa de mim, ele precisa da parte do devorador de mentes que está dentro de mim... — as lágrimas começaram a cair lentamente pelo seu rosto. — Se eu morrer, a sombra morre comigo. É assim que funciona.
— Não. — Dustin negou, entendendo o que ela quis dizer. — Isso não vai acontecer.
— Dustin... — sua melhor amiga murmurou em tom suplicante, deixando-a saber que ela não mudaria de ideia.
Steve se levantou: — Não, Julie. Não vamos deixar você fazer isso.
Jules tinha as respostas que procurava há tanto tempo, mas a que custo?
Ela falou novamente: — Resumindo, eu sou um monstro. — ela soltou uma risada seca. — E não permitirei que nenhum de vocês corram o risco de morrer só por minha causa. — ela falou.
Sacrificar-se para salvar seus amigos e familiares.
Max, que cruzava os braços em silêncio, ergueu o olhar e fixou-o na morena que lhe causava tantas sensações.
— E não vou deixar você fazer isso. — Max falou, fazendo com que olhem para ela. — Já perdi você uma vez, não quero ter que passar por isso de novo, Jules. — Max se aproximou dela com passos lentos. — Vamos dar um outro jeito, sempre fazemos isso. Mas até lá, você está segura, ok? Você vai ficar comigo. — Max assentiu e levou as mãos ao rosto da morena.
— Eu não posso deixar você ir também. — negou Jules, fechando os olhos e deixando mais lágrimas rolarem por suas bochechas vermelhas.
Claramente a morena referia-se a Dahlia.
Ela não pode salvá-la e não se deixaria passar por isso novamente com Max.
O restante do grupo assistiu à cena com um misto de ternura, desconforto e atenção.
A maioria deles já havia percebido o que estava acontecendo entre Jules e Max, mas ninguém jamais tocou no assunto.
Robin, Nancy, Dustin e Steve tinham pequenos sorrisos no rosto, enquanto os irmãos Sinclair e Eddie estavam carrancudos.
Max encostou a testa na dela. — Ficaremos bem.
Jules assentiu e fungou, lutando internamente para acreditar em suas palavras.
— Sim, ficaremos. — Jules sussurrou.
Todos na sala também desejavam que isso fosse verdade.
Nenhuma das duas se perdoaria se perdesse uma ou as duas o mesmo tempo.
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