017

˖࣪ ❛ A VOLTA
— 17 —

JULES LEVOU UMA colher de sorvete à boca, olhando a hora com impaciência. Seus amigos ainda não haviam chegado e ela estava pronta para matá-los se a deixassem sozinha.

O bom era que ela poderia esperar no trabalho de Steve Harrington, onde poderia comer todo o sorvete que quisesse, mas era obrigada a pagar, é claro.

E por falar no moreno, ele olhou para ela com os olhos semicerrados e cruzou os braços.

— O que? — ela perguntou. — Não me olhe assim, Harrington.

— Você percebe que tenho que aguentar ter você aqui todos os dias, certo?

Ela encolheu os ombros: — Você adora me receber aqui, sou uma boa companhia.

Steve franziu a testa. — Quem te disse isso?

Robin abriu a janela deslizante, dando a ambos um sorriso divertido.

— Eu disse a ela. — Steve revirou os olhos. — Vamos lá, ela  é adorável.

— Além disso, nós duas gostamos de lembrá-lo do quanto você é péssimo com as garotas. — destacou Julie.

Steve revirou os olhos, fechando a janela na cara de Robin. Recebendo uma risada zombeteira dela.

Ele se virou e apontou o dedo para Jules, como se fosse repreendê-la. — Posso te deixar sem sorvete.

— Eu paguei por isso, você lembra?

A verdade é que Steve já havia se acostumado com sua presença na sorveteria e entendia que Jules estava sentindo falta de Dustin desde que ele foi passar um mês inteiro no acampamento, então passava a maior parte do tempo com ele ou com Max.

A campainha do cliente tocou e Jules deu um pulo feliz, ela sabia que eram seus amigos.

— Ei, idiota, seus filhos estão aqui. — avisou Robin.

Steve estava abrindo a janela deslizante.

— De novo? É serio?

Ele os deixou passar rapidamente, certificando-se de que ninguém os visse, caso contrário seu trabalho estaria em perigo.

— Olá, que... — Jules começou a cumprimentar, mas Max pegou a mão dela e puxou-a rapidamente. — Meu sorvete!

Ela teve que deixá-lo em cima da mesa, com uma cara triste.

Steve abriu a porta dos fundos e os deixou sair, mas bufou assim que viu Jules com eles.

— Você sabia que eles viriam?

A morena apertou os lábios em uma linha fina, apertando a mão livre em saudação.

— Eu juro que se alguém souber disso...

Todos exclamaram a mesma coisa. — Nos estamos mortos!

Jules se virou, andando para trás.

— Eu também te amo!

Harrington revirou os olhos, fechando a porta e voltando para sua estação de trabalho.

Eles continuaram andando até chegarem às salas de cinema, onde claramente iriam entrar furtivamente em um filme. Eles entraram e viram tudo na escuridão, pediram permissão para passar e se acomodaram um ao lado do outro.

— Perdemos o trailer. — reclamou Jules.

Max se virou para olhar para ela. — Mas conseguimos, querida. — Max sussurrou, enfatizando o apelido com zombaria.

Max vinha incomodando-a com isso durante metade do verão, desde que Jules admitiu que ela ficava nervosa quando ela a chamava assim. Às vezes Max usava isso para irritá-la e outras vezes para acalmá-la.

A primeira vez que Max a chamou assim na frente do grupo, todos ficaram um pouco surpresos, mas não fizeram muitas perguntas. Jules ainda não tinha falado com ninguém sobre seus sentimentos, e ela planejava fazê-lo, mas quando Dustin foi para o acampamento o plano foi por água abaixo.

Jules se virou para olhar para ela e sorriu enquanto ela revirava os olhos, sentindo aquela sensação bastante familiar no estômago.

Will abriu a mochila e começou a distribuir as bebidas e a comida, enquanto o filme começava.

Eles estavam tão concentrados em observar a mulher na tela, até que tudo escureceu, gerando reclamações das pessoas presentes.

Jules olhou para baixo, enquanto controlava a respiração, sentindo algo estranho.

Jules...

Olho para todos os lados, um pouco assustada. Como era possível que ela ouvisse se não estava do Outro Lado?

Jules lambeu os lábios e fechou os olhos por alguns segundos, concentrando-se em outras coisas, para evitar isso.

Assim que a energia voltou, ela recostou-se no banco e inconscientemente se virou para olhar para Will, que olhou para ela.

— Ei. — Max colocou a mão em seu braço. — Você está bem?

Jules olhou para ela e assentiu.

— Sim. — Jules murmurou.

O resto do filme foi gasto com ela sem conseguir se concentrar e nem mesmo conseguir tocar na pipoca. Mas seus amigos estavam lá, o que a manteve calma.

Dustin estava voltando do acampamento e eles decidiram surpreendê-lo na casa dele, então agora estavam escondidos atrás da parede, enquanto Eleven usava seus poderes para controlar os brinquedos de Dustin e guiá-lo até a sala.

Assim que o ouviram chegando, eles se aproximaram, então Mike disse a Eleven para parar e eles se aproximaram lentamente por trás em silêncio para surpreendê-lo.

Lucas carregava uma placa de tamanho médio informando seu retorno e os demais carregavam confetes e outras coisas para recebê-los.

Eles o viram ajoelhado no chão, olhando confuso para seus robôs. Max contou silenciosamente os sinais até o número três e então nem tudo saiu como o esperado.

Dustin se virou gritando e jogando o spray de cabelo que usou no baile de inverno na cara de Lucas.

Todos deram um passo para trás, enquanto o menino Sinclair gritava de dor, ao lado de Dustin. Assim que as coisas se acalmaram, a ruiva acompanhou Lucas para lavar os olhos.

Dustin baixou sua 'arma mortal' e nesse momento a morena praticamente se lançou contra ele.

— Senti a tua falta! — Jules exclamou feliz.

Dustin aceitou e retribuiu o abraço, sorrindo.

— Eu também senti sua falta, Julie. — ele falou.

Eles duraram mais alguns segundos, até que Mike revirou os olhos e falou com eles.

— Nós também sentimos falta dele, Jules. — disse ele, indiretamente para fazê-la deixá-lo ir.

— Cale a boca, Wheeler. — Jules respondeu, abraçando seu melhor amigo por mais alguns segundos antes de se separar.

Os outros o cumprimentaram e então ele os arrastou para seu quarto, já que tinha que mostrar coisas que Dustin disse serem super legais.

Ele pegou a bolsa que estava em cima da cama e começou a tirar tudo.

— Eu chamo isso de relógio. — disse ele, passando-o para Will, que ergueu o suposto relógio, feito de madeira e com uma alça para girá-lo. — Funciona com o vento. Muito útil para o apocalipse.

Will entregou-o a Jules, que o olhou com interesse e o colocou sobre a mesinha ali.

— E aqui está... Um martelo. — ele aproximou de Mike e Eleven, que se afastaram. — Muito legal, né?

— Muito legal. — Jules concordou, pegando o espremedor e olhando-o de perto. — Você poderia matar alguém com isso...

Todos se viraram para olhar para ela com carrancas.

Ela pegou e deixou sobre a mesa também. — Só uma observação, pessoal.

Dustin continuou mostrando coisas para eles, enquanto Mike soltou um suspiro cansado, claramente demonstrando tédio.

— Mas isso... Essa é minha obra-prima. — ele deixou a bolsa no chão, então eles tiveram que se ajoelhar. — Gostaria de apresentar-lhes o Cerebro.

Todos inclinaram a cabeça, um tanto confusos.

— O que é isso exatamente? — Mike perguntou.

— Uma torre de rádio desmontada, única, que funciona com baterias. — ele sorriu.

Will falou: — Então é um rádio amador?

— O Callidac dos rádios amadores. Este bebê tem um sinal cristalino a longa distância. Do Pólo Norte ao Sul.

— Interessante. — Jules murmurou, tocando as partes desmontadas do rádio.

— Posso conversar com minha namorada onde e quando quiser.

Todos olharam um tanto chocados.

— Namorada? — perguntaram os quatro ao mesmo tempo.

Jules estava com um grande sorriso no rosto, ela estava muito feliz por Dustin e definitivamente queria saber mais sobre essa namorada.

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