O FRIO DE UM SERIAL KILLER
O primeiro erro cometido naquela noite foi ter esquecido as chaves da mansão em cima da cama. Sr. e Sra. Reynolds dormindo, o frio congelante do inverno de Reedson e um serial killer à solta, nada mais de ruim poderia acontecer na vida de Belinda.
Suspirou vendo que teria de escalar uma enorme árvore para poder chegar à varanda do quarto; por sorte, tinha mania de deixá-la aberta. Colocou o primeiro pé no tronco, pé após outro pé, parece até fácil pensar assim, mas, ao escutar o galho onde estava pisando cair, rezou mentalmente para não levar uma queda. Mais alguns metros e estaria no seu aconchego. Continuou o processo, estirou o braço e inclinou para alcançar a grade, porém sua mão não conseguiu, a fazendo cair entre os galhos e bater as costas violentamente no chão do gramado. Queria poder gritar de dor, mas iria acordar os seus pais e preferia mil vezes reprimir toda aquela dor que estava sentindo e tentar novamente entrar.
Subiu com mais cuidado dessa vez e finalmente conseguiu entrar no quarto, trancando a porta da varanda. Deitou-se na cama para não fazer tanto barulho e acordar seus pais, ou então teria que dar uma explicação bem mais convincente do que a que deu ao xerife.
No dia seguinte, começariam uma nova investigação, tudo precisava ocorrer bem, uma noite boa de sono era a coisa que mais necessitava no momento.
As dores em seu corpo eram imensas, sentia que uma costela havia sido fraturada, porém sabia que o modo como caiu não era capaz de causar isso, além de ser uma altura nem tão grande.
— Bom dia, querida, está sem fome? — O olhar atencioso de sua mãe a fez sair do transe que se encontrava.
— Apenas pensando demais, acabei esquecendo do café. — Sorriu amarelo.
— Sei que anda preocupada com os assassinatos da cidade, mas deveria prestar atenção apenas nos estudos. — Acariciou os seus longos cabelos loiros. A garota confirmou com a cabeça, sabia que sua mãe nunca a entenderia, não podia negar a emoção que sentia quando investigava algo.
— Seu pai e eu vamos ter que viajar, parece que o governador não poderá comparecer neste final de semana, mas seu pai precisa tratar de assuntos urgentes com ele — disse, fazendo Belinda aprovar a ideia, por mais que não esboçasse reação, ficou feliz por ter dois dias sozinha.
— Está tudo bem, estou acostumada — tentou soar sem nenhuma animação, com tristeza.
— Não fique assim, voltaremos em breve. — Beijou o rosto.
Belinda conseguiu mentir, estava se tornando ótima naquilo.
Emoções são algo indiferente para os psicopatas, não transparecem, nem ao menos sentem algo, os cientistas ainda não conseguem formular algo tão complexo sobre uma mente dessa, pois é muito enigmático. Mas o mais difícil neste caso é que ainda não encontraram nada relacionado com as vítimas, nem algo parecido, a não ser por serem todos jovens entre 17 a 25 anos.
— Preciso sair agora. — Levantou-se rapidamente, lembrando que havia combinado com Steve e Olívia para encontrarem-se em frente ao Dom's, com certeza, estava atrasada a essa altura. — Boa viagem, e espero que voltem logo. — Sorriu meio tristonha.
Por mais que fosse ótimo não ter os seus pais durante o final de semana, ainda sentiria falta, mas estava acostumada.
Ao aproximar-se da lanchonete, pôde observar os dois amigos sentados conversando animadamente sobre um assunto.
O trio de amigos tinham a mesma idade dezoito, haviam nascido no mesmo ano, apenas os meses que se diferenciavam, como Steve que nasceu em 12 de Janeiro, Olívia em 24 de Maio e Belinda em 08 de Junho. Foram colocados na mesma creche aos dois anos, os trabalhos dos pais de Belinda e Steve ocupavam todo o tempo deles e a mãe de Olívia estava drogada demais para cuidar da filha e de Adam, que tinha apenas quatro anos na época.
— Desculpem o atraso — falou ao sentar à mesa. — Meus pais irão viajar hoje e passarão o final de semana inteiro fora, poderão ir para lá, pesquisar mais sobre os assassinatos — pronunciou rapidamente, não deixando os dois falarem, pois sabia que provavelmente a essa altura já estariam com pena dela.
— Vão viajar novamente? — Olívia perguntou, tentando não transparecer a raiva que estava sentindo. Belinda apenas concordou com a cabeça, abaixando logo em seguida.
— Pelo menos teremos estes dias para descobrirmos algo. — Steve segurou a sua mão e sorriu.
Francamente, já tinha passado o tempo em que Belinda passava noites chorando pela falta dos pais, o maior tempo que passaram sem se verem foi seis meses; o que, na época, fora terrível, uma vez que era apenas uma criança. Mas cansou, seus pais estavam mais preocupados com o trabalho de prefeito do que com a própria filha.
— Vamos à loja Winkson's, temos que, de alguma forma, conseguir a lista de pessoas que compraram este mês e o anterior. — Sorriu animada com a ideia de uma nova aventura para tentar conseguir a lista.
Na verdade, Belinda nunca foi boa com planos, nunca conseguiria criar um que desse certo, mas conseguia executá-los com maestria. Mas não precisava disso, já que tinha Olívia como responsável por isso, e Steve para conseguir arrancar algumas informações da polícia.
— Chegamos, o que faremos? Eles não nos entregarão facilmente a lista de clientes — disse quando estacionaram em frente à loja, que se encontrava vazia.
— Por isso que peguei um distintivo na delegacia. Terrecy Wolks é o novato de lá, vive perdendo as coisas, principalmente isto. — Steve sorriu maléfico.
— Agora tudo o que precisamos é entrar naquela loja e saber o nome de todos que compraram lá — Olivia pronunciou empolgada.
Ao entrarem pela porta do local, puderam contemplar a riqueza que a loja possuía, champanhes eram servidos de graça aos poucos clientes que se encontravam no local. Os atendentes não ficaram felizes de verem duas garotas entrando no ambiente.
— O que desejam? — perguntou de forma ríspida um homem careca. — E vocês duas não deveriam estar aqui, é loja masculina — enfatizou a última palavra.
Mais um ponto observado por Belinda, além de a cidade estar um caos com tantos assassinatos, havia também o machismo impregnado na cultura. Homens achando-se superiores em relação às mulheres, isso sempre era visto nas ruas, principalmente, no colégio, onde tinha que lidar com o fato de que ser mulher a fazia menos inteligente.
O racismo era outro preconceito encontrado na cidade de Reedson, Belinda estava farta de ver sua amiga Olívia ser impedida de fazer algo por causa da cor de sua pele.
— Somos policiais, então se o senhor não se importar em nos responder algumas perguntas. — A garota respondeu no mesmo tom de grosseria.
— Conta outra, garota. Três adolescentes fingindo ser policiais. — O homem em sua frente ria.
A Thompson conhecia um cara que falsificava identidades, como eram espertos, tinham três com diferentes codinomes para quando precisassem passar por momentos como aquele.
— Se não acredita, está aqui o distintivo. — Mostrou rapidamente para ele, o homem engoliu em seco. — É claro, também nossas identidades. Pheobe Lins, nascida em 8 de outubro de 1995, no estado de Texas.
— Me desculpem a inconveniência, mas parecem tão jovens para este trabalho — o homem disse com uma voz falhada e baixa. Belinda segurou o riso, antes de se envolverem nos crimes da cidade, estas identidades eram usadas para comprar bebidas ou ir a boates.
— Senhor, poderia nos informar se recentemente, ou há um mês, houve algum cliente diferente? — indagou Belinda ao homem.
— Não, senhora! Todos os clientes que vieram aqui são os mesmos e completamente normais — disse com uma voz ainda trêmula.
— Nada de diferente? Como seria o normal destes clientes? — Sabia que eram perguntas demais, mas era a única pista que tinham até o dado momento e não perderia essa chance por nada.
— Sabe, todos esnobes e arrogantes — falou dando de ombros.
— Bom, precisamos que seja específico, se é que me entende, estamos no meio de uma investigação e, pelo que parece, o homem que estamos procurando veio aqui nesta loja — tentou soar firme, como se estivesse acostumada com aquilo.
— Teve um homem há algumas semanas, ele estava vestido todo de preto, nada social, estava sendo ignorante com todos nós e pagou com dinheiro pelo sapato que comprou.
— Muito bom, tem o nome deste homem? — indagou, tentando não transparecer a animação em sua voz.
— Sim, temos o registro de todos os clientes e vendas. — Caminhou até o balcão onde estava localizado o computador. — Hernest Holder comprou um dos sapatos mais caros da loja.
— Poderia nos passar esta lista? — disse firme. Ele concordou e imprimiu a lista, entregando-a.
— Agradeço pelas informações, garanto que lembraremos de sua disponibilidade para polícia. — Belinda sorriu, segurando firmemente a lista em suas mãos.
Quando chegaram ao carro, finalmente puderam comemorar, mas o mais estranho de tudo era como o homem havia caído na conversa do trio de adolescentes que se passavam por policiais, o distintivo era muito fácil de tê-lo, jovens faziam cópias direto.
— Conseguimos algo, podemos ir para sua casa? — Steve indagou ansioso, a garota concordou e logo seguiram em direção ao local.
Belinda suspirou frustrada, como poderia ter sido tão trouxa e ter acreditado que aquele homem havia dado informações certas? Não havia nenhum Hernest Holder na lista, ele havia dado a lista verdadeira, a garota mesma vira no computador, porém, um nome falso.
— Claro que ele sabia que estávamos mentindo — Olivia pronunciou irritada.
— Como se não fosse fácil, sério, fomos burros demais, olha para os nossos rostos jovens — Steve bufou.
— Calma, ainda temos a lista verdadeira, podemos procurar pelo modelo e tamanho — A garota pronunciou, tentando trazer a animação dos amigos de volta. Demorariam milênios para encontrar, mas era a única forma.
Olivia e Steve sentaram-se ao seu lado, agora precisam de muita precisão e bastante café.
O dia já tinha escurecido, Belinda observou quando foi buscar mais uma xícara de café, mas nada, apenas três homens que calçavam a mesma numeração, mas nenhum que tinha comprado o sapato forg.
— Nada na lista, já relemos várias vezes, existem apenas estes três, mas nada com a marca do sapato. — Olivia jogou a lista em cima da mesa. Era exaustivo procurar por horas e simplesmente não existir nada.
— Porque não procuramos estes nomes na lista telefônica? — indagou Steve. A garota sorriu em resposta, uma boa tática para verem se estes nomes existiam mesmo.
— Podemos ir a um telefone público e ligar — falou, não queria ser rastreada, se havia uma coisa que tinha aprendido todos aqueles anos era que assassinos possuíam muitas coisas do FBI.
O frio atingia o rosto dela, de uma forma violenta, a sensação de terror pelas ruas da cidade era verídica, não via nenhuma pessoa perambulando, apenas casas fechadas. Halloween era para ser uma data comemorativa, em todas as cidades dos Estados Unidos, era assim. Ainda via decorações assustadoras na frente das casas, mas eram poucas.
— Procure os nomes na lista, por favor— Steve pediu a ela.
Aos poucos, foi ditando o número, enquanto o garoto discava. Seria mais fácil uma voz masculina soar, pois com uma cidade preconceituosa como aquela, provavelmente, desligariam na hora em que ouvissem uma voz feminina.
— Senhor Moore? — indagou o nome do primeiro da lista.
— Somos da loja Winkson's. Infelizmente, ocorreu um erro em nosso sistema, poderia nos informar qual o modelo que foi comprado há duas semanas? — Steve pronunciava de forma educada.
Steve desligou logo em seguida, negando com a cabeça, mas, prontamente, a garota ditou os próximos números, porém, novamente, não era o mesmo modelo. Restava apenas um, deveria ser aquele, só poderia ser.
— Olá, senhor Brown? Aqui é o gerente da loja Winkson's.
Observava atentamente a ligação enquanto Olívia segurava em seu braço com força. Ela sempre foi ansiosa demais, apesar de tentar esconder, o que não dava certo, pois os amigos sempre percebiam. A garota sempre teve mais medo que os demais.
— Poderia nos informar qual o modelo que comprou há três semanas? Tivemos uma falha em nossos sistemas. — Fez uma breve pausa esperando a resposta. — Muito obrigado, tenha uma boa noite. — Desligou o telefone e encarou o aparelho por alguns segundos.
— O que houve? Não era o modelo? — perguntou rapidamente. — Mas como isso é possível? A lista era verdadeira, eu mesma vi. —Belinda abaixou-se colocando a mão na testa.
— A lista é verdadeira, senhor Brown é nosso assassino — Steve falou trêmulo.
Os três se encararam repetidamente, sem pronunciarem nenhuma palavra.
Haviam encontrado o serial killer, mas o problema era qual seria o próximo passo.
— Temos que ir ver o outro corpo que foi encontrado — Olivia foi a primeira a falar depois daqueles longos minutos de silêncio.
— Está certo, não temos como seguir em frente sem antes ver a outra vítima — concordou com o que foi dito.
— Temos um problema, os policiais estão ainda lá, estudando a cena do crime, como conseguiremos entrar? — Steve perguntou.
— Xerife Madson deve confiar em mim, já solucionei tantos casos para a polícia de Reedson que seria um erro absurdo não me envolverem nesta série de assassinatos, ele com certeza vai me deixar entrar — Belinda gabou-se.
— Não! — o xerife respondeu firme.
— Por quê? Eu sempre ajudo vocês a resolverem os casos. — Insistiu, era burrice deixá-la fora daqueles crimes.
— Você é apenas uma criança, não posso colocar em uma série de homicídios, não pretendo perder minha licença — pronunciou ainda com um tom autoritário.
— Senhor Madson, precisa entender que eu serei uma grande ajuda. Precisa convencer aquele homem.
— Belinda, seu pai é o prefeito, se ele souber que estou colocando a filha dele para investigar casos de assassinatos, eu perco o meu distintivo e sou expulso da cidade.
Pensado desta maneira, era um belo ponto para ele não deixar, seria um tanto egoísta da parte dela se insistisse nisso, além de perder um pai, perderia o melhor amigo, mas Belinda tinha que ajudar neste caso, era algo mais forte que ela.
— Tenho uma informação muito valiosa — disparou enquanto o senhor Madson já virava as costas para ir embora.
— Qual informação valiosa é essa? — indagou, voltando a encará-la.
— Tipo o número e um codinome que usa. — Sorriu ao ver a cara dele se formar em surpresa total.
— Como consegue essas coisas? Sério, estamos há semanas trabalhando nisso e não encontramos nada — falou frustrado.
— Apenas observando com cautela. — Deu de ombros.
— Sabe que posso te prender até contar todas informações que tem — disse em um tom ameaçador.
— Claro que sei, mas o senhor sabe que minha boca será um túmulo. — Sorriu amigavelmente.
— Certo, deixo você trabalhar conosco, mas seu pai não pode ficar sabendo disso — alertou.
— Jamais, mas Olívia e Steve estarão comigo, pois sem eles não conseguiria as informações — disse apontando para os amigos.
— Tudo bem, nunca conseguiria separar vocês — suspirou.
Era totalmente verdade. Uma vez, quando ainda tinham onze anos, os pais de cada um tentaram separá-los. Os pais de Belinda alegaram que ela não poderia andar com crianças de classes inferiores: "Como a filha do prefeito poderia ser vista com pessoas sem uma boa condição?". O que não adiantou, pois fugiu de casa e abrigou-se na casa dos Madson's
— Agora digam tudo — ordenou o xerife.
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