A PARTE QUE FALTA
Belinda fitava de longe os cabelos escuros de Adam. O garoto andava chutando as folhas, olhando atentamente para o chão, ela não sabia como ele estava se sentindo naquele momento porque, por mais que Olívia fosse como uma irmã, o Thompson mais velho a criou como pai, sempre a protegendo, mesmo que fosse poucos anos mais velho que ela.
— Não sei por que o chamou, ele é perigoso, B! — Steve sussurrou no seu ouvido e aquilo causou uma certa tensão, pois ela detestava quando diziam isso sobre Adam.
A garota não sabia da metade das coisas que ele era envolvido, como o acidente que levou à morte de Justin Woods na estrada principal da cidade, a morte de overdose da Annabelle Mason, ou o pior de todos, que assombrava Adam todos os dias, quando pensava na noite em que Harry Davis foi agredido até perder a consciência e os movimentos das pernas. Ele havia participado de tudo isso, não porque era sádico, na verdade, estava longe disso, a sua participação foi levar o amigo para o hospital mais perto, mas se culpava por não ter chegado a tempo de tudo isso acontecer. Harry sempre foi o seu amigo, porém quando começou a trair a confiança do chefe do tráfico do qual o Thompson não gostava de dizer o nome, ele mandou o agredirem para saber que traidores nunca escapam. O chefe era o garoto mais cruel e desumano que já conhecera.
— Ele não é assim, você não o conhece — rebateu, tentando conter a raiva que surgira.
— E você também não — comentou Steve, e aquilo foi como um balde de água jogado sobre ela, porque realmente não sabia quase nada sobre Adam, e eles haviam se beijado sem ela saber ao menos o que ele tanto fazia no lado mais perigoso da cidade.
— Podemos apenas procurar? — indagou com o maxilar fechado.
Não estava com cabeça para escutar Steve. Por mais que nutrisse um sentimento por ele, aquele não era o momento, não quando estava pensando no beijo que tivera com Adam e em sua melhor amiga, que estava nas mãos de um psicopata.
— Não sabemos nem o que estamos procurando — ele respondeu com os braços cruzados, como uma criança birrenta.
Como aquilo ferveu o sangue de Belinda! Ela sabia que não tinha nada além da pista da floresta, mas ele poderia, pelo menos, procurar quieto? Ou fingir que estava procurando.
— Acho melhor nos separarmos — gritou para que o Thompson, que estava a metros de distância deles, também escutasse.
— O quê? — berrou Steve assustado. — Não podemos ficar sozinhos, e se ele estiver por aqui?
— Acha mesmo que ele estaria aqui? Assassinos em série são inteligentes, ele sabe que eu não viria sozinha. Provavelmente é capaz de ter alguma câmera por aqui — respondeu, sabendo que não acreditava em um terço do que dizia, porém estava tão farta da maneira que seu amigo estava agindo que não conseguia ficar ao seu lado.
— Você está certa! Vamos nos dividir — Adam concordou.
A garota suspirou fundo e caminhou para o leste, na direção oposta onde os dois estavam, sem ao menos esperar algum rebate do Madson.
Enquanto caminhava pelas enormes árvores da floresta, ela se sentia livre. Desejava que Steve pudesse se dar bem com o Adam. Por trás de toda sua fama ruim existia ainda um garoto com um coração bom. Porém a sensação de medo a invadiu assim que pensou nas vítimas, de como as encontraram e principalmente em Olívia. Belinda, depois de todos esses anos procurando por infratores, nunca tinha sentindo tanto pavor como agora, e isso a estava deixando desnorteada.
Um barulho estridente atingiu seus ouvidos, fazendo-a colocar as mãos no ouvido, tentando compreender o que estava acontecendo. Seu corpo tremeu, sentiu seu coração acelerar e a respiração se tornar mais ofegante. Caminhou lentamente entre as folhagens secas caídas no chão, se escondendo nas árvores maiores para tentar chegar o mais perto possível de onde vinha o som da sirene. A polícia estava ali, o que a deixou extremamente confusa e preocupada, sem conseguir raciocinar direito.
Seus passos eram minuciosos e estava chegando mais próximo do local, já podendo avistar o carro da polícia de Reedson e dois policiais fardados próximo ao local, porém o que mais a deixou com curiosidade era o que estavam fazendo ali. Não houve nenhum caso que ocorreu por este lado, até agora. O corpo de Belinda estremeceu ao pensar que poderia ser Olívia, e acelerou os passos para chegar mais perto.
Assim que alcançou uma vista boa de Angela Parker e Dustin Ryder, os dois policiais, tentou procurar algo à sua volta que mostrasse o motivo de estarem ali, mas não via nada. Quando ia descer ainda mais, se desequilibrou por sentir alguém segurar na sua mão, derrapou sobre as folhas, e quando pensou que fosse cair, conseguiu agarrar-se na árvore que estava escondida.
Levantou com a ajuda de Adam, que ela reconheceu assim que viu sua mão com a enorme rosa vermelha tatuada sobre a pele branca.
— Qual o seu problema? — indagou ríspida, afastando a mão do garoto. Quase fora descoberta.
— Estava tentando te ajudar, te levar para longe deles, mas a princesa teve que se assustar — replicou em um tom ácido. — Não sei como pode estar procurando por um assassino em série se não aguenta isso. — Revirou os olhos.
A garota sentia a raiva consumi-la ainda mais.
— Você não consegue parar de ser um babaca nem quando sua irmã está nas mãos de um psicopata que pode matá-la — falou alto, porém não o suficiente para chegar aos ouvidos dos policiais logo embaixo.
Sentiu o efeito da sua fala assim que observou o olhar do Thompson se tornar obscuro. Como poderia falar daquela forma? Ela sabia de toda a dor e culpa que ele estava sentindo desde que soube da irmã, no entanto, a maneira como se descontrolou foi além do que jamais tivera feito, e aquilo doeu em Belinda.
— Sinto muito, não deveria ter dito isso. — Arrependeu-se, como queria ter voltado no passado e nunca dizer aquelas palavras.
— Tanto faz! — Ele deu de ombros. — Vamos encontrar aquele seu amigo idiota e dar o fora daqui. — Saiu na direção oposta de onde estavam.
A garota seguiu logo atrás dele, com a cabeça abaixada, encarando seu all star amarelo todo sujo. Por mais que Adam a tivesse tirado do sério, não merecia ouvir aquilo, e como ela se martirizava agora.
— Finalmente encontrei vocês — Steve disse ao observar os dois. — Está cheio de polícias, precisamos voltar agora.
Começaram a caminhar em passos rápidos até a saída que levava de volta para os trailers, porém a cada passo que davam, mais policiais surgiam. Quando Steve deu dois passos, deparou-se com Logan, fazendo com que os três garotos corressem na direção contrária o máximo que conseguissem.
Enquanto a garota corria atrás dos dois, bateu em algo no chão que a fez rolar e soltar um gemido de dor porque sentiu algo atingir suas costas.
— B! — Steve gritou e logo veio ao seu encontro.
— Esbarrei em alguma coisa no chão. — Levantou-se, segurando onde doía, e caminhou de volta para onde bateu.
Os rapazes acompanhavam cada passo que ela dava, até que a garota se abaixou e pegou uma caixa idêntica à que estava com a fita na casa do xerife.
— Uma caixa — pronunciou ao levantar o objeto e mostrar para os dois.
— Cuidado! — Adam disse assim que Belinda quase a abriu.
A garota o olhou e assentiu. Quando levantou a tampa, seu estômago embrulhou e a sensação de que poderia vomitar tudo que tivera comido naquele dia veio. Jogou a caixa para longe o mais rápido possível, fazendo com que ela voasse juntamente com o que tinha dentro, um dedo humano.
— Porra! — Adam gritou logo após de ver o dedo.
O misto de ânsia com o medo invadiu os três, e por mais que a pele do dedo fosse branca, temiam mais ainda por Olívia, porque agora tinham ideia dos jogos doentios de que o assassino era capaz.
— Tem um papel — Belinda disse ofegante, tentando se recuperar da cena.
— Eu não vou meter a mão nisso — Steve proferiu. A pele do garoto estava mais branca que o normal.
O Thompson respirou fundo e concentrou-se em buscar uma pista para encontrar o paradeiro da irmã. Caminhou em passos firmes e rápidos até a caixa, e quando a abriu, sentiu novamente a vontade de colocar todo o seu almoço para fora, contudo, se manteve firme e puxou o papel igual ao que encontraram em sua casa, sujo com o sangue que escorria da parte do corpo humano.
— Devíamos chamar os policiais, isso já é insano demais! — berrou Steve.
— Não podemos — Belinda disse baixo.
Ela tinha medo que pudessem colocar alguma culpa em Adam, porque sabia o quanto eles o detestavam e não seria novidade para ninguém em Reedson ele ser preso novamente.
— Por causa dele? — Seu amigo apontou para o outro garoto. — Desde quando ajuda rebeldes como ele? Somos adolescentes, Belinda. Era para estarmos em festas, jogando ou estudando, não atrás de um psicopata! — gritou furioso. Quando tudo isso começou, Steve achou interessante participar, mas o que ele não sabia era a dimensão.
Belinda encarou Adam por longos trinta segundos, esperando alguma reação, mas apenas obteve uma expressão neutra.
— Tudo bem. — Suspirou forte. — Mas Adam precisa sair daqui agora. Leve o papel com você, te encontro na sua casa assim que tudo acabar aqui.
— A carta faz parte da investigação toda — Steve comentou.
— Não! Faz parte do meu jogo com ele — Belinda disse firme e se levantou, tirando todas as folhas secas de sua roupa escura.
— Te vejo em breve. — O Thompson piscou para a garota e saiu em direção à sua casa.
Assim que o garoto sumiu do campo de visão dos dois, eles iniciaram o outro plano.
— Qual é o plano? — Steve perguntou, ainda mal humorado.
— Irei pensando no caminho, eles não podem saber sobre Olívia. Ainda não.
Os pensamentos de Belinda estavam bloqueados, nenhum plano estava surgindo na sua mente e isso a estava apavorando. Nunca tinha acontecido durante todos esses anos, sua mente sempre trabalhava em algo. Sua mão começou a suar frio como da primeira vez em que mentiu, quando tinha quatro anos e sua mãe perguntou quem tinha quebrado o prato de porcelana que ela ganhou na Inglaterra, uma relíquia. Desde então, a garota sempre mentia ou era inteligente demais para fazer um plano.
Caminharam em passos lentos, com a caixa na mão de Belinda. Logan os avistou de longe e veio correndo na direção deles.
— O que estão fazendo por aqui? — indagou com semblante fechado.
— Estávamos indo nos encontrar com o meu pai, mas escutamos no rádio a palavra floresta, corremos para cá, e quando começamos a correr para fugir deles, Belinda esbarrou na caixa e assim encontramos o que tem aí dentro — pronunciou Steve.
Quando o garoto disse aquelas palavras, Belinda sentiu uma fúria invadi-la. Essa era a pior mentira que já ouvira, era péssima e com certeza iam descobrir sobre tudo, mas agora era tarde demais, teria que fazer eles acreditarem.
— Sério isso? Vocês acham que vou cair nessa mentira tão mal contada? — perguntou Logan.
— Tudo bem, estamos mentindo! Na verdade, queríamos descobrir o local onde os jovens estavam fazendo uma festa, não informaram qual era o lado da floresta, então quando estávamos procurando, encontramos vocês e resolvemos fugir para não sermos pegos e acabar entregando a festa clandestina. Você sabe como tem drogas. — Respirou fundo, sentindo sua mão formigar. — Olívia conseguiu fugir antes, a casa dela é perto, mas quando eu e Steve estávamos tentando voltar porque vimos a Angela e o Dustin, ficamos com medo e corremos na direção oposta até esbarrar na caixa — finalizou.
— E o que tem dentro da caixa? — o policial questionou.
— Acho melhor preparar o seu psicológico. Não tenho certeza, mas deve fazer parte de uma próxima vítima — ela avisou.
Logan assentiu e respirou fundo. Belinda levantou a tampa, mostrando novamente o dedo cortado, e a expressão do rosto do homem passou de neutra para assustada. Seus olhos se arregalaram e era perceptível que estava com nojo também.
— Droga! Fecha isso. — Logan bateu na tampa, com o cotovelo cobrindo o nariz e a boca. — Precisamos levar para a delegacia. — Segurou a caixa.
— O que estão fazendo por aqui? Não tinha nenhuma vítima para esse lado — a garota indagou enquanto caminhava ao lado do policial.
— Não tinha até o horário do almoço, mas recebemos uma denúncia de um grupo de escoteiros que estavam fazendo uma trilha e encontraram o cadáver. Quando chegamos ao local, não o encontramos, apenas alguns rastros de sangue. — Entrou na viatura enquanto falava, Belinda entrou no banco da frente e Steve no de trás.
— Sabem de quem era? — perguntou, sentindo um frio percorrer pela sua espinha dorsal.
— Não, apenas que é uma adolescente negra com a idade de vocês.
Belinda encarou Steve assustada, não querendo acreditar que poderia ser sua melhor amiga. Ela havia falhado? Não chegou a tempo de impedir. Mas por que, então, a caixa e o papel se ele simplesmente a mataria? Ela queria poder gritar e chorar para tirar toda a dor que estava sentindo, não queria acreditar que havia perdido Olívia, não depois de tantos casos resolvidos juntas, e não agora. Tinham planos de irem para a universidade de Yale, ela para cursar ciências forense e Olívia, advocacia. O olhar de Steve estava distante, também tentava controlar suas emoções, porque acabariam descobrindo que eles acobertaram tudo.
Um bipe apitou, avisando que uma nova mensagem chegou no celular de Belinda, número desconhecido.
"Preocupada? Parece que encontrou a minha pista. Deve estar se perguntando sobre a vida de sua amiga, viva ou morta? Desvenda a pista, ainda estamos apenas no começo. Fique com a dúvida, ela lhe fará correr contra o tempo.
Com todo amor, pássaro."
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