Capítulo 02 - Lar amargo lar.
Tenham uma boa leitura!
Na manhã seguinte, encontro o uniforme escolar espremido entre alguns CDs e cartelas com figurinhas de Pokémon no fundo da caixa quando decido desfazer as malas. Há também cartões de datas comemorativas amarrados com fitilhos azul escuro, a câmera responsável pelas polaroides da caixinha, filmes antigos de câmeras analógicas, um bottom com o desenho de tartaruga e muito mais coisa que posso contar. Alguns reconheci serem presentes dos meus amigos da época da faculdade, outros eram anotações e desenhos soltos que mamãe não tinha jogado fora.
Não tiro nada da caixa além de algumas polaroides. Deixo tudo no mesmo lugar que tinha encontrado, nem no uniforme me ouso a mexer. A melancolia misturada com inveja impede que eu mova qualquer coisa, como se elas fossem desaparecer no menor toque.
Olho para o relógio que marca 09h.
A comemoração dada por Sunha seria às 21h, em um pequeno pub no centro da cidade, o qual era nosso antigo ponto de encontro. Algo entre trinta minutos e uma hora de distância da minha casa, o que significa que não existem possibilidades para atrasos ou desistência.
Mas que me dá tempo suficiente para organizar meus pertences dentro do guarda-roupa e ignorar a caixa de recordações, a colocando bem no fundo do móvel, no lugar em que as roupas a tampasse.
E é isso que eu faço assim que levanto do chão com a caixa em mãos. A escondo entre as roupas velhas, deixando apenas a caixa de tampa com as polaroides em cima da cama. Essas eu deixaria para ver mais tarde, ou quem sabe apenas devolvê-las ao guarda-roupa antes do fim da minha estadia na cidade.
Antes de começar a organização, conecto o telefone ao carregador. Ele liga imediatamente e apaga, mas a tela de bloqueio volta a piscar com vinte e cinco mensagens e dez ligações perdidas.
O nome de Sunha pisca insistentemente, dona da maioria das notificações e apaga meio segundo depois.
E quando penso em verificar as mensagens enviadas por ela, já com o telefone em mão e desconectado do carregador, a tela volta a acender com o nome de Park Hyungsik escrito em letras grandes.
Estranho de imediato. Hyungsik não é o tipo de chefe que liga nos dias de folga.
— Taehyung? Finalmente atendeu — ele diz de forma engraçada, como se tivesse nervoso e afobado. — Em primeiro lugar, bom dia, desculpe por ligar no meio da sua folga e em segundo lugar, por favor, volte para Seul.
Levo alguns segundos tentando entender o que Hyungsik havia dito. Voltar para Seul? Não tinha sido ele a me dar quase duas semanas de folga?
— Voltar? Senhor Park, aconteceu algo?
— Não, apenas um evento importante surgiu. — Hyungsik explica, agora parecendo mais calmo do que quando atendi a chamada. — O outro fotógrafo ficou doente e agora precisa ser substituído.
Concordo devagar, mesmo que ele não possa ver, me sentando na cama. Ainda vestia roupas largas de basquete, que naquela noite, tinha servido como pijama.
— Estou em Daegu, o senhor sabe. Peça para Choi Yeonjun, ele é um ótimo fotógrafo apesar de ainda estar na faculdade.
Hyungsik faz um barulho estranho. Como um assobio exasperado e volta a falar.
— Yeonjun é bom, mas não é você, Taehyung. Pediram exatamente por você no evento — ele faz uma pausa, com o barulho de papel passando pela chamada, e então continua. — Eles vão pagar o dobro do combinado pela exigência de fotógrafo. Vai ser bom, aceite.
Afasto o telefone da orelha, pensando sobre a proposta do meu chefe enquanto ouço um passarinho cantar ao longe.
Escolhi passar um tempo em Daegu depois do convite de Sunha, juntando o útil ao agradável e assim cessar os comentários de minha mãe sobre eu tê-la abandonado.
Ao menos, o plano era esse.
Mas agora, poderia usar o trabalho como uma desculpa esfarrapada para sair de Daegu o mais rápido possível e voltar para meu apartamento aconchegante e estéril, invés de uma cidade cheia de lembranças.
— Quando é o evento? Tenho um compromisso hoje, não posso adiar ou faltar — falo rápido a última parte, a ideia de faltar a comemoração não era uma opção, pelo menos.
— Amanhã, é na parte da tarde, mas você vai precisar chegar antes das 11h para acertar questões com os organizadores e conhecê-los.
Concordo com a proposta assim que o Park termina de falar e desligamos depois dele passar algumas informações como o nome do evento e endereço, os quais anoto na agenda minúscula e com capa de um ursinho pardo.
As mensagens de Sunha voltam a aparecer na tela quando a ligação é encerrada. São tantas que tenho dificuldade de ler pela barra de notificações.
Meu nome escrito em dez mensagens seguidas é a primeira coisa que vejo assim que abro o chat, logo depois uma enxurrada de emojis tristes e então as últimas mensagens de pouco mais de 25 minutos atrás.
Não posso ir pra Daegu :(
O carro morreu a meio metro de casa, acredita?
Falaram sobre motor afogado, mas não confio nesses caras. Como um motor pode ficar afogado no seco? Só se ele caiu no mar e esqueceram de avisar pra mim.
De qualquer forma, avisei aos outros e eles irão vir para Busan.
Você também vem, certo? Por favor, taetae.
Solto um gemido baixinho, dolorido por imaginar passar horas indo de carro para Busan e depois para Seul, invés de mais que alguns minutos até o pub como era o plano original, tudo em menos de um dia e, acredito eu, sem uma noite de sono decente.
Aquele realmente não parecia um dia favorável para paz e sossego.
Vou, não se preocupe.
Mande o endereço :)
Envio a mensagem e rapidamente recebo uma resposta positiva, uma explosão de emojis fofos e o endereço dela em Busan.
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Papai está comigo na garagem de casa, mexendo em algumas gavetas da velha cômoda, cantarolando e batendo o pé em um ritmo descompensado. Há o carro deles estacionado um pouco mais perto do portão e um grande volume coberto por uma capa cinza metálica logo atrás, perto de nós, esse é o motivo dele mexer em tantas gavetas.
— Tem certeza que o senhor botou aí? Pode estar lá em cima, na cômoda do corredor. — Tento ajudar, dando opções de possíveis lugares em que papai poderia ter deixado o bendito objeto.
Ele nega, ainda batendo o pé e cantarolando, tirando várias ferramentas de todas as naturezas possíveis, depositando em cima do móvel e puxando a gaveta com tudo.
Ela sai inteira e papai a vira de cabeça pra baixo, nada cai dela além de poeira.
— Já posso perguntar o motivo das chaves do carro estarem na cômoda de tranqueira da garagem? No local em que o carro é guardado? Tipo, podem simplesmente roubar ele usando as chaves que estão aqui e vocês nem vão notar.
Começo a falar já nervoso. Estamos há mais de 20 minutos procurando a chave, papai já descobriu três novas espécies de aranhas e suas teias, mas as chaves? Delas não tinha nem sombra.
— Não iam filho, olha. Se o carro está parado aqui e esse alguém tentar roubar, vai tentar entrar na casa e procurar as chaves, ou até fazer ligação direta. As chaves aqui ou não, não fazem diferença. — ele recoloca tudo no lugar, na mesma calma que tinha começado aquela busca. — E também, quem ia pensar nas chaves em uma cômoda velha?
Encaro meu pai com estranheza.
Talvez ele fosse um pouco louco, mas apesar disso, sua linha de pensamento possuía certa lógica.
— Senhor Kim, se a tia Minhee ouvir isso vai pedir sua internação
Encostado à porta e com o ar elegante, Namjoon observava com o olhar divertido pairando sobre nós. Meu pai faz uma careta engraçada; eu olho para Namjoon de maneira estranha.
Algo parecia diferente nele.
E então, com um pouco de esforço, entendo o que é.
A sensação gélida de um déjà vu atingindo minhas lembranças é o que me faz unir as sobrancelhas e franzir o nariz, fazendo um esforço para afastar uma visão de um Namjoon mais novo, de cabelo castanho médio e camiseta com frases fofas, naquela mesma posição, há mais de cinco anos atrás.
— Mimi não vai fazer isso, ela sabe que eu sou o único que molha as plantas.
Papai menciona o apelido de minha mãe resmungando, e Namjoon ri, afastando a estranha visão da sua versão mais nova e menos elegante à porta.
Anuncio ao meu pai que vou procurar as chaves lá dentro e quando passo pela porta, arrasto Namjoon comigo. Juntos, passamos pela cozinha e fomos até as duas outras cômodas que existiam na sala.
— Quando chegou? — pergunto a ele, puxando a primeira gaveta da cômoda e encontrando jornais antigos. Fecho-a rapidamente.
Namjoon havia ligado poucos minutos depois do aviso de Sunha, anunciando que iria comigo até Busan de carro. Sem me deixar escolha.
— Uns trinta minutos atrás, tia Minhee me convenceu a comer, mesmo já estando cheio, e lá se foi vinte e cinco minutos antes de ir à garagem. — Namjoon abre uma gaveta emperrada e puxa de lá vários botões, linhas, agulhas e volta a fechar com desinteresse.
Concordo com a cabeça. Passamos mais alguns minutos fechando e abrindo gavetas, achando de tudo, menos as benditas chaves, até que o frustração alcança meu corpo e eu me encosto na parede mais próxima, os braços cruzados e olhando o Kim mais velho mexendo no potinho que foi achado na última gaveta.
O cabelo de Namjoon estava curto, mais escuro e bem arrumado naquela manhã. Diferente do vislumbre que tive na garagem, essa versão usa roupas leves como camisa de linho e calça de tecido fresco, e tudo isso lhe dava um ar sofisticado.
E mesmo que tivesse o visto há menos de três semanas atrás, essa versão parece uma peça estranha no cenário das minhas lembranças de casa. Como quando trocam o ator de um personagem querido e colocam um muito parecido no lugar, deixando a sensação que existe algo de errado mas você nunca sabe o que é até olhar os créditos finais.
— Achei! — Meu pai grita da garagem e logo aparece na sala com as chaves tilintando entre seus dedos. — Eu disse que estavam lá.
Encaro as chaves que ele deixa nas minhas mãos antes de sair, dizendo que vai tirar o outro carro da garagem. O chaveiro de tartaruga brilhando em tom verde-jade.
— Bem, então o que vamos fazer agora? — Namjoon questiona.
— Vamos para o meu quarto. — Aponto com o dedo para cima, onde fica o cômodo, jogando as chaves no bolso da bermuda. — Preciso pegar as malas.
Ele assente confuso, me seguindo para o andar de cima. O curto caminho de menos de um minuto é silencioso até que ele volta a falar no corredor dos quartos, quase na porta do meu, o que é um milagre, levando em conta Namjoon, sua curiosidade e todo seu jeito protetor.
— Malas? Por que precisa delas? Vai voltar pra cidade?
— É. — Dou uma pausa e então continuo, antes de abrir a porta do quarto. — Ligaram do meu trabalho, evento urgente e organizadores pedindo que eu seja o fotógrafo.
— Isso é bom, mas e Sun...
— Não vou faltar o jantar, Nam. — Trato logo de responder, interrompendo a pergunta antes mesmo de cruzar os lábios dele. — Essa confusão toda no andar de baixo é exatamente por isso, estava procurando as chaves do carro reserva para ir até Busan e depois voltar para Seul.
Empurro a porta do quarto, procurando as poucas coisas que espalhei noite passada e recolocando na bolsa que cheguei; Namjoon entra logo atrás.
— Uau, está do mesmo jeito? — Namjoon faz uma pergunta confusa, unindo as sobrancelhas. Dou de ombros.
— Está.
Recolho o carregador, fones e uma caixinha de remédio para dormir depositados na minha mesa de estudos. Também tiro minha carteira da única gaveta da mesinha e estou prestes a alcançar meu celular quando Namjoon volta a falar.
— O que é isso? — ele não espera por minha resposta e abre o objeto, dando de cara com a mesma foto que eu. — Ah, isso... — E então fica alguns segundos encarando o rosto de Yoongi, até que fecha a caixa e estende em minha direção. — Deveria levar.
Já peguei meu telefone e guardei todo o resto quando ele chegou mais perto com a caixa ainda em mãos.
— Acho melhor não. Ela está melhor guardada entre minhas roupas aqui. — Tiro a caixa das mãos dele e coloco na mesa de estudos.
— Eu acho que deveria. Lembranças ainda são lembranças — o Kim balança os ombros, como se não fizesse diferença o lugar em que as fotos estivessem. — Sem contar que elas poderiam dar um pouco de cor àquele seu apartamento estéril que parece um quarto de hotel.
Ele volta a pegar a caixa, tira a tampa e mexe nas fotos lá dentro. Não demora muito até que ele a fecha novamente, mas agora, a coloca na cômoda junto com a minha bolsa carteiro. Antes de respondê-lo, encaro a caixa por meros segundos e volto meus olhos a ele.
— Não seja grosseiro, pare de falar assim do meu apartamento. — o repreendendo, mas não surte grande efeito, visto que é verdade.
— A casinha de um cachorro tem mais vida que seu apartamento, Tae. É sério, leve a caixinha, pelo menos pra colocar na mesa e poder chamar aquilo de casa.
O apartamento de Seul sempre é alvo dos julgamentos do decorador interior de Namjoon, o que rende um longo diálogo de como eu preciso urgentemente parar com a decoração impessoal do antigo morador e dar minha personalidade às paredes cinzentas.
— Gosto dele assim. — Dou de ombros.
Namjoon suspira de forma dramática e desiste, puxando a bolsa maior para o próprio ombro.
— Acha que dá tempo de comprar um presente para a Sunha? — ele pergunta casualmente, sobrancelhas erguidas e um sorriso sem graça.
Meu rosto se contorce em uma careta desacreditada.
— Você ainda não comprou?
— Não, por isso preciso da sua ajuda. — Namjoon diz de forma séria, como se falasse de negócios.
Torço o nariz, concordando com a cabeça da forma mais devagar que consigo, arrependendo-me de esquecer como a memória, e gostos para presentes de Namjoon, não eram dos melhores; assim como me arrependo de o acompanhar ao perceber que já passava da quarta loja que ele entrava, a qual tinha alguns discos pendurados nas paredes e instrumentos suspensos por fios resistentes. Um cara baixinho com sorriso educado é quem nos atende quando Namjoon diz que está à procura de um presente especial, mas como nas outras três lojas, saímos de lá com as mãos vazias.
— Velas aromáticas, que tal? — Namjoon pergunta de repente, parando no lugar como se fosse uma ideia genial de presente.
— Isso foi o presente do ano passado, não? Você até encomendou uma errada — relembro.
Ele volta a caminhar do meu lado, pensativo. Passamos por mais duas lojas quando Namjoon some nos corredores da última loja, conversando com uma vendedora de cabelos vermelhos e gesticulando.
Fico por lá, olhando algumas peças, pensando no que exatamente Namjoon poderia dar a Sunha antes que meus pés dessem bolhas. Poderia ser um colar ou brincos, talvez um par de jarros decorados. Quem não gostaria de jarros decorados?
Estou prestes a ir atrás dos jarros decorados quando uma mão delicada, com os dedos pintados em rosa bebê pousa no meu ombro, tão levemente que quase não sinto o toque.
— Taehyung? — diz de forma baixa.
Não reconheço a voz de primeira, mas deixo que meu corpo gire em direção à pessoa, encontrando um rosto redondinho e com olhos familiares encarando meu rosto em surpresa.
Senhora Min está na minha frente.
— Você voltou? Quando voltou? — ela dispara as perguntas ansiosa, o rosto deixando explícito como nunca pensou que me reencontraria. — Que saudades, querido!
E abraça meu corpo, aconchegando-me dentro de seus braços finos.
Preciso de alguns segundos para reagir, minha mente repassando mil informações diferentes ao mesmo tempo.
— Oi, Yejin! — Envolvo meus braços ao redor dela de forma gentil, o perfume adocicado faz meu nariz coçar levemente. — Por enquanto sim, mas estou voltando para Seul amanhã.
Min Yejin usava uma saia verde-musgo na altura dos tornozelos, camisa creme e sandálias baixas de tiras. Da mesma forma que todas suas outras roupas, aquelas pareciam ter sido feitas exatamente para ela.
— Já? — Yejin une as sobrancelhas quando faz a pergunta. — Tão pouco tempo, querido — ela lamenta contida, o rosto contorcido em uma careta decepcionada, mas então continua. — Você ainda gosta de Soondubu* ? Podemos jantar juntos antes de você ir embora?
Estou pronto para recusar o convite quando Yejin continua a falar, sem notar a minha possível recusa a ideia.
— Preciso entregar algumas coisas que ficaram comigo, em casa, antes de você ir. — Pisco interessado
Não lembrava de ter esquecido algo com Yejin.
— Gostaria, mas não posso. — Então explico sobre a reunião de Sunha em outra cidade, o evento de trabalho e que sairia de Daegu antes de anoitecer.
Yejin ouve em silêncio, concordando com a cabeça e sorrindo educadamente, posso ver uma sombra de chateação cruzar seus traços delicados e seu corpo retrair, juntando os ombros estreitos e delicados, em um sinal de descontentamento, tal como Yoongi fazia.
— É uma pena...
— Sim, é — concordo —, mas, pode entregar o...? — Paro de falar, sem saber exatamente o que tinha esquecido com Yejin, mas logo continuo. — Para minha mãe, ela certamente irá enviar para mim em Seul.
Senhora Min nega, o cabelo preso e mais longo que cinco atrás balança atrás de si, como uma cortina negra.
— Não, precisam ser entregues pessoalmente. — Yejin diz firme, segurando a alça da bolsa preta e dá um passo pra trás, olhando para cima do meu ombro. — Oi, Namjoon.
Namjoon surge do meu lado, abraça Yejin e beija as bochechas fofas da mulher.
Mesmo com a curiosidade cutucando meu peito, desvio os olhos da mais velha e olho para as mãos vazias de Namjoon. Surpreendentemente, ele não tinha escolhido nem um alfinete durante todos aqueles minutos.
Eles conversam durante alguns minutos, quase não presto atenção nos assuntos até que um deles está olhando para meus olhos, perguntando algo que eu não faço ideia do que seja.
— Não escutei, desculpe. O que era?
Namjoon conta que decidiu voltar à primeira loja, que é longe o suficiente para me fazer repensar o motivo de ainda estar na caçada de um presente que não é de minha responsabilidade.
— Isso só pode ser brincadeira — resmungo baixo. — Teria sido muito mais fácil se você tivesse decidido isso ainda na primeira loja, meus pés teriam agradecido muito.
Yejin que assistia nossa conversa com os lábios espremidos um no outro, segurando uma risada, se pronuncia antes que meu amigo possa se proteger.
— Nam pode ir comprar o presente enquanto você espera comigo, em casa, sabe? Assim você não faz dois caminhos, apenas um. — ela sugere de maneira esperançosa, apertando a bolsa com a mão direita, descontando seus sentimentos na alça fina.
— É uma ótima ideia, prometo que não vou demorar. Vai com ela, Taetae. — Namjoon começa, tentando me persuadir e não resmungar no pé do seu ouvido durante todo o percurso até a primeira loja e depois para casa.
Penso um pouco, lembrando do que Yejin disse querer me entregar pessoalmente e então concordo, motivado pela curiosidade.
— Tudo bem, mas quero seu tão prometido Soondubu — brinco com a senhora Min, a qual sorri e concorda com facilidade.
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Ela não serve, Soondubu mas há Kimchi na mesa, igualmente bonito e saboroso como o Soondubu. Senhora Min está sentada à minha frente, beliscando o seu prato depois que contou como iam as coisas no trabalho. Andamos o caminho todo falando de banalidades sobre a vida um do outro, mas no momento que passamos pela porta, Yejin pareceu um pouco mais séria do que quando estava na rua.
— Senhora Min, eu...
— Yejin, Taehyung. Por favor — ela intervém imediatamente.
— Yejin, você disse que eu tinha esquecido umas coisas aqui. Estou curioso para saber o que é, eu realmente não me lembro de nada que possa ter ficado.
— São coisas pequenas, mas não quis jogar fora. Existe um dono, então, não faz sentido jogar fora assim — começa ela, levantando da cadeira de madeira e largando os talheres. — Vou buscar, pode esperar lá na sala. Essas cadeiras doem a bunda.
Yejin sorri quando passa por mim indo até as escadas que levavam ao segundo andar, as mãos nas costas massageando e resmungando ainda pelas dores da idade.
Balanço a cabeça, achando engraçado como ela reclama dessas cadeiras por tantos anos, mas nunca as trocou. É como se reclamar fosse seu hábito particular, algo para dizer que enfim estava em casa depois de um longo tempo fora.
Na sala, posso ver a mesma decoração e fotos antigas de quando frequentava essa casa; era como frequentar a minha própria. Há o mesmo grande quadro do casamento de Yejin com o senhor Min, que de aparência não tinha mudado tanto, quase no centro de uma das paredes, fotos menores em porta retratos distribuídas pela sala e cerâmicas decorando os lugares que fotos não tinham sido postas.
— Preciso de uma nova organização, aquelas coisas estão uma bagunça — reclama Yejin, descendo as escadas com um pequeno envelope pardo em mãos.
A curiosidade aumenta no meu peito com aquele envelope. Ter esquecido um casaco ou até mesmo um livro era compreensível, mas algo capaz de caber em um envelope? Não era meu.
— Aqui, toma — ela estende em minha direção quando sento no sofá, as pernas juntas e as mãos rente ao corpo.
Pego o envelope das mãos de Yejin, virando o papel com cuidado de ponta cabeça. A primeira coisa que cai no meu colo é um pendrive preto e vermelho, as iniciais "MYG" gravadas com canetinha permanente preta, e a segunda coisa é a concha de tons rosados e de leves contornos brancos na crosta grossa, idêntica a que descansa em meu bolso. A concha é a única coisa que reconheço.
— O pendrive não é meu, acho que você errou — confuso, pego o pequeno objeto e rodo em meus dedos, observando os detalhes para que qualquer memória esquecida venha à tona, mas nada aparece. — Você já tentou ver o conteúdo dele? Pode ser do Seokjin, senhora Min — sugiro, entregando o pendrive no colo da mulher.
Yejin suspira e pega o pendrive, recolocando em minhas mãos antes de apontar para o envelope e dizer:
— Não é o que está escrito aí, nesse envelope — olho para a parte superior do papel, vendo meu nome escrito em uma caligrafia desleixada e familiar.
"Para Kim Taehyung"
Meu coração dá um pulo. A letra confusa de Yoongi brilhando no papel, como um letreiro à noite, não deixava dúvidas sobre quem era — ou deveria ser — o dono.
— E não, não cheguei a ver o conteúdo — responde, se ajeitando no sofá e continua. — Encontrei pouco tempo depois que ele morreu, mas não consegui te entregar naquela época. Você parecia abalado demais e meses depois foi embora para Seul, sem data de retorno.
Inspiro devagar, balançando a cabeça no que eu esperava ser um sinal positivo e de que ainda estava ouvindo cada palavra dita.
— Eu... — pigarreio sem saber o que dizer. — Obrigado, senhora Min.
Ela assente, encostando no sofá como se fosse um trabalho cumprido e juntando as mãos no colo.
— Ele gostava de você, era meu trabalho entregar isso e a concha.
— É, eu sei que ele gostava. Éramos amigos, afinal — relembro ela, sorrindo educadamente enquanto guardo os dois objetos de volta ao envelope.
Yejin nega imediatamente, as sobrancelhas unidas e a boca franzida.
— Não — retruca de forma firme. — Ele realmente gostava de você, Taehyung.
Nos primeiros segundos, penso que é uma piada de Yejin ou só uma forma de dizer que não éramos amigos comuns, mas então ela continua olhando de forma séria para meus olhos, fazendo o sorriso educado de antes se esvair.
— Yoongi ia se declarar e pedir você em namoro no dia em que morreu.
Queria sorrir e pedir que Yejin parasse com a brincadeira, mas não consegui fazer nada além de piscar os olhos lentamente, absorvendo a informação e sentindo o gosto de impotência chegar à boca, amargo e denso, sem aberturas para pensamentos plácidos. O foco fugiu da minha visão enquanto mirava a mesa de centro, ela se tornou um vão borrado, como se apenas a cor estivesse ali e sua forma partisse para outro plano.
Meus olhos não marejaram, mas isso não impediu que tudo naquela sala deixasse de se mostrar materializado, as formas simplesmente perderam a relevância, e o conjunto de sentimentos e memórias traiçoeiras — lotadas de saudades e surpresa — ganharam mais importância que todos meus pensamentos até então.
O silêncio recai sobre nós. Minha boca seca, como se não visse água a um longo período, e a ardência iminente em minha garganta impede que qualquer coisa possa ser pronunciada acerca do assunto.
Ele gostava de você.
Meus punhos se fecham contra a concha protegida pelo envelope, perdida entre a palma da mão e os dedos. Pequenas pontas perfuram o papel até a minha pele, posso sentir o objeto praieiro transpassar a derme com a sutileza de uma abelha, talvez sangrasse e sujasse mas nenhuma dessas questões era realmente importante.
O verbo no passado atrelado ao nome dele parecia ser comum, mas ainda doía como na primeira vez.
É engraçado como um simples verbo pode atormentar tanto uma mente ressentida.
— Taehyung? Tudo bem?
Balancei a cabeça positivamente levantando no sofá, mesmo que não pudesse ver os móveis ao meu redor.
— Está, só acho que é melhor eu ir embora. — Caminho em direção à porta, alheio a todo o resto. Yejin vem logo atrás, as mãos juntas na frente do corpo e o rosto preocupado.
— Não deveria ter tocado nesse assunto, querido. Desculpe — ela pede, a voz arrependida, como se ele fosse um assunto proibido.
Sigo em silêncio até a porta da casa, o punho ainda fechado no envelope e os olhos pesados com o cansaço que parecia querer castigar meu corpo.
— Tudo bem Yejin, eu... só não sabia, não tem motivo para pedir desculpas. — Tento consolar a mulher, mas assim que encaro seu rosto, a única coisa que consigo ver é confusão; um lampejo de pena e arrependimento cruzando seus olhos castanhos.
Não sei quando ou como chego em casa. Não lembro de encontrar papai ou mamãe entre o trajeto da porta principal até o quarto no fim do corredor, ou de mandar mensagem para Namjoon avisando que estava em casa. Apenas lembro da sensação quente dos lençóis e o perfume das roupas lavadas contra meu nariz.
Como uma criança frustrada, fico deitado na cama, encarando o teto cor de areia até que minhas costas doessem e meus membros estirados para fora da cama ficassem dormentes.
Eu poderia ter feito tanto.
É o que minha mente ecoa como uma tortura particular, desfazendo qualquer consolo que alimentei durante os anos afora. Era muito mais fácil aceitar algo que não era correspondido; era muito mais fácil ter o consolo da não reciprocidade para acalentar os dias que a dor parecia insuportável.
O pendrive está na mesinha de estudos, ainda dentro do envelope com respingos avermelhados desde que cheguei. Não sinto vontade de sair da cama, tampouco de assistir o conteúdo gravado na pequena pecinha, mas a curiosidade ardilosa e escorregadia volta a cutucar meu coração com tanta insistência que é impossível segurar o impulso de pegar o pendrive e conectar ao antigo notebook.
A tela do aparelho liga lentamente, velho demais para que eu peça agilidade, apagando para acender em uma nova tela. Meus dedos pairam sobre o touchpad do notebook.
Há cinco pastas datadas preenchendo a tela. Clico na mais recente e seleciono o primeiro arquivo que aparece na listagem.
— EI, O QUE ESTÁ FAZENDO CABELO DE MENTA? — É a voz de Momo, soando do pequeno aparelho à minha frente.
Aos poucos a imagem da câmera vai ficando nítida, mostrando a areia da praia e os pés de alguém.
— Cala a boca, estou gravando um vídeo para o Taehyung — a voz de Min Yoongi soa, despreocupada, divertida e com o som de uma risadinha no fim. — Dá oi, Momo.
Então a tela é preenchida pelo rosto avermelhado de Hirai Momo, o cabelo escuro amarrado de qualquer jeito e a alça fofa do biquíni rosa escapando da blusa esportiva.
— Oi, Taetae! — ela sorri para a câmera e olha para Yoongi, que não está no campo de visão da lente. — O que exatamente está gravando para o Tae?
— Nada em específico. — Consigo imaginar os ombros magros balançando, como se não tivesse importância, por trás da câmera — Ele gosta de guardar memórias e existem coisas que ele não consegue capturar com as próprias lentes. Achei que seria legal fazer isto por ele, e também, vai ser bom olhar isso daqui uns nove anos — a voz dele fica mais nítida no vídeo, parece perto demais da câmera, talvez pendurada no pescoço.
— Meu deus, como vocês são boiolas. — Momo exclama de maneira engraçada e começa a andar para trás. — Vou contar para o Taehyung. — Ela dispara em uma corrida reta, deixando um rastro de pegadas na areia fofa.
Yoongi sussurra um xingamento e dispara atrás dela, a câmera é desligada em sequência.
Minha respiração engasga no início da garganta, como se uma bola de pêlos estivesse lá, obstruindo a passagem de ar, fazendo o meu rosto se contrair imediatamente. Não é um choro, mas sim algo tão dolorido e denso que nem as lágrimas são capazes de representá-las, impedindo qualquer outra ação a não ser puxar o ar com mais força pelo nariz e deslizar o dedo pelo touchpad do notebook, selecionando outro vídeo.
— Parabéns pra você, nessa data querida... — Um coro de voz soou, sem ritmo e com risadas ao fundo. — Muitas felicidades; muitos anos de vida...
Sunha é quem aparece dessa vez na tela, o cabelo castanho amarrado no alto da cabeça e o rosto sendo iluminado pelas velas do bolo de morango. Um chapéu de festa um tanto quanto infantil estava lá, no topo da sua cabeça.
— POR DEUS, SUNHA! APAGA LOGO A VELA DESSE BOLO! — Alguém grita. Posso reconhecer a voz mandona de Jimin na penumbra da sala. — QUEREMOS BOLO!
A câmera dá uma tremida quando todos riem, alegres, e depois foca no rosto da aniversariante.
— PARA DE SER ESFOMEADO, PARK JIMIN! — retruca, rindo e assopra a vela mas elas não apagam. — 'Tá vendo? Jogou olho gordo para cima do bolo e agora as velas não querem apagar.
Sunha inclina o corpo mais para frente e assopra as velas com mais firmeza, mas como na primeira vez, elas apenas tremem, arrancando um suspiro frustrado de Jimin e outras risadinhas.
— Cara, quem comprou essa vela? — a voz soa próxima da câmera, o braço tatuado raspado na lateral da imagem. Jungkook. — Vocês fizeram algo com aquela vela, não é?
— Não olhe pra mim, estava ajudando com o bolo. — Yoongi responde, despreocupado, por trás da câmera.
— Era só pra apagar a vela, Sunha! — Hoseok exclama, saindo da ponta da sala que estava junto com Momo e andando até o centro.
— Vocês cagaram com essa vela, tenho certeza — responde, colocando as mãos na cintura e os olhos cerrados. Hoseok a imitou. — Que tipo de vela não apaga?
— É uma boa pergunta! Você anda aí, anêmica, e culpa a gente por não conseguir apagar a própria vela.
— Anêmica é sua mãe, Jung.
Solto uma risada leve com a discussão que se desenrola no vídeo. Lembro deste aniversário como um dos piores e mais desastrosos de todos, sendo marcado por um bolo ruim de morango e chantilly comprado por Yoongi na correria — tudo porque ele e Namjoon tinha procrastinado para comprar antes —, a discussão da vela que não queria apagar vs a anemia inexistente de Sunha e o segundo bolo altamente improvisado — e não tão bonito — que quase queimou.
E tudo parecia melhor quando se tinha todos usando chapéus de festa do homem de ferro comprados — igualmente na pressa — por Jeon Jungkook.
— O fôlego que vocês usam pra brigar poderiam usar para apagar essa vela e mais 100. — Minha voz aparece no canto exposto da câmera e logo posso ver minha imagem junto a de Sunha e Hoseok perto do bolo. Yoongi parece dar mais um pouco de zoom nesse momento.
O meu eu do vídeo apaga a vela com os dedos, juntando-o no pavio da vela entre o indicador e o dedão e puxando para cima, cessando as chamas imediatamente.
— Ta-da — diz o meu do vídeo, olhando para os outros dois que discutiam e encaravam a vela de forma chocada. — Agora cortem o bolo.
— Tae, você vai ensinar isto a genteee. — Sunha quase exige, sorrindo animada e pegando a espátula para separar os pedaços de bolo.
Quando Sunha para de cortar os pedaços e os coloca nos pratos, a câmera é movida para o lado de forma bruta.
— Segura aqui, JK. — Yoongi pede, agora ele aparece na câmera, os cabelos descoloridos e ressecados amassados no bucket.
— O quê? Aonde você vai? — pergunta, tremendo a câmera.
— Pegar uns morangos para o Taetae, é o favorito dele — ele sorri, as gengivas rosadas aparecendo de forma adorável. — Não precisa ficar gravando, vou editar essa parte de qualquer jeito.
Min não espera muito depois disso para se afastar e sumir. Jungkook continua gravando a comemoração, focando aleatoriamente em Hoseok perturbando a aniversariante, passando a massa branca na cara limpa de maquiagem, Namjoon lutando contra o pedaço do enfeite do bolo que acidentalmente parou no seu prato e por mim; ele foca nas madeixas loiras de Yoongi junto a mim em um ponto mais distante.
— Gado — murmura o Jeon, rindo em seguida. — Ainda bem que vão editar isso.
No vídeo estamos juntos e sorrindo. O bucket que ele tinha deixado cair estava em uma das minhas mãos enquanto a outra era ocupada pelo prato com bolo e morangos trazidos por ele. Na ocasião, todo meu aborrecimento tinha se dissolvido com os morangos e o sorriso doce de Yoongi.
Havia tanto compilados de fotos quanto de vídeos, aos quais eu fazia qualquer outra coisa diferente de olhar para a câmera, preenchendo boa parte de tela, seja sozinho ou não, comendo, simplesmente deitado, olhando para ele e corando ou sorrindo para algo em cenas cotidianas demais para serem capturadas apenas por serem bonitas aos olhos dele.
Yoongi tinha capturado aquelas imagens como lembranças colecionáveis, acessíveis e inesquecíveis no pequeno pendrive. Lembranças essas que eu, de uma maneira ou de outra, sempre estivesse presente.
Passo as horas restantes no quarto. Vejo todos os arquivos que consigo, mesmo de forma desordenada, sentindo o gosto amargo de sentimentos ruins subindo pela garganta em conjunto com o som dos risos; a saudade e a nostalgia ao lembrar dos detalhes daqueles momentos.
Preso na bolha criada por mim, mal posso notar as batidas insistentes na porta do quarto.
— Ei, filho. — Minha mãe diz do outro lado da porta. — Está tudo bem? Posso entrar?
Lentamente abaixo a tela do notebook, mas não a fecho completamente.
— Pode entrar, mãe — digo, vendo a porta se abrir lentamente e dar a visão da mulher com o cabelo amarrado. — Precisa de algo?
— Não, filho — ela encara o quarto, passando os olhos lentamente por todas as coisas que ainda estão no lugar e se demora no envelope em cima da cama. — Namjoon está te chamando, ele disse que é melhor ir agora antes que fique mais tarde.
Balanço a cabeça devagar, procurando as horas no canto inferior escondido da tela do notebook. Era pouco mais das cinco da tarde.
— Tudo bem, diz que já estou descendo — respondo, desligando o notebook e arrancando o pendrive do compartimento.
Minhee continua parada na porta, encarando meus movimentos com o rosto impassível.
— Taehyung, está tudo bem? — questiona novamente, séria.
Volto a concordar com a cabeça, enfiando novamente o pendrive e a concha no envelope e saio da cama como se pudesse participar das próximas olimpíadas.
— Claro, mãe. — Enfio as mãos no bolso junto com o envelope, rezando para ela não perguntar o que era.
Ela arrasta os olhos até o bolso que está o envelope, a testa franzida, mas não comenta nada sobre, parecendo se dar por vencida.
— Certo, agora, desça logo antes que seu pai faça o Namjoon chorar com as cenas mais tristes de Ghost*.
Depois que ela deixa o quarto guardo o notebook no mesmo lugar que encontrei e não gasto menos de dois minutos arrumando o que tinha bagunçado, esticando os lençóis e fechando as janelas. Quando termino busco pela bolsa carteiro que tinha chegado no dia anterior e a encontro na cômoda perto do guarda-roupa, ao lado da caixa com fotos.
Do mesmo jeito que Namjoon tinha deixado, a caixa estava lá. Bem tampada e posicionada na ponta do móvel, como se fosse uma forma de deixá-la à vista.
— Taehyung, vamos logo. — Namjoon grita, parece que está no topo da escada. — As malas estão no carro.
— Estou indo, estou indo! — grito de volta.
Namjoon responde com um "okay" e logo depois o som de passos é ouvido no corredor. Olho da caixa para a minha bolsa, hesitante. A vontade repentina de levá-la junto comigo para Seul envolvendo meu peito.
Minha mãe grita do andar de baixo, pedindo para que eu pegue um casaco antes de ir, mesmo estando em pleno verão. Não respondo nada a ela, mas agarro a bolsa carteiro e em um rompate de coragem a caixa com fotos também, enfiando-a de qualquer jeito no interior da bolsa marrom e logo em seguida descendo as escadas, pulando de dois em dois degraus.
Com a mesma pressa que desci os degraus, me despeço dos meus pais ao som de ameaças maternas sobre alimentação e deixo a casa. O carro verde-militar está parado no fim da trilha da garagem com os vidros baixos e Namjoon encostado na lataria.
— FINALMENTE! — comemora o Kim, jogando as mãos para cima. — Pensei que estava empacotando o quarto todo.
Solto um som que deveria ser uma risada, mas soa desanimada como um brinquedo de apito quebrado.
— Pare de reclamar e entra logo no carro — digo, ajeitando a bolsa no meu ombro.
Namjoon joga a chave do carro em minha direção, o rosto contorcido em uma careta indignada pela forma que falei com ele a poucos segundos atrás.
— Está agindo como se o atrasado não fosse você — resmunga ele quando cada um de nós está posicionado em um lado do carro.
Entro no lado do motorista, jogando a bolsa carteiro para o banco de trás e o outro faz a mesma coisa no banco do carona. O leve cheiro de limão predomina no ar dentro do carro, apesar das janelas abertas e de nenhum de nós estar usando essa fragrância, o que me leva a crer no complô que minha mente junto com meus sentidos mais básicos tinham feito com minha volta a Daegu.
— Pare de reclamar, você estava comendo durante esse tempo todo — acuso
Namjoon ri, sabendo que é verdade e se cala. Com as portas do carro fechadas, giro a chave na ignição, escutando o barulho metálico do chaveiro de tartaruga contra a segunda corrente de metal.
Então, como nos velhos tempos, estou dirigindo para Busan em meu próprio carro.
🐚
Olá, tudo bem? Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo?
Segundo capítulo de até o fim das águas está entregue, então, por favor, digam o que acharam do nosso querido Taehyung e sua descoberta não tão agradável.
AFDA agora tem uma hashtag no twitter que é #ConchasRosas, usem sem moderação.
Bebam água, usem máscara e se vacinem. O covid ainda não acabou, galerinha.
E não esqueçam do meu votinho 💜 até a próxima atualização
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