Capítulo 01 - Um bom filho à casa torna

Amado filho e amigo leal.

Para sempre em nossos corações.


Existem poucas coisas que odeio na vida, mas nenhuma delas sequer podia chegar perto do epitáfio reluzente daquele túmulo. As palavras bem desenhadas, em conjunto com o sol de verão em Daegu, eram como uma piada de mau gosto. Nenhum daqueles aspectos combinavam, mas eu não poderia fazer nada mais que odiar todo o conjunto que a cidade insistia em manter naquela época do ano.

A época do ano preferida dele.

A nossa época do ano até o acidente.

É engraçado como a vida muda em alguns superficiais minutos. Em um momento tínhamos todos juntos em completa diversão, em outro, tínhamos um de nós dentro de um caixão. Morto.

一 Acho que Sunha vem te visitando, não é? 一 perguntei para ele, tirando um ramo de flores murchas da pedra fria. 一 Ela sempre esquece de pôr as flores na água, mesmo tendo Momo apertando essa tecla em toda visita.

Projeto os lábios para frente, formando um bico emburrado, como se ele pudesse ver o tamanho da minha chateação. Era como se ele tomasse-se a rir, querendo dizer que Sunha tinha as melhores das intenções com as flores, mas sei que é apenas loucura minha. Um monólogo sem futuro, ao qual estou sujeito a ter em todas as vezes que for visitá-lo.

一 Desculpe por não trazer em mais quantidade pelos anos ausentes, mas a senhora Lee não tinha mais as nossas flores.

Era impossível esconder minha chateação com as flores. Senhora Lee não era a única de fato a vender as flores de pensée, as nossas flores, mas de longe era a única em toda Daegu que sabia sobre a importância daquela data; a importância de sempre entregá-las a ele.

Com a manga do casaco, afasto as folhas secas, terra e o resto das flores mortas de Sunha, para então colocar o buquê de violas tricolor apoiado no mármore.

Min Yoongi.

Morreu cedo demais, aos 24 anos.

Amado filho e amigo leal.

Para sempre em nossos corações.


Por longos minutos encaro o túmulo de Yoongi. A mármore era consideravelmente mais nova e limpa do que as dos seus vizinhos falecidos, tinha algumas flores mortas à esquerda 一 obra de Momo e Sunha 一 e uma foto no centro. O Yoongi da foto sorria de forma fofa, tinha o nariz de botão franzido e o cabelo descolorido grande caindo nos olhos felinos espremidos. Diferente das fotos das outras lápides, com rostos sérios e tons neutros.

Senhora Min dizia que seu filho era cheio de cor em vida e que deveria ser lembrado assim até depois da morte. Ninguém se opôs a ela, não tinha motivos.

O telefone vibrou assim que estendi meus dedos para tocar a foto. Era um toque insistente e chato, algo que tinha se tornado recorrente desde que desembarquei no aeroporto de Daegu, há exatas cinco horas atrás. Talvez fosse a décima ligação só nos últimos 30 minutos e mesmo que eu ignorasse todas até cair na caixa postal, a pessoa do outro lado parecia determinada.

Determinada até demais.

一 Espero que tenha perdido o celular no aeroporto e encontrado só agora, Taehyung. 一 O tom era preocupado e até um pouco furioso. Namjoon fazia um ruído estranho e metálico no outro lado da linha.

一 E eu espero que você tenha quebrado um braço e precise de ajuda para ser levado ao hospital 一 resmungo com mal-humor. 一 Por que tantas ligações?

一 Por nada, Taehyung. Estive preocupado quando soube que está em Daegu há horas e ainda não tinha dado sinal de vida. 一 O tom furioso do meu amigo havia sumido e agora era apenas a velha preocupação de sempre. 一 Está nos seus pais? Momo disse algo sobre ir te visitar, tranque ela para o lado de fora por mim.

Arranco um matinho alto da grama bem cuidada, começando a puxar as partes verdes para fora e desfiar lentamente as folhas pequenas. Mesmo chateado com Namjoon sobre as ligações exageradas, não consigo manter a pose de mau-humorado ao ouvir que estava preocupado, e nem mesmo segurar a risada quanto ao pedido sobre Momo.

Ela colocaria ele para fora caso soubesse.

一 Momo é a queridinha dos meus pais, é bem mais fácil eu ficar trancado para fora. 一 Namjoon resmunga do outro lado da linha e isso me faz sorrir. 一 Desculpe, hyung. Precisei passar em alguns lugares antes de ir pra casa e não queria ser interrompido.

Namjoon pareceu ficar um tempo pensando em quais lugares eu poderia ter passado, já que a linha fica muda por longos minutos, mas então sua voz volta de forma hesitante.

Ele sabia que eu estava visitando Yoongi.

一 Tudo bem? Digo, não teve problemas com as malas?

Desfio a última folha do matinho com as mãos e jogo por cima do ombro, em uma brincadeira boba de bem-me-quer e malmequer, enquanto a voz de Namjoon preenche meus ouvidos.

Não fico surpreso quando ele muda o assunto de forma brusca e suspira do outro lado. Falar sobre a morte do Min sempre resultava na troca rápida de assunto, como se fosse proibido proferir tais palavras.

一 Está tudo bem, é apenas uma mala pequena.

Ouço ele concordar do outro lado da linha e ficamos assim por mais alguns minutos, uma sombra estranha de hesitação pairando pelo resto da conversa, a qual conduzimos de forma superficial até ele ter que desligar.

E eu agradeço pela ligação ter sido encerrada.

Guardo o telefone de qualquer jeito no bolso do casaco e levanto do chão. A brisa quente do verão passa pelo cemitério, sacudindo as árvores ao nosso redor e abraçando meu corpo como uma sauna particular. Talvez não tenha sido uma boa ideia usar roupas tão pesadas em um verão de Daegu, mas até o momento era o que eu tinha.

Quando Sunha ligou semanas antes e encheu a memória do meu telefone de mensagens sobre seu aniversário e como ela ficaria feliz com minha presença em Daegu, tinha sido fácil confirmar presença e esquecer o assunto pelos dias seguintes.

Isso até a mensagem com endereço chegar há dois dias atrás, seguida de uma ligação.

一 Você recebeu a mensagem certinha? Essa droga está mandando tudo em asteriscos 一 choraminga ela assim que atendo o telefone. 一 Tive que mudar as fontes porque esse aplicativo odioso não quer deixar minhas letras bonitas, acredita? Isso é opressão.

一 Opressão é usar essas letras em mensagens, Sun. São feias. 一 Alfineto a mulher do outro lado da linha que bufou, arrancando um sorriso dos meus lábios.

一 Feias são as camisas que você tem, Taehyung! 一 Sunha rebate, quase que imediatamente, na defensiva, o que me fez sorrir um pouco mais. 一 Mas não estou ligando pra discutir seu gosto duvidoso para camisas de verão, e sim pra saber se a mensagem com o endereço chegou certinha.

一 Chegou 一 respondo, mas logo uma dúvida surge. 一 Aquilo é...?

一 O estabelecimento que vamos comemorar meu aniversário, o mesmo aniversário que você concordou em participar, em Daegu. 一 Ela fala pausadamente, como se eu fosse lento demais para entender.

Paro o que tinha começado a fazer quase que imediatamente, encarando o telefone como se tentasse lembrar se tinha realmente concordando ou era apenas invenção de Sunha.

Então lembro de semanas atrás, de uma caixa de mensagens cheia e uma promessa de ida à Daegu.

一 E nem tente se esquivar, senhor Kim! Estamos com saudades e esperamos você aqui. 一 O tom de repressão na voz de Sunha chamou minha atenção.

Era o terceiro convite para passar uma estadia em Daegu que recebia dos meus amigos nos últimos três meses. Na última vez, Namjoon tinha tentado colocar a ideia que ir em um museu para fotografar os visitantes era uma ótima programação, e seria, se o museu em específico não fosse na minha cidade natal, há 237 km de Seul.

Então, só naquele momento, ceder ao convite de Sunha sem grande resistência parecia o certo.

一 Eu sei, não se preocupe. Eu irei, claro. 一 E a comemoração de Sunha faz-me outro sorriso nascer.

• • • 🐚 • • •

A

casa dos meus pais não parecia a mesma. Sei disso antes mesmo de entrar na construção de dois andares e encarar as paredes internas, mesmo que todos os enfeites e cores estivessem lá, talvez só um pouco desbotados demais, a casa em que passei toda minha adolescência parecia diferente das minhas lembranças.

Mas meus pais ainda estavam parados à frente da porta principal. Do mesmo jeito de alguns anos atrás, com a diferença que agora toda a tristeza daquela época parecia ter se dissipado. Um pouco.

一 Um bom filho à casa torna. 一 Minha mãe exclama, assim que deixo o táxi, em alto e bom som, fazendo o motorista olhar rapidamente para nós.

Puxo uma nota equivalente ao valor da corrida e estendo para o simpático senhor.

一 Voltando para casa depois de um tempo, né filho? 一 concordo com a cabeça a pergunta do motorista e ele sorri. Deseja um "boa sorte" genuíno e sai com o carro assim que dou alguns passos pra trás.

Virado para meus pais, observo suas roupas leves de verão e o sorriso acolhedor que dirigem a mim. Mamãe quase não para ao lado do meu pai, saltitando enquanto caminha em minha direção e abraça meu corpo com muito mais força que uma mulher da idade dela deveria ter; meu pai vem logo atrás, rindo.

一 Mãe, você vai quebrar minhas costelas 一 digo de forma dolorida em seu ombro coberto por algodão verde-musgo. Ela me aperta um pouco mais e depois solta, beijando minhas bochechas em sequência.

一 Perdoe a mamãe, mas eu não precisaria quase quebrar suas costelas em um abraço se você não demorasse tanto em nos ver. 一 Minha mãe dá passos para trás, chateada, mas passa rapidamente quando nota a bolsa maior nas minhas costas.

Não preciso dizer nada para que minha mãe entenda que minha estadia em Daegu vai ser um pouco mais que dois dias, e isso parece a deixar contente. Quase posso ver estrelas saindo de seus olhos.

Silenciosamente, meu pai pega uma das bolsas penduradas no meu corpo e passa um dos braços por cima dos meus ombros.

一 Se você quebrar as costelas dele no próximo abraço não vai ter como eles nós ver, querida. 一 Meu pai dá tapinhas nos ombros de forma gentil e coloca uma das minhas bolsas no próprio braço pendurado. 一 Bem-vindo, filho.

Ele sorri e eu o imito logo em seguida. Minha mãe se intromete entre a gente, pegando minha outra mala e caminhando para dentro com determinação.

一 É apenas um abraço amoroso, a culpa não é minha se esse garoto ficou anêmico depois que saiu de Daegu 一 resmunga, rumo a casa com a porta escancarada, sumindo entre as paredes amarelas da entrada.

Ainda abraçados, meu pai olha para meu rosto de soslaio. As sobrancelhas erguidas como se também desejasse boa sorte, assim como o motorista minutos antes.

一 Ela não vai sossegar até que eu ganhe cinco quilos , não é pai? 一 questiono, mesmo sabendo a resposta.

Meu pai respira fundo, bate em meus ombros novamente e concorda.

一 Vai por mim, filho. Ela fez comida suficiente pra você sair daqui com dez quilos a mais e muita vitamina E.

Solto um som esquesito quando resmungo de resignação. Papai, que ainda tem o braço ao redor dos meus ombros, solta uma risada soprada e se afasta, fazendo o mesmo caminho que minha mãe para dentro da casa. O sigo de forma silenciosa.

Assim que cruzo o hall de entrada, papai some escada a cima, falando sobre deixar as malas no meu antigo quarto. Concordo com a cabeça e fico parado na entrada, observando as coisas com furtividade. Dali consigo visualizar a mesma sala de anos atrás 一 com menos enfeites agora 一 e mamãe no cômodo mais à frente, na cozinha de estilo americano, resmungando com as panelas e pratos como se fossem gente.

Resolvo então subir as escadas antes que a conversa fervorosa entre minha mãe e suas louças se estenda a mim. Meu pai está saindo do quarto quando chego no topo da escada.

一 Pensei que ficaria um pouco lá em baixo com sua mãe 一 comenta, parando na frente da porta do próprio quarto.

一 Eu ia se ela não estivesse brigando com as panelas. O que o senhor fez pra deixar ela assim enquanto cozinha?

Meu pai uni as sobrancelhas, colocando as mãos no bolso. Pensando.

Então arregala os olhos, andando em minha direção de forma afobada.

一 Esqueci de comprar algo que ela pediu no mercado. 一 Solta uma risada nervosa e passa por mim, descendo os degraus de forma rápida e barulhenta.

Solto uma risada alta com o comportamento deles. Mesmo que os anos se passem, eles continuam iguais.

Bobos e apaixonados.

Ainda achando graça do comportamento deles, sigo em direção a última porta do corredor de forma vagarosa.

As paredes cor de areia, post-its e posters do meu antigo quarto parecem dar boas-vindas quando abro a porta. Tudo parece no mesmo lugar que antes, como se eu apenas tivesse tirando algumas semanas de férias. Nem as pelúcias que minha mãe tinha aversão haviam sido tiradas. Tudo no mesmo lugar, como há cinco anos atrás.

Não pude evitar que a nostalgia atingisse meu peito em cheio, junto com uma dose de melancolia usual.

Quase que no automático, meus dedos se arrastaram para a concha no meu bolso direito do casaco. Com ela entre os dedos e a palma da mão, aperto contra a pele pacientemente, então, o sentimento ruim que sempre acompanha minha nostalgia se vai.

No meio do quarto, observo os detalhes que não estão mais lá. O quadro que antes era preenchido por fotos, desenhos e colagens, agora tinha apenas poucos desenhos e resquícios de cola velha. Os vasos decorativos também não estavam mais na prateleira branca, e mesmo que eu soubesse que esses vasos em específicos não estariam mais lá, estranhei o vazio entre os objetos.

一 Como é estranho ver esse ponto vazio 一 comento sozinho, olhando aquele ponto em específico mas logo suspiro. 一 Nem sei porque estou incomodado com isso.

Enfio a mão dentro dos bolsos do casaco em busca do telefone, mas antes de tocar na superfície metálica do aparelho, meus dedos esbarram na conchinha que segurei minutos atrás e em um objeto gelado. Puxo os três objetos para fora do casaco e então vejo a moeda que a senhora Lee me deu naquela manhã.

Com um furo em forma de estrela no meio, algo escrito de forma ilegível e um pouco maior do que as moedas atuais. Era uma moeda incomum, talvez de colecionador, e não me surpreenderia se valesse uma nota.

Deixo que a ponta dos meus dedos passem pela moeda com textura rústica, contornando o relevo do que seria uma frase ou palavra com pouco interesse. Isso faz o cheiro de metal velho surgir no ar, irritando meu nariz quase que na mesma hora, me fazendo desistir de continuar com aquilo em mãos por muito mais tempo.

Deposito a moeda na mesa de estudos e consigo ouvir o leve barulho metálico que a peça faz contra a superfície entre o celular desligado e a concha, como se pesasse mais do que era aparente. Chuto os sapatos para longe dos pés, estranhando como dona Minhee ainda não entrou de rompante no quarto, falando sobre não querer ninguém de sapatos dentro de casa, então saio do quarto em direção à cozinha.

Mamãe ainda está mexendo nas panelas, mas agora de forma mais calma.

一 Momo estava aqui. 一 Ela comenta assim que me aproximo dela.

一 Eu sei, Namjoon hyung avisou que ela viria.

Coloco as louças de dentro dos armários na bancada e depois na mesa, tirando alguns poucos objetos antes de acertar tudo em seu devido lugar.

Não ouso mexer em mais nada além dos pratos, talheres e copos que tirei do armário, sem saber se devo ajudar em mais alguma coisa.

一 Ela pensou que você já tinha chegado aqui, já que desembarcou em Daegu. Por onde esteve? 一 Com a colher de pau na mão e as sobrancelhas erguidas, mamãe encara até o último fio da minha alma.

Fico alguns minutos em silêncio.

Minhee se volta para a comida.

一 Visitei algumas pessoas no caminho até aqui e acabei distraído.

Mamãe concorda, parando de mexer na panela fumegante e desligando o fogo em seguida.

一 Quando vai de novo? Posso ir com você. Sabe, faz algum tempo que não vou visitar o cemitério. Visitar o Yoongi.

Concordo devagar, ficando um pouco mais alerta e interessado depois de ouvir o nome de Yoongi sair da boca dela.

Mamãe é uma das poucas pessoas que ainda fala dele com tanta naturalidade e, por isso, é também uma das poucas que sabe exatamente por onde estive toda a manhã, apesar disso, ainda fico surpreso quando ela liga os pontos.

一 Não tenho certeza, acho que antes de voltar para a cidade.

Ela imita meu movimento de segundos atrás, concordando devagar e se aproxima da onde estou sentado na mesa.

一 Quando você vai se libertar desse fantasma, filho? 一 Mamãe pergunta séria.

Meus músculos retesam com a pergunta e a encaro. Não era uma novidade de como a senhora Minhee poderia ser direta em assuntos que exigem um pouco mais de tato, mas esse tipo de pergunta não era exatamente o que esperava receber.

一 O quê?

一 Encontrei o uniforme dele semana passada no seu quarto. 一 Começa de forma séria, mas ao poucos, a voz de minha mãe vai se tornando cautelosa. Como se escolhesse as palavras. 一 Da última vez que nos vimos, você disse que antes de ir tinha feito uma limpeza, entretanto as coisas que pertenciam a ele ainda estão lá. Sei que sente muito, mas você está atolado nessa areia movediça há anos, em algum momento ela vai te cobrir, e então será impossível escapar dela.

Ergui as sobrancelhas, absorvendo as palavras de minha mãe. Nunca tinha sido alvo tão direto de sua falta de tato, mas naquele momento, gostaria de pular a conversa "saia-dessa-areia" e ser agraciado com o silêncio do meu antigo quarto.

一 Eu não sabia que estava lá. 一 Trato de me defender em tom baixo, quase esquecido.

一 Sabia, meu amor, eu sei que sabia. Ela estava bem dobrada; arrumadinha entre suas coisas. E não estou dizendo que você não deve sentir falta, sei que isso é impossível, não tem como a presença dele desaparecer. Mas você precisa seguir em frente. É necessário. Não dá para continuar vivendo anos atrás.

Abaixo a cabeça, brincando com os dedos longos entrelaçados no meu colo, em um jogo de estalar e dobrar, enquanto meus músculos pareciam brigar comigo de tão tensos. Mamãe revisando o olhar entre mim e meus dedos tão barulhentos.

一 Querida, você acredita que comprei, mas esqueci no mercado? 一 Meu pai aparece com a cabeça na porta da cozinha, um sorriso amigável que some à medida que percebe o clima. 一 Aconteceu algo?

一 Aconteceu. 一 Mamãe se vira e olha minuciosamente para meu pai 一 Aconteceu que você está ficando velho, Kim Taeyang!

Minha mãe se levanta de forma engraçada e vai até ele, batendo com o pano de prato em seu braço enquanto ele ri e eu solto o ar que nem percebi ter prendido.

• • • 🐚 • • •


Um pouco mais tarde, quando o almoço com meus pais chegou ao fim e todas as novidades que eles tinha acabaram 一 inclusive daqueles que perguntavam sempre sobre mim 一, decido desfazer as malas esquecidas no lado do guarda roupa branco.

O interior do armário está recheado de roupas. Roupas esquecidas por mim na última vez que estive nesse quarto e que de tanto tempo, nem parecem mais minhas de verdade. Haviam alguns cadernos empilhados na parte direita do armário em que deveriam estar os sapatos, um rádio antigo e uma caixa um pouco maior que uma bolsa de viagem no fundo, sendo escondidos pelas roupas penduradas.

A caixa não era minha. Pelo menos não tinha sido eu a colocá-la ali.

A curiosidade então aparece para corroer minhas mãos que formigavam para tocar a caixa e puxar para fora do guarda roupa.

E é o que eu faço logo em seguida, sentando no chão no processo e cruzando as pernas da melhor forma que consigo.

A primeira coisa que vejo ao abrir a caixa é o rosto de Yoongi. Os olhos felinos concentrados em direção à câmera, o cabelo menta desbotado e bagunçado, enquanto um sorriso sutil brinca em seu rosto.

Fico em choque por alguns segundos. Encarando a polaroide como se fosse um ser de outro mundo ou como se tivesse surgido magicamente ali, e não como se eu fosse o dono delas e fotógrafo por trás da grande maioria.

Agarro o papel entre os dedos, e assim consigo ver as outras fotos, empilhadas de forma cuidadosa dentro de uma caixa menor com tampa 一 que naquele momento estava solta na caixa maior 一, feita de algum material resistente. Posso ver uma Hirai Momo com reflexos vermelho e cabelo preto, enquanto bebe em um píer, tentando jogar Park Jimin do banco em uma das fotos; fotos de Sunha, Namjoon e muitas outras em que Yoongi também estava junto. Todas com datas e localização.

A felicidade transbordava de todos os momentos registrados, mesmo aqueles em que pareciam estar o mais completo caos, o sorriso dos meus amigos preenchem cada lacuna do papel fotográfico, e a presença de Yoongi parecia encher tudo de cor. A nostalgia invadiu meu peito de forma sorrateira, tal qual uma serpente, ondulando em volta do meu coração, enquanto fazia meus olhos arderem com as lágrimas.

E meu coração logo sofreu o bote. A nostalgia sendo transformada em inveja conforme noto os momentos felizes em cada foto.

A inveja da felicidade deles.

A inveja da minha felicidade naquele tempo.

E quando tudo já transbordava pelos meus olhos, decido que não era mais tempo de ver aquela caixa, a afastando para longe de mim. De volta para o fundo do guarda-roupa.

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