PRÓLOGO - Parte 3

ALESSANDRA ANDRADE

Quando ele me disse que era muito bom com os dedos, eu não imaginei que o cara que havia me abordado e me prendido contra uma pequena parede, era excepcionalmente talentoso no piano. Eu imaginei mil e uma obscenidades, é claro, mas em nenhuma dessas o cara com uma aparência de bad boy e olhar perigoso, era um grande artista. Eu deveria saber, pois eu sempre tive uma quedinha por artistas; sejam eles atores, músicos e até pintores. Estava no meu DNA.

Mamãe foi uma grande artista dos palcos de teatros; isso, até encontrar o meu pai e se cansar dessa vida cheia de holofotes e atenção, para viver a sua vida pacata e sossegada do interior do Rio Grande do Sul. E ela mesma sempre me dizia que estava feliz ali e que essa havia sido a sua melhor decisão de vida. E eu estava aqui, para comprovar esse amor todo entre ela e meu pai. Durante todos esses anos, poucas foram as vezes em que eu os vi brigar e quando acontecia, ela me dizia em segredo, que só fazia isso para atiça ainda mais as chamas que haviam entre eles. "As vezes um relacionamento precisa de uma agitação, não acha?". Palavras claramente ditas por ela.

Assim, não foi tão difícil desvendar o motivo de toda aquela minha atração por um cara que eu mal conhecia. Ele era músico. Ou, pelo menos ele gostava de tocar instrumentos e andar por esse meio artístico. O que me surpreende, pois com pouco tempo depois, no qual eu havia acabado de descer com ele para o térreo, eu tinha descoberto que o mesmo, havia acabado de se formar em direito, assim, como o Banker.

E de frente para ele; como o mesmo me instruiu a ficar, para que ele pudesse me olhar melhor e tocar ao mesmo tempo para mim; eu me vejo perdida no seu olhar e na linda melodia que ele agora tocava no piano. Algumas pessoas se aglomeram ao nosso redor e até abaixam o som da música, para que ele pudesse ser ouvido.

A ideia de fugirmos um pouco das pessoas, parece não ter sido tão bem alcançada, como antes havíamos planejado; porém, eu logo percebi o que ele quis dizer com o "ignorar o que as pessoas pensam", pois o homem à minha frente, que nada parecia ter esse estilo para música, estava inteiramente ligado a melodia e se deixando envolver por ela, sem ao menos se importar com o julgamento dos outros. Era apenas ele, eu e o lindo som que o instrumento fazia. Um mundo só nosso.

Nunca pensei que pudesse me sentir tão conectada com alguém, como estava me sentindo naqueles poucos minutos ao seu lado. Eu havia passado por um susto, uma atração, desejo, paixão, suplica e encantamento. Uma mistura de emoções, que poucos caras haviam conseguido arrancar de mim. Ele tinha toda uma malícia de um homem cafajeste e perigoso, mas, algo dentro de mim, dizia que ele era muito mais do que deixava ou transparecia ser. O seu coração era sincero. Ele parecia não ter medo de reconhecer o erro e se desculpar. Era um homem de princípios e valores.

Ele mesmo reconheceu o erro de me julgar pela saia. Ele havia conseguido ler o meu rosto e o meu corpo, em um curto espaço de tempo. Sabia que ele seria um ótimo advogado, promotor ou juiz. Onde quer que ele decidisse trabalhar, iria se destacar. Logo, isso foi o que mais me cativou nele, um olhar que é capaz de despir a sua alma e ver quem você realmente é. Não havia explicação para o que ele me fazia sentir, eu só sabia que essa noite havia se tornado uma grande surpresa para mim. Embora eu tivesse tido o embaraço mais cedo com a minha saia, essa festa até que estava me saindo mais do que o esperado.

Vi a Alana com um carinha aos beijos no corredor e não pude conter um sorriso contido, quando era exatamente assim, que eu gostaria de estar com esse desconhecido que mexeu literalmente comigo. O que me causa uma comichão na pele, quando o tal homem, no qual eu acabei de me referir, encosta a sua mão na minha lombar e me junta brevemente a ele, para que parecêssemos estar juntos e finalmente, os outros, parassem de me olhar com tanta cobiça. A minha pele se arrepiar e me espremo um pouco nele, inalando o seu cheiro amadeirado, com pequenas folhas limão. Era um atrativo em tanto, ter o seu corpo novamente colado ao meu.

Após ele ter tocado um pouco de música para mim e se fechado no seu pequeno mundo, onde "o que outros pensam não importa", ele se levantou e decidiu dar um fim ao seu breve show, no espaço em que uma boa parte das pessoas da festa se amontoavam. E foi assim, que ele se pôs de pé ao meu lado e me trouxe para mais perto, deixando claro para quem a sua atenção seria direcionada.

- Eu não sei se devo te agradecer ou te recriminar por fazer isso. - Eu abaixo o meu olhar e entrelaço as minhas mãos uma na outra, ao chegarmos perto da cozinha e termos um pouco mais espaço para falar. Ele me olha com curiosidade e eu continuo. - Os olhares masculinos até que pararam, mas os femininos, parecem até quererem me ferir, querendo saber quem eu sou e o porquê, de você estar me dando tanta atenção. - Me sinto diminuta, diante de tantas mulheres bonitas por aqui e ele, ainda estar ao meu lado.

A minha intenção no começo dessa linda noite, era só parabenizar o banker, circular um pouquinho pela festa, sem chamar muita atenção para mim e depois ir para casa, assistir um pouco do meu seriado ou ler algum livro da minha lista do Kindle. Contudo, nada daquilo que eu havia planejado, estava acontecendo. Pelo contrário, eu ainda permanecia na festa e estava atraindo todos os tipos de olhares para mim, tanto por causa da minha saia, quanto por estar ao lado do exclusivo dono da casa, que parecia mais um Deus grego vestido de preto. O que não era nada esperado por mim.

- Com o tempo você se acostuma. Alguns são piores do que os outros. Mas como eu já te mostrei, eu aprendi um novo jeito de os ignorar. - Ele dá uma piscadinha de olho para mim e agora eu já sei, o que ele bem faz para escapar deles; embora eu ainda não compreenda muito essa sua tática, já que ela atrai ainda mais atenção para si.

- Um pouco contraditório o que você faz, mas acho que entendendo o que a música faz com você. É tocante e envolvente ao mesmo tempo, ela nos faz esquecer um pouco do mundo aqui fora. - Sorrio em compreensão.

Contudo, ele parece surpreso com o que eu digo.

- Você é realmente um caixinha de surpresas, princesinha. - Ele se apoia no balcão e tira uma pequena mexa do meu cabelo que havia coberto meu rosto. A minha pele se arrepia com o seu toque e eu mordo levemente os meus lábios, tentando controlar esse meu desejo crescente por ele. Ele mira os meus lábios e por fim, diminui o espaço que havia entre nós em poucos segundos. - Não faça esse tipo de movimento com eles, se não quiser que eu os puxe agora mesmo, na tentativa de te recriminar. - Ele me prensa contra a bancada e sinto toda a sua presença e áurea masculina sobre mim.

- O-quê, o que você está fazendo? - Tento pronunciar alguma coisa audível, mas só sai um sussurro. - E-u, eu não fiz nada. - Gaguejo um pouco, tentando me justificar e sem entender nada do que ele estava querendo se referir.

- Ah, fez sim... - Ele aproxima ainda mais o seu rosto do meu e pronuncia algumas palavras que demoro um pouco para entender. - Fez exatamente aquilo venho tentando evitar. - Ele acaricia o meu queixo e me faz ergue brevemente os meus olhos para ele, parecendo não se importar nem um pouco, em estarmos atraindo ainda mais atenção nós. - Você é diferente princesinha. Você se excita com o mínimo de estímulo possível. É atraente, provocante e parece nem saber o poder que tem. O seu cheiro se impregna em qualquer lugar que passa e a sua pele, parece ser ainda mais macia ao toque. E agora mesmo, os seus lábios me chamam, pedindo para serem ainda mais saboreados ou reverenciados. E eu quero exatamente fazer isso. - Ele cola as nossas cinturas uma na outra e eu me vejo perdida nas suas palavras.

"Como ele havia me lido tão bem?"

"É claro! Eu não deveria me surpreender." Como eu mesma disse, ele era muito bom nisso.

Logo, eu não tinha como esconder o embaraço e o desejo crescente, que eu vinha desenvolvendo gradativamente por ele naquela noite. Eu queria aquele beijo tanto quanto ele. Assim, eu não tinha outra escolha, além de assumir.

- E-u, eu também quero. - Digo compenetrada no seu olhar e descobrindo um novo jeito, de ignorar as pessoas ao nosso redor. "É carinha, acabei de descobrir uma nova artimanha para o nosso pequeno probleminha."

Ser beijada por você, será a minha nova solução; pois em nenhuma outra vida em que eu possa ter existido, eu beijaria um cara desconhecido, sem ao menos saber o seu nome e ainda mais, em público, com uma plateia tão grande quanto essa.

É, eu só podia estar ficando louca.

Mas se ficar louca, fosse sinônimo de sentir exatamente o que eu sentir, ao ter a minha boca sendo tocada pelos seus lábios, eu me internaria agora mesmo em um hospício e desejaria arduamente, ter essas mesmas sensações que estava sentindo agora. O meu estômago se contraindo, boca salivando, língua quente e pele em chamas.

Logo, as mãos do cara que estava à minha frente, passeiam pelo meu corpo e fazem uma pressão maravilhosa na minha cintura, ao descobrirem a minha pele por debaixo da blusa de crochê. Os seus dedos deslizam lentamente pelo cós da minha saia e depois sobem para meu rosto, como uma forma de se controlar e não passar do ponto. Porém, ele só torna o momento ainda mais único e hipnotizante. O seu beijo se torna lento e ao mesmo tempo intenso. A sua língua explora a minha boca e formiga os meus lábios, ao terem eles sendo prensados e mordidos pelos seus dentes.

O hálito mentolado estava ali, era refrescante e marcante. Tão devastador, quanto a tudo o que ele fazia comigo. Me sentia uma boneca nas suas mãos. Esse homem não deveria ser de Deus, por conseguir fazer isso com uma simples e pobre pessoa. As minhas pernas estavam bambas e eu brevemente, estaria pulando nos seus braços para conseguir me amparar.

Contudo, mais uma vez ele percebe o que o meu corpo estava precisando e lentamente, diminui a pressão dos seus lábios nos meus e vai se afastando, mesmo que tudo isso, seja a contragosto seu. E eu lhe entendo, também não queria, mas era necessário. Logo, aos poucos eu vou recuperando o meu fôlego e ele também, faz mesmo.

A sua testa ainda estava colada na minha, quando eu vejo um meio sorriso surgir no canto da sua boca. Eu me pergunto o que poderia ser o motivo dele, mas acredito que ele estava tão abalado quanto eu. O meu coração parecia quase querer pular pela boca. Assim, quando ele se afastou de mim e eu coloquei uma das minhas mãos no seu peito, pude o sentir o quanto o dele também estava acelerado. Ele percebeu isso.

E me surpreendendo mais uma vez, ele decide não fugir do que eu havia acabado de descobrir. Ele também havia sentido.

- Eu sabia que seria diferente. - Ele diz simplesmente e eu lhe indago em seguida.

- Diferente, como? - Grudo os meus olhos nos seus e me sinto compenetrada neles. Eu queria saber a resposta.

- Diferente ao ponto de que eu realmente preciso saber o seu nome. - Ele umedece os lábios novamente e alisa o meu rosto. - Eu não me contentaria só com isso. Preciso te conhecer um pouco mais, princesinha. Não vai me escapar tão cedo.

Sorrio feito uma boba e mordo os lábios, exatamente como ele havia me julgado ter feito antes, para lhe provocar. Contudo, eu não lhe deixo fazer a mesma coisa que havia feito. Logo, eu estendo a minha mão para ele e me apresento.

- É um prazer lhe conhecer, eu me chamo Alessandra Andrade; mas todos me chamam por Alê. Se quiser, pode me chamar assim também. - Tento não ser tão cordial e sorrio, esperando que ele faça o mesmo.

O carinha a minha frente é difícil de sorrir, mas vejo que acha graça do meu gesto. Logo, ele aperta a minha mão e também se apresenta.

- Prefiro princesinha, mas Alê, também combina com você. Já eu, me chamo Daniel Buarque e não tenho nenhum apelido para ele. - O mesmo me puxa inesperadamente pela mão e aproxima a sua boca do meu ouvido, antes de falar com a sua voz sussurrada e roca, no qual rapidamente me faz perder o juízo. - O que acha de me dar um, princesinha? Eu sempre quis ter um... e vindo da sua boca, eu tenho certeza que vou adorar. - Um som anasalado dos seus lábios e sei que sorriu de forma cafajeste.

Logo, eu penso em um.

- O que acha de Patch? - Mordo internamente a parte da minha bochecha, tentando controlar o riso, por saber que ele nada intenderia do motivo de eu lhe chamar assim.

- Patch? Porquê, Patch? - Ele indaga curioso, levantando levemente uma sobrancelha para mim e eu fico extremamente tentada, em não lhe revelar o motivo. Contudo, a curiosidade de também querer saber o que ele vai achar disso tudo, eu lhe digo.

- É o nome de um personagem de um livro que estou lendo. Você se parece com ele. O tal do Patch parece conseguir enxergar verdadeiramente a alma dela. Digo, da mocinha do livro. - Me sinto meio embaraçada, por revelar o teor das minhas leituras.

As pessoas sempre acham que os livros de romance, são todos melancólicos. Porém, não são todos assim.

- Hum... interessante. Podemos falar mais sobre isso. - Ele parece ligeiramente interessado e eu, me sinto extremamente surpresa com isso.

Logo, nos dois nos embalamos em uma conversa profundas sobre livros e ele me garantiu que iria ler essa nova série de livros que estou lendo, da Becca Fitzpatrick, Hush Hush. As histórias giravam entorno de anjos caídos e nefilim. Bem interessante, digam-se de passagem.

Naquele momento, eu nem importei mais de ter vindo para essa festa e ter ficado até a madrugada adentro, usando uma minúscula saia, convivendo com pessoas desconhecidas e sentindo uma pequena brisasinha, na minha periquita puritana. A presença do meu querido Patch/Daniel, havia preenchido toda a minha a noite. Nunca pensei que pudéssemos nos dar bem tão de cara. Ele era do tipo bad boy conquistador e eu, a ingênua virgem, que gostava de ler e fugir das pessoas. E o que nos uniu no fim, foi esse último ponto. Gostávamos de ficar sozinhos e no nosso canto. Quem diria, não é?

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Tags: #romance