VII
Xywyn achou tudo uma delícia no banquete oferecido por Jesper na casa do mercador. Após os eventos que culminaram na morte de todos os companheiros de viagem, o comerciante decidira retornar para casa e presentear daquela forma os mercenários que haviam salvo a vida dele.
— Eu preciso pegar uma coisa lá nos fundos — disse Jesper. — Hans, você pode vir comigo pra me dar uma forcinha?
— Claro — respondeu o mercenário.
Assim, Xywyn teve que se conter para não rir da tentativa óbvia de deixá-la a sós com Dorven. Embora achando a cena engraçada, a dracomante ficou feliz, pois vinha buscando aquela oportunidade desde o ocorrido da semana anterior. Nos primeiros dias, ela sentia que precisava dar espaço ao elfo e, quando chegaram a Flaetlün, as chances de se encontrar com ele eram escassas.
— Xywyn — disse o arqueiro.
— Calma — interrompeu-o a dracomante. — Eu queria falar primeiro. Você sempre tem um monte de palavra bonita pra me desmontar toda. Eu gostei de você desde que nos conhecemos e fui me interessando cada vez mais. Eu me sinto tão bem quando você está por perto e sei que nossas vidas são distintas, afinal, não sou membro efetivo do grupo mercenário de vocês. Nós vivemos mais emoções do que eu gostaria e sinto que minha vida contigo será sempre uma loucura se continuarmos juntos, mas aquela voz dentro de mim me diz que é justamente isso que eu quero. Dorven, você aceita ser o meu eigin?
— Eu ia dizer que queria ir ao banheiro — declarou o elfo, fazendo com que Xywyn corasse até sentir o rosto ficando quente. Então, ele gargalhou, recebendo um soco da maga-espadachim no braço em resposta. Então, ele se recompôs antes de continuar. — Sempre soube que dracomantes são bem sérios com relacionamentos e você fez jus à expectativa. Um pedido de casamento antes do primeiro beijo é bem curioso para um elfo como eu. Fosse qualquer outra pessoa na minha frente, a recusa seria imediata, mas estamos falando de alguém que se dispôs a entrar no coração da floresta de Zanbyod e invadir um vilarejo de kobolds para salvar um grupo de pessoas com as quais não tinha relação alguma, exceto pelo dinheiro. Além disso, você é filha de um caçador de dragões! Isso te torna automaticamente ainda mais incrível!
— Seu bobo — disse Xywyn, sem se preocupar em esconder o sorriso apaixonado.
— Eu aceito — respondeu finalmente. — Será uma honra te ter como minha kona.
Dorven se levantou da cadeira e estendeu a mão à dracomante, que a aceitou e também se ergueu. Então, sentiu o elfo a envolvendo pela cintura e enlaçou o pescoço dele com seus braços. Por um instante, Xywyn se permitiu perder-se naqueles profundos olhos azuis que a encaravam como um mar em tempestade. Os rostos se aproximaram lentamente até que os lábios se tocassem. Inicialmente, foi um beijo delicado, mas aos poucos foi ganhando a intensidade como dois rios se cruzando e invadindo um o espaço do outro até que fossem ali um só.
Xywyn sentiu o sabor doce do Dorven e foi se entregando àquela vontade que já carregava há tantos dias. Acariciou o cabelo dele enquanto a outra mão percorria as costas do elfo, que, por sua vez, a segurava pela cintura, mantendo-a totalmente colada ao corpo dele. Naquele instante, ela se esqueceu de todas as preocupações da vida e curtiu o prazer daquele beijo.
Então, os rostos se separaram, mas o abraço não foi desfeito. Xywyn deu mais um beijo delicado nos lábios de seu noivo antes de apoiar a cabeça no colo dele. Tomou cuidado para que seus chifres não machucassem o pescoço do amado.
— Eu achava que você ia recusar — confessou a dracomante.
— Eu seria o elfo mais louco de Azúria se não quisesse me tornar seu eigin — declarou Dorven.
— É uma gracinha você usando o termo em dracônico só pra me agradar — brincou Xywyn, com um sorriso estampado em seus lábios.
— O significado que vocês colocam nessas palavras é tão bonito que eu me sinto honrado de poder usá-las — respondeu ele.
Xywyn poderia ficar ali por toda a eternidade, curtindo a presença do elfo e sem precisar pensar em suas responsabilidades. Entretanto, ouviu passos se aproximando e, sem pensar duas vezes, desfez o abraço e sentou-se novamente à mesa. Esperou que Dorven fosse fazer a mesma coisa, mas o arqueiro se posicionou atrás dela, massageando seus ombros.
— Quantos talentos seus eu ainda não conheço, senhor Dorven?
— Teremos alguns séculos para que você descubra — respondeu ele, dando uma risada antes de parar a massagem e se sentar.
Hans e Jesper entraram na sala de jantar com sorrisos maliciosos. Xywyn teve certeza de que os dois tinham visto tudo que se passara entre ela e Dorven, corando imediatamente com a ideia. Sentiu-se boba em seguida, afinal, não havia feito nada de errado e não tinha nada a esconder. Ainda assim, lembraria de não trocar beijos com o noivo em público no futuro.
— Lamento interromper o casal, mas tenho algo a conversar com você, senhorita Welsikaryn — afirmou Jesper, abrindo uma caixa com uma belíssima gargantilha.
A peça era prateada, adornada com várias pequenas safiras e com uma maior no meio. À primeira vista, Xywyn reconheceu muito bem aquela joia. Era a Safira de Glafros, a qual Bendik tentara roubar, causando todo o caos que eles viveram em Zanbyod.
— Se estou vivo, devo isso a você, senhorita Welsikaryn — declarou o mercador. — E não quero para mim um artefato que atraia mais gente como o Bendik. Por isso, nada mais justo que entregar isso a alguém que possa, de fato, fazer bom uso dela.
— Eu não sei nem o que dizer — respondeu Xywyn. — A Safira de Glafros é uma relíquia única. Eu farei jus à sua confiança, prometo!
A dracomante recebeu a gargantilha e a encarou, ainda sem acreditar que carregava em suas mãos um dos maiores tesouros de Azúria. Então, colocou a joia em seu pescoço, percebendo que o tamanho parecia ter sido pensado exatamente para ela. Sentiu vontade de satisfazer a própria vaidade, olhando-se no espelho para saber o quão bonita havia ficado, mas o rosto do Dorven boquiaberto foi o bastante para alimentar a autoestima dela.
— Eu conversei com o Hans e tenho uma oferta que talvez seja do agrado de vocês — comentou Jesper. — Depois do que aconteceu, tenho medo que mais pessoas venham atrás de mim, acreditando que eu ainda tenha a Safira de Glafros. Por isso, vou espalhar um boato de que a joia foi vendida para um comerciante de Omnia, mas também estarei contratando vocês três em definitivo. Imagino que a estabilidade de um emprego fixo seja algo positivo para vocês e eu não consigo pensar em pessoas que me inspirem mais confiança do que aqueles que salvaram a minha vida.
— Eu não sou do grupo mercenário do Hans, embora tenhamos sido contratados juntos e eu tenha aceito ficar sob as ordens dele na missão que concluímos — comentou Xywyn. — Mas essa oferta é maravilhosa para mim. Agradeço profundamente por essa oportunidade, senhor Norberg.
— Ótimo! Então, comam à vontade e, por hoje, estão dispensados. Espero todos aqui amanhã às sete horas para começarem a trabalhar.
Jesper deu um último sorriso e se retirou da sala de jantar. Xywyn, Dorven e Hans aproveitaram para comer mais da deliciosa refeição antes de deixarem a mansão do mercador. Teriam muito a fazer nos dias que se seguiriam, como procurar moradia em Flaetlün, mas a dracomante sentia muita satisfação ao perceber que sua carreira estava ganhando força e que ela tinha pessoas incríveis com quem compartilhá-la.
***
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