Game Over

A japonesa encarou a máquina a sua frente mais uma vez naquele fim de tarde. Era sua última tentativa, afinal, havia gastado todas as suas fichas naquele jogo, sobrando assim apenas aquela, sua jogada final.

Bater o recorde no Asteroids era questão de vida ou morte para Minatozaki Sana.

Recorde esse que pertencia a alguém cujas iniciais eram SCY.

A garota sabia disso, pois deparava-se sempre com as três letras piscando irritantemente na tela de pontuação. E logo abaixo estavam MSN, as próprias iniciais.

Dona da segunda melhor pontuação em Asteroids do bairro, Sana não se contentava em ser apenas a segunda da lista. Ela queria o primeiro lugar, mas parecia impossível, uma vez que o recorde era relativamente alto comparado a sua melhor pontuação.

Porém estava cansada de ocupar a segunda posição por tanto tempo, maldito fosse o dia em que chegou para jogar em um final de semana qualquer e deparou-se com novas iniciais ocupando o lugar que um dia foi seu.

E sequer sabia a quem pertencia o novo recorde.

Mina bufou pela enésima vez naquele dia e, com as costas apoiadas na máquina ao lado, ela observava a melhor amiga dar um beijo na ficha e colocá-la na máquina logo em seguida. Sana sempre a arrastava como um chaveirinho para todos os lugares e um deles era o fliperama.

Nos primeiros dias era irritante, pois não tinha disposição nem para levantar da cama, mas depois de duas ou três vezes acabou acostumando.

— Precisamos ir, anoiteceu e não podemos chegar tarde. — Ela avisou.

Um chiclete de menta brincava em sua boca enquanto suas mãos estavam enfiadas nos bolsos de seu casaco branco.

Sana assentiu, mas sem a olhar.

— Só mais essa e vamos embora, eu prometo. — A japonesa respondeu. A tela de início logo atraiu a sua atenção. — Preciso de silêncio.

A mais baixa riu nasalmente, embora fosse cansativo e até mesmo chato acompanhar a jornada da amiga em busca da vitória, ela não podia negar que torcia para que ela batesse o recorde logo e parasse de gastar tanto dinheiro em uma única máquina.

Sana até mesmo roubava as suas fichas quando as dela acabavam, e se para amiga era uma questão de vida ou morte, para ela, era mais como uma questão de ter as suas fichas de volta.

Ao menos foi essa a promessa que Minatozaki fez:

"Quando eu recuperar meu recorde, te devolvo o dinheiro de todas as fichas que já peguei."

Mina decidiu deixar a amiga se concentrar no maldito jogo e passou a observar ao seu redor, notando o estabelecimento quase vazio, não fosse por elas e mais duas garotas que estavam jogando um jogo de tiro qualquer em primeira pessoa.

A mais alta delas tinha uma arma cor-de-rosa nas mãos e atirava sem parar em toda a tela, chegando a desviar do ataque dos monstros que apareciam na mesma, o que arrancava risadas da mais baixa ao lado dela, que segurava uma pistola preta e parecia mais preocupada em rir da amiga do que com o jogo em si.

Uma risada gostosa e rouca, que era melodia para os ouvidos. Pelo menos era isso que ela achava. Afinal, não era fácil ter uma queda por uma garota que via apenas no fliperama aos finais de semana.

Cabelos avermelhados e sorriso encantador. Essas eram as principais características da garota que ocupava sua mente e a causava sensações estranhas no estômago.

Tudo começou dois meses atrás, quando ela passou a acompanhar a melhor amiga. A garota de cabelos ruivos estava jogando um jogo de dança com a mesma garota de agora, e lembrava-se dela esbanjar um sorriso tão lindo que fora quase impossível não se encantar.

Até então, Mina não acreditava em amor à primeira vista. Mas isso era amor? Ela perguntava-se todos os dias.

As borboletas em seu estômago diziam que sim, mas sua cabeça preferia acreditar que era apenas uma paixonite platônica.

Ela adoraria ter coragem para dar um passo à frente e falar ao menos um oi, mas tudo o que ela conseguia fazer era abaixar a cabeça sempre que passava ao lado da garota.

Sentia vontade de se bater por ser tão covarde, mas o que ela falaria?

"Oi, eu tenho uma queda por você."

A outra com toda certeza correria para longe dela.

— Eu desisto! — Mina foi pega de surpresa pelo barulho de chutes na máquina ao lado. Sana havia perdido. De novo — Eu não sei mais o que fazer! — A morena abraçou a máquina e encostou a cabeça na tela que mostrava o nome game over bem no centro.

A melhor amiga costumava ser um pouco exagerada, mas fugiu do controle quando um bico se formou nos seus lábios e ela simulou um choro.

Aquilo atraiu a atenção das garotas do outro lado do fliperama.

Não demorou mais do que dois segundos para Mina ficar vermelha como um tomate ao notar que a garota que ocupava sua mente e a amiga bonita dela, as encarava com uma expressão divertida no rosto.

— V-vamos. — Quase engasgou-se com o chiclete e puxou a amiga, com certa dificuldade, para longe da máquina.

— Eu odeio Asteroids! Não quero jogar isso nunca mais na minha vida! — Foi a última coisa que a melhor amiga disse em meio a um choro seco antes de sairem do fliperama sob o olhar das garotas.

Mina queria enfiar a cabeça em um buraco no chão naquele momento.

[...]

Após aquele episódio vergonhoso no fliperama, a semana seguiu tranquila e calma, até a sua melhor amiga resolver voltar para casa na chuva e pegar um resfriado, deixando-a sozinha durante o fim de semana seguinte.

Mina poderia ficar em casa, mas ir ao fliperama era muito melhor do que aguentar as reclamações de sua mãe sobre atividades atrasadas da escola.

O problema é que ela nunca havia ido sozinha ao fliperama.

Até agora.

A máquina de bichinhos de pelúcia parecia não estar ao seu favor, o ursinho branco da direita chamava por ela, pena que sua coordenação motora era um lixo e sempre que ela achava que ia conseguir pegar, o gancho se erguia sem nada.

Bufou frustrada, mas tirou as fichas do bolso e pegou mais uma para tentar novamente. Ela era impaciente, mas também era teimosa.

— Tente ir um pouco mais para a direita. — A voz soou atrás dela. Mina sobressaltou em seu lugar quase derrubando as fichas no chão. — Não quis te assustar. — Uma risada rouca foi ouvida.

Ela conhecia aquela risada.

Aquilo estava mesmo acontecendo? Mina sentia as borboletas em seu estômago fazendo festa.

— E-eu que sou desastrada. — Merda, não gagueje!

Ela sorriu sem graça largando o joystick e com receio encarou a dona da voz. Mina estava certa, era a garota de cabelos avermelhados.

— Vejo que quer muito o ursinho. — Mina até tentou não se perder olhando para ela, mas era impossível. Ela estava tão perto que parecia ser um de seus sonhos.

— O que disse?

— O ursinho, você parece querer bastante. — A ruiva apontou para o bichinho de pelúcia dentro da máquina.

Segurou um sorriso que quase brotou em seus lábios quando notou a lerdeza da mais alta.

— Ah... Isso? É difícil. — Mina abaixou a cabeça, quanto menos contato visual melhor. Suas mãos soavam e um bolo havia se formado em sua garganta.

Sana poderia estar ali com ela, seria tudo mais fácil, uma vez que ela se enturma melhor.

— Você só está fazendo do jeito errado. Posso tentar? — Chaeyoung indagou de forma gentil. — Juro que vou ser rápida como uma bala. — Riu e sequer notou a cara de boba da mais alta.

— C-claro. — Mina praguejou-se mentalmente por gaguejar tanto e se afastou timidamente da máquina, dando uma ficha para a garota ao seu lado.

A ruiva abriu um sorriso de agradecimento esse que derreteu o pobre coração da outra.

Chaeyoung colocou a ficha na máquina e assumiu o controle do joystick. Mina permaneceu ao lado dela, imóvel, estática e quieta, apenas observando.

Se fosse um sonho, ela não gostaria de acordar.

— Onde está a sua amiga engraçada? — Chaeyoung perguntou, sem tirar atenção da máquina.

— A Sana?

Era óbvio que a garota estava falando da melhor amiga, não é como se ela andasse com mais alguém. Mas aquilo significa que a garota reparou em si?

— Se ela for a garota que deu chilique naquele dia quando perdeu, sim, é ela. — Chaeyoung deixou um riso baixo escapar por sua garganta quando lembrou do ocorrido.

— Pegou um resfriado. — Respondeu.

— Diga a ela que a Tzuyu mandou melhoras. — Chaeyoung falou de forma simples. Seus olhos estavam atentos na máquina a sua frente.

Tzuyu? Mas quem diabos era Tzuyu?

— Tzuyu...? — A mais alta indagou curiosa. Ainda não sabia como estava conseguindo manter uma conversa com a garota.

Chaeyoung bufou quando o gancho se ergueu sem nada e pegou mais uma ficha das mãos da mais alta.

— A minha amiga. Chou Tzuyu, uma garota quase da sua altura.

— E por que ela mandaria melhoras?

Mina ainda não havia entendido.

— Ela gosta da sua amiga, duh. — Chaeyoung disse como se fosse óbvio, com toda a naturalidade do mundo. Em seguida, colou a ficha na máquina.

— Da Sana? — Indagou mais uma vez. A surpresa em seu tom não pode ser escondida.

Então a sua melhor amiga tinha uma admiradora secreta.

— É, ué. Da Sana. — Chaeyoung riu da lerdeza da outra. — Por quê? Tem algum problema com isso? — Foi a primeira vez que ela desviou o olhar da máquina para a mais alta.

Mina desviou imediatamente.

— Problema? Nenhum... Só fui pega de surpresa, eu não imaginava.

Um sorriso sincero rasgou os lábios da garota de cabelos ruivos. Ela deu de ombros em seguida e voltou a atenção para a máquina, estava convicta que conseguiria dessa vez.

Sempre foi boa em qualquer tipo de jogo.

Mina observou o gancho ir mais uma vez de encontro ao ursinho, mas dessa vez com sucesso, pois agora o gancho erguia-se com a pelúcia.

Chaeyoung a olhou por um segundo e viu a expressão de felicidade em seu rosto, mas voltou a sua atenção rapidamente para o brinquedo. Não podia deixar cair agora.

— A Tzuyu é muito tímida. — Ela explicou, ainda falando sobre o assunto anterior.

— Parece comigo... — O que deveria ter ficado em pensamento, acabou escapando pelos lábios da morena.

Droga.

— O que?

— Ahm? Nada. — Ela disfarçou.

Chaeyoung pareceu não dar muita bola, para a sua sorte.

— Ela não tem coragem de falar com a sua amiga, então eu resolvi dar uma ajuda.

— E veio falar comigo?

— Imaginei que ela estivesse aqui. — A ruiva disse, abaixando-se para pegar a pelúcia que caiu com sucesso no compartimento.

— E onde a... Tzuyu está? — Mina precisou pensar um pouco para lembrar aquele nome estranho e olhou ao redor em busca da garota.

— Ela deu o pé quando me viu indo em sua direção. — Chaeyoung disse e ela riu.

Tzuyu realmente parecia ser como ela no quesito de falta de coragem para tomar iniciativa.

— Aqui está. — A garota abriu um largo sorriso ao entregar o ursinho. Maldito sorriso.

Mina ficou tão alheia a situação que sequer notou em que momento a outra conseguiu pegar a pelúcia, mas estava feliz, nunca conseguiu um daqueles nessas máquinas.

— Obrigada! Não sei como agradecer. — Ela sorriu com a pelúcia nas mãos.

Chaeyoung achou aquilo adorável e também sorriu ao ter uma ideia.

— Eu sei. — Disse de forma sapeca.

A mais alta arqueou uma das sobrancelhas em direção a garota, não sabia o que ela iria propor, mas esperava que a sua crush não a cobrasse por aquele favor.

O quanto azarada ela seria se aquilo acontecesse?

— Não tenho dinheiro, gastei tudo com as fichas. — Mina respondeu assustada. — Olha você até pode ficar, eu não ligo. — Fez menção de devolver a pelúcia.

— Ei, calma. Eu não quero dinheiro. — Chaeyoung teve que rir diante do desespero da garota a sua frente.

Ela não queria dinheiro, onde já se viu isso?!

— Não? Desculpe, eu pensei que... — Mina fez uma pausa. — Desculpe.

Aquele já era o segundo mico que pagava na frente da garota e sabia que não seria o último. Segurou-se para não estapear o próprio rosto por ter sido boba.

— Tudo bem. — Chaeyoung cessou a risada. — Eu só queria saber se quer jogar comigo. Tenho algumas fichas sobrando e eu odeio jogar sozinha. — Ela mexeu no tecido do casaco e as fichas fizeram barulho em seu bolso.

Passar uma tarde sozinha com a garota que gostava? Aquilo só podia ser realmente um sonho.

— Jogar com você? — Não parecia ser uma boa ideia passar tanto tempo ao lado dela, embora ela quisesse, não podia negar que seria difícil tentar não parecer uma completa idiota.

— Por favor... a Tzuyu me deixou sozinha e você me deve um favor. — Chaeyoung usou de seu melhor tom fofo para conseguir o que queria.

Em momentos comuns a mais alta sempre achou o uso daquele tom algo totalmente tosco, ela até mesmo zombava da melhor amiga quando a mesma acabou fazendo aquilo para conseguir um de seus jogos emprestados, mas ali, naquele momento, aquela foi a coisa mais fofa que pode presenciar.

Mina, com toda certeza, não era a melhor jogadora do bairro, mas ganharia o prêmio de maior apaixonada do mundo.

— Voz fofa não vale. — Foi o que ela disse, mas tudo o que a sua mente dizia era: Vale sim, e ela acertou você em cheio, sua idiota.

Chaeyoung riu.

Voz fofa e em seguida a risada, seria aquele o combo dos sonhos da mais alta?

— A Tzuyu nunca cai nessa. — Vai ver é porque ela não gosta de você como eu gosto. Mina pensou, apenas pensou. — E então? O que me diz?

Ela apenas assentiu e viu a outra abrir um largo e encantador sorriso.

— Vem comigo. — O toque das mãos da mais baixa nas suas foi suave, mas o suficiente para fazê-la ter calafrios.

Chaeyoung agora a levava em direção a um de seus brinquedos favoritos.

Elas foram até uma máquina de basquete mais ao fundo do fliperama, o estabelecimento estava cheio naquele momento e tudo o que podiam ouvir eram os efeitos sonoros de outros jogos e alguns xingamentos de outros adolescentes que ali estavam.

Durante o trajeto até chegarem, Chaeyoung não soltou nenhuma vez a mão da mais alta, gesto simples que não passou despercebido por Mina. O caminho era curto levando em conta que o fliperama não era tão grande, mas para a garota pareceu uma eternidade.

— Se prepare para perder. — Chaeyoung esbanjou um sorriso orgulhoso, tirou a ficha do bolso do seu casaco e colocou na máquina.

Mina adorava jogar basquete.

— Basquete? Sério mesmo? — Ela riu. Se existia um jogo que ela era boa e vencia a melhor amiga todas as vezes, esse jogo era aquele.

— Sim e prepare-se para levar uma surra. — Chaeyoung brincou.

Embora o desafio fosse em dupla e ambas precisassem jogar juntas para conseguir uma boa pontuação, era muito mais divertido levar aquilo como uma competição. E logo as bolas desceram para o compartimento inferior e a ruiva não esperou a mais alta para tentar seu primeiro arremesso.

Mina sorriu ao ver a bola cair fora da cesta.

— Estou me aquecendo apenas. — Chaeyoung tentou dar uma desculpa.

— Aprenda comigo. — Mina pegou a bola, a ergueu sobre a cabeça e lançou sem muito esforço.

A bola bateu no aro vermelho da cesta e entrou sem cerimônia alguma. O sorriso vitorioso em seus lábios fez a mais baixa arregalar os olhos e sorrir desacreditada.

— Pura sorte. — Chaeyoung pegou mais uma bola e deu para Mina, em seguida pegou outra para si. — Precisamos fazer o máximo de cestas possíveis em dois minutos. — Ela indicou o cronômetro com o olhar.

— Fácil. — A morena arremessou a bola acertando a cesta mais uma vez. Deu o seu melhor sorriso sacana e encarou a garota com um olhar desafiador. Não sabia onde havia enfiado a sua timidez, mas seja lá onde ela estivesse, era melhor assim. — Vai ficar aí parada? — Arqueou a sobrancelha.

— Está me desafiando? — A garota de cabelos avermelhados entrou em seu jogo.

— O tempo está passando... — Mina acertou mais uma vez, mas dessa vez Chaeyoung a acompanhou e acertou um belo arremesso em seguida.

Ambas passaram a jogar como se estivessem em um verdadeiro campeonato, alguns arremessos precisos aqui e ali, e outros perdidos também. Os sorrisos nos rostos indicavam que mesmo com a competitividade, elas estavam se divertindo.

O tempo estava acabando e elas haviam acertado exatas trinta e seis bolas, o que era uma excelente pontuação para aquela modalidade de jogo. Em um momento Chaeyoung inclinou-se sobre a máquina para acertar as bolas de maneira mais fácil, o que não deixou Mina brava, muito pelo contrário.

Ela até riu, pois viu a garota quase cair sobre a máquina ao tentar usar a sua tática.

— Quarenta e Três. — Chaeyoung disse, olhando para o placar e o cronometro zerado. Estava ofegante pelo esforço.

— Fomos bem. — A morena deu seu melhor sorriso. Chaeyoung a observou por alguns segundos. Mina era bonita e seu sorriso não era diferente.

Depois disso, elas foram em outras máquinas e em todos os tipos de brinquedos.

Mina sentia-se mais confortável e descontraída, tentava não pensar muito sobre estar passando uma tarde com a garota que gostava e focava mais em estar aproveitando a companhia de alguém legal. Até mesmo se permitia fazer piada sempre que a ruiva ficava de cara fechada quando perdia algum jogo, pelo que pode observar, a garota e a sua melhor amiga tinham muito em comum.

Embora elas ainda fossem como estranhas uma para a outra, puderam desfrutar de cada momento. A tarde passou rápido como um piscar de olhos, naquela altura do campeonato a morena desejava voltar no tempo para aproveitar melhor cada momento.

Mina, na verdade, ainda queria um pouco mais de tempo com a garota, não sabia se o destino a ajudaria novamente daquela forma.

— Está escurecendo. — Ela comentou.

Chaeyoung e ela andavam lado a lado, já haviam ido a praticamente todos os brinquedos do estabelecimento, desde os jogos de tiros aos jogos de dança, até foram na pequena lanchonete e compartilharam um milk-shake de chocolate.

E foi exatamente nesse momento que a mais alta ouviu a outra a chamar de fofa quando acabou distraindo-se com uma máquina de doces e errou várias vezes o canudo em sua boca quando tentava beber. Mina ficou vermelha — obviamente, o que resultou em mais comentários como aquele pelos minutos seguintes.

— Você tem que ir para casa? — Chaeyoung não entendia o porquê, mas desejou que a resposta fosse não. E quando viu Mina assentir, não conseguiu não sentir um incômodo.

— Foi divertido hoje. — A mais alta disse da forma mais sincera que conseguiu. Chaeyoung apenas concordou com a cabeça e lhe lançou um sorriso.

— Vamos à uma última máquina? — Ela sugeriu.

— Pode ser. — Mina aceitou.

Elas haviam jogados em todas as máquinas do lugar, menos em uma.

A mais baixa caminhou até a máquina preta com adesivos azuis. Mina sabia muito bem que máquina era aquela.

— Você joga Asteroids? — Ela perguntou.

— A pergunta deveria ser quem não joga. — Chaeyoung riu nasalmente.

Ela tinha razão, as crianças e adolescentes do bairro inteiro jogavam Asteroids.

Era muito comum ver filas se formando pouco antes do fliperama abrir, todo mundo queria ser o primeiro a jogar na máquina mais popular do estabelecimento, fosse por querer bater o recorde atual ou pela simples diversão.

— Venha, jogue comigo. — Ela a chamou com a mão. Mina aproximou-se lentamente.

— Não sou boa nesse jogo, ocupo a décima segunda posição no ranking. — A mais alta comentou envergonhada.

— É uma boa posição levando em conta o número de pessoas que jogam aqui. Mas eu posso te ensinar algumas técnicas. — Chaeyoung já havia ensinado Tzuyu a jogar uma vez, não se preocupava em ensinar mais uma pessoa.

Mina achou fofo a outra querer ajudá-la.

— Eu aceito.

O que Mina não esperava era que após a ficha ser colocada na máquina por Chaeyoung, a mesma se posicionaria atrás dela. Perto, muito perto.

E piorou quando as mãos da mais baixa seguraram as dela, levando-as até o joystick e os botões. Chaeyoung estava tão perto que Mina podia ouvir a sua respiração.

— Você precisa ficar atenta a todos os lados. — Chaeyoung disse em um tom normal, mas para Mina aquilo soou quase como um sussurro.

Sua cabeça estava em qualquer lugar, menos naquele jogo.

A mais baixa deu play e logo o jogo iniciou. Ela guiava as mãos — agora suadas — da morena. Chaeyoung tinha experiência no jogo e seu olhar estava tão preso na tela que nem notou quando a mais alta suspirou pesadamente e abaixou a cabeça.

A verdade é que aquela proximidade era demais para ela, simplesmente não conseguia encarar a tela sem se sentir estranha enquanto ainda tinha que aguentar o contato da ruiva em suas costas.

Mina nem mesmo apertava os botões ou mexia o joystick. Era tudo Chaeyoung, habilidosamente jogando sozinha.

E a morena manteve-se tão inerte ao que estava acontecendo que sequer percebeu quando a ruiva parou de jogar porque o cheiro de seu perfume atraiu a sua atenção. Sequer notou quando as mãos dela deixaram de segurar as suas firmemente.

Ela não percebeu o efeito que também teve sobre a mais baixa.

Mina assustou-se com o barulho do jogo indicando um game over, Chaeyoung afastou-se quase que imediatamente dela, sentindo-se um pouco confusa.

— Sua pontuação. — A mais baixa falou para quebrar o clima estranho que havia ficado.

A pontuação de Mina aparecia na tela. Ela agora ocupava o oitavo lugar no ranking.

— Não vai colocar suas iniciais? — Chaeyoung perguntou.

Mina assentiu.

— Qual foi a sua melhor pontuação? — Ela perguntou por pura curiosidade.

— 12560. — Chaeyoung respondeu orgulhosa.

— M-mas esse não é o recorde? — Mina encarou mais uma vez o ranking para ter certeza. Ela estava certa. O recorde era 12560 e pertencia a pessoa tão odiada por Sana. — Você é a SCY?

— Son Chaeyoung, prazer. — Só então elas perceberam que em nenhum momento haviam dito os seus nomes. Tudo fazia mais sentido agora. — E você?

Mina parou por um momento, respirou fundo e digitou na máquina as suas iniciais: MMN.

Em seguida, aproximou-se da ruiva e com toda a coragem que existia dentro dela, se abaixou para depositar um selar simples na bochecha da mais baixa.

Chaeyoung ficou parada com os olhos arregalados. O tom rosado tomou conta das bochechas da mais alta.

— MMN? — Foi a única coisa que Chaeyoung conseguiu perguntar.

Mina nada disse, com um sorriso envergonhado apenas passou pela garota e foi até a saída.

Chaeyoung encarou a mais alta sair pela porta de vidro sem olhar para trás, levou a mão até a bochecha e sentiu a região quente, ela com certeza estava vermelha.

Ela permitiu-se sorrir.

Sorrir não apenas por causa do que havia acontecido, mas também porque ela tinha certeza que no próximo fim de semana a encontraria de novo e perguntaria seu verdadeiro nome.

E foi assim que a mais alta passou a ocupar os pensamentos da garota de cabelos ruivos.

E se um dia Mina reclamou por Sana a arrastar para o fliperama todos os finais de semana, agora seria a primeira a passar na casa ao lado e levar a amiga ao estabelecimento.

Afinal, precisava encontrar alguém.

Fim.

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