Assassino Interior


Roberto acordou embaixo de um viaduto, olhou em volta e não fazia a menor ideia de onde estava. Levantou-se e forçou a memória para se lembrar do que havia acontecido, mas foi em vão, de todas as vezes que aquilo aconteceu aquela foi a mais tensa, pois sempre se lembrava minutos depois, se assustou ao ver um carro estacionado com a placa de Cidade do México, se assustou mais ainda quando se viu com barba grande, passou as mãos no rosto e olhou em volta atravessando a rua. Chegou a um bar e pediu café, falou em português, o dono do local o olhou analisando-o e enfiou a mão embaixo do balcão e pegou uma espingarda calibre 12mm e apontou para ele:

— Fuera de aquí, ahora! — ordenou o homem cheio de fúria.

Roberto levantou as mãos e saiu.

— Não acredito, meu Deus! De novo, não...


UM MÊS ANTES, 31 de outubro.

Roberto estava em sua casa, morava na zona sul do Rio de Janeiro, se casaria dali a três dias e estava ansioso. Fazia tratamento com um psiquiatra, pois sofria de Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI).

— Você teve um grande avanço no controle da personalidade, Roberto.

— Faz muito tempo que não tenho pesadelo com nada, doutor. Isso é o início de uma possível cura?

— Cura, não, mas controle.

A consulta fora satisfatória, Roberto saiu do consultório feliz da vida, pois já havia tido muitos problemas por causa do seu transtorno.

Chegou à garagem do prédio e sentiu uma tontura forte, seu rosto começou a se transformar entre caretas e gemidos estranhos seu pesadelo estava de volta: Ramon!

Ramon adorava o dinheiro de Roberto e naquela noite ele sairia para curtir o Halloween em grande estilo.

— Noite de Halloween, noite de sangue... — avisou para si enquanto arrumava sua fantasia de Drácula.

Marcou com uns amigos numa boate, bebeu muito, pagou bebidas para os amigos e para as prostitutas do local, até que uma delas sentou em seu colo, ele a empurrou bruscamente, fazendo-a cair no chão. Música alta, fumaça, pouca luz.

Ramon quebrou uma garrafa e cortou a garganta da mulher que se insinuou para ele. Com os olhos vidrados nele, ela morreu levando chutes dele, que estava furioso. Ramon a escondeu embaixo do palco, fora visto por um amigo, que estava tão bêbado que nem se importou.

Sorrindo, Ramon pegou outra garota pela cintura e a chamou para o quarto. Ela começou a beijá-lo e tirar sua roupa, não notou quando o rosto dele mudou, com as mesmas expressões:

— Nem convida, né, Ramon? — falou com sotaque baiano. — Venha cá, venha, sua gostosa. — Despiu-se e deitou a mulher na cama iniciando o ato sexual.

A mulher fazia todo o seu teatro, gemidos e elogios a ele, que perdeu a vez na personalidade:

— Isso é hora de aparecer, Raí? — Ramon disse aborrecido, pegando o pescoço da moça.

— Seu problema é querer se divertir sozinho... — Raí tomou seu lugar novamente e continuou em cima da garota, que não estava entendendo nada daquela briga de um homem só.

Ramon cheio de fúria assumiu o corpo de Roberto novamente e socou o rosto da garota até matá-la. Enfiou os dedos na boca dela e a arrastou até o banheiro pelos dentes, jogou a mulher sem vida dentro de uma banheira. Limpou-se e deixou o quarto:

— Vou exterminar vocês da face da terra! — disse para si chegando ao bar do local onde pediu bebida e bebeu num gole só. O barman se virou e ele pegou o picador de gelo guardou no bolso e foi para perto do palco, onde duas moças dançavam.

Depois da apresentação das duas, uma delas desceu e foi até ele, que pegou dinheiro e colocou no sutiã dela, que o puxou pela calça e o levou para o quarto, ele se deixou levar, passou a mão no picador de gelo, enquanto era arrastado para um quarto.

— Você é muito gostoso!

Sorrindo, ele se despiu enquanto ela foi procurar bebida no frigobar. Raí voltou:

— Essa é muito gostosa pra morrer... — seu rosto mudou novamente.

— Vai embora daqui! — gritou assustando a moça, que fechou a geladeira e mencionou sair, mas foi segurada pelo cabelo por ele, que sorriu. — Você não. — Beijou os lábios dela e a levou para a cama, seu rosto mudou novamente, Raí estava de volta.

— Nunca vi uma quenga tão linda na minha vida...

Foi empurrado pela moça, que tentou sair do quarto, mas Ramón correu e a pegou pelo cabelo de novo e a jogou na cama, tirou o picador de gelo e passou a furá-la enquanto ela gritava desesperada. Depois de 37 golpes no abdome, Ramon desferiu os dois últimos no pescoço da mulher, que se debateu antes de morrer.

Ele sorriu ao ver a cama cheia de sangue e o olhar frio daquela prostituta morta.

Saiu do quarto e voltou ao salão à procura de mais uma vítima. Dessa vez foi ao ápice de seu ódio, viu uma menina menor de idade e logo a pegou pela cintura e a chamou para sair dali.

— Aqui tem quartos, não precisamos sair...

— Quero te levar a um hotel luxuoso do jeito que você merece!

Ramon a levou a casa de Roberto, onde pegou uma mochila e saíram novamente.

A menina foi achada três semanas depois em avançado estado de decomposição, amarrada com fita adesiva numa cabana. Sinais de abuso sexual, asfixia e espancamento.

Como deixara um enorme rastro de sangue, Ramon pegou algumas coisas e saiu do país na mesma noite em que cometeu os crimes contra as garotas de programa.

A polícia já estava à procura dele havia dias quando acordou no México.

Roberto nunca havia ficado tanto tempo ausente, estava apavorado, pois tinha consciência de suas múltiplas personalidades.


AOS DOZE anos Roberto descobriu que sua mãe era garota de programa, mentia que trabalhava em uma lanchonete e saía todas as noites.


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