7 - Questões Básicas


EACF, 11 de janeiro de 2011, 12h30 (14 horas depois)...

... Após o almoço, continuava nevando, embora de forma intermitente. Durante uma trégua, os militares começaram a retirar a neve que subia ao nível do telhado, já em vários contêineres da estação. Um buraco no gelo havia sido aberto, a partir da porta principal, formando um túnel, ligando assim a área interna com a externa. Era uma situação corriqueira, segundo me disseram, mas tiveram que parar o trabalho, uma vez que a tempestade voltara forte. Concentrados no serviço e, em poucos homens, não foram atrás de Humberto. Sobre novas condições de voo, não havia perspectivas, pelo contrário, já cogitavam que poderíamos ficar por mais dois ou três dias na estação.

Não restasse outra coisa a fazer e, tendo em vista a investigação de que fora investido, reuni-me com o almirante e Inês na biblioteca, um local muito aprazível, com belos livros e enciclopédias, organizados em estantes de madeira clara — cerejeira talvez. Havia, na sala, uma mesa retangular com seis cadeiras, em madeira escura, provavelmente imbuia. As cadeiras eram muito confortáveis e possuíam o espaldar em couro branco, fixados em encosto maciço.

Inês informara-me, pouco antes, que conhecia taquigrafia, assim, convoquei-a como escrivã. A moça era realmente prendada, além de extrovertida e culta. E também muito bela.

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O medo de ter perdido a mão, o jeito para um ofício, é natural. Curiosamente, porém, quase sempre nos pegamos exercendo a função tão bem quanto antes. Assim, sem perceber, já me sentia mais uma vez à vontade no papel de investigador.

Inicialmente, fiz um resumo de tudo o que acontecera, desde as 23h00 do dia 10 de janeiro de 2011, quando adentrei meu quarto para dormir, em um dos corredores dos alojamentos civis da EACF. Busquei relatar todos os acontecimentos subsequentes com precisão, organizando-os mentalmente, já em forma de relatório policial, como fazia na delegacia de homicídios. Inês anotava tudo com os recursos da taquigrafia e parecia ser mesmo uma excelente estenógrafa.

— Esses foram os acontecimentos, desde o grito de Ema, passando pela fuga de Humberto, culminando com a descoberta do cantil com as iniciais CEA.

A seguir, fiz um relato específico, referente ao resultado da perícia forense. Depois, coloquei uma lista sobre a mesa, para que eles pudessem acompanhar e pedi a Inês que a lesse para nós.

QUESTIONAMENTOS BÁSICOS:

1 – Ema diz ter visto "o assassino" sair pela porta. Pergunta-se:
1.1. Por que não havia pegadas ou marcas na neve?
1.2. Ema está mentindo?

2 – Por que existem as digitais de Ema Arantes na arma do crime?

3 – Sobre o jaquetão do almirante. Pergunta-se:
3.1. Por que Carlos vestia o jaquetão?
3.2. Carlos o furtou?

4 – O que significam as anotações na agenda de Carlos?

5 – De quem é o cantil com as iniciais CEA?

6 – Por que Humberto fugiu?

7 – Quem é Patrícia Rocha?

8 – A tesoura é um vestígio a ser considerado?

9 – De onde proveio o fio de linha preta, preso na unha do cadáver?

10 – O corte na nuca do cadáver tem algum significado?

— Gostaria de analisar alguns pontos que necessitam de explicação. Esses dez listados são os principais.

O almirante comentou:

— Parece que têm uns itens aí que não faz sentido analisar. O cantil, por exemplo.

Discordei:

— Melhor considerarmos todos os fatos que forem estranhos. Segundo a capitã Azevedo, o cantil estar jogado do lado de fora da estação não pode ser considerado algo normal...

Ele insistiu:

— E essa tesoura, o que tem a ver?

— A princípio, nada. Mas como estava sobre a mesa do quarto, junto da agenda e do livro, e há nela as digitais de Ema, relacionei-a. Mas bem sabemos, a arma do crime é o osso, portanto, a tesoura, a priori, não parece ter ligação com o crime. As digitais são facilmente explicáveis, pois é um objeto que deve pertencer à própria Ema. Cabe salientar que existem três tipos de vestígio: os ilusórios, os forjados e os verdadeiros e o bom investigador necessita, podemos dizer, separar o 'joio do trigo'.

"Sobre o item 9, já adianto: o fio de linha preta, que estava numa unha lascada, cito, o polegar direito, pode indicar algum sinal de briga. Diferentemente da tesoura, pode, sim, pertencer ao corpus delicti.

Inês indagou:

— E esse corte, na nuca?

— Pois é! Não possui sangramento. Parece que é posterior ao óbito. Acredito que possa ter sido provocado pelo assassino, quem sabe? Esse é um vestígio bem estranho, mas não sei se significativo.

O almirante estava admirado:

— Tu é bem metódico.

— Nem sempre fui assim. Aprendi a otimizar as coisas somente com o passar do tempo. Aliás, devo muito disso ao investigador Madeira, que hoje é delegado no meu lugar. É a pessoa mais metódica e eficiente que já conheci. Mas, a minha mesa no departamento, por outro lado, sempre foi a mais bagunçada. Nela, nunca dei jeito.

Rimos. H. Nunes prosseguiu com os confetes:

— Como é que tu conseguiu observar tanta coisa, em tão pouco tempo e com tantas adversidades contra?

— Ossos do ofício, para não dizer "ossos de baleia". Tenho certeza que diante de um chamado urgente para o comando de uma embarcação o senhor se sairia à altura.

Estiquei os braços, alongando-os:

— Ademais, aprendi algo, lendo os livros de Arthur Conan Doyle. Sherlock Holmes sempre dizia: "Não basta ver, é preciso observar". Já minha mãe diz algo parecido: "Procure com os olhos, não com as mãos".

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As questões estão na mesa, mas será que respondê-las todas, nos levará realmente à solução do mistério? Convido-os a continuar e desvendar esse mistério.

*Registe seu voto e comentário. Grato.

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