Capítulo 17 - Conheci o presidente.

De todos os lugares do mundo, nada é mais torturante do que um quarto branco, sem janelas, completamente vazio. Apenas você e o quarto. Sua mente não para de trabalhar; ideias mirabolantes. Tudo ao mesmo tempo. Porém nada parece capaz de preencher aquele "branco infernal".

Você pode imaginar cores, sabores, pessoas... Pode criar um mundo novo mas sempre estará preso no branco. Ninguém te ouve... Apenas o vazio que grita em seu ouvido todas as noites e não te deixa dormir. Pior que o limbo, o tempo parece não passar no quarto branco.

Minha mente se volta contra mim como se quisesse também preencher seu próprio vazio. Tudo que criei, todas as pessoas, todos os personagens, todos me perseguem. Querem espaço, querem liberdade. O quarto branco não permite.

Pior que um labirinto, o quarto branco não dá chances de fuga ou qualquer esperança. Você é o único centro. A dor resolve fazer uma visita, acompanhada da agonia e do medo; logo chegam à raiva e o impulso. Uma reunião adorável, onde o objetivo é acabar com você. O quarto branco sufoca tudo que está em seu interior.

E pensar que é apenas meu primeiro dia nesse lugar infernal.

Desde que desmaiei ontem à noite, estou aqui. Neste maldito quarto. Não tem nada aqui. Apenas uma pequena câmera no canto da sala.

Até agora nenhum templário apareceu. Minhas costas doem como se eu tivesse levado um coice, mas não há nada que eu possa fazer. Não até receber o sinal. Um pequeno movimento da câmera. Basta eu esperar, como o planejado.

Estou fraca, com sede e com fome. Apenas esperando algo acontecer. Mas como eu disse, o tempo não parece passar aqui.

Espero o que eu acho ser uma eternidade, olhando para a câmera como uma idiota, até que escuto o barulho de uma porta se abrindo.

Me levanto e espero de pé a pessoa entrar com um pequeno objeto na mão.

- Você sabe o que é isto? - Me pergunta, apontando para o pequeno objeto. Eu sei o que ele é. Mas não vou contar. Então mantenho silêncio. - Encontramos ele em sua bota quando você desmaiou. É algum tipo de localizador, não é? Então você não estava sozinha. - Continuo mantendo o silêncio. Eu sei bem o que é aquilo, e sei que não é um simples localizador. Se eu contar qualquer coisa, o plano todo cai por água abaixo. - Me responda garota!!!

Ele avança pra cima de mim, desferindo um soco em meu maxilar. Caio no chão, mas não me dou ao trabalho de levantar.

Finalmente eles morderam a isca.

O homem levanta o pé, pronto para me chutar, porém uma voz vinda de seu rádio o impede:

- Mr. Elias, não é necessário sujar suas mãos... ou pés. Se me permite, eu mesmo falo com a garota.

- Eu não me importo, senhor. Eu até gostaria de eu mesmo fazê-lo.

- Isso não foi um pedido, Elias. Traga-me a garota.

- Sim, senhor presidente. - Diz para o rádio, e rapidamente me levanta pela gola de minha camisa. - Você se deu mal, garota. - Diz baixinho para mim enquanto algemava minhas mãos e pés. - Vamos logo. Bratholomeu odeia ficar esperando.

Ele se põe atrás de mim e me empurra para que eu comece a andar. Tropeço em minhas próprias pernas por causa das algemas, e faço um esforço para me manter em pé.

Andamos por diversos corredores, recebendo olhares curiosos dos templários que passavam por nós. Minha vontade era de me soltar daquelas algemas ridículas e matar geral, mas sei que isso estragaria todo o plano. Durante o percurso fico olhando em volta para saber onde estou. Porém sem nenhum êxito. Apenas quando passamos por um lugar envidraçado, consigo ver o pequeno lago artificial do lado de fora, e percebo que estamos no senado ainda.

Continuamos andando até chegarmos em uma sala totalmente branca, sem janelas. Bem parecida com a que eu me encontrava. Havia apenas uma mesa no centro com uma caixa de ferramentas em cima. Sem contar com dois pedaços de corda que estavam amarradas em um cano alto preso a parede.

Elias me empurra até o cano e soca meu abdômen, fazendo-me cair. Ele rapidamente tira minhas algemas e me levanta antes mesmo que eu pudesse revidar. Ele prende meus braços nas cordas que estavam penduradas no cano e sai da sala. Eu era baixa demais para por os pés no chão, o que fez com que eu ficasse pendurada apenas pelos braços que pareciam que iriam desgrudar do meu corpo a qualquer momento.

Ok.. Definitivamente isso fugiu dos nossos planos. Tenho que sair daqui.

E isso tem que ser agora.

Impulsiono meus pés para frente para tentar alcançar o cano onde minhas mãos estavam presas. Porém, assim que o faço, a porta é aberta, e o presidente Bartholomeu Dias entra na sala.

- Boa tarde, Alice.. - Diz ele enquanto tira seu paletó e o colocava sobre a cadeira. Ele olha para mim, e depois para os meus pés, que estavam longe do chão - Bem, lamento por esse... desconforto. É que este cano foi feito para homens relativamente altos.. Se soubéssemos que você viria, teríamos feito um menor. - Diz ele com uma falsa preocupação. Ignoro seu comentário e cuspo em seu rosto. Ele fica parado, surpreso por alguns segundos, mas logo em seguida limpa o cuspe com a manga de sua camisa. - Você não deveria ter feito isso, garota. - Ele dobra a manga de sua blusa até os cotovelos e, com raiva, soca meu abdômen. Tento me curvar, mas as cordas não deixam. - Bem, como você pediu com tanta educação.. Vamos brincar.

Ele abre a caixa de ferramentas. Olho pra ela com medo: nela havia muitos objetos de tortura. Desde isqueiros, facas, cordas.. E até objetos tão complexos que eu não fazia ideia pra que serviam.

- Mas antes, conheça meu amigo.. - Ele se vira para a porta. - Artemus! Venha aqui. - Um grande homem de mais ou menos dois metros, entra na sala. Ele era todo bombado e tinha uma cara que dava medo.

- Eae cara.. Beleza? - Digo tentando parecer durona. O homem sequer move um músculo. Apenas fica parado ao lado de Bartholomeu.

- Olha.. Ele gostou de você. - Diz Bartholomeu ironicamente. - Bom.. Vamos direto ao ponto. - Ele pega o "localizador" e aponta para ele. - Isso aqui é um localizador, não é? É para os seus amiguinhos te encontrarem? Ora, mas então porque ele está desativado?

- É... Sabe como é né? Localizadores são chiques. Todo mundo importante usa. Então eu pensei que seria legal ter um também, mesmo que esteja desativado. - O presidente faz cara de desdém e pega da caixa uma faca pequena.

- Isso que é vontade de brincar. - Diz enquanto se aproxima. - Bem, tudo bem. Irei perguntar de novo: pra que serve esse localizador? - Fico quieta. Então ele se aproxima mais e corta precisamente meu pulso. Onde dói mais. Grito de dor, porém não respondo sua pergunta. Ele continua cortando, até que larga a faca e volta para a caixa, pegando de lá uma arma de choque. - Vejo que você é resistente.. Então supondo que você ache mesmo "chique" um localizador... Você não estava na festa sozinha, não é?

- Claro que não. Tinha um monte de políticos e pessoas comuns lá também. - Ele atira em mim. Sinto a eletricidade correr por todo o meu corpo, até a ponta dos pés. Grito. - Se você vai me torturar sempre que eu respondo, porque então pergunta? - Como resposta, ele atira novamente.

- O que vocês queriam entrando na festa? - Ele então pega um isqueiro e se volta para mim, levantando um pouco da minha blusa, até minha barriga ficar descoberta - Vamos, me responda. Quer queimar até quando? - Diz, já com o isqueiro aceso, queimando meu abdômen. - Grito e tento me contorcer, porém as cordas não permitem. Meus pulsos feridos raspando na corda áspera. Fazendo o corte aumentar ainda mais. - Nada? - Ele suspira. - Parece que teremos um bom caminho pela frente... - Diz enquanto coloca a mão na queimadura.

🔻🔻🔻

A seção de tortura durou horas, mas para mim pareceram semanas. Sempre na mesma rotina: Ele me pergunta, eu fico quieta, ou debocho, e como brinde ganho uma nova cicatriz para a minha coleção. Sangue pingava, sujando o chão que outrora fora branco. Enfim Bartholomeu se cansa.

- Bem, você não me dá outra escolha garota. Você vai ter que "conhecer melhor" meu amigo Artemus.. - Diz enquanto se sentava na cadeira no canto da sala.

- Eae, cara? Então, é do Brasil? Pelo visto já foi jogador de basquete, não? Você daria um ótimo jogador com essa altura. - Digo, com a voz falhando pela dor e cansaço. Cada palavra era um grande esforço. Mas mesmo assim tentei parecer menos quebrada do que realmente estava.

Artemus me ignora e se posiciona a minha frente, pronto para fazer o que quer que fosse.

Ele levanta a mão. Porém, um estouro surdo do lado de fora o interrompe. Os dois olham para a porta. Tento olhar também, porém minha cabeça lateja quando o faço, então abaixo novamente. "Finalmente. Vocês demoraram demais dessa vez." Penso, esperando o que viria a seguir.

Os próximos segundos passaram como em câmera lenta: Bartholomeu se levanta da cadeira e corre para a saída, me deixando sozinha com Artemus, que não sabia o que fazer a seguir.

Logo depois, a porta explode, e entre a fumaça da explosão consigo identificar Henri e mais dois assassinos ao seu lado. Eles entram na sala, e começam uma luta tensa contra Artemus.

Henri deixa Artemus por conta dos outros dois assassinos, e corta minhas amarras. Tento cair de pé, porém estou fraca demais, e acabo cedendo. Felizmente Henri me segura antes que eu caia.

- Ainda não, garota. Vamos sair daqui. - Ele passa uma das mãos em minha cintura, e eu passo meu braço sobre seu ombro, e começamos a andar o mais rápido que minhas condições permitiam.

Conseguimos entrar no elevador e Henri aperta o último botão.

- Porque você fez isso? - Pergunto enquanto subimos. - Não é pra baixo? - Ele me encara com um sorriso. Não sei porque, mas tenho um bom pressentimento sobre isso.

- Mudança de planos. Faremos eles sofrerem também.

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