Um- Madison


Eu não sabia quem havia chamado Ametista.

Não sabia nem ao menos se, enquanto meu corpo despencava para a imensidão do rio e do precipício, eu havia esfregado a pedra que usava como colar, a fim de salvar as pessoas que ficaram lá e se sacrificaram para nos ajudar.

Mesmo não sabendo como, Ametista tinha nos encontrado... Tinha me pego no colo, e entrado em um portal comigo nos braços. E mesmo tendo sido a pessoa a me dar algumas cicatrizes, ela se preocupou com a nossa segurança. E só por essa mínima demonstração de preocupação, eu já queria agradecer por tudo.

Mas antes de agradecer, eu precisava calar o rio de águas turbulentas que bombeava em meus ouvidos. Um rio límpido, puro e brilhante, que agora percorria minhas veias lado a lado com o sangue. Sentia que estive prestes a explodir todo esse tempo, mas não tive consciência o suficiente pra fazer isso.

Mas agora, eu tinha consciência.

Abri meus olhos, sentindo o calor que irradiava da minha pele, do meu sangue... Dei um salto na cama hospitalar que me deitaram, em resposta a um espasmo.

Meu estomago se revirou completamente, uma montanha russa de emoções e lembranças passando por meus olhos novamente. Tentei afastei todas as atrocidades que Nelifa fez a nós, não deixando os pensamentos se perpetuarem em minha mente... Mas mesmo com todo esse esforço, com todos os ferimentos que doíam e despontavam da minha pele, enfaixados ou com cicatrizes expostas, vomitei. Vomitei até meu estomago estar digerindo a si mesmo, bem ao lado da maca, sem perceber se mais alguém estava ao lado ou observava a cena deplorável.

Apenas quando cuspi todo o resto da bile, e senti minha garganta se fechar e queimar como brasa, encostei a cabeça novamente no travesseiro, fechando os olhos tão forte que doeu.

Senti tudo em volta queimar, como fogo ardente. Queimar como a fogueira e as chamas da minha Marca. Queimar como o fogo do inferno...

Então acabou, as chamas se extinguiram, como se tivessem jogado água por cima com força, abafando toda a dor que eu sentia. Por fim, consegui abrir os olhos de vez, um suspiro alto e sofrido saindo dos meus lábios. Tossi, sentindo minha garganta arranhar, e apoiei o braço no colchão fino, fazendo força para levantar o corpo. Uma pontada extremamente forte de dor irradiou do meu braço, mas aguentei ela, fazendo mais força ainda para levantar e sentindo mais dor ainda.

Quando finalmente consegui me sentar na maca, meus olhos piscavam com pontos pretos, e a dor que eu sentia era extrema, me deixava fraca e vulnerável. Foi só aí que todos os meus sentidos pareceram voltar.

O som da algazarra que aquele cômodo estava, invadiu meu cérebro quando consegui ouvir de novo. Vozes, arquejos, alguns gritos... Mas principalmente, algo que não sabia como estava ouvindo, mas ouvia.

O gorgolejar do sangue de todos. Daquele rio de pura luz branca, que corria por entre as veias e se misturava ao sangue. Ele pulsava em meus ouvidos, mas não era mais só meu, era de todos os seis Escolhidos que me rodeavam. Todos eles pulsavam tão forte quanto eu. E quando parei para reparar, senti que pulsavam no mesmo ritmo.

O cheiro de vomito, suor e sangue seco invadia o ar. A sala não era branca, mas de uma cor límpida e clara que lembrava muito o branco. As macas, bancadas e todos os utensílios que conseguia ver ostentavam essa mesma cor. E para quebrar essa ausência de cor, duas mulheres com peles de cores incomuns andavam de um lado para o outro, atarefadas. Uma tinha a pele azulada, e a outra, ostentava um tom forte de vermelho. Isso nem era o mais incomum, mas sim, os quatro braços, que pegavam diversos utensílios todos de uma vez, usando-os como tornados. Uma delas, de pele azulada, limpava o vomito ao lado da minha cama, usando dois de seus braços e apenas um quarto de sua atenção.

Uma ala hospitalar. Não me lembrava se já tinha algo assim na casa, mas naquele momento, eu realmente, não me recordava de muita coisa além dos horrores, povoando ainda o fundo da minha mente. As cortinas esvoaçaram do outro lado da sala, com um vento marítimo vindo das pequenas janelas no alto da sala, que mostravam pouco mais de areia, pedras e alguma grama.

Eu me encontrava em um canto da sala, o mais afastado da porta. Dali, tinha uma boa visão do resto dos Escolhidos. Ao meu lado, estava Lucas, piscando os olhos freneticamente como se tentasse se acostumar a luz, sentado na beira da maca, os olhos fixos no chão onde a mulher limpava meu vomito. Eu imaginava o que ele deve ter pensado ao me ver ali, vomitando as tripas bem do seu lado.

Mais a frente, estava Jesse, que fitava o teto da sala, e parecia dizer alguma coisa. O braço estava com uma tala, e a perna parecia doer demais para ele sequer tentar se sentar. Tinha mais travesseiros nas costas do que os outros, e Jesse parecia estar tendo alguns espasmos.

Do lado de Jesse estava sua irmã, Kille. Ela era a que parecia estar menos machucada, sem muitas ataduras aparentes, mas com várias cicatrizes finas e brancas pelos braços. Ela tentava se levantar, mas seu corpo bambeava quando finalmente conseguiu descer da maca. Ela apoiou as mãos na maca alta, tirando seus cabelos muito armados e com as pontas amarelas do rosto.

Do lado dela, estava Rosh, o garoto jogado na maca, os olhos abertos e a mão na cabeça, como se segurasse a dor que sentia. Mas o detalhe que me fez rir era o pacote de batatas fritas que estava do lado dele, já pela metade, que ele comia com vigor. Sua perna esquerda estava enfaixada, e provavelmente torcida ou quebrada. Mas o estomago, provavelmente estava intacto... Isso me fez soltar um sorriso.

Genezis sorriu ao ver Rosh também. A garota estava como eu nunca a vi. O cabelo completamente descabelado, preso em um rabo de cavalo baixo e solto, os fios em volta do rosto suado. E aquele rosto, que antes sempre estava maquiado, agora ostentava várias cicatrizes nem tão finas quanto as da Kille, e tinha o busto todo enfaixado, junto com os dois braços. Ela estava tão normal... Sem a aparência de modelo famosa que sempre tinha.

Já Helena... Ela fez meu sorriso desaparecer. Estava deitada de lado, o brilho de seus olhos inexistente. Havia uma gaze enorme na sua testa, presa com esparadrapo e manchada de sangue negro, escuro como seus olhos estavam. Seu pé se encontrava virado para um angulo estranho, enfaixado, as faixas também banhadas em sangue. Mas não era o estado do corpo dela que me importava, mas sim, aquele brilho que eu amava tanto, ter desaparecido do olhar dela, sem nem ter sobrado uma faísca sequer.

_ Onde..._ Comecei, minha garganta arranhando como fogo. Onde estamos?

A mulher tão incomum que arrumava as coisas ao meu lado, me olhou. Sua pele azulada, contrastou de uma forma linda com os olhos completamente negros que me encararam, assim que fiz a pergunta. Encarei ela de volta, me perguntando onde tinham encontrado uma mulher tão incomumente bonita.

Uma de suas quatro mãos, a mais próxima de mim, brilhou da cor de sua pele bem de leve. Ela passou a palma da mão por cima da minha cabeça, a alguns centímetros da pele, como se estivesse preocupada com a minha sanidade mental. Ela recolheu a mão, descendo o olhar de volta para o que estava fazendo.

_ Estão em casa. Respondeu, simplesmente. Quase ironizei para ela. Realmente, aquelas três palavras explicavam muito... A observei por quase um minuto inteiro, esperando para ver se era tudo o que tinha para dizer. Quando quase me convenci que a mulher não diria mais nada, ela continuou, a voz leve cortando o ambiente tumultuado. Estamos cuidando de vocês, chegaram muito machucados aqui, quase mortos. Tem sorte de estar em condições de falar agora...

Ametista e Hugo abriram a porta da sala correndo, dando um susto em mim e nos outros. Todos voltamos nosso olhar para lá, e os dois deuses, que antes pareciam estar completamente assustados, se apressaram para recompor a pose de pessoas equilibradas, antes de nos encarar com um sorriso educado. Que não lembrava absolutamente nada a Ametista que eu havia sentido me ajudar, me carregar no colo e entrar em um portal com os braços em volta de mim.

_ Vocês acordaram...!_ Ela disse, visivelmente segurando a emoção._ Finalmente!

A deusa enrolou a ponta do cabelo no dedo, nos observando com um sorriso enorme no rosto. Hugo parecia tão emocionado quanto ela, mas se permitia demonstrar e sorria como nunca o vi sorrir.

_ Vocês..._ Hugo começou, cuidadosamente. Se sentem bem? Sentem algo de diferente?

O silêncio nos envolveu. Achei que alguém responderia à pergunta, mas tudo o que ouvimos foi o vento batendo contra as cortinas, que esvoaçaram como se murmurassem para nós. Então fiz o trabalho de responde-lo, quando ninguém parecia querer fazer.

_ Parece tudo bem._ Murmurei, minha voz ecoando no silêncio._ Com a diferença de que agora, parece que tem um rio gorgolejando no meu ouvido...

Parei de falar quando todos os olhares dos Escolhidos e dos deuses se voltaram pra mim, arregalados. Me perguntava se aquilo seria alguma coisa muito estranha de se dizer...

_ Você também está ouvindo? Helena finalmente pareceu viva, levantando o olhar para mim, uma faísca de luz novamente nos olhos. Ela se sentou na maca, o rosto vidrado em mim. Você... Também está sentindo isso correndo nas veias? Esse rio que está correndo, que parece que vai engolir seu sangue junto com a luz?

Apenas concordei com a cabeça. Os outros Escolhidos revezavam o olhar entre mim e Helena, concordando silenciosamente com aquele sentimento. Quem parecia estar perplexo com aquilo, eram os dois deuses, que simplesmente olhavam para nós sete como se fossemos aberrações da natureza.

_ Parem de ficar tão perplexos, vocês nunca sentiram isso também?_ A outra mulher, de pele vermelha rubro colocou as duas mãos inferiores na cintura, e com as duas mãos superiores fez um gesto de incompreensão para o teto. Ela voltou os olhos completamente negros para nós, sorrindo largamente. Os dentes brancos brilharam de uma forma acolhedora, quando ela disse._ Meu nome é Felin, e o que vocês estão sentindo, é a magia correndo nas veias!



Heyyy, milhos pra pipoca!!! Como vão?!!!

Capítulo inicial, colocando novamente todo mundo a par do que está acontecendo!! Pra quem se perguntava se eu realmente assassinaria a Madi no primeiro livro, já deu pra perceber que não né!!!

O próximo capítulo é do Lucaaas!!! Como vocês acham que vai ser na visão dele?

Até a próxima!!

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