Quinze - Madison

     A sensação de ser girada no ar não me incomodou como das últimas vezes, parecia quase normal agora. Ou pode ter sido a raiva do mau humor de Ametista, e do fato de ter praticamente sido obrigada a usar aquele colar que se sobrepôs ao próprio portal.

Fomos literalmente cuspidos pelo portal. Acabei voando longe no processo, caindo com tudo de barriga para baixo em uma superfície que poderia ter sido uma calçada em outras vidas. Pedra de areia, dura igual concreto. Que ótimo, primeiros dez segundos e minhas costas já pediam socorro.

— Todo mundo bem?— Sentei no chão olhando em volta, procurando os rosto dos outros.

Genezis estava em uma situação parecida com a minha, de bruços no que deveria ter sido uma rua em tempos passados, o corpo deitado em um angulo estranho. Kille devia ter sido atirada contra alguma pedra no chão, já que massageava as costas, apoiada em uma rocha enorme. Rosh tinha sido jogado contra a parede de uma construção destruída, e escorregado até ficar no chão, parecia estar na pior situação. Jesse, Helena e Lucas pareciam não ter sido atirados longe, ou sobrevivido à queda, e estavam ajudando Rosh a ficar de pé.

— Anota ai, precisamos avisar a Anne que se ela abrir o portal com raiva, ele cospe a gente com a mesma raiva.— Lucas disse, escorando Rosh na parede, enquanto Jesse fazia alguma coisa para distender suas costas e melhorar a dor.

— Anotado.— Helena disse.

Me apoiei no chão, tentando levantar, as costas reclamaram, mas consegui me colocar de pé. O portal já tinha desaparecido, e aproveitei quando a poeira toda baixou para olhar onde estávamos. Com certeza era uma cidade destruída. Pedra de areia, que aparentemente era usada como concreto, sustentava as construções destruídas da rua principal da pequena vila. Não deviam ter vinte casas ali, todas pequenas, um poço e nenhum vestígio de pessoas além de nós até onde a visão alcançava. O que eu pensei ser a rua principal, era na verdade a única rua, destroços cobriam todo o chão, deixando difícil a passagem. Tudo isso, iluminado pela luz forte da estrela, a leve brisa muito quente.

— Está tudo aqui, ninguém se machucou?— Perguntei, nos reunindo perto de onde Rosh tinha caído. Checamos as armas e as mochilas, arrumando as roupas no lugar. Tudo parecia ok.

— Estou bem, apesar de um pouco dolorido.— Rosh suspirou fundo. Genezis e Kille concordaram com a cabeça.

— O que faremos agora?— Perguntei.— Algum plano?

— Acho que sim. Na verdade, vamos achar uma entrada para aquele labirinto que Hugo comentou, se o labirinto é no subsolo, é logico dizer que a entrada vai estar no chão.— Kille gesticulou, o olhar na areia e a voz como se estivesse maquinando. Quase conseguia ver as engrenagens na cabeça da nossa Estratégia funcionando.— Acho que em cima de uma arvore qualquer por ai não vai estar. Mas duvido que escondam essa entrada em cidades abandonadas, e se tiver mais de uma ainda, não duvido nada que tenham estruturas e pessoas protegendo.

— Vamos para o deserto, o planeta não é tão grande assim, em algum momento vamos achar outra vila.— Rosh anunciou.— Coloquem as mochilas por dentro da túnica, a luz vai fritar tudo o que tem dentro se ficarem expostas.

Fizemos isso, suspirando. Aproveitei para amarrar o cabelo, tirando os fios já suados da testa. No processo, senti o colar roçando contra a minha pele. Um lembrete. Mesmo com todo aquele calor, um arrepio subiu pela minha espinha.

Começamos a caminhar, o grupo lado a lado devagar.

Mas não tínhamos dado dez passos ainda, quando Jesse parou subitamente, ouvindo ao redor. Jesse olhou para os lados, procurando alguma coisa, e nós percebemos que alguma coisa estava errada.

— Tem som de motos vindo pelas dunas... Quatro motores. Parecem um pouco primitivas... Mas estão se aproximando rápido demais!— Jesse arregalou os olhos. O barulho de motores explodiu estupidamente alto nos nossos ouvidos, parecendo simplesmente ter surgido perto da vila.

Não deu nem tempo de nos escondermos. Quatro triciclos feitos pra andar nas dunas derraparam pela calçada de pedra de areia, espalhando uma nuvem de areia ao nosso redor. O uniforme completamente preto se destacava na visão amarela do horizonte. As quatro pessoas montadas nos triciclos saltaram para longe, tirando os capacetes. Quatro homens. O brasão estampado no peito denunciava que eram patrulheiros de Wonderfull. Eles sacaram cada um armas diferentes, uma espada, um machado, uma lança e punhais. Estávamos em vantagem. O sorriso foi inevitável ao constatar isso, sacando Incandescente.

— Quem são vocês? O que estão fazendo longe da sua vila?— O homem que portava o machado ameaçadoramente perguntou, encarando um a um com a expressão irritada.

— Somos viajantes.— Genezis deu dois passos a frente, a expressão diplomática. Ela tirou a espécie de capuz do macacão que usávamos, encarando os homens com os olhos azul elétrico.— Não temos uma vila.

Foi uma jogada difícil. Os quatro homens semicerraram os olhos.

— A quantidade de armas que carregam é desproporcional à viagens pelo deserto...— O homem que segurava a espada murmurou baixinho, encarando de cima a baixo Incandescente. Ele passou os dedos cumpridos pela guarda dourada da própria espada, desafios e promessas veladas naquele gesto.

— Este canto do deserto tem a fama de ser rondado por uma criatura perigosa.— A loira continuou. A calma na voz de Genezis era incrivelmente sensata.— As armas são para proteção.

Os quatro homens riram, como se Genezis tivesse acabado de contar uma piada muito boa. Limpando uma lagrima risonha do canto do olho, o homem que portava a espada disse, dessa vez em alto e bom som, sua voz grave ecoando entre os escombros da vila destruída.

— O que foi princesinha? Os homens desse grupo são tão incapazes de proteger as moças indefesas sozinhos?

Foi a nossa vez de rir, por que dessa vez, era realmente uma piada muito boa mesmo. Empunhei Incandescente com prepotência, dando um sorriso apenas para expor os dentes lascivamente.

— Indefesas...— Sorri, balançando a cabeça devagar.— Indefesas, é exatamente a última coisa que nós somos...— Disse, encarando os quatro homens por baixo do capuz da roupa. Cortei o ar com Incandescente, um aviso.

Mas o que realmente pareceu um aviso, foi o rugido que ecoou por todas as paredes de pedra de areia, tremendo o chão como um terremoto. Os quatro homens deram alguns passos para trás, os olhos denunciando por um momento o medo. Então, um deles sorriu sarcasticamente, levantando a cabeça com superioridade.

— Ai está o momento de vocês provarem isso, princesas.— Se virou, fazendo um gesto indiferente com a mão.

Genezis trincou os dentes brancos, os olhos azuis faiscando como fogo. A loira levantou uma das mãos, suspirando para manter a calma. As fivelas de metal e as armas dos homens derreteram bem na frente dos nossos olhos, escorrendo pelo uniforme e formando pesadas botas de metal fincadas no chão por ganchos.

— Porque não ficam e apreciam o show então?— Ela sorriu, o queixo levantado.

Outro rugido ecoou, esse parecendo estar mais próximo. O chão tremeu, dessa vez de verdade, desequilibrando um pouco nós sete. Apurei os ouvidos, apertando mais a guarda de Incandescente. Mais um rugido fez com que algumas paredes sobreviventes despencassem, e uma nuvem de areia e poeira nos contornou, tudo parecendo uma névoa dourada quando a luz da estrela entrava entre as partículas. A formação em círculo foi inevitável, todos nós olhando ao redor. O chão começou a tremer novamente, ritmadamente. Alguma coisa estava se aproximando, e bem rápido... Um ultimo rugido fez com que tivéssemos certeza que o que quer que estivesse ali, estava muito perto, o chiado de patas andando rápido confirmando.

Uma pequena explosão fez outro terremoto nos desequilibrar, e mais uma vez a poeira subir.

Mas dessa vez, não estávamos mais sozinhos na vila destruída. O chiado de patas subiu em uma das últimas casas um pouco menos destruídas, e os sete pares de olhos encararam a criatura enorme.

Um escorpião de mais de três metros de altura nos encarava de volta com os olhos negros. O corpo era de um amarelo queimado e doentio, e as extremidades do bicho tinham uma cor caramelo. As oito patas poderosas se locomoveram devagar por cima da casa, como se estivesse nos estudando, cada uma delas mais alta que nós. A pinça que contornava a boca cheia de dentes afiados bateu, fazendo um "click" que me pareceu esfomeado. O escorpião envergou o corpo feito de anéis, fazendo com que a calda formada por cinco bolsas de veneno levantasse por cima do corpo, o anzol que praticamente pingava veneno voltado pra nós.

O escorpião rugiu, fazendo com que minhas pernas perdessem um pouco da força. Então a besta começou a andar na nossa direção, a boca, e o anzol cheio de veneno prontos para atacar.


Nossa, eu acho que é a primeira vez que um capítulo da  Madi fica bem menos do que um do Lucas, kkkkk. Eu costumo falar muito com a Madi, por que tecnicamente é pra ele ser mais direto do que ela. Outra observação é que eu adoro esse escorpião, imaginei ele muito maravilhoso e destruidor da poha toda, kkkkk Coloquem suas opiniões e teorias nos comentários, por que vai ter muita treta nos próximos capítulos!! E não se esqueçam da estrelinha linda que me ajuda demais!!

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