Dezesseis - Lucas
— Porque demônios, um escorpião tá rugindo?— Resmunguei com os dentes trincados quando o ele desceu rápido pela casa, vindo com raiva nos olhos.— É crise de identidade isso, ele queria ter nascido um leão?
— Isso é hora de fazer piadinhas? Corram!!!— Madison gritou, quase que ordenando.
Fomos cada um pra um lado, deixando o animal confuso em quem perseguir primeiro. Pra infelicidade dele, Helena foi a escolhida. Ela sacou os dois chicotes com espinhos, fazendo um movimento rápido. Um chicote atingiu o lado direito do escorpião, fazendo um ferimento de onde sangue amarelo doentio esguichou, e Helena aproveitou para dar outro golpe, tirando mais sangue. Mas isso só fez ele ficar mais irritado. Com um movimento rápido de cabeça, as pinças na frente do corpo jogaram Helena quase dez metros nos escombros. Ela gritou, e não conseguiu se levantar dali. Merda.
Deixei a magia fluir pelo meu corpo, tentando usar a pouca umidade no ar pra formar uma bolha grande o suficiente pra afogar o escorpião, mas isso ia demorar um pouco. Me escondi atrás de uma mureta baixa, olhando onde estava o escorpião. Ele decidiu atacar Rosh agora, que usava a força bruta da clava pra atingir de frente o animal.
— VAMOS MORRER, VAMOS MORRER! POR TODOS OS DEUSES, VAMOS MORRER!!!— Os homens que Genezis tinha prendido no chão choravam, gritando desesperados.
— Calem a boca! Vão chamar a atenção dele seus burros!— Gritei, mais avisando do que qualquer coisa. Os homens começaram a soluçar, mas seguiram meu conselho, abraçando as próprias pernas e chorando com a cabeça nos joelhos.
Olhei de novo para o escorpião enorme. Ele tinha desistido de Rosh, depois dele ter arrancado um dos olhos do escorpião, e o animal pisar em Rosh, deixando o garoto meio destruído nos escombros. O olho negro do escorpião pulsava perto de mim, parecendo ter vida mesmo fora do corpo. O animal era bombardeado por flechas de Kille, e tiros de Genezis, que o atingiam de cima de uma parede, depois de escalar a casa destruída. As costas do escorpião tinham flechas fincadas até as penas, mas ele nem parecia estar sentindo, muito menos os tiros.
Madison deu um salto, escalando o animal. Ela fincou Incandescente do lado dele, cortando um dos anéis. Sangue amarelo escorreu, e o Escorpião empinou de dor, fazendo Madi se desequilibrar e cair no chão, a espada ainda fincada do lado dele.
Me esgueirei entre as casas destruídas, uma bolha pequena de água na mão, procurando um angulo melhor. Rosh tava deitado semi-inconsciente no chão, a cabeça sangrando um pouco, quando me aproximei, torcendo pra que o animal não me visse.
— Rosh... Acorda, Rosh...— Ele abriu uma frestinha nos olhos.
— Já vencemos?
— Não, estão tentando controlar ele. Aqui, toma um pouco.— Levantei a cabeça de Rosh, deixando ele tomar a água que absorvi do ambiente.
— Helena, ela está nos escombros, está bem pior que eu...
Apoiei ele na parede, do jeito que parecia doer menos. Então olhei em volta, procurando um caminho pra passar e encontrar Helena. Madi parecia muito preocupada em recuperar a própria espada, e aproveitei pra passar correndo atrás do animal, escalando alguns escombros. Mais nuvens de poeira subiram quando o escorpião empinou de novo, rugindo e tremendo as paredes. O rugido derrubou uma parede, muito perto de Madi, que mesmo conseguindo recuperar a espada quase foi atingida pelas pedras de areia caindo. O escorpião tentou atacar com o anzol de veneno, e Madi conseguiu escapar dele, saltando pro lado por muito pouco.
Helena estava desmaiada, o corpo jogado em um ângulo estranho. Peguei ela nos braços, sentindo o sangue dos ferimentos escorrer pela minha roupa. Desisti de absorver água no deserto, aquilo só estava atrasando tudo. Caminhei entre os escombros, procurando onde Genezis e Kille atiravam de cima. Subindo pelas pedras soltas o melhor que consegui, deixei Helena no pedaço de teto que Kille e Genezis se apoiavam.
— Não estamos conseguindo fazer nada, ele sangra, mas parece indestrutível!
— Chama a atenção dele, vou tentar fazer uma coisa.— Pedi.
Genezis concordou, mudando a direção da arma e atirando nas bolsas de veneno da calda do Escorpião. Quando três tiros atingiram três bolsas diferentes, o veneno esguichou nos escombros, chiando como ácido e derretendo as pedras. O animal rugiu e procurou de onde tinha vindo aquilo, encontrando eu, empunhando Anêmona no topo da parede. As patas chiaram, e assim que o escorpião abriu as pinças enormes, pronto pra atacar, eu pulei, a espada preparada pra ser fincada.
Mas o escorpião só precisou dar dois passos pra trás, deixando as pinças bem onde eu cairia. Com um movimento forte, ele me atirou com as pinças perto de onde os homens e as motos estavam. Meu corpo voou, batendo contra a pedra com uma força que jurei ter quebrado ossos. O gosto de sangue na boca me deixou enjoado. Como se estivesse brincando com a comida, o escorpião caminhou devagar até mim, Madi gritando, vários tiros e flechas cortando o ar com desespero. Mas nada o fez parar.
Eu tinha desafiado aquele animal.
Tentei me levantar, sem força nenhuma nos braços ou pernas. A dor irradiou tão forte que tudo o que consegui foi cair de novo, vendo estrelas. Minha visão começava a embaçar...
Tudo parou quando a terra tremeu. Não por causa de mais um rugido, apesar do animal ter gritado alguma coisa parecida. Um grito de dor. Minha visão focou o suficiente para ver o escorpião, menos de um metro e meio na minha frente, com dez estacas de areia e pedra fincadas no corpo, tentando se soltar. Mais estacas foram fincadas, e mais e mais, até que o animal parasse de se mexer. O escorpião deu um último grito de agonia, um rugido fraco, e deixou o corpo inerte, morto.
Minha visão embaçou, a dor me socando, e antes de ficar inconsciente, consegui ver Jesse caminhar devagar, tremendo e suado, a mão levantada e os olhos arregalados. Ele tinha feito aquilo... Jesse...
Minha consciência ia e voltava. Dava pra ouvir o vento batendo, dava pra sentir a areia colando na pele suada. No sangue. A luz era quente, era um pouco difícil respirar, mas onde estava encostado era macio...
Um puxão forte me trouxe de volta pra realidade.
Minha mente girou, parecia que eu tinha levado um soco. Dois talvez. Abri um pouco os olhos, minha visão incrivelmente nítida, encontrando um céu estrelado... Estava de noite... Quanto tempo passou? Estava ventando um pouco, fazendo a areia voar em volta.
— Acordou, finalmente.— Madi sorriu, me puxando o suficiente para ficar sentado.— Você bateu a cabeça muito forte, vou pedir para Felin olhar isso assim que voltarmos... Tenho medo de ter sido pior do que parece.
— Onde estamos?— Perguntei. Helena e Rosh estavam dormindo em sacos na areia, e dava pra ver a gase que cobria a cabeça da Helena por baixo do cabelo. Tinham feito uma fogueira, que estava queimando bem e cortando o frio da noite do deserto. Kille sorriu pra mim, vendo que estava acordado, mas voltou a olhar pra comida que tentava cozinhar na fogueira, mexendo na mochila. Os outros, incluindo Jesse estavam dormindo.
— Não faço ideia... Nós fugimos da vila com os triciclos, mas anoiteceu rápido e acabamos parando. Helena estava sangrando, Rosh mal conseguiu se segurar na moto, precisávamos de uma pausa.— Madi respondeu.— E você estava completamente desmaiado...
— Jesse, ele...
— Desbloqueou a magia.— Me cortou, e eu podia jurar que o sorriso era triste.— Ele precisou fazer isso pra salvar você... Jesse controla terra, pelo que a gente entendeu... Você água, Helena gelo, Jesse terra, Genezis metal.
— Hugo disse que é magnetização... Genezis consegue colar metal como imã também...— Disse.— Falta ar, eletricidade e...
— Fogo.
Fiquei em silêncio. Sim, aquele sorriso era triste. Kille entregou o que parecia uma sopa com carne e pão pra nós, quente, e agradeci a isso por que os ventos eram frios, e estava começando a tremer.
— Essa cara é por causa da trava de magia?— Perguntei, vendo que Madi parecia pensativa, encarando a fogueira.
— Em partes... Enfrentamos uma besta, um animal irracional... E não é o suficiente.— A voz dela estava tão baixa que me inclinei um pouco pra ouvir.— Parada agora, fico pensando se não podíamos usar magia, usar alguma formação para o grupo. Estávamos batalhando muito a esmo... Cada um atacava como animais, cada um por si. Somos um time... E acho que isso da magia não está sendo usado direito, podemos fazer muito mais. Me incomoda que não conseguimos fazer mais. Claro, eu não conseguir usar a magia me incomoda também, queria ajudar mais. Estamos perdidos, e eu tenho medo de que isso custe a nossa vida.
Eu não sabia muito bem o que dizer, então apenas encarei a comida. Quando finalmente arrumei um pouco da coragem que diziam ser minha qualidade, disse:
— Por isso você disse aquilo pra Anne?
O olhar de tristeza no rosto da Madi partiu meu coração tão fundo que desejei nunca ter tocado nesse assunto.
— A Anne... O que eu fiz foi horrível. Ela mexeu com um ponto fraco meu... E eu quis mexer com um dela.
O silêncio era pesado, muito pesado. Minha mente maquinava pra entender o que Madi queria dizer, e o coração estava apertado por ter de alguma forma magoado ela. Por algum motivo, o único assunto que pensei pra mudar o clima pareceu mais uma afronta.
— Você ainda ouve a magia?
— Acho que aprendi a ignorar. Mas é sempre um zumbido, ainda parece um córrego no sangue. Se eu prestar atenção, ele vira uma cachoeira...— Respondeu. Suspirei, percebendo que de alguma forma tinha funcionado. O clima se acalmou.
Eu não estava exatamente preparado quando Madi apoiou o corpo no meu ombro, não pela dor, o que realmente doía agora era minha cabeça. Mas por que, quando ela encostou, consegui sentir que o corpo da Madi estava bem mais quente do que o normal.
Vocês estão shipando? Por que EU estou, kkkkk Gente, eu amo muito a Madi e o Lucas como um casal (coraçãozinho de autora agora), mas olha como a nossa Madi, fada sem poderes esta tristinha. Dói no meu heart escrever ela assim, queria dar um abraço nela toda vez que a Madi começa a quase chorar. AMOOO!!! Spoilerzinhos... Vocês vão conhecer bem mais do passado deles, e de algumas feridas que tanto a Madi, quanto o Lucas, ainda tem abertas dentro do coração. Ah, e da Keline também, kkkkk Acham que a bruxa mais amada desta parte do universo vai ficar de fora? Apenas não. Não se esqueçam de colocar as opiniões e comentários (e surtos também), pra que eu veja! E não se esqueçam da estrelinha linda que me da gás pra escrever!!
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