UMA NOVA PRIMAVERA
Eram meados de Julho quando Daniel e Tainara apertavam a mão do seu advogado na frente do conservatório civil no centro da cidade. Tinham tomado a decisão de se divorciar algum tempo atrás pelo bem de Emanuelle assim que a situação do trabalho de Daniel fora resolvido e ele por fim retomou a sua vaga. Portanto, por ser consensual, o processo durou cerca de três meses para que a papelada toda estivesse pronta e naquele dia acabavam de oficializar a sua separação.
A divisão de bens foi parcial, e a guarda da sua filha, compartilhada. Manu moraria com a sua mãe na casa que antes pertencia ao casal, porém passaria os finais de semana ou mais dias com o pai se assim desejasse, o qual passaria a pagar pensão alimentícia da garotinha todos os meses.
Não era o mesmo que viver com ela e com a ex-esposa, mas era tudo que se poderia fazer naquele momento. Era o melhor para todos eles embora estivesse a doer demais a situação.
Tainara acabava de falar com os seus pais e informava que tudo correra bem, em contrapartida, Daniel se despedia do advogado antes de se voltar para a mulher com quem compartilhou os últimos dez anos da sua vida.
Eles sorriram timidamente um para o outro, pareciam dois desconhecidos que acabavam de se conhecer. Estavam hesitantes sobre qual próximo passo dar até ambos eliminarem a distância que os separava e se abraçarem forte no meio da calçada, ansiosos.
Não havia arrependimento ali. Eles se amavam e amavam Emanuelle, e aquele momento era a prova disso. Nem sempre o amor é suficiente para alimentar uma relação inteira embora permita ultrapassar as quatro estações que o envolvem, outros fatores também importam, como a confiança e a sinceridade para com o parceiro.
Mas o amor é com certeza suficiente para que duas pessoas se afastem a fim de um bem maior, do bem do casal e dos seus filhos.
E ali estavam eles, dispostos a ficar bem após aquela decisão.
— Obrigada por tudo, Dani — Tainara murmurou entre lágrimas que não pôde mais conter. O aperto em torno da sua cintura se intensificou tanto que ela arfou.
— Meu Deus… — Daniel suspirou, sem conter mais as suas lágrimas também. Ele inalava o aroma doce do perfume daquela mulher e lembrava que era tudo por eles — obrigado por tudo, Tai. E me desculpa por tudo.
Eles se separaram, limparam suas lágrimas e sorriram um para o outro, emocionados.
— Vamos lembrar o que de bom nós vivemos. Ao menos isso merecemos. E a Manu, ela vai gostar muito de te ver lá em casa hoje a noite. Você será sempre bem-vindo.
Daniel agradeceu e assentiu. Apertaram a mão um do outro e ele se despediu. Era doloroso saber que agora entrava no seu carro enquanto Tainara entrava no outro, mais ainda que seguiam caminhos opostos e ali separavam-se seus sonhos mais antigos e guardavam na memória todos aqueles que já viveram.
Aquela foi de fato uma das Primaveras mais intensas que eles já viveram juntos. A decisão do divórcio não era a mais fácil, mas sim a mais sábia na situação deles. Às vezes alguns defeitos acabam por ser mais fortes que a capacidade de superar as quatro estações do amor, e o modo mais sadio de cuidar de quem se ama pode levar à conclusão de que a separação é a melhor opção.
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