Lua e suas fases

Quando sentimentos afloram e transbordam pelo olhos, eles deixam um rastro molhado de pura intensidade
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Se existia alguém intenso no mundo com certeza essa pessoas era Lua, uma garota que aprendeu desde pequena que expressar sentimentos era nescessário e que isso não a fazia fraca, mas isso não queria dizer que as coisas que aconteciam doesse menos, por que sempre doía e ela aprendeu isso da pior forma.


13 de Janeiro de 2002 - Lua Nova

Assim que o relógio bateu meia noite e um, o choro de um bebê foi ouvido na casa dos Silvas, Lua acabara de nascer, a mãe de Lua que se chamava Vênus olhou para a filha que nascera em uma piscina pequena no meio da sala de estar por meio de uma doula, o pequeno bebê tentava abrir os olhos como se quisesse expiar curiosamente tudo ao seu redor, Vênus olhou para a pequena criatura extremamente branca em seus braços e sorriu, sorriu por ter dado a luz a uma vida.

— Te chamarei de Lua, por que você reflete toda a luz que é irradiada e sente cada segundo da existência.

Se Vênus pudesse prever o futuro, (se é que não previu) ela saberia que não existiria em nenhum lugar no mundo nome mais perfeito e adequado para a sua filha.

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21 de fevereiro de 2010 - Lua Quarto Crescente

Oito anos haviam se passado, a pequena Lua se tornou uma criança ativa, curiosa e muito carinhosa com todos que a cercavam, o pequeno nicho social girava em torno de sua família, (sua mãe Vênus, sua avó Sírio e seu avô Joel) suas amigas da escola (Alanna e Brenda) e seu cachorrinho (pudim).

Ela gastava seus lindos olhinhos dourados todos os dias olhando para o céu e imaginando onde estaria se não estivesse ali, a pequena sempre se perguntava o que deveria estar fazendo ou aprendendo, acreditava que cada segundo era importante e que passar um dia sem aprender uma coisa nova era um desperdício, sua personalidade fazia com que ela fosse esperta e perspicaz e isso assustava até mesmo sua mãe, nunca pensara em colocar no mundo uma criatura tão formidável, tinha orgulho de tê-la como filha.

Um grito soou da cozinha, logo depois se ouviu o som de pratos quebrando e de Vênus descendo com pressa as escadas, fazendo Lua sair correndo da pequena varanda e ir em direção ao som, ao chegar viu sua avó caída no chão, a mão no coração enquanto parecia tentar respirar, o corpo da menina gelou, sentiu cada célula circulando em suas veias, cada respiração do seu pulmão enquanto Vênus e Joel ligavam para emergência.

Lua poderia jurar que viu a sua avó sorrir no último instante de sua vida tranquila, ou pode ter sido apenas o seu cérebro tentando amortecer o baque que a pequena garota sofrera, afinal, ninguém que tenha um ataque cardíaco poderia simplesmente sorrir, mas mesmo assim, ela não conseguia tirar da cabeça a imagem de sua avó deitada nos braços do seu avô, ela poderia descrever cada detalhe, as lágrimas grossas de sua mãe, a mão do seu avô segurando a mão de Sírio, como se tentasse agarrar o último fio de vida que restara em seu corpo, e sua avó, a pessoa que ela mais amava nesse mundo, deitada tentando abrir os olhos para ver sua amada família enquanto seu lábio se curvava levemente pra cima.

Lua não quis ver o caixão descendo, por que ela sabia que não queria guardar na sua memória o fato de sua avó ter sido enterrada no meio de tantos outros corpos, pessoas que viveram vidas diferentes, pessoas que nem se quer conheciam a pessoa espetacular que sua avó era, pessoas que nunca sentiriam o doce gosto do pão de mel que Sírio preparava todos os sábados, ou o cantarolar pelas manhãs, ou os pijamas de natal, ninguém nunca ia sentir como ela e isso a deixou com raiva e triste, e ela quis gritar, ela quis sair correndo e se esconder em um lugar onde ninguém a acharia, ela queria se esconder de tudo até de si mesma, ela só queria não sentir o que estava sentindo.

Por que isso tinha que acontecer?

Por que coisas ruins acontecem com pessoas boas?

Porque eu simplesmente não posso deixar de sentir?

Lua buscou essas respostas por semanas, talvez meses, ela lembra de ter lido livros como a Bíblia dos cristãos e tantos outros que falavam sobre espiritualidade, ela entendeu que existiam várias formas de vida pós morte e isso a fez ficar confusa e se questionar ainda mais sobre o que vem.

Qual o próximo passo?

Qual dessas religiões e crenças estão certas?

Então ela encontrou um livro, sobre algo que a fez se sentir mais tranquila, mais aceita e talvez a fez ficar um pouco confortável sobre as diferentes formas de vida e de pós morte de todos os livros que ela lera, era um livro de antropologia, nele ela entendeu que os pensamentos, gestos e crenças humanas não poderiam ser encaixados em uma caixa, ninguém poderia ser detentor exclusivo da verdade. O que a fez questionar:

Se a religião é algo criado pelos homens o que a impede de estar errada? O que a impede de ser questionada?

Então Lua fechou um parêntese abrindo milhões, e todas as vezes que ela lia ela descobria algo novo, e com isso vinham novos questionamentos e assim ela foi entendo que a morte é um processo natural da vida, tudo que é vivo um dia morre e essa é uma passagem e talvez nós só saberemos as respostas para o que vem depois quando chegar a nossa vez, ela achou isso lindo e místico mas também sentiu medo pelo que vinha, medo das coisas que algumas doutrina pregavam.

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2- 16 de Março de 2014 - Lua Cheia

No auge dos seus doze anos de idade Lua sentia seu lado mais infantil indo embora, ela não tinha mais vontade de brincar de boneca, já não saía correndo para abraçar sua mãe quando ela chegava do trabalho, nem era comprada facilmente por pirulitos e balas embaladas em papel colorido que o seu avô passava escondido por baixo da mesa.

Naquela manhã ao acordar Lua sentiu uma sensação estranha, correu para ao banheiro e ao abaixar sua calcinha pode ver que tinha acontecido aquilo que sua mãe falara uma vez.

Como era mesmo? , menstruação.

Isso que dizer que agora eu virei mocinha?

Lua não sabia o que isso significava, apesar das bonecas e dos doces, ela não se sentia diferente, ela gritou a mãe que apareceu minutos depois para ensinar tudo o que ela teria que fazer agora e para o completo desespero da garota ela teria aquilo todo mês, durante toda a sua vida jovem e adulta.

Lua desceu as escadas, pegou um pão quentinho da cesta e sentou na frente do seu computador, ela digitou a palavra "menstruação" no Google e o que apareceu foi que a menstruação era a descamação do útero e que isso era por que o seu corpo estava se preparando para uma gravidez.

— Gravidez!!! Mas eu só tenho doze anos!

A garota digitou rápido "como faço pra não ficar grávida" a página demorou alguns segundos para carregar e Lua sentiu como se cada segundo esperando fosse uma facada no seu ego que verdadeiramente não queria uma criança, por que ela ainda era uma criança, a somatória parecia simples.
A página finalmente carregou e Lua foi inserida em um mundo que ela desconhecia até então.

— Pílulas? Abstinência? Mas eu vou me abster do que?

Lua digitou novamente "do que eu preciso me abster para não ficar grávida?"

Várias páginas e links apareceram na sua tela e a garota clicou no segundo.

— Relação Sexual?

Digitou novamente "o que relação sexual?"

— Conjunto de relações entre seres humanos com um fim sexual? Isso não responde minha pergunta.

Lua sentiu que estava andando em círculos, havia estudado biologia na escola, sabia o básico, mas como isso acontecia? Como o corpo de uma mulher e de um homem tinha essa tal de "relação sexual?" Lua se levantou rápido da cadeira e subiu pro seu quarto, lá ela pegou seu pequeno caderno de questionamentos, a maioria deles que nunca foram respondidos e escreveu "como acontece uma relação sexual?".

Durante o resto do dia Lua se perguntou sobre o questionamento, ela se sentiu confusa, com raiva, enganada, como se o mundo estivesse tentando esconder algo dela.

Será se dar pra engravidar pelo beijo?

Lua sabia que algumas de suas amigas já tinham beijado, mas a garota nunca sentira vontade, nem mesmo curiosidade, ela estava vivendo muito feliz em sua vida de desenhos animados e bolo com sorvete, não queria pensar nessas coisas.

Sentiu os olhos enchendo de água, sentiu vontade de socar algo, não queria crescer, ela não queria ter que beijar garotos ou ter bebês, ela só queria continuar com a sua rotina, acordar pela manhã, tomar café, ir pra escola e depois brincar. Parecia que alguém estava forçando ela a ir em frente a ficar mais velha, quando na verdade ela só queria continuar ali, segura, sem confusão.

Mais tarde assim que sua mãe chegou do trabalho Lua desceu correndo as escadas e pulou nós braços da mulher que a colocou no mundo, Vênus ficou surpresa pois a filha já não fazia isso há anos.

— O que aconteceu?— Vênus perguntou a garota que estava vestida como se vestia quando menor.

— O que uma relação sexual?

Se alguém falasse para Vênus que quando ela colocasse os pés em casa a sua filha viria com aquela conversa, Vênus teria ficado no trabalho, por que isso significava que Lua estava crescendo e que mais cedo ou mais tarde ela não seria mais a sua menininha.

Vênus olhou os olhos dourados que a filha havia herdado do pai e sorriu, ela era curiosa como ele, respirou fundo, pegou a menina pela mão e subiu, ela e Lua conversaram durante horas e enfim a filha entendeu que estava crescendo mas que isso não significava que ela tinha que apressar as coisas, ela ainda tinha muito tempo para ser criança.

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