XVI - Convites
Jason Yoshida, naquele momento, já chorava de raiva. Tirou, então, a mochila das costas e jogou-a no chão daquela sala, subindo as escadas correndo para seu quarto.
Ao entrar no cômodo, trancou a porta e lançou-se na cama. Era certo de que não conseguiria dormir por si próprio. Os remédios que sua mãe comprara estavam ali a seu lado, mas ele não queria tomar. Temia dormir por muito tempo. Precisava encontrar ele. Naquele dia, mais do que nunca.
Um dia antes do início do recomeço...
Yago adentrou o quarto do filho. Havia se estressado com ele mais cedo. Não era sua culpa que as questões do divórcio estavam lhe fazendo a cabeça. Jason estava num momento ruim e no fundo, bem lá no fundo...sabia que não era apenas por conta do estresse do Ensino Médio, mas não o forçaria a dizer nada. Havia conversado com o Dr. Jefferson Laine, após ter ajudado James com a papelada necessária para tudo na reabilitação.
Jason iria para casa de praia naquela tarde, já que seu aniversário seria naquele fim de semana. Yago se sentia mal por ter que deixá-lo nos últimos dois dias, mas ele não havia reagido mal a isso, vendo que era necessário para restabelecer uma boa relação entre o pai e o irmão mais velho. Porém, o mais velho não sabia o motivo pela qual ele havia desprezado tanto a ideia de passar um tempo no Japão.
— Vai embora! - Pediu Jason, com a voz chorosa.
Yago suspirou, sentando-se ao lado do garoto que se mantinha deitado.
— Não deveria estar dormindo? - Perguntou calmo, afagando os cabelos negros e macios.
— Eu não consigo. - Falou, fazendo bico.
— Isso é bom. Significa que se você não aguentar e dormir à noite seu sono vai se regular. - Brincou ele.
— Paaaai! Você sabe que não é assim. - Resmungou o menino, fazendo um bico infantil.
Yago riu e trouxe o corpo magro do filho para perto do seu, apoiando o rostinho no seu peito.
— Me desculpa por ter gritado contigo. - Pediu, apertando o outro. - Mas por que você não quer ir para Nagoya? Digo, você vai voltar em breve e ainda vai visitar a sua avó e seus amigos antigos, Hachiro, Kamura...
Jason suspirou fundo, se agarrando ao mais velho. No fundo, não sabia bem o motivo. Sua vida estava nos Estados Unidos, mas uma parte de si também se encontrava no Japão.
— Acho que eu vou precisar conversar mesmo com o Medicine Boy. - Pensou alto.
— O Medicine Boy? Ele voltou? - Yago indagou, lembrando do "personagem".
— Como assim, ele voltou? - Jason respondeu, estranhando a fala.
— Você tinha começado a falar dele há alguns anos. Gostava de brincar que era ele. Costumava dizer que ele tinha os seus olhos, sua boca, seu nariz... - Apertou o nariz pequeno do adolescente. - mas no fim você costumava dizer que ele não era você.
O coração de Jason batia acelerado contra as costelas.
— Você poderia falar com ele depois? Por favor. - Seu pai pediu. - Eu queria falar sobre seu aniversário agora.
Jason anuiu, olhando para o pai, prestando atenção no que o mais velho tinha dizer.
O homem se remexeu, enfiando as mãos nos bolsos retirou dali cinco cartões amarelos e detalhes em azul, ambas as cores em tom pastel.
— Você nunca gostou de festas muito grandes, então achei que não precisava de muitos.
Jason observou as letras douradas do convite. Sinceramente, não se sentia animado. Sabia também que garotos normais não tinham aquele tipo de festa.
— Sinceramente, eu acho que são muitos. - Fez uma careta.
— Bom, se sobrar nós jogamos fora. - Disse Yago. - Você tem a mim e ao James, somos a sua família, é isso que importa.
Jason murmurou um "eu sei" e se aconchegou, agarrado ao homem e apertando com força o ursinho Yoey, chegando até a ser agressivo. Havia uma estranha tensão que revirava seu estômago e lhe fazia se sentir frio, gelado por dentro. Talvez fosse apenas o aniversário chegando. Existia apenas dois tipos de humor para o Jason Yoshida aniversariante: muito feliz ou psicologicamente doente. Acreditava seriamente que dessa vez seria a segunda opção. Mesmo assim, tentaria, pois tanto James quanto Yago estavam se esforçando, então ele deveria se esforçar também.
Aniversário de 17 anos — Início do Recomeço
Se sentia vazio quando entrou na escola. Mesmo seus colegas tendo aceitado parte do que ele era, não gostava mais do lugar. Se sentia sozinho, como jamais se sentira antes. Havia ído ao parque para conversar com o Medicine Boy, mas não o encontrou. Entendeu o recado, teria que se resolver sozinho. Era chegada a hora de conhecer Saturno. Bastava descobrir como fazer isso.
Segurava os quatro dos convites que havia ganhado. Havia separado o primeiro para sua família materna. Não sabia quem mais convidar. Decidiu dar o segundo para Eliete, a tal intercambista francesa que gostava de acariciar sua cabeça sempre que sentava com o pessoal da banda. Ela era legal, uma das poucas pessoas que não lhe desprezara quando havia, sem querer, saído do armário. Faltavam três convites para serem entregues.
Tinha chamado ela pra almoçar consigo, para que pudesse lhe dar longe de olhares e não demonstrasse preferência perante os outros membros da banda.
— Obrigada pelo convite. - A menina dizia, com seu sotaque. — Você entregou bem em cima da hora, não sei o que te dar de presente. Feliz aniversário.
Jason recebeu bem o abraço.
— Não se preocupe com isso. - Sorriu, levando o muffim a boca.
— É difícil pensar em algo para um cara que já tem tudo. - Murmurou, enchendo a salsicha do cachorro-quente de ketchup.
— Solte sua criatividade. - Brincou. - Ou não me dê nada, eu só gostaria que fosse.
O clima alegre e calmo foi cortado por uma Lucy Andrews irritadiça, que adentrou, chamando a atenção de todo o refeitório.
— Atenção! Atenção! - A garota gritava, enquanto subia numa mesa vaga. - Eu gostaria de anunciar que Joey Whaters é um viadinho ridículo e nojento! Isso mesmo! Ele é um belo de um pau no cu, arrombado do caralho! Ele provavelmente já deve ter aberto o rabo para esse...esse... - Os olhos dela se voltaram acusadores para o mestiço aniversariante, que ouvia chocado suas ofensas. - Esse ridículo de raça incerta! Você estragou tudo!
Jason permanecia em inércia, enquanto Eliete parecia se avermelhar.
— Vagabun... - Tentou atacá-la, mas Ben Hurtar, um de seus amigos da banda, foi rápido em segurá-la.
O diretor Joshua Scrëupier adentrou, junto ao zelador, o local.
— Senhorita Andrews, por favor, desça da mesa agora! Já pra minha sala! - Exigiu, bravo.
O zelador ajudou a segurá-la, a tirando dali rapidamente.
Jason permanecia chocado, apenas tentando assimilar os acontecimentos.
— Jay, você está bem? - Eliete indagou, voltando a sentar, sendo acompanhada por Ben.
Jason Backlin, o atleta, se aproximou da mesa.
— Jason Yoshida, quer que nós o ajudemos a far com o Scrëupier? - Ofereceu.
Backlin havia sido um dos que grudaram em si após a ameaça de seu pai, para lhe proteger de agressões. Incrivelmente, o jogador de basquete havia começado a gostar verdadeiramente do japonês após o mesmo ter lhe ajudado com matemática, uma das poucas matérias que o Yoshida amava de paixão. Sempre pedia ajuda a ele por email.
— Está tudo bem. - Acalmou Jason. - Eu só não entendendo o que aconteceu.
— Não soube? Joey terminou com ela há um tempo. Alguém vazou fotos do celular dela e descobrimos que foi ele que terminou com ela e não o contrário. Acredito que ela não reagiu bem. - Backlin contou.
Jason mordeu o lábio, refletindo. Era isso que ele queria lhe contar? Quando parou de pensar, se viu sendo observado por três pares de olhos curiosos.
— O que vocês...
— Precisa fazer alguma coisa! - Ben disse.
— Como?
— Você gosta dele, Jason Yoshida! - O outro Jason lhe lembrou.
— E ele gosta de você! - A menina insistiu.
— A gente pode só...não falar sobre isso?
Os três o respeitaram. Para quebrar o gelo, tirou o terceiro e quarto convite e entregou aos garotos. Backlin era legal, ainda que só conversasse consigo para tirar dúvidas de trigonomegria. Ben sempre lhe tratara bem.
— Não é o tipo de festa que costumam ir, mas... - Jason foi interrompido por um abraço dos dois caras.
— Cale a boca, Yoshida! - Jason Backlin falou, fazendo o outro rir.
Agora faltava apenas um...
Jason Yoshida tinha ido tomar um remédio para dor de cabeça na enfermaria. Andava para voltar para a sala de aula quando um choro foi ouvido. Reconhecia aquele choro.
Se aproximou da sala de onde vinha. Estava trancada. Abriu um pouco as persianas. Joey chorava no colo do pai que o abraçava fortemente e acariciava os cabelos que voltaram a ser azuis. Se afastou dali, com o coração pesado e uma vontade imensa de chorar também. Ele estava assim só por conta do término? Ela importava tanto assim?
Voltou a caminhar para a aula. O Whaters apareceu com o pai na última aula. Quando enfim a aula terminou, o viu beijar a bochecha do progenitor e sair do lugar.
Iria sair também, mas uma mão tocou seu ombro.
— Yoshida, preciso falar com você.
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