X - Monstros
— Foi um dia cheio. - O Medicine Boy ressaltou.
— Nem me fale. - Jason suspirou. - Foi um dos piores dias da minha vida.
— Você não conseguiu dormir direito à noite por uma semana, e ainda tem problemas com isso, não apenas por isso ma...
— Olhe, Vênus! - Jason interrompeu. — Está tão brilhante hoje, lindo.
— Não fuja do assunto! - O Medicine Boy exigiu. — Eu sei que quer falar do seu namoradinho.
— Ele não é meu namoradinho, e não quero falar sobre ele.
— Okay. - A criança deu de ombros. - Como você acha que aqueles bilhetes chegaram no seu pai? Digo, ele não teria descoberto se alguém não desse a ele. Estavam no seu armário.
— Eu sinceramente não sei.
O Medicine Boy se referia a todos os xingamentos escritos que ganhou na primeira semana desde que o beijo maldito aconteceu.
Jason estava acumulando bilhetes lá e a cada dia ficavam piores. As mensagens evoluíram de xingamentos para pessoas dizendo que ele era sujo e deveria morrer, ou que deveria voltar para o ninho do país natal dele. Meu país natal é os EUA. - Pensava ele.
É claro que aquilo o entristecia. Tanto que para fugir dos olhares, ele sempre ía ler alguma coisa escondido debaixo da arquibancada durante a aula de Educação Física, ou na hora do almoço (nesta em que não ía comprar comida e passava fome até a hora de voltar para casa). Sem contar que aquele local era um poço de lembranças que lhe fazia mal, mas era menos terrível que ver todas aquelas pessoas querendo lhe engolir vivo.
Ele fazia isso naquele dia, como em qualquer outro, quando começou a ouvir passos ali perto.
Raiz de um é um, raiz de quatro é dois, raiz de nove é três.
Se encolhia ali dentro, esperando que não o encontrassem. Quando, a lona que o escondia e a cabeça de um cara alto e malhado apareceu. Conseguiu ver outros pares de pés próximos ali.
— Olha, encontramos uma bichinha aqui. ‐ Disse o garoto.
— E-eu já vou embora. - Jason gaguejou, tentando sair dali de baixo, mas foi puxado abruptamente pelo garoto.
Do lado de fora, no chão, pôde ver o rosto de mais três garotos juntos a ele.
— Quem você pensa que é para passar sua imundície para a escola? - Indagou, o primeiro, que percebeu ser o "líder" dos outros.
— Eu já vou embora, por favor.
Os caras o cercaram, ele não tinha como fugir.
— Você acha que deixaremos uma vadia como você impune? - O segundo indagou, com asco.
Esse Jason conhecia, ele era do time de futebol americano. Era um dos caras que havia falado mal de si e de Joey, naquele mesmo lugar.
— Eu vou sair da escola, eu...
Antes que pudesse terminar de falar, o terceiro, um loiro alto de óculos, chutou sua barriga.
— Dá pra você fechar a merda da boca?
— Vamos acabar logo com isso. - Disse o último, que Jason também conhecia. Era o outro cara que havia o xingado antes.
Em questão de segundos, os quatro pularam em si e lhe espancaram, chegando até a rasgar seu moletom.
— Diretor Scrëupier! Olhe isso!
O grito do professor Clover Whaters fez com que todos parassem e olhassem para trás, assustados. Ele vinha com o diretor da escola, que olhava tudo indignado.
— O que pensam que estão fazendo, porra? - Joshua Screüpier gritou, tão alto que ensurdeceria um. - Não tentem fugir.
Jason Yoshida se encontrava com o nariz e boca sangrando, o rosto arranhado, com o tronco nu e roxo e as mãos também não haviam escapado, já que usara ambas para proteger a cabeça dos chutes. Sendo que o loiro menor tentava tirar elas para fazer os golpes mais certeiros, o que garantiu arranhões fundos em sua bochecha.
— Eu cuido dele, senhor. - Clover disse, se aproximando e pegando o adolescente nos braços.
Jason Yoshida estava consciente, mas mal conseguia falar pelo tamanho do susto que era aquilo, e com certeza não tinha forças pra andar. Apenas viu os quatro garotos serem levados à diretoria antes de ser levado para a enfermaria.
Clover ajudou a enfermeira a deitar Jason Yoshida na maca, e lá deitado, ele conseguiu ver pela janela um par de olhos inquietos lhe fitando com preocupação.
Assim até parece que se importa comigo, Joey.
Yago Yoshida era um multimilionário. Dono de uma rede de shoppings pelos Estados Unidos, Japão e China, não era de se negar que tinha poder. E com o poder vem mais e mais trabalho. Com mais trabalho, vêm mais viagens e mais conversas com pessoas diferentes. O fato é que desde que começou a montar seu império aos 22 anos, com a herança pequena que o pai deixou pra si, Yago acabou fugindo de muitos ensinamentos da cultura fechada do Japão. A maior prova disso é que além de ir morar nos Estados Unidos, também se casou com uma estadunidense. Não era um homem perfeito, tanto que traiu a esposa e foi um péssimo pai durante a infância dos filhos. E um dos maiores problemas disso, é que apesar de ter dado tempo de começar a melhorar tudo com Jason, não teve o mesmo efeito com James. Precisava de ajuda para que aquele menino o escutasse e aceitasse ir para uma clínica de reabilitação e Marie não era essa ajuda.
Analisava opções boas de clínicas que davam bons resultados em pouco tempo, quando o interfone tocou. Liberou a entrada de seu secretário.
Gerard adentrou a sala com uma caixa, logo pondo a mesma na mesa.
— O que é isso? - Indagou.
— Eu não sei. Uma garota pediu para que eu entregasse a você e disse que era sobre seu filho.
— Qual deles?
— Não sei bem.
Yago agradeceu e pediu para que ele se retirasse para abrir a caixa. Um monte de papéis pequenos se encontravam ali. Quase jogava a caixa fora, mas resolveu ler um. Quando viu o tipo de xingamento ali escrito, percebeu logo para quem aquilo era direcionado. Foi lendo alguns bilhetes dos papéis mais pequenos até as cartas de ódio maiores. Aquilo...aquilo era monstruoso.
Pegou a caixa e o casaco, e então se dirigiu à saída, avisando a Gerard que cancelasse suas reuniões. Dirigiu até o colégio quebrando uma ou duas leis de trânsito. Tinha dinheiro o suficiente para pagar as multas depois. Invadiu a diretoria rapidamente, encontrando Scrëupier dando gritos em quatro garotos.
— Joshua, pode me explicar o que é isso? - Indagou bravo, despejando o conteúdo da caixa na mesa do diretor.
Tinha intimidade com ele, até porque quando Jason foi admitido na escola, fez questão de se tornar um dos maiores doadores para a escola e acabaram se tornando amigos.
O diretor leu algumas das coisas rapidamente, de olhos arregalados.
— O que...
— Tudo isso foi direcionado ao meu filho, Joshua! - Berrou. - O meu filho está sendo massacrado todos os dias pelo bando de merdinhas dessa escola.
— Eu não sei o que dizer, Yago.
— Apenas tome uma atitude, procure o máximo de culpados possíveis e os puna. Se fosse outra escola, eu simplesmente tiraria o meu filho daqui e cancelaria as doações.
— Não, por favor! - Scrëupier se desesperou. - Os jogos intercolegiais estão chegando e...
— Então deixe esses moleques aí e cuide disso primeiro!
Naquele momento, Scrëupier ficou pálido como um morto.
— Yago, i-isso meio que tem a ver com o seu filho também.
Yago Yoshida olhou rapidamente para os garotos ali. Alguns deles tinham um pouco de sangue nos dedos. Gelou e ferveu ao mesmo tempo.
— Scrëupier, onde está meu filho?
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