Capítulo III | TAYLOR

NÃO CONSIGO RESPIRAR. 

O pânico rasga minha carne com dentes de aço.

Faz três noites desde o incidente na casa de Andrea, as lembranças da festa me assombram conforme adentro o quintal da pomposa casa vitoriana.

Paro em frente a porta.

Eu não posso fazer isso. Não posso. Repito.

Dou um passo para trás.

Sou feita de carne, osso e um turbilhão de emoções.

Andrea é feita de pedra, gelo e fúria. Uma fúria gélida.

Eu não sou ela.

Não posso matar alguém e usar um disfarce.

A máscara desliza do meu rosto escorregadio de dor.

— Quem é você?

A porta foi aberta.

Taylor me encara, os mesmos olhos azuis da irmã colidem com os meus.

O ar some dos meus pulmões.

Taylor tem um corpo esculpido, com a quantidade adequada de músculos.

Taylor é o tipo de homem que os olhos buscam em um ambiente lotado, um rosto agradável de olhar. Bonito.

Taylor sempre me fascinou. Mesmo quando éramos crianças sujas de lama ou pré-adolescentes cheio de espinhas.

Mas Taylor era proibido, Lilian ocupava um lugar permanente ao seu lado. Sempre.

Nunca fui notada.

— Sou Alexandra, Andrea me convidou.

— Entre. — Ele afasta seu corpo da entrada, me dando espaço para passar. — Ela não está, mas me avisou que você viria, pode sentar e assistir algo até ela chegar.

 Com isso, Taylor sobe as escadas. 

Sabia que deveria seguir ele como um cachorrinho, Andrea não ficaria satisfeita com meu descaso com o plano de curar do coração do seu irmão. 

Quem se importa com que ela pensa?

Alguns minutos depois meu celular apita:

É melhor você estar conversando com meu irmãozinho.

Aperto o dispositivo com força.

Vivo na parte pobre da cidade, meus pais mal conseguem pagar minha alimentação diária na única escola da cidade. Um bom advogado está fora de questão.

Eu sou uma marionete enrolada nos dedos delicados e macios de Andrea.

Subo as escadas.

Apenas três quartos eram proibidos durante as festas. Um dos pais, da Andrea e outro de Taylor.

Não foi difícil achá-lo.

— O que está fazendo aqui? — Ele pergunta, ao me ver no batente da porta.

— Sua irmã disse que vai demorar. Fiquei entediada.

Taylor me encara desconfiado.

Não sei em que buraco Andrea tirou a ideia de que Taylor poderia se apaixonar por alguém como eu. Invisível.

— Não estou interessado em transar.

— Só quero conversar, ok?

Me acomodo na cama ao seu lado.

Ficamos em silêncio.

Taylor encarava fixamente o teto, enquanto eu remexia meu celebro em busca de algo para falar.

Anos imaginando uma cena assim, só nós dois, e então tudo foge à mente.

— Sinto muito pelo que aconteceu com Lilian.

Silêncio.

— Você está passando por um momento difícil, mas ainda tem uma longa vida pela frente.

— Não importa. Vou encontrá-la. — Ele finalmente fala.

— Taylor... Talvez seja melhor ser realista. Ela desapareceu no meio de uma festa... Quem faz isso?

Sua íris azul queima os meus em determinação.

— Eu vou encontrá-la.

Esperança é algo perigoso, pode ser um beijo nos lábios da morte ou a cura. Suspeito que ele iria ingerir em grandes doses. No fim seria um tiro em seu peito.

Observo sua figura imersa em pensamentos.

Pela primeira vez estou tão perto do garoto que nutri sentimento durante anos. Percebo pela primeira vez as sardas quase invisíveis que pontilham a maçã do seu rosto. 

Podia sentir as emoções que enterrei começarem a fugir dos túmulos, furiosas. Elas queriam a paixão que tanto as neguei.

Queiram Taylor.

Mesmo que acabe sendo apenas um beijo na morte. 

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Tags: #romance