UM METRO DE TERRA

O viajante dormia embaixo de uma árvore quando vozes o despertaram, ele olhou em volta e não viu ninguém, mas as vozes pareciam perto. Ele foi em direção à estrada e viu dois homens a discurtir próximos a uma cerca, ele se aproximou e perguntou:

– Olá homens, eu estava tirando um cochilo ali na sombra de uma árvore e os senhores me acordaram, posso saber qual o motivo dessa discussão?

– Este senhor desmanchou sua cerca e construiu uma nova, 1m mais para dentro das minha terras e eu estou pedindo que ele coloque a cerca no lugar certo – disse o fazendeiro de chapéu.

– Eu já disse que minha cerca está no lugar certo, eu não invadi terra de ninguém – falou o fazendeiro sem chapéu.

– Está bem. – O viajante deu uma olhada na cerca, depois questionou:

– Se a cerca foi movida onde estão os buracos da antiga?

– Ele tapou – respondeu o de chapéu.

– Não tapei, eu troquei a cerca por que estava apodrecendo, mas coloquei a madeira nova nos mesmos buracos da velha, bem onde estão – retrucou o sem chapéu. – O viajante deu mais uma olhada e afirmou:

– Não parece haver nenhum buraco tapado recentemente, acho que não há invasão nenhuma.

– Ele tapou bem tapado.

– Pelo que vejo, nenhum dos dois tem provas de suas acusações. Porque não dividem, meio metro para cada um?

– Não senhor, esse metro de terra é meu e eu quero ele todo – discordou o homem de chapéu.

– Digo o mesmo. – O viajante não tinha nada a ver com aquilo, mas queria ajudar aqueles dois, então pensou por alguns instantes e teve uma ideia:

– Algum dos senhores tem uma arma?

– Eu tenho uma espingarda de caça, por quê? – perguntou o sem chapéu.

– Acho que sei como os senhores podem resolver essa disputa, mas vamos precisar da sua arma.

O homem sem chapéu foi até sua fazenda e voltou meia hora depois trazendo a espingarda.

– Aqui está, qual é a sua ideia?

– O senhor sabe atirar? – perguntou o viajante ao de chapéu.

– Um pouco. Por quê?

– Eu proponho um desafio de tiro, quem acertar o alvo fica com o pedacinho de terra pelo qual estão brigando.

– Eu aceito.

– Eu também.

Escolheram uma das madeiras da cerca nova, fizeram uma marcação nela e outra no chão para que os dois fazendeiros atirassem da mesma distância e na mesma madeira e cada um deu um tiro, mas, para a surpresa deles, nenhum dos dois acertou. Tentaram mais duas vezes cada um, mas eram muito ruins de tiro e não acertaram nenhum.

– Não vai dar certo – disse o fazendeiro de chapéu.

– Já que nenhum dos dois acertou, nenhum dos dois fica com a terra, pronto.

– Como assim? – perguntaram os dois fazendeiros em coro.

– O senhor faz uma cerca para lá, o senhor puxa sua cerca para cá e esse metro de terra que provocou tanta discussão, vira um corredor sem dono.

– Mas isso não está certo – reclamou o fazendeiro sem chapéu.

– Nenhum dos dois acertou o alvo, é justo que nenhum fique com a terra, além do mais, vejo que suas fazendas são imensas, esse 1m de terra não vai fazer falta para nenhum de vós.

– Não vai, mas eu não abro mão dele.

– Nem eu.

– Bom, eu fiz o que pude para ajudá – los – disse o viajante dando-lhes as costas -, mas se preferem ficar se humilhando por um naco de terra que não lhes fará falta nenhuma…

– Tudo bem, façamos o corredor.

– Isso. Obrigada pela sua ajuda…

– De nada e adeus – interrompeu o viajante despedindo-se.

O viajante foi embora sorrindo, aqueles homens não abriam mão daquele mísero 1m de terra por orgulho e avareza, não por necessidade. Ele dissera que eles estavam se humilhando porque se estivesse certo eles aceitariam a ideia do corredor, afinal, embora o avarento não dê nada a ninguém, o orgulhoso não se humilha e o orgulho é mais poderoso que a avareza.

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