UM BOM AMIGO
O viajante trabalhava há uma semana como ajudante naquele armazém em Horcajo de los Montes, o dono, um imigrante português, era um homem muito bom e eles gostavam muito um do outro. Um dia, sem movimento no armazém, eles conversavam no balcão de atendimento:
- Seu Amadeu, há quanto tempo o senhor tem esse negócio? - perguntou - lhe o viajante.
- Há muitos anos, quase desde que cheguei aqui.
- Vejo que não há muito movimento, como consegue mantê - lo?
- Tenho alguns clientes fiéis que ainda me rendem algum dinheiro. Mas já tive dias melhores.
- O que houve?
- Muitas pessoas foram embora atrás de trabalho nas cidades grandes ou em fazendas mais distantes, surgiram outros armazéns aqui.
- O senhor nunca pensou em ir embora? Montar um armazém em outro lugar?
- Já, mas não posso.
- Por quê? Se posso perguntar.
- Este imóvel não é meu e tenho que dar uma parte do que ganho para o dono, todo mês. Tentei comprar dele quando podia, mas ele não quis me vender. Já falei com ele sobre a possibilidade de me mudar e ele disse que eu teria que pagar uma compensação a ele, temo que não possa pagá - lo.
- Gostaria de poder ajudá - lo. - O dono do armazém sorriu.
- Fico feliz em ouvir isso, mas acho que não pode me ajudar. - Amadeu deu - lhe um tapinha no ombro e foi atender um freguês.
O viajante queria mesmo ajudá - lo e se pôs a pensar numa forma de fazer isso, na manhã seguinte já tinha um plano feito na cabeça. Pediu o nome e o endereço do dono do imóvel, onde funciona o armazém, e foi falar com ele. Era uma fazenda e um homem estava a consertar uma parte da cerca na estrada.
- Buenas tardes! - cumprimentou - o o viajante.
- Buenas.
- Me gustaria hablar con el señor Pedro, por favor.
- Soy yo - o homem respondeu, desconfiado.
- Ah, sí. ¿Hablas português?
- Alguna cosa.
- Ótimo. Seu Pedro, eu trabalho para seu Amadeu, que aluga o seu imóvel como um armazém. Como o senhor sabe, o armazém não está dando mais tanta lucro quanto antes, muitas pessoas foram embora, outros armazéns surgiram, enfim. O seu Amadeu está pensando em transferir o seu negócio para uma outra cidade maior, onde ele possa obter uma renda melhor, mas sabe que o senhor iria querer uma espécie de compensação e ele não teria dinheiro para lhe pagar, então ele tem uma proposta para lhe fazer, me compreendes?
- Sí.
- Bem, a proposta dele é que ele continue lhe repassando uma parte dos lucros por um tempo, mesmo em outra cidade.
- ¿Cómo? - o homem estava ainda mais desconfiado.
- Ele não pretende ir para longe, o senhor pode ir buscar de quinze em quinze dias, por exemplo.
- Por quanto tiempo?
- Seis meses.
- Para donde ele vá?
- Para Navalpino.
- É perto - o homem pensou consigo mesmo.
- Pois sim. O que me diz?
- Está bién, mas quiero receber durante un año.
- Daqui uma semana o senhor vai falar com ele para que ele lhe passe o endereço certo e vocês resolvem isso, pode ser?
- Puede.
- Tem mais uma coisa, ele quer um empréstimo para comprar um imóvel na cidade nova.
- ¡Miserable! ¿Quanto? - perguntou o homem irritado.
- 30 escudos, apenas.
- E dices "solo"?! - O viajante encolheu os ombros, despreocupadamente.
- 25 - resmungou o homem.
- Feito. Leve - o quando for falar com ele. - O homem estendeu uma mão suja de terra, o viajante olhou - a, mas não a apertou. Despediu - se dele e voltou para o armazém.
Ao chegar no pequeno comércio o viajante contou o que aconteceu a Amadeu, que não pareceu muito contente com o seu arranjo.
- Ótimo, vou me mudar, mas continuarei a pagar àquele troglodita.
- Não, não pagará. O senhor vai para bem longe, sem deixar endereço.
- Se fosse assim tão fácil, eu já teria ido embora.
- E qual é a dificuldade?
- Ele vai vir atrás de mim e pode tomar tudo o que tenho.
- Não vai não, aquele ali tem jeito de quem passou a vida inteira no mesmo lugar, como uma árvore, ele não vai sair daqui para procurá - lo. Se acaso ele for e te encontrar, o que também duvido que aconteça, chame a polícia e diga que ele é um ladrão. Pronto.
- Se depois ele sair da cadeia vai vir atrás de mim de novo, ainda mais bravo do que antes.
- Chame a policia de novo, uma hora ele cansa de ser preso.
- Está bem, como vou arrumar uma casa para morar e um lugar para montar o novo armazém?
- 25 escudos dão?
- De onde vai vir esse dinheiro?
- É o que o troglodita vai lhe emprestar.
- E ainda diz que ele não vai vir atrás de mim!
- Não vai.
- Mas assim eu estarei roubando ele, eu não sou ladrão.
- Depois o senhor manda o dinheiro de volta para ele numa carta, não será roubo. - O dono do armazém pensou por alguns segundos.
- Uma semana é pouco tempo para me arranjar.
- É só para vocês conversarem. Dê - lhe um endereço em Navalpino, mas diga - lhe que precisará de um tempo para a mudança.
- Tá bom amigo, me convenceste - sorriu Amadeu.
Uma semana depois Pedro apareceu no armazém, Amadeu fez como o viajante lhe instruiu e pediu um mês para concluir a mudança e poder recebê - lo em seu novo armazém. Uma semana depois fora a uma cidade bem longe dali, lá encontrou uma casa de dois andar por 40 escudos, era perfeita para ele, juntou o que recebera de Pedro mais um pouco de suas economias e conseguiu pagá - la. Voltou para Horcajo de los Montes, pegou tudo o que tinha, pôs em duas carroças e levou seu novo endereço, tivera que fazer mais duas longas viagens. Faltando dois dias para fechar o mês inaugurou seu novo armazém, sempre com ajuda do seu amigo viajante, mas este logo partiu, com um até breve que na verdade era um adeus.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top