O COMEÇO E O FIM DE UM AMOR
Quando o viajante era criança seu pai tinha um amigo de infância que se tornara mercador e passava meses viajando, tentando vender suas mercadorias, quando ele voltava lhe falava dos lugares por onde passara e contava muitas histórias incríveis, algumas inventadas, outras reais. O viajante adorava ouví - lo e dizia que seria mercador quando crescesse e conheceria o mundo todo.
O tempo passou, o viajante cresceu e um dia receberam uma carta do amigo mercador onde dizia que havia conhecido uma moça, que estava cortejando ela, que se casariam em breve e morariam na casa dos pais dela, estava muito feliz. Já se iam cinco anos desde que receberam a carta e não tiveram mais notícias dele, não tinha parentes vivos naquela cidade e não aparecera mais lá.
O viajante ainda sonhava em conhecer o que havia depois do horizonte, mas agora era um jovem de 20 anos que trabalhava com o pai nos estábulos de uma fazenda de um senhor muito rico. Um dia, escovando um cavalo, ele conhecera o amor de sua vida.
Isabela era uma moça muito bonita e muito inteligente, ela e o viajante passaram horas conversando, ele ficara sabendo que ela vivera a vida toda num convento e que agora voltara para casa por que seu pai havia lhe arranjado um casamento e que ela não queria se casar com alguém que nem conhecia, entre outras coisas. Ele falara um pouco sobre si também, mas preferia ouví - la.
No dia seguinte ela foi vê - lo de novo e quando foi embora deu - lhe um beijo, seus lábios eram quentes, doces e naquela noite ele sonhou com ela. Ela sempre ia vê - lo, mas um dia o pai dela descobriu, demitiu - o e o proibiu de chegar perto dela. Mas não adiantou, o jovem casal continuou se encontrando às escondidas, ele construiu uma casinha para os dois e foi lá que se entregaram um para o outro, de corpo e alma.
Naquela tarde quente e apaixonada, nos braços um do outro, envolvidos pela paixão, ele decidiu:
- Vou falar com seu pai, pedir a sua mão.
- Não faça isso, ele nunca vai aceitar.
- Você é minha mulher agora, ele tem que aceitar.
- Ele vai manter o casamento e se meu noivo desistir ele me manda para um convento, mas nunca permitirá nossa união.
- Eu vou falar com ele, se não der certo a gente ainda pode fugir.
- Para onde?
- Para qualquer lugar onde possamos ser felizes juntos.
- E como vamos viver?
- Eu arrumo um emprego, posso vender coisas por aí como um mercador, viajaremos juntos. - Isabella sorriu e disse:
- Deixe meu pai, vamos apenas fugir.
- Eu preciso ao menos tentar falar com ele.
- Eu tenho medo do que ele possa fazer conosco quando descobrir que estamos juntos.
- Eu não vou deixar que ele nos separe e nem te machuque - o viajante disse, beijando-a.
Isabela continuou tentando dissuadi - lo, mas sem sucesso. No dia seguinte ele apareceu na fazenda pedindo para falar com o pai dela, mas ele mal o ouviu e mandou dois de seus capangas o colocarem para fora, eles tinham ordem também para darem - lhe uma surra.
O viajante apanhou tanto que ficou quase dois dias desacordado e quando acordou, mal conseguia se lembrar do que tinha acontecido. Queria ir atrás de Isabela, fugir com ela, mas não conseguia se levantar de tanta dor que sentia. No quarto dia veio a notícia: Isabela havia se casado.
Ele não conseguia acreditar que ela havia desistido dele, queria falar com ela, mas seus pais não lhe deixaram sair e no dia seguinte recebeu uma carta dela, onde ela confirmava a notícia, dizia que era o melhor a se fazer, que ele não podiam fugir pois não tinha recurso, não conseguiriam ir longe e seriam encontrados, ela também pedia que ele não a procurasse.
- Não, não é verdade, alguém a forçou a escrever isso.
- Mesmo que ela tenha sido forçada, o que ela escreveu está certo, me é muito difícil dizer isso meu filho tanto quanto é para você ouvir, mas vocês não tem futuro juntos, tens que aceitar isso - disse o pai do viajante.
- Eu não vou suportar viver sem ela.
- Olhe, sua mãe tem um irmão que mora em São Vicente, ele tem um armazém e você pode ir trabalhar e morar com ele, vai ser mais fácil esquecê - la longe daqui de São Victor.
- Não, me deixe só.
O viajante passou a noite inteira a pensar, lá no fundo de si sabia que o que estava escrito na carta era verdade, mas dissera a Isabella que não permitiria que ninguém os separassem, aceitar a suposta decisão dela seria o mesmo que ter mentido para ela e ele não mentira. Por outro lado, como poderiam ficar juntos se ela não quisesse? Não poderia obrigá - la e nem queria.
A vontade dele era correr ao encontro dela, ouvir de sua boca que não queria mais nada com ele, mas sabia que não conseguiria chegar até ela, também sabia que se ficasse poderia encontrá-la na cidade com o outro e não suportaria. Por fim, decidiu ir embora. Fez uma trouxa com roupas, comida, um pouco de dinheiro, despediu - se de seus pais e partiu.
Mas o viajante não iria para a casa do tio, iria para o mundo. Decidiu viajar por aí sem destino certo, conhecer outros lugares e até encontrar algum onde possa começar uma nova vida, como o amigo mercador do seu pai.
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