Acordo na manhã seguinte me sentindo surpreendentemente bem. Fico grata pela recepção calorosa de Jameson. Jackie e ele se abraçam demoradamente, em frente à casa do lago ao nos despedirmos. Ouço-o cochichar palavras carinhosas em seu ouvido, e depois planta um pequeno beijo em sua testa. Eu o beijo docemente nos lábios e sussurro um "obrigada" em seu ouvido, antes de dar o beijo de despedida no lóbulo de sua orelha e me debruçar sobre ele para enfiar o rosto em seu pescoço em uma tentativa de querer guardar seu cheiro comigo para sempre.
— Tchau — murmuro ao me virar para caminhar em direção ao carro. — Vamos, Jackie.
— Tchau, papai — ela deixa escapar sem perceber enquanto está acenando para ele.
O lapso de Jackie pega a todos nós de surpresa. Certamente não perco como os músculos do corpo dele se endurecem em um estado de tensão. Mas depois de algum tempo, noto-o relaxar e logo está sorrindo para Jackie, que está vermelha como um pimentão ao se dar conta do que o chamou com tanta naturalidade.
— Ele não é o papai, querida — explico para ela, ao segurar sua mãozinha.
— Desculpa, tio Jameson — apressa-se em dizer, balançando a cabeça de cabelos escuros soltos. — Juro que saiu sem querer! Não fiz de propósito. — Ela está tão envergonhada que mal está olhando para ele.
Jameson abre um grande e iluminado sorriso que a conforta.
— Está tudo bem. Eu não me importo. — Ele pisca para ela e então está tudo de volta ao que era antes.
Quando eu e Jackie já estamos dentro do carro, eu deixo escapar um suspiro pelos lábios. Ele acabou de dizer que não se importa em ser chamado de papai. Isso foi muito bonito e me dá uma prova de suas verdadeiras intenções conosco. Isso quer dizer, então, que ele adoraria ter Jackie como filha? O que eu acho sobre isso? Não tenho palavras para descrever a felicidade que está me preenchendo nesse momento. Durante uma grande parte da minha vida, eu só fiz besteiras que geraram meus arrependimentos. Só que agora tem essa coisa, esse pressentimento fodido de que eu estou onde deveria estar, fazendo o que deveria ter feito há muito tempo.
— Ah, mamãe... gostei dele. — A voz sonhadora de Jackie me desperta de meus devaneios. — Podemos ficar com ele? Diz que sim, por favor! Deixa!
Eu estou fingindo estar chocada ao olhar por cima do ombro e encontrar a pequena sonhadora debruçada sobre a janela, sorrindo para Jameson, que está de pé a poucos metros do carro, observando-nos enfiado em um suéter escuro e um par de calças jeans. Ninguém deveria ter o direito de ser tão bonito àquela hora da manhã.
— Jackie! O tio Jameson não é um animalzinho de estimação para falar dele assim.
Agora nós estamos rindo como duas bobas. Como não poderíamos? Foi uma das melhores noites de nossas vidas. Engato a marcha do carro e faço uma manobra até estar na estrada, no caminho de volta para casa.
O dia passa rápido, embora eu não esteja tão ansiosa assim para que o seu fim chegue. Quero guardar os detalhes devagar, rememorá-los ao longo do dia quantas vezes puder, e o meu sorriso no jantar é tão tolo que Tracy o nota com um revirar de olhos, mas está sorrindo, feliz por mim. Eu a convidei para jantar conosco, de modo que passamos praticamente a noite inteira colocando a conversa em dia, apreciando nossas refeições e tomando o vinho caro e delicioso que ela trouxe para hoje à noite. Brindamos aos começos, acho que não haveria brinde melhor do que esse.
Aos começos... meu glorioso começo com Jameson.
Coloco-me para pensar nos próximos dias e compreender a mim mesma. Ninguém nunca disse que é fácil adquirir autoconhecimento. Muitas vezes pode vir com dor, frustrações e agonias. Acho que já passei dessa fase, pois Jerome não é mais o tema de meus sonhos e não me sinto mais assombrada. Pelo contrário, sinto-me liberta de algo ao qual não sabia que estava presa. Não quer dizer que eu ainda não pense nele de vez em quando, porque tenho um grande respeito e carinho por esse homem que entrou na minha vida deixando sentimentos profundos que estão marcados a ferro em minha memória.
Mas se eu me sinto feliz hoje, realizada e segura, é por causa de Jameson. Não me arrependo de meu passado com Jerome porque eu amei conhecê-lo. Amei cada segundo junto com ele. Tampouco consigo me arrepender deste futuro que estou construindo ao lado de alguém que gosto muito e que, secretamente, tem significado o mundo para mim.
Jameson nos surpreende no meio da semana ao nos fazer uma visita. Continuo passando a noite na casa dele em alguns dias, e em outros, passo na minha própria casa. Estamos indo com calma, nos conhecendo sem pressa como em um verdadeiro relacionamento. O sentimento é recíproco quando se trata de querer que as coisas funcionem entre nós dois.
Jackie e eu somos convidadas para um passeio de barco no final de semana, ao que ela aceita com bastante entusiasmo. Não tenho ideia se o sábado de manhã será um daqueles dias ensolarados. Ocorre que o sol nasce sorrindo para nós, primeiro timidamente, mas pouco a pouco os raios vão se tornando mais fulgurais e deliciosamente mornos sobre nossa pele.
Jameson pilota o barco com perícia através do lago, estamos flutuando e rodando, ouvindo o zumbido do motor, e a sensação de leveza sobre as águas é tão boa que estou sorrindo durante todo o trajeto, meus cabelos sendo fustigados pelo vento. É extremamente excitante. O barco está se transformando, correndo sobre as ondas, enquanto seguimos em direção ao sol e Jackie não para de se engasgar com realização ao meu lado, metida em um colete salva-vidas laranja.
Sua alegria é contagiante. Quando menos espero, estou rindo junto com ela.
O momento se torna mais excitante quando Jameson aumenta um pouco a velocidade e então de repente estamos gritando alto, jogando nossas mãos para cima como as pessoas costumam fazer para curtir os pontos mais altos de uma montanha-russa. Eu posso ouvi-lo rindo. Seguimos balançando contra as ondas, majestosamente flutuando sobre o Lago Lanier, ouvindo o som do vento rasgando e o silêncio na luz da manhã. Eu não poderia pedir por nada mais. Tudo isto é surpreendente e lindo, e na minha opinião, esta luz matinal é extraordinária, quente e espetacular.
— O que acharam? — Jameson pergunta após chegarmos à doca, seus olhos brilhando em um preto deslumbrante.
— Isso foi fantástico. — Eu respiro e ele sorri.
— Demais! — Jackie concorda toda entusiasmada.
— Vamos. — Ele estende a mão para Jackie e depois para mim, para nos ajudar a escalar para fora da cabine.
Assim que estamos fora, em solo firme, eu me abaixo para abrir o colete de Jackie e, com um sorriso, dou o meu máximo para ajeitar seus cabelos furiosamente bagunçados pelo vento. Em seguida, ela está fazendo o familiar caminho em direção à casa, caminhando e saltitando à nossa frente, entre as árvores.
Nesse momento, Jameson me agarra e me abraça forte contra seu corpo. Sua mão de repente está em meus cabelos, arrumando-os da mesma forma que eu havia feito com Jackie, porém com um erotismo sensual que me excita e provoca um arrepio que percorre a base de minha espinha.
Olho para seus lábios, notando como sua respiração está pesada, e então está suavemente segurando minha nuca e puxando meus cabelos para trás enquanto me olha com seus olhos inflamados de desejo. Fecho os olhos, inclinando a cabeça para trás oferecendo os lábios. Jameson me beija, longa e apaixonadamente, sua língua dentro de minha boca provando meu sabor, ao som das águas calmas do lago. Nossa, ele tira meu fôlego. Deixo escapar um suspiro e outro, minhas mãos torcendo em seu cabelo e agarrando-o para mim, e gemo em protesto quando o beijo termina.
Isso lhe rende um pequeno sorriso.
— Deixe-me ver, jantares deliciosos, noites quentes, beijos maravilhosos, passeio de barco à luz da manhã... — Conto com os dedos. — Você realmente não brinca com coisa séria. Não acha que já estou impressionada o suficiente com você? Sério, eu entendi o recado. Já sei que é com você que devo estar — brinco.
Ele sorri de volta.
— Que bom que entendeu — murmura, seu sorriso tocando minha boca em outro beijo. — Eu adoro Jackie — revela sem hesitação em seus olhos e me dá outro beijo rápido. — E eu adoro você. — Estala mais um beijo em mim. — Pretendo conquistar a confiança de ambas as duas, não importa o tempo que leve até que se sintam confortáveis comigo.
Sorrio, controlando-me para não pular em cima dele de tanta felicidade que estou sentindo. Eu já me sinto tão confortável e bem com ele.
— Jackie tem um coração mole e uma tendência a gostar das pessoas ao seu redor. De você, mais ainda. — Acaricio sua face lateral com as costas dos meus dedos. — Ela também te adora. Pode ter certeza de que ela já confia em você.
— E você? — pergunta ele, sabiamente. — Você confia em mim?
Pisco algumas vezes, lutando contra seu charme para que possa dar a ele uma resposta sincera. Eu me desenrosco de seus braços, com relutância. Jameson logo percebe a súbita mudança em mim quando meu rosto assume uma expressão mais séria.
— Eu gostaria de compartilhar algo com você, se não se importar — digo, o nervosismo subindo pelo estômago.
— Por favor — ele fala com cortesia.
Respiro profundamente. A vida é feita de momentos e eu tive suficientemente muitos para achar que já estou preparada para dizer isso.
— Algum tempo atrás, eu não reclamaria se você me dissesse que era Jerome. Quero dizer, logo quando o conheci. Porque naquele momento eu queria muito, muito que você fosse ele — confesso com uma sinceridade que espero estar passando através de meu olhar. Jameson me observa calado e tenho a mais leve impressão de tê-lo ouvido prender a respiração ao ouvir o nome do querido irmão. — Naquela época, eu queria que você fosse ele — continuo. — Porque eu queria que ele fosse exatamente assim, transformado e maduro. A versão mais velha de Jerome. — Sorrio para mim mesma. — A que eu tanto fantasiei em meus sonhos mais íntimos, se tivéssemos tido uma segunda chance para nosso recomeço.
Jameson me olha de uma maneira indescritível. Aquilo tudo é demais para mim da mesma forma que também é para ele, mas preciso dizer isso se quisermos fortalecer cada vez mais as bases de nosso relacionamento. Foi uma promessa que fiz a mim mesma de não deixar absolutamente nada interferir no que temos agora. A intenção é seguir em frente daqui em diante, sem nenhuma abominável e assombrosa parada no passado.
— Mas você não é ele — afirmo, as sobrancelhas unidas, com um tom de alegria misturado com bom humor. — Você é Jameson Carver. E, sabe, depois de todo este tempo que estive lutando contra meus pensamentos confusos, notei um padrão em meus desejos e me dei conta de que a questão não é que eu queira que Jerome seja você. Eu quero você. — Respiro, procurando ficar calma. — Você é o que eu quero, o que tanto tenho desejado, o que tanto tenho sonhado. É você quem eu quero, Jameson...
Ao erguer a mão, seu polegar seca uma lágrima em meu rosto que não sabia que tinha vindo de mim. Eu estava chorando? Não havia percebido. Mas estou tão emocionada e contente comigo mesma, com a convergência das coisas que digo o que realmente penso, que não acho difícil derramar mais algumas lágrimas de felicidade.
Jameson me presenteia com seu sorriso, um pequeno sofrimento percorrendo seu rosto para em seguida dar lugar à realização plena de finalmente ser aceito. Ele me envolve em seus braços com gentileza e cuidado, e entrelaça seus dedos em meus cabelos numa carícia. Passeia a mão uma e outra vez no lado de minha cabeça até a parte de trás, até parar a palma da mão nesta posição e assim me amparar para unir nossas bocas em um único e expressivo beijo. Um beijo cheio de intenções e de sentimentos, carregado de emoções destruidoras de coração.
Pouco tempo depois estamos de mãos dadas, enamorados, fazendo a rota de volta para casa, onde encontramos uma Jackie enrolada no sofá assistindo TV aos risos. É tão instantâneo quando nossos olhares se encontram, o meu e de Jameson, ao vermos aquela cena, que terminamos sorrindo um para o outro.
Ainda com nossas mãos unidas, ele me leva para cima, para seu quarto, onde tomamos banho juntos. Uma vez livre das roupas, ele liga o chuveiro e me puxa para ele, em seguida me toma em seus braços. Sou ensaboada com movimentos circulares e suaves, e faço o mesmo com ele, sem deixar seus olhos.
Água escorre pelos nossos corpos, lavando toda a espuma, e Jameson fecha parcialmente o chuveiro. Coloca meu cabelo para o lado e beija toda a extensão da minha cicatriz na costa de modo devagar, seus dedos traçando a linha para baixo à medida que cobre de beijos o restante da parte superior.
Ouço quando ele se ajoelha atrás de mim, seus lábios colados às minhas costas terminando de beijar a cicatriz que termina nas proximidades do meu quadril direito. Estremeço ao último beijo, as gotas do chuveiro pingando sobre minha cabeça e deslizando pelo resto do corpo molhado do banho. Seus toques persistem na região dos meus quadris, as pontas de seus dedos desenhando as outras cicatrizes que ganhei com a maternidade, incluindo a do parto.
Sou virada para ficar de frente para ele e meu ventre é acariciado, beijado, sou tratada com um carinho bonito e galante. Sou venerada com seu corpo momentos mais tarde quando nossos maravilhosos atos preliminares nos levam para a cama onde consumimos nossa paixão, nossos gemidos baixos se misturando aos sussurros românticos à medida que nos movemos e nos perdemos na doce agonia de nosso encontro sensual.
Assim que abro os olhos, ofegante, estou em cima de Jameson, meus seios espremidos contra seu peito e seus braços em volta de minha cintura. Roço os lábios ao longo de seu rosto bonito e termino com um beijo na ponta de seu nariz.
— Minha Ellie — sussurra com rouquidão antes de atacar docemente a covinha de meu queixo que aprendi que ele tanto gosta.
— Meu Jameson... — sussurro de volta.
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