Capítulo 19
A noite de ontem não foi uma noite alcóolica, mas me rendeu uma ressaca dos diabos. Eu me pergunto se é a ressaca por ter ficado embriagada com os beijos que me trouxeram graves efeitos colaterais. O primeiro deles, senti ao acordar: vergonha. O pior é que eu estava sóbria, então não há como correr para as colinas, isolar-me do resto do mundo e fingir que nada aconteceu.
Aconteceu e eu quis. Fato.
O segundo deles... nervosismo. Nervosismo por Jameson ter me ligado de manhã cedo e solicitado minha presença em algum lugar para que pudéssemos conversar pessoalmente. Pessoalmente. Preciso dizer o quão assustador essa palavra soa para mim?
E agora, ao chegar no prédio onde ele agora está hospedado, o terceiro efeito: ansiedade. Por querer vê-lo. A noite de ontem foi... magnífica. Meu coração está palpitando com incrível velocidade só com as lembranças. Mas a magia acabou. A realidade esmaga todas as minhas esperanças inarticuladas. Seremos Ellie e Jameson novamente, dois estranhos que não se dão bem de jeito nenhum.
Bato timidamente na porta de seu apartamento. Não deveria estar aqui, é perigoso demais, mas ele me chamou. Parecia tão perturbado ao telefone que fiz o meu melhor para vir rápido.
A maçaneta gira com pressa e a porta é aberta. Dou de cara com um par de olhos pretos que brilham fugazmente quando me reconhecem. Meu coração dispara com força em meu peito. Abro a boca, muda. Jameson estava fazendo exercício. Veste uma calça de moletom cinza-escuro que lhe cai aos quadris e uma camiseta preta de ginástica, ensopada de suor, assim como seu cabelo. Jameson Carver está suado. Bastante e humanamente suado. A ideia me parece esquisita.
Seguro a respiração e fecho os olhos por um breve momento.
— Bom dia — ele cumprimenta com um sorriso bonito.
E eu quase desmaio.
— Bom dia... — retribuo.
Em seguida, nada. Ficamos nos olhando como dois idiotas, esperando para ver quem fala primeiro. Como de costume, não perco a oportunidade.
— Desculpe por ontem — antecipo-me ao dizer. — Eu estava um pouco desesperada demais e, bem, você estava lá. — Enrubesço. A forma como falei me fez parecer uma aproveitadora. — Juro que não quis me aproveitar de sua... bondade?
Jameson sorri. O segundo sorriso que me dá na manhã. É tão lindo, com os dentes e as covinhas à mostra, que tenho vontade de roubar para mim.
— Não se aproveitou. Na verdade, acho que o que aconteceu foi exatamente o contrário disso. Acho que me aproveitei de um momento de fraqueza seu e, bem... você estava lá — imita-me e dá uma piscadela.
Jameson... piscando!
E muito bem-humorado. Estranho e suspeito. Conhecendo-o como o conheço, em menos de alguns minutos estará de volta para a frieza costumeira comigo.
Abre mais a porta para mim e gesticula para que eu entre. Dou alguns passos para dentro, meus saltos clicando no chão a cada passo.
— Ainda está muito cedo. Desculpe fazê-la vir até aqui a essa hora da manhã. — Ao contrário do que espero, leva-me até sua cozinha moderna de luxo. Indica a mesa e me sento, sem saber mais o que esperar dele. — Café?
— Não, obrigada. Já tomei.
Com a bolsa em meu colo, olho-o se servir de uma caneca de café, os músculos dos braços flexionando tentadoramente com os movimentos. Aproxima-se pouco a pouco, silenciosamente, com passos felinos e mortais. Sinto-me como uma aluna que está prestes a receber a bronca do professor. Porque se ele não quer meus serviços de corretora a essa hora, então...
— Eu queria... — Sua mão pousa em meu ombro. Labaredas de fogo me queimam em todos os lugares apenas com aquele único toque.
Paro de respirar. Ele sai de seus pensamentos para me observar.
— Está bem? Parece tensa. — Senta-se perto de mim para me olhar com curiosidade enquanto bebe um gole de café.
Desvio o olhar.
— Você queria...?
Ele faz uma pausa.
— Um lugar tranquilo, silencioso, onde o único barulho com que eu tenha que me preocupar seja o da natureza, e não o do tráfego, sirenes de polícia ou uma discussão entre vizinhos. Nada tão grande e exagerado, mas também nada tão pequeno e apertado. Você sabe, meu trabalho não exige minha presença o tempo todo, de modo que posso ficar trabalhando de casa. É um dos poucos luxos que consegui providenciar.
Respiro, aliviada. Ele só queria a opinião de uma profissional. E, sabe, acho que realmente posso me redimir com este homem depois das encrencas que arrumei para ele.
Penso por um momento.
— Acho que conheço um lugar com essas descrições. Talvez vá gostar — começo, buscando aprovação em seus olhos, algum sinal de que ele se interessa pelo que estou falando. — Estou falando de uma casa do lago em Dawsonville. — Então, lembro o que foi dito na festa e como ele deixou implícito que estava pensando em contatar outro alguém. — Tenho colegas que vendem naquela área. Posso lhe passar o contato deles e lhe garanto que...
— Não. Eu quero você — interrompe, seus flamejantes olhos pretos olhando para mim.
O duplo sentido de sua frase me deixa calada e desconcertada.
— Quero você para me mostrar o imóvel — Jameson adiciona e a intensidade de seu olhar diminui. — Não me importo com a cifra que terei de pagar, contanto que você continue sendo minha corretora. — Ele ainda tem interesse em me manter. Vibro de alegria por dentro. — Ligue para seu chefe ou seja lá para quem mais, diga-lhes que estou disposto a pagar o dobro de qualquer valor. Tenho certeza de que não vão reclamar de minha oferta irrecusável. Todos sairão ganhando nisso.
Afundo na cadeira.
— Tenho minhas dúvidas — sussurro tão baixo que sei que ele não me ouviu.
Por um lado, sua riqueza e poder estão fora de comparação em relação a qualquer outro cliente que eu tenha conhecido. São capazes de impressionar e atrair qualquer um para o impressionante, para seu controle... Isto deveria fazer qualquer vendedor contente por poder atendê-lo com o mais simples dos pedidos. E por outro lado, é inegável que ele me encanta e me enfeitiça de um modo como não me acontece em muito tempo. O bastardo obscenamente rico e implacável Jameson Carver não está me deixando muita escolha. O homem sabe ser exigente quando quer, particularmente em seus beijos. Agora sei por experiência própria.
Estou triste, confusa e feliz com a possibilidade de poder saldar minhas dívidas caso fechemos um grande negócio. Só que não sei se minha sanidade sairá intacta por ficar tanto tempo ao lado do homem que tem o rosto idêntico ao daquele que já amei.
A própria situação é tão desoladora, como se eu estivesse caminhando em direção ao abismo que leva para o fogo do inferno. E Jameson é o próprio diabo que não perde as chances de me colocar à prova, seja por seu ódio por mim ou qualquer outra coisa do tipo.
A pergunta é: aguentarei o peso de tudo isso, todos esses sentimentos sufocados?
Nos próximos dias ando sempre ocupada, ignoro detalhes mínimos ao meu redor e continuo trabalhando sem descanso. A máquina de lavar ainda está quebrada, então tenho que ir à lavanderia mais algumas vezes.
Faço uma pausa para respirar quando levo Jameson até a casa do lago. Dessa vez está dirigindo seu carro enquanto indico o caminho que deve seguir. Ando cansada e estressada, tive que buscar Jackie na escola mais cedo porque ela estava com uma tremenda dor de cabeça.
Com um suspiro, saio do carro, pedindo para que Jameson me siga. Pisamos em terreno íngreme com terra e folhas secas até chegar na parte da frente da casa. Ela é isolada, com árvores ao redor. Qualquer vizinhança fica suficientemente distante para proporcionar certa calmaria e pacifismo ao lugar.
Um santuário dos sonhos. Clássico, aconchegante e de requinte.
Teria comprado, se pudesse. Tenho secretamente idolatrado o imóvel desde que caiu em minhas mãos, por isso pedi que a pessoa que resolvesse comprar esta casa fosse alguém que a tratasse como ela realmente merece ser tratada.
Jameson me parece ser essa pessoa.
Tão logo entramos na casa, sou a Ellie corretora de novo. As palavras saem da minha boca tão fácil e não olho realmente para trás para saber o que Jameson está pensando ou não, porque os problemas estão sobrecarregando meus neurônios. E porque eu me desconcentraria também, e prefiro não correr mais riscos.
Estamos na varanda, apreciando o pequeno bosque que rodeia a casa, quando Jameson pergunta atrás de mim:
— Se é uma casa do lago, onde está o lago?
Sorrio.
— Não é totalmente à margem do lago. A casa é tímida, prefere se esconder entre as árvores. O lago fica a uma curta distância daqui. — Aponto em uma direção, para um trecho de árvores que escondem parcialmente a água se movendo em ondulações, enquanto desço a escadaria da frente. — Venha, vou lhe levar à doca.
Fazemos um caminho cercado de vegetação que à medida que caminhamos abre uma vista sensacional do lago à nossa frente, onde há uma pequena doca construída com capacidade para abrigar dois barcos de passeio.
— Sabe dirigir barcos? — pergunto, curiosa, quando atravessamos a pequena ponte para alcançar a doca.
— Minha especialidade. — Está sorrindo. Não vi uma ponta de crítica em seu olhar ainda. — Isso é tudo? — Vira-se para mim, seus olhos negros impenetráveis.
Agarro as duas alças da bolsa na frente do corpo, minhas mãos tão nervosas que estão tremendo. Isso é tudo? Não consigo nem respirar direito. E se eu falhei com ele de novo? Não é como se fosse me colocar de castigo. Ruborizo apenas com o pensamento erótico de como seria Jameson me colocando de castigo.
— Sim. — Sinto-me envergonhada sob o escrutínio de seu olhar provocante.
Seus tentadores olhos descem para meus lábios. Está se lembrando da noite passada? O que está pensando? Quero que seus braços venham ao meu redor, me puxem para perto dele e me beije, e nesse momento suas mãos se fecham nos lados de seu corpo, como se tivesse ouvido meu pedido mudo. Ele fecha os olhos, respira fundo e sacode brevemente sua cabeça.
— O que acha da casa? — Dá continuação ao assunto.
— Eu definitivamente não teria problemas em morar num lugar como este. — É minha resposta sincera. O lugar é lindo e tranquilo. — O único problema seria o tempo de viagem que levaria para chegar a Atlanta. Calculo que em torno de uma hora ou talvez um pouco mais, dependendo do trânsi...
— Fico com ela.
Solto a respiração, aliviada, sentindo como se uma enorme e pesada carga tivesse acabado de ser retirada dos meus ombros. Jameson percebe.
— O quê?
— Já estava ficando sem ideias. Você reclamava de qualquer coisa que eu sugeria ou mostrava a você. Preciso lembrá-lo das inúmeras listas que tive de refazer antes que pudéssemos sequer pisar no terreno?
Jameson deixa escapar um meio sorriso.
— Mas dessa vez você acertou. Ela é perfeita.
Assinto, com o coração batendo com força total. Fechamos negócio. Caramba, consegui fechar negócio com Jameson Carver, e, se estou sendo honesta, não estou contente pelo fato de que em breve ganharei a comissão espantosa, mas sim porque ele morará em uma casa que sugeri e quis minha opinião sobre ela antes de decidir qualquer coisa. Isso de algum modo me faz sentir tão importante.
Sigo para fora da doca com ele me acompanhando para que possamos chegar ao seu carro estacionado.
— Ah, e Ellie? — Procuro seus olhos. Há um brilho matreiro circulando sua íris escura. — A mudança é imediata. Tenho certeza de que, como minha corretora imobiliária, fará o possível e o impossível para agilizar a compra. Certo?
Por que eu achei que seria tão fácil?
— Certo... — aquiesço, murchando ao me sentar no banco do carro.
Talvez eu esteja sendo superestimada. Nunca fui tão requisitada para ir além dos meus limites. Mas Jameson é Jameson... certo?
A♥
Poucas semanas depois, levo os papéis para Jameson assinar. Ele não me deu descanso nos últimos dias. Além de ter tido que acompanhar cada detalhe da transação de perto, também virei decoradora, paisagista e arquiteta de Jameson Carver tão logo pôde pegar as chaves de seu novo imóvel. Ele me ligava sempre que queria fazer um retoque e outro na casa, para modernizá-la, e isso incluía mobiliar e uma nova pintura a seu gosto.
Oh, espere. Eu mencionei o carro recém-comprado também? Agora tenho habilidades para venda automotiva. Sei exatamente que opinião dar para fazer as pessoas comprarem veículos.
Esfrego a costa da mão na testa para limpar o suor e desço da escada para admirar minha obra de arte recém-pintada.
— Você certamente foi o cliente que mais me deu trabalho em toda a minha carreira de corretora de imóveis — falo alto para que ele me ouça de onde está.
Jameson surge enfiado em um par de calças velhas e uma camisa de flanela surrada manchada de tinta branca. Incrível como mesmo assim ele fica sexy. Está terminando de tomar sua taça de vinho e me oferece uma pela terceira vez. Acabo aceitando para não fazer desfeita. Afinal, ele está contente por ter comprado sua casa e quer apenas comemorar com alguém.
Fazemos tim-tim com nossas taças.
— Não está fazendo isso por mim porque sou seu comprador. Somos família, e família ajuda um ao outro. Estou errado?
— Pois acho que você está se aproveitando da minha gentileza, mesmo para um conhecido ou alguém da família.
Devolvo a taça vazia a ele, ao que Jameson pousa a minha e a dele em um dos degraus da escada junto com a garrafa de vinho. Atiro o rolo úmido dentro do balde de tinta branca. Péssima ideia, pois tinta respingou para as minhas pernas. Era uma vez meus jeans. Mas o que são algumas manchas para alguém que já está incrivelmente sujo da cabeça aos pés?
Jameson balança a cabeça para mim.
— Você está horrível.
Analiso-o igualmente.
— Você não está muito melhor.
Ambos de nós gargalhamos e ele começa a abrir os botões da camisa, deixando exposta parte do peitoral magnífico. Paro de sorrir. Ah, meu Deus. Ombros amplos e musculosos, peito definido, abdômen plano... se pelo menos as calças não estivessem no caminho.
Como se tivesse ouvido meu pedido silencioso, Jameson leva os dedos para desabotoar a calça e abre o zíper. Arregalo os olhos para ele, meu coração batendo violentamente.
— O que está fazendo?
— Striptease.
Quase engasgo com a saliva. Ele disse o quê? Olho em seus olhos, sentindo o rosto muito, muito quente, e não acho nada além de sua seriedade e uma sensualidade exacerbada no modo sugestivo como me encara.
— Para mim? — Minha pergunta sai esganiçada e eu estou ruborizando ainda, as bochechas cada vez mais vermelhas.
— Sim — diz, com tranquilidade. — Você tem me ajudado tanto que sinto que preciso retribuir o favor.
— Não, não precisa! — adianto-me, apavorada que ele esteja falando sério. Jameson Carver querendo me fazer um striptease? Ah, caramba! — Você é turista... novo aqui e não tem ninguém. Juro que fiz porque quis ajudá-lo.
Ele ri sensualmente, com aquele toque profundo de flerte, uma carícia erótica em meus ouvidos, e aproxima-se de mim com passos perigosos.
— Na Inglaterra — ele lambe os lábios e meus olhos não perdem o movimento de sua língua. —, os rapazes têm um modo diferente de agradecer às garotas quando elas fazem algum favor especial, algo muito importante para eles. Geralmente o agradecimento é dado através de um beijo no rosto ou mão, mas você não é uma garota. É uma mulher. Então acho que podemos subir o nível do agradecimento.
Meu sorriso sai trêmulo e fraco. Minhas pernas estão bambas, o coração prestes a sair pela boca, um frio se espalhando na minha barriga. Sou essa massa furiosa de hormônios femininos. Uma parte minha — a descarada — quer que ele tire a roupa na minha frente, e a outra parte — a racional — quer fugir correndo com os olhos tampados.
— Eu ficaria satisfeita apenas com a forma de agradecimento mundial. Um simples obrigado já aqueceria meu coração, acredite. — É no que quero acreditar.
Ele coloca o meu cabelo para o lado e inclina a cabeça para sussurrar em meu ouvido:
— Eu posso aquecer muito mais do que o seu coração.
Com essa, um suspiro escapa de meus lábios e o efeito de suas palavras é abrasador em meu corpo. Fecho os olhos e inspiro seu aroma, seu cheiro masculino, deleitada por estarmos tão perto. Sofro um impacto tremendo de frustração quando ouço sua risada alta e zombeteira.
— Estou brincando com você! Claro que isso não é um costume na Inglaterra. — Recua o rosto para me olhar. Sua brincadeira é um balde de água fria para minha libido que já estava imaginando como seria ele sem essas roupas. — Mas estava seriamente pensando que podíamos tomar um banho no lago. O que acha?
Ele não espera por minha resposta. Como poderia? Eu fiquei muda de decepção enquanto estou sendo puxada até a beira do lago. Seus dedos terminam de desabotoar a camisa até o último botão e então... lentamente... sensualmente... eroticamente... Jameson desliza as calças por suas pernas musculosas e longas. Metade de uma bunda sensacional aparece apertada na cueca. Empurra as calças para o lado e, logo, está só de cueca boxer preta.
Na minha frente.
Jameson Carver de cueca na minha frente.
Ele não tem pudor? Tem alguma noção do que está fazendo comigo? Uma corrente de desejo espirala pelo meu corpo até se estabelecer no meu centro, impiedosamente. Estou excitada, sedenta, contendo a vontade de me jogar em seus braços fortes. Cerro as pálpebras, inspiro vagarosamente e me obrigo a voltar à Terra. Há quanto tempo não fico assim? Olho para o lado e para o outro, sem saída.
Estou quase chorando. Essa brincadeira não tem graça.
— Tire as roupas, Ellie — ordena-me em voz baixa e imperiosa.
— O quê? — Tenho que piscar algumas vezes.
Ele ainda não tirou a camisa, que está aberta e mostra exatamente sua seminudez. Dá alguns passos até mim, parecendo um pouco magoado que eu não queira compartilhar de sua loucura momentânea. Com um bom motivo. Acho encantador Jameson querer dizer sim a aventuras, mas tomar banho juntos no lago é o tipo de intimidade que não pode acontecer entre nós.
— Se não tirar as roupas, molhará todas elas — explica com segurança na voz. — Não sou nenhum garoto para perder o controle quando vejo um corpo de mulher. — Olha para cima. — Se isso ajuda, está anoitecendo. Em breve tudo estará escuro e serei capaz de ver apenas sua silhueta seminua banhada pelo luar.
Seminua? Quer que eu fique de calcinha e sutiã na frente dele?
Ele ficou louco de vez.
Balanço a cabeça em negativa, tentando não parecer embaraçada. Tenho minhas razões para não querer tirar a roupa na frente de um homem em tão pouco tempo que nos conhecemos.
— Não posso fazer isso.
Jameson franze a testa de leve.
— Por que não?
— Tenho um corpo... imperfeito. E tenho vergonha de mostrar minhas cicatrizes. São horríveis. — Pego seu olhar confuso. — Cresci no Vale do Inferno. Isso é algo que você não entenderia. Não sou tão bonita assim.
É engraçado como estar perto de Jameson arruína toda a minha autoestima. Tenho um medo inexplicável de decepcioná-lo, de fazê-lo perder qualquer interesse que tenha por mim, quando sei que é porque o quero tanto. Perdê-lo... Como posso ter medo de perdê-lo quando nem mesmo o tenho?
— É o que você acha? — Acaricia meu rosto com seus dedos longos e gentis. — Terei que discordar da sua opinião. — Há um traço de humor em seu olhar. — Porque você vai mergulhar comigo! — Em seguida me coloca nos braços com um movimento rápido, gira-me no ar, e eu estou me debatendo, lutando com sua força, gritando dividida entre o desespero e a diversão quando ele me põe de pé e começa a me fazer cócegas.
Eu me contorço para frente, ofegando entre as risadas, minha barriga começando a doer por eu estar rindo tanto. Fecho os olhos e tento controlar a respiração, tento absorver as caóticas e desordenadas sensações que é ter seu corpo pressionado atrás do meu, enlaçando-me sedutoramente enquanto estou às gargalhadas. E estamos rodando e rodando na beira do lago... ele tentando alcançar os botões da minha blusa e eu me desvencilhando sempre que consigo. É divertido e tão absurdamente infantil que sinto que não preciso me preocupar com mais nada. Meus músculos faciais relaxam, meu humor melhora. Já fazia algum tempo que não sabia o que era rir assim.
Mas então, fico tensa quando percebo suas intenções de me fazer mergulhar com ele no lago, mesmo que não tenha conseguido tirar minhas roupas. Só que elas vão molhar, e se molharem, terei de tirá-las de qualquer jeito. Desta forma, não terei o que vestir após o banho.
— Não, por favor! — suplico, medrosa, ao sentir a água molhar meu pé. — Não faça isso!
Com um rosnado, Jameson me puxa pelo braço e agarra meus dois pulsos.
— Se você não vai pelo jeito fácil... — grunhe, roçando os lábios em minha orelha.
Ele me faz entrar cada vez mais. Meus pés afundam na água, as bainhas de minha calça molham. Continua me puxando, insistindo, a água começando a cobrir meus joelhos, e eu termino soltando a verdadeira bomba:
— Eu tenho estrias, está bem! — grito em alto e bom som e me sinto aliviada, mas logo vem o embaraço me varrendo dos pés à cabeça.
Jameson congela, atordoado ao me olhar, recuperando-se lentamente do susto. Uma pequena parte de mim se incomoda que o tenha surpreendido tanto. Mas é isso... Não sou perfeita. Tenho algumas estrias e o sentimento de vergonha apenas com a perspectiva de ficar nua na frente de um homem é inevitável. Mesmo que esse homem seja Jameson. Aliás, ainda mais esse homem sendo ele.
Exalo um suspiro com desânimo.
— Depois que dei luz à Jackie, tive uma diminuição abrupta de peso e ganhei algumas estrias na região dos quadris, entre outras coisas. — Lembro-me da cesariana que tive de fazer, mas prefiro não mencionar mais nada. — É isso. — Dou uma risadinha idiota para quebrar o silêncio constrangedor.
— Aqui? — Ele toca meus quadris.
Aceno com a cabeça, os olhos baixos. Não consigo nem mesmo manter seu olhar minucioso. Leva-me até a parte de terra, de mãos dadas, meu coração murchando em meu peito. Eu me sinto uma idiota por ter estragado o momento. Penso que está me guiando de volta para sua casa, para me mandar embora, mas me para.
Olho para cima e quase tenho um ataque cardíaco quando o vejo sorrindo, aquele meio sorriso deslumbrante com a cabeça ligeiramente inclinada.
— Você sabe, não ligo para isso. — Seus dedos estão se movimentando habilidosamente sobre o cós da minha calça. Abre o botão com gentileza, desce o zíper, parecendo se deleitar com o suave barulho que isso faz, e eu não posso fazer nada além de me deixar ser tragada por aqueles olhos hipnóticos.
— Jameson, não precisa mentir só para me deixar confortável. — Encontro minha voz. — Sei como os homens pensam, ok?
— Não, não sabe.
— Tenho uma vaga noção.
— Sua vaga noção está levando-a a cometer um grave equívoco.
— Muito bem, então nem todos os homens são iguais. Mas sei o que a maioria dos homens pensa sobre cicatrizes.
Ele sorri com aprovação e meu coração fica disparado.
— Agora melhorou. — Antes que eu possa reagir, ajoelha-se na minha frente para abaixar meus jeans.
Ele puxa o tecido para baixo até estar amontoado aos meus pés. Então olha. Oh, meu Deus. Quero me esconder, trancar-me em um armário, ocultar todas as minhas cicatrizes de Jameson Carver, que certamente deve ter dormido com inúmeras mulheres perfeitas e atraentes, muito mais jovens e exuberantes do que eu. O dia está escurecendo, mas não o suficiente para encobrir meus detalhes corporais de seus olhos de falcão.
Traça as ramificações em meus quadris brandamente, sem pressa, as pontas de seus dedos encostando ao acaso na minha calcinha de algodão. Mentalmente me repreendo. Por que não vesti algo mais sexy? Oh, sim... porque eu não esperava esse súbito ataque de insanidade do todo-poderoso e frio membro da família Carver! Gosto de sua mudança, mas não sei até onde isso pode nos levar.
Estremeço quando acaricia a cicatriz da cesariana, uma fina linha abaixo do meu umbigo e acima da borda da calcinha que parece um sorriso tímido, com os cantos ligeiramente encurvados para cima. Agora ele sabe.
Olho para baixo. Tudo o que vejo é um emaranhado de cabelos pretos, até ele elevar o olhar para encontrar o meu. Aparenta estar abalado quando comenta em um tom de voz baixo:
— Achei que quisesse um parto normal.
Não estranho mais ele saber coisas sobre mim, minha vida ou meus interesses. As cartas que os irmãos gêmeos trocaram devem ter sido muito explanadoras e íntimas. Íntimas o suficiente para narrarem o desejo de uma garota que estava projetando seu futuro para quando tivesse um filho. Eu contava essas coisas a Jerome quando o assunto surgia. Mal eu sabia que realmente teria um bebê meses mais tarde, do homem que amava.
— Tive complicações no parto. — Minha voz está embargada, a memória do dia em que tive Jackie guiando meus pensamentos. — Foi uma cesariana de emergência. Estava sozinha, muito nervosa, chorando, pensando no tipo de futuro que teria dali em diante. Eu não tinha nada, Jameson. Absolutamente nada. Mas quando Jackie nasceu... — Sorrio. — Quando ela nasceu, eu senti que ganhei tudo.
Sua testa encosta na minha barriga e suas mãos estão em meus quadris, segurando-me para ele... ou talvez se apoiando em mim, porque não parece estar bem.
— Jameson?
Não obtenho resposta.
— Jameson? — tento de novo.
— Eu queria te contar uma coisa. — Ele de repente ergue a cabeça para mim, ainda ajoelhado aos meus pés. Com os olhos atormentados e as faces torturadas, ele prossegue com um certo embargo em sua voz: — Eu queria dizer que se Jerome estivesse aqui... — Faz uma pausa, emocionado. — Se Jerome estivesse aqui, ele amaria muito vocês duas. Não importa a ocasião, não importam os detalhes ou as imperfeições, ele sempre amaria você, Ellie. Nunca duvide disso. — Então ele beija a cicatriz do parto, sem nojo algum. Seu gesto é bonito e provoca um estrago no meu emocional.
Minha garganta se fecha e minha visão fica turva de lágrimas. Respiro e então sorrio.
— Eu sei — murmuro, minha voz estrangulada. — Eu o amei muito. Se ele estivesse aqui, eu o amaria ainda mais. — Ele me escuta com as sobrancelhas baixas. — Se eu tivesse a cabeça que tenho hoje, teria pensado duas vezes antes de me casar com ele. Éramos jovens demais, todo aquele hormônio e excitação explodindo na nossa corrente sanguínea... e mal nos conhecíamos. Ficamos tão empolgados um com o outro que ignoramos todo o resto para viver em nossa terra de sonhos. Mais tarde as consequências de todas as nossas imprudências nos atingiram quando a magia acabou e a realidade apareceu como se do nada. Foi como um tapa violento em nosso rosto. — Estremeço com minhas próprias palavras. — E então, passamos com muita facilidade a não saber mais como lidar um com o outro. Éramos imaturos em tantos aspectos naquela época... Ele nunca levantou uma mão para me bater e nem eu com relação a ele, mas quem disse que para um relacionamento ser abusivo e controlador precisa haver violência física? Você estava certo. Fomos dois culpados, partiu de ambos os lados. Eu o amei, não tenho dúvidas. De uma forma imatura e doentia, mas eu o amei. Amei meu Jerome...
As lágrimas estão caindo agora pelo meu rosto e não posso contê-las. Jameson finalmente se ergue e fica frente a frente comigo. Levanta a mão e começa a secar minhas lágrimas com ternura. Suas mãos tiram o que resta das minhas roupas e me deixam só de calcinha e sutiã, por fim exposta, e uma delas mergulha para baixo puxando a minha mão para sua boca, docemente beijando meus dedos.
Em seguida, carrega-me em seus braços como uma pluma, em direção às águas calmas do lago...
Estremeço quando as ondas frias começam a bater-me, mas meu corpo não tarda a se acostumar com a temperatura. Já está um pouco tarde e, além da lua, a única iluminação que nos alcança fracamente é a da casa entre as árvores.
Ainda em seus braços, sou levada até a parte funda do lago, onde Jameson me coloca para flutuar serenamente. A sensação é gostosa, estamos cercados pela tranquilidade da noite. O brilho da lua ajuda a tornar o clima ainda mais íntimo e místico.
Rio em voz alta do prazer que sinto quando ele me gira no lago, meus cabelos e corpo sendo massageados pelos movimentos da água. Abro os olhos. Na penumbra, posso ver que ele está me encarando de cima, com seus fugazes olhos pretos sobre mim.
— Sinto-me meio bêbada — comento, mexendo as pernas debaixo da água. — Acho que ter tomado aquele vinho foi uma péssima ideia.
— Não vejo como possa ser. — Seu timbre adquiriu uma profundidade rouca.
— Foi o meu primeiro gole em seis anos que não bebo e já estou me sentindo um pouco tonta. Álcool nunca realmente foi o pior dos meus problemas, mas já fez parte de um passado negro da minha vida. — Faço uma careta. — Não gostaria de regredir a este ponto de novo.
Álcool não era o maior dos meus problemas, mas eu recorria a ele quando não tinha as drogas que queria. Na época, qualquer coisa para manter a mente anestesiada estava valendo.
— Foi só um pouco. Não deveria se punir desse jeito. — Seu tom está começando a me assustar. — Fique sossegada, não deixarei que nada aconteça com você.
Isso é perigoso. Não sabia que o irmão de Jerome era incrivelmente sedutor. E tampouco sabia que eu sou seduzível por ele. Não posso evitar. Seus braços de repente me apertam mais debaixo da água, trazem-me para ele, para perto de seu corpo. Eu sigo boiando até ele, calmamente, serenamente, com minha respiração afetada. Sinto-me como uma presa prestes a ser abatida pelo caçador, seus olhos se perdendo no meu corpo seminu parcialmente coberto pela água.
Numa atitude intempestiva, resolvo saltar de seus braços e faço um grande estardalhaço com isso. Uma vez livre, já estou nadando para a beira do lago enquanto estou dizendo:
— Olhe só a hora! Tenho que ir embora. Jackie provavelmente está dormindo, mas mamãe deve estar preocupada, perguntando-se sobre mim.
Jameson consegue me agarrar pelo tornozelo antes que eu fuja. Olho para trás, espantada, quando o assisto nadar com destreza e agilidade até mim, as leves ondas originadas de seus movimentos batendo quentes contra meu corpo. Parece até um tubarão no lago, essa noite. Um tubarão de 1,90 metros de altura, devorador de mulheres.
E sou uma péssima nadadora. Não conseguiria fugir dele antes que tire um pedaço meu.
— Preciso dar algo a você antes que vá — declara, impassível. Apenas Jameson poderia soar calmo, frio e ameaçador ao mesmo tempo.
Antes que eu possa abrir a boca para perguntar o que é, ele está me pegando loucamente, puxando-me com rapidez e selvageria para seus braços, como se estivesse com uma saudade louca sufocada dentro de si. Arquejo, assustada, a água está ondulando ao nosso redor, tão intranquila quanto ele, até que esmaga a boca na minha com urgência, seus lábios fazendo movimentos sensuais que me levam ao delírio erótico. É forte e arrebatador, sua língua encontrando a minha em uma necessidade incontestável. Um beijo que me deixa surpresa com tanta vontade, atônita com a devoção e bestializada com o desejo que não pensei que Jameson sentisse por mim.
— As coisas estão um pouco difíceis aqui embaixo, Ellie — murmura e suavemente morde o lóbulo de minha orelha, puxa-o. Isso é feito com tanta sexualidade. Gemo, apertando as coxas com a necessidade queimando, e sou beijada na boca de novo. De novo. Até estar sem fôlego e pedir para que ele pare, porque as coisas não estão fáceis para nenhum de nós dois. Estou lutando para resistir, mas estou atraída. — Jantar. Amanhã. — Sua respiração está entrecortada. — Na minha casa. Quero ver você de novo.
Não sou ingênua para saber o que pode acontecer em um jantar, entre dois adultos solteiros.
— Não posso — arquejo após ter o sutiã arrancado de mim.
— Sim, você pode. — Sua boca está em meu seio, espalhando beijos por ele.
— Não... podemos — refaço minha frase e me contorço, gemendo quando a boca de Jameson suga um dos mamilos endurecidos. — Oh, Deus.
Ouço rosnados em meu ouvido.
— Às vezes você pensa demais. Está marcado, então.
Sou liberada abruptamente e então mais uma vez estou sozinha, piscando como uma tola, com o sutiã perdido no lago. Os olhos do tubarão brilham no meio da noite e cubro os seios com os braços, desconcertada com a rapidez que as coisas aconteceram. Ele parece desesperado. Quase frustrado. Por quê?
— Mas eu não disse sim! — exclamo, irritada.
Ele se aproxima, seu corpo emergindo da água, e eu entro em pânico, pois agora posso ver uma grande ereção lutando contra sua cueca. Meus grandes olhos saltam para os de Jameson.
— Ellie Banks, se você não for embora agora vou ter que arrancar essa calcinha de você. É isso o que quer? Porque eu quero, porra. Neste exato momento.
Jameson é quem costuma ser o prudente. Assustada com a intensidade de seu desejo de querer ceder a isso, corro para a margem do lago. Porque eu também quero desistir. Estamos os dois desequilibrados e não há ninguém para nos tirar do caminho da tentação.
Uso os últimos vestígios de racionalidade em mim para me vestir com pressa, pulando de um pé só quando me enfio nas calças sem ousar olhá-lo. Ele se veste ao meu lado. Esqueceu de tirar a camisa quando mergulhou, de modo que só precisa vestir a calça.
Jameson não me deixa dirigir por causa do álcool em meu sangue, por isso consegue um táxi para mim. Uma vez em casa, solto uma longa respiração perturbada. As coisas estão saindo dos trilhos, definitivamente. Convenço-me de que a morte de Jerome está nos assombrando e agora nós dois estamos sendo afetados por todo o sentimento que temos pela pessoa que amamos, querendo escoá-lo em alguém, transferi-lo a qualquer custo.
Dou um beijo de boa noite em Jackie, tomando cuidado para não despertá-la de seu sono. Sorrio enquanto a olho. Parece um anjinho dormindo.
Em seguida, caio na minha cama, derrubada emocionalmente.
Jantar na casa dele, amanhã...
Aperto os olhos.
Ah, caramba.
Preciso dizer o quanto isto me parece docemente tentador?
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