Capítulo 17

Olha eu aqui de novooooo... Deu a louca em mim e hoje postarei três capítulos. Espero que gostem e me perdoem pela demora. Toda quinta-feira tenho aula das 8 manhã às 8 da noite e chego morta demais...

Espero que gostem dos capítulos =3

Um beijo

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Há dias que não ouço falar de Jameson Carver. A preocupação é uma constante transparecida em meu comportamento sempre que penso nele e nas coisas que me disse no carro. Só que não posso deixá-lo me fazer sentir culpada por querer seguir adiante.

O fim de semana aterrissa com tudo e me obriga a levantar da cama para tirar um dia no spa que Tracy agendou para mim. Eu vou sem muitas expectativas, mas qual não é a minha surpresa em ter uma manhã deliciosa no spa luxuoso. Recebo tratamento completo: manicure, pedicure, massagem corporal, cuidados faciais, corte dos cabelos em um penteado moderno e sensual que valoriza os traços delicados do meu rosto. Quando me ofereceram, optei por não querer fazer nada com a cor dos cabelos. Já gosto deles assim, naturalmente acobreados.

Adoro todos os profissionais ao meu redor, e como gosto de estar na presença de pessoas, converso animadamente com todos.

Por último, sou levada à sala de depilação, onde conheço uma mulher baixa e negra chamada Denise. Ela é bem-humorada, tem um certo ar jovial, e ficamos conversando até ela descobrir que é a minha primeira vez.

- Você vai adorar o resultado, querida. - Ela está sorrindo enquanto prepara os equipamentos e produtos que usará. Deitada na maca apenas com um roupão cobrindo meu corpo, ouço-a dizer: - Depilação pode ser dolorosa. Bem dolorosa. Especialmente se for sua primeira vez, mas serei gentil com você. Deixou todos eles crescerem?

- Sim, eu...

De súbito Denise abre meu roupão e me pega desprevenida quando me faz abrir as pernas. Ah, meu Deus. É tão esquisito ter uma mulher olhando fixamente para meu lugar secreto que já não é mais tão secreto assim. Penso que isso deve ser normal no mundo dela e de qualquer outra profissional que lide com depilação íntima.

- O tamanho está perfeito. Não precisarei apará-los. - Juro que quase posso sentir meus pelos balançarem com a respiração dela bem perto daquela área. - Vamos começar.

Um frio se alastra por minha barriga, mas repito a mim mesma que não devo ficar nervosa, porque Denise está sendo simpática.

- Certo - murmuro. Não entendo nada do que ela faz, mas confio.

- Abra mais as pernas, querida - Denise pede enquanto está mexendo nas coisas de uma mesinha ao lado, até estar de volta para mim com uma espátula melada com um líquido viscoso cor de âmbar. - Não seja tímida. Pode abrir mais.

Estou consternada.

- Mais que isso?

Ela ri.

- Mais.

Dizendo a mim mesma que não sou nenhuma virgem recatada, jogo as pernas para cada lado com os joelhos dobrados e deixo bem aberto. Respiro fundo. Que situação embaraçosa.

Sensível, contraio o corpo quando Denise passa a primeira camada de cera em mim. Ela me olha em dúvida. Devo estar parecendo aterrorizada, como se eu soubesse que o inferno está para chegar.

- Você está bem?

- Sinto o gosto quente da cera - murmuro com uma vozinha aguda que não imaginei que pudesse vir de mim.

Fica gostoso depois de um tempo, agradável. Como um cobertor quente numa noite de inverno. Até ela puxar com vontade. Um movimento rápido e fatal, daqueles que pegam você despreparado para a dor que chega tomando conta de tudo. Achei que toda minha pele havia ido embora com a cera, até olhar para baixo e encontrar minha preciosa ali, meio careca e pouco a pouco assumindo uma tonalidade vermelha.

Passado o susto, despejo uma torrente resfolegante de obscenidades na sala. Denise escuta tudo sem se abalar. Também deve estar acostumada a isso. Outra puxada e eu estou procurando minha bolsa com os olhos, desesperada, cogitando a possibilidade de chamar a polícia e mandar prender essa louca torturadora. Hospital. Preciso de um hospital.

Ela puxa de novo.

E de novo.

Lágrimas estão descendo por meu rosto sem que eu possa controlar. Eu grito, xingo, faço tudo o que está ao meu alcance para fazer Denise se compadecer de minha situação. Ela para quando peço e me dá um copo com água para beber, acalmando-me, então depois está de volta, arrancando a alma de meu corpo a cada puxada que meus inocentes pelos vão com a cera.

Penso em Tracy e em como ela recomendou a depilação íntima brasileira. Só podia ser sacanagem, para me fazer sofrer. Como se não bastasse minha dor eterna, outra depiladora invade nossa sala particular pedindo algo a Denise. Ela me flagra com as pernas arreganhadas e dá uma conferida na minha preciosa ao olhar de perto.

- Está ficando linda essa depilação, querida - ela comenta, sorrindo e admirando a obra de arte da colega.

Eu gemo, o que restou da vergonha subindo pelo meu rosto. Nenhuma mulher em sã consciência deveria querer passar por isso. Uma humilhação existencial. Quero matar todo mundo ali, atear fogo naquela sala de tortura, protestar contra aquele procedimento estético arcaico que chamam de depilação, deixar-me ficar peluda para sempre. Cerro os olhos e rezo para que isto seja um pesadelo. Isso é pior do que um parto, muito pior do que quando dei luz à Jackie.

Por favor, faça com que isso acabe, oro.

A penetra vai embora e, junto com ela, um alívio faz meu corpo relaxar. Minha preciosa também está mais calma, pois não está mais sendo encarada. Isto é, até Denise lembrar que ainda tem um cadáver em sua sala. Porque se essa sessão de dor não terminar logo, é isso o que serei: um cadáver.

Morte por tortura depilatória.

O cadáver mais bonito com a boceta depilada na história das mortes inusitadas.

A fodida da maca.

Sou maltratada nos próximos minutos. Minutos de choque extremo. Contorço-me em agonia sobre a maca, mas não estou mais chorando ou gritando. Oh, não. A dor entrou debaixo da pele e não saiu mais. Estou com sede de vingança, prometendo a mim mesma que aquela será a primeira e última vez que me submeterei a este processo desumano só para tirar alguns pentelhos daquele lugar.

E para quê? Para eles crescerem em poucos dias. Grande negócio!

Ao final, Denise deve ter me notado roxa, pois pergunta:

- Quer que eu faça outra pausa?

- Não, termine essa merda de uma vez por todas. - Não me preocupo mais com palavrões a essa altura do campeonato.

O processo ortodoxo continua. Prendo a respiração. A cada puxada tenho vontade de fazer xixi na cara de Denise, como se pudesse cegá-la temporariamente para fugir dali. Dói muito e quase esqueço de respirar quando termina. Então agradeço. Agradeço a tudo o que há de bom no mundo, com os olhos marejados, emocionada com a minha dor física e mental.

Eu te mato, Tracy.

Volto à Terra para me preparar para assinar alguns papéis na recepção. Estremeço quando visto a calcinha. Está doendo tanto que penso seriamente em sair pelada, exibindo minha preciosa depilada pelo spa. Quase faço isso.

Tento relaxar, sorrir, ser a Ellie educada quando a recepcionista me pergunta se está tudo bem comigo, mas mentalmente estou mostrando o dedo a ela. Como ela pode me perguntar se está tudo bem? Meu rosto vermelho e minha expressão de terror e agonia não deram dicas suficientes a ela?

Coloco os óculos escuros e aceno para Denise quando ela me dá tchau, animada. Então agradeço pela paciência que ela teve comigo. Por outro lado, tenho vontade de esfregar meus pentelhos tirados na cera quente na cara da recepcionista que se despede de mim com um sorridente: Volte sempre! Francamente, ninguém vê que estou sofrendo? O que aconteceu com a compaixão da humanidade?

Saio pela porta principal andando encurvada como uma gárgula. E lá se foi o ótimo dia que eu estava tendo. E pensar que fiz tudo isso por causa do maldito evento beneficente. Por favor, faça isso valer a pena.

Checo o visor do celular. Tenho uma mensagem de Tracy.

Tracy: Como foi a experiência? Estou louca para saber!

Digito uma mensagem em resposta.

Eu: Pessoalmente contarei a você sobre isso.

Guardo o celular e começo a caminhar pela calçada com uma mão na barriga e outra no osso da bacia, discretamente tocando perto da virilha enquanto estou mancando em direção ao carro, sem me importar que as pessoas estejam olhando de forma estranha para mim.

Puta que pariu.

Que dor infernal.

A♥

Tracy me liga dizendo que me pegará mais tarde para me conduzir ao hotel, onde será sediado o evento. Tenho que reconhecer o esforço dela de estar fazendo tudo por mim, de modo que nem estou mais aborrecida com o que aconteceu. Não tanto.

Despeço-me de Jackie e de mamãe antes de ir embora. Sorrio, satisfeita, ao ouvir exclamações de puro deslumbramento assim que elas me veem.

Pronta, estou aguardando em frente de casa usando um vestido longo de festa azul royal, com duas alças finas de ombro. Ele é solto e leve da cintura para baixo, confortável, com uma camada de chiffon. Em meus lábios, passei uma camada generosa de batom rosa, apenas para ressaltar a cor natural da boca. Rímel, delineador, lápis e blush complementam meu visual juntamente com o elegante penteado retrô que deixa meus cabelos soltos, partidos para o lado em sedosas cascatas onduladas.

Assisto com o cenho franzido uma limusine preta encostar junto ao meio-fio de casa, e então um corpo com um vestido laranja está emergindo da abertura quadrada de cima. É Tracy. Meu queixo escancara. Não posso acreditar que ela alugou uma limusine para nós. O que será de mim essa noite? O que acontecerá com Ellie Banks?

Tracy acena para mim.

- Vamos, Ellie! Ou vamos chegar atrasadas!

- Essa limusine... você a alugou para nós?

Ela ri.

- Para quem mais?

- Nunca andei de limusine - conto, um pouco tímida. - O que planejou para esta noite, sua mercenária?

Tracy gargalha e abana a mão para mim.

- Venha e verá! - Tenho medo só de ouvir esse tom. - Seja mais arrojada. Está mais do que na hora de assumir alguns riscos. - Oh, eu já assumo muitos. Minha vida é um verdadeiro perigo. - Entre logo! Limusine para as garotas, certo? Essa é a nossa noite, Ellie! E a noite é uma criança... você sabe. - Pisca sugestivamente para mim.

Dou um passo. Hesito. Estou com um pressentimento de que esta noite não será como as outras insossas da minha vida. Será diferente, sinto que algo mudará. Muito. É tão assustador. A primeira vez que ouso sair da minha zona de conforto... Riscos a correr. Minha nossa, é melhor não pensar mais ou acabarei desistindo.

Abro um sorriso e deixo a Ellie festeira e descontraída assumir a posição daqui em diante. Essa é a noite das garotas e nada pode nos impedir de nos divertirmos um pouco.

- Limusine para as garotas, então! - concordo com Tracy, às risadas, quando entro no carro preto.

Conto-lhe no meio do caminho que depilação íntima não está para Ellie, assim como maternidade não está para Tracy. Ela entende e me pede desculpas pela dor que ainda estou sentindo. "Assando embaixo" é o termo correto.

Somos conduzidas até a frente do hotel, onde abrem a porta para sairmos do carro. É tudo tão chique e luxuoso que agradeço a mim mesma por ter caprichado na roupa e maquiagem. Tracy está deslumbrante ao meu lado. Estamos sorridentes quando passamos pela entrada de braços dados e dizemos nossos nomes para que possamos entrar.

Uma vez dentro do salão lotado de pessoas bem vestidas, uma energia espetacular me invade e me deixa muito excitada, em expectativa por uma noite cujo final é desconhecido para mim. A Ellie de anos atrás jamais imaginaria, nem mesmo em seus doces sonhos, que participaria de um evento tão glamouroso como este como convidada.

Trata-se de um evento beneficente para arrecadar fundos para pesquisas sobre desenvolvimento de tecnologias para cegos, surdos e mudos, então não consigo evitar certa simpatia pelos presentes. Tracy se separa de mim para cumprimentar alguns conhecidos.

Caminho sobre meus saltos altos com segurança, confortada em saber que a parte de trás do meu vestido cobre a minha longa e horrenda cicatriz gravada nas costas. Uma reta ligeiramente inclinada que vai da parte inferior da minha escápula esquerda até as proximidades do quadril direito.

Toda a minha autoconfiança rui quando avisto ninguém menos que Jameson Sacana Carver vestido com um smoking, entre o nó de convidados.

Paraliso, em choque. Penso em uma fuga rápida e efetiva, mas seus olhos aquilinos rapidamente me encontram no meio do salão.

Merda.

Não é como se eu estivesse fazendo algo errado. Acalme-se. Respiro fundo. Cada respiração é um processo vagaroso. De longe, observo os olhos negros chamejarem em surpresa por me verem ali. Depois, ao me analisarem de cima a baixo, transformam-se nas nuvens escuras de uma tempestade. Então ele cai em si e tudo o que vi muda para uma incrível suspeição sobre meu verdadeiro motivo de estar neste lugar.

Jameson semicerra os olhos e começa a caminhar em direção a mim.

É meu fim. Sinto isso.

Olho para os lados, em busca da saída mais próxima.

- Srta. Banks.

Droga.

Abro um sorriso falso.

- Sr. Carver. - Faço um esforço extra para não gaguejar, pois não tem como não notar que ele está muito atraente de smoking. - É uma grande surpresa vê-lo por aqui.

Ele nem pestaneja. Sua autoconfiança é invejável.

- Apesar de tudo, sou um Carver e faço minhas contribuições periodicamente.

Alguém andou deixando a mamãe orgulhosa.

- Já faz um tempo desde que nos falamos pela última vez. Imagino que o seu silêncio signifique que encontrou o que procurava?

Ele me olha com um estranho brilho nos olhos.

- Ainda não. Estou procurando pela pessoa certa. A última provocou um desastre de proporções astronômicas que me deixou receoso. Não tenho mais idade para ser aventureiro. Não sei se quero voltar a correr riscos com ela.

Sua resposta é como uma flechada no meu ego. Ele acabou de insultar minhas habilidades profissionais? Mas não é isso o que realmente me irrita, e sim o fato de ele estar pensando em contatar outro profissional para ajudá-lo.

Ele aceita uma taça de champanhe do garçom e eu recuso quando me oferece.

- Às vezes tudo o que precisamos é de um pouco de aventura, Sr. Carver. Pode ser saudável, até mesmo empolgante. Quem sabe devesse não ignorar esse chamado em sua vida?

- Foi o que você fez? - Jameson toma um gole de champanhe sem tirar os olhos de mim. - Está aqui por um pouco de empolgação, já que se cansa facilmente da vida fiel - conclui maldosamente. - Prefere divertir-se, não é? Quer ser apreciada, desejada, gozar a vida. Não aguenta sentimentos verdadeiros e duradouros. Ah, se Jerome soubesse disso...

- Isto tudo é uma grande mentira - apresso-me em minha defesa, bastante afetada que ele esteja invocando o nome de Jerome de novo. - Pare de colocar palavras em minha boca. Sempre fui fiel ao meu marido. Não houve um momento em que deixei de amá-lo.

Minhas mãos estão tremendo, suando. Estou nervosa como uma garotinha. Basta apenas um minuto ao lado de Jameson para me deixar nesse estado.

Ele movimenta a cabeça, uma ação calculada para me olhar com atenção afiada.

- Até onde posso dizer que está sendo verdadeira, Srta. Banks? Porque, afinal, foi você que disse que está aberta a novas possibilidades de uma vida amorosa. - Ele sorri cruelmente. - Você é capaz de deixar qualquer homem louco. Deixaria Jerome assim, se ele soubesse o que está pretendendo.

O modo como ele fala me deixa aflita, como se Jerome ainda estivesse vivo e ele fosse contar a seu irmão a qualquer momento sobre minhas decisões que, a seu ver, são infiéis e desonestas. Reúno forças suficientes para espantar esses pensamentos insanos da minha cabeça. Jerome está morto. Morto!

Estou tão tensa, o corpo gelado, que tenho um sobressalto quando escuto a voz traiçoeira e arrastada de Macy atrás de mim:

- Fisgou o bilionário, não é, sua vadia?

Refreio a vontade de revirar os olhos.

- Macy, você está bêbada.

Jameson a fita com reconhecimento em seu olhar.

O quê!

Eles se conheceram? Quando? A princípio não parece muito interessado no que ela tem a dizer. Mascara um suspiro e olha para o outro lado, entediado, enquanto bebe mais do champanhe em sua taça. Isso é estranho. Macy é uma mulher com beleza suficiente para chamar a atenção de qualquer homem. Aparentemente o frio e calculista Jameson é imune a qualquer tipo de charme, até mesmo ao meu.

Escondo a decepção atrás de meus olhos. Franzo a testa para o nada. Eu não deveria me chatear com coisas assim relacionadas a ele.

- Bêbada o suficiente para me lembrar de você enfiando a língua na garganta de Charles - Macy ataca com palavras ferinas.

Ah, não. Isso de novo não.

Jameson de repente resolve dar atenção à Macy. Medo corre pela minha barriga até chegar à garganta em um nó estrangulado. O que ele deve estar pensando de mim? Sacudo a cabeça. E o que isso importa? Se antes ele achava que eu era infiel, agora terá certeza de suas conclusões com Macy alimentando tais rumores.

- Charles? - ele repete.

Enrijeço. Não viro a cabeça para olhar para Macy, mas dou um passo para o lado para escapar dos dois que insistem em estragar minha noite. Macy, então, segura meu braço com garras de aço, forçando-me a olhar outra vez para Jameson.

- Olhe para ela. - Ela está sorrindo perversamente. Tenho dois olhos escurecidos sobre mim, encobertos por uma acusação silenciosa sem tamanho. - Tão bonita e tentadora... A possessividade poderia aborrecer uma mulher como esta, incomodá-la demais. É por isso que prefere diversões ao acaso. E isso inclui transar com o primeiro homem que aparece em sua frente.

- Não transei com ele - digo para Macy. A única que coisa fiz para Charles foi conseguir um táxi para ele, porque o homem estava bêbado demais para conseguir dirigir seu carro. Macy deve ter visto nós dois saindo juntos e concluiu logo o pior.

Ela ri escandalosamente, de forma que a atenção de alguns convidados recai sobre nós.

- Certo, e eu não estou bêbada - satiriza e olha para Jameson, satisfeita com o que vê. Ele está uma fera comigo. - Oops! Falei demais? Deixarei vocês dois a sós. Devem ter muito o que conversar...

Com uma risada de escárnio, ela nos deixa sozinhos.

- Que tal agora? - ele pergunta. Seu tom é suave, mas está mascarando sua raiva. - Tenho motivos suficientes para acusá-la?

- Não - respondo, segura.

Dou a volta e penso em procurar Tracy para irmos embora, quando Jameson agarra meu cotovelo e me força a fazer uma parada abrupta do lado de fora do hotel.

- Jameson, por favor. Eu nem ao menos gostei do beijo dele - digo com urgência, mal me dando conta da estranheza de ter que dar satisfações a Jameson sobre minha vida. Como... como se ele fosse algo meu, quando na realidade não é.

- Ah, vocês já se beijaram? - pergunta, irônico. Seu sorriso é um insulto e insinua claramente que sou uma mentirosa. - Que grande surpresa. Pensei que tivesse ouvido Macy errado e a sua língua não tivesse sido enfiada na garganta de Charles.

- Essa é uma maneira muito pejorativa de descrever um beijo.

- Do que importa! A questão é que está procurando por encrenca pelo modo leviano como está conduzindo sua vida. Vocês transaram?

- Não! - nego veementemente. Mas estou me condenando apenas pelo beijo dado em outro homem que não seja Jerome. - Não fizemos nada. Ele me beijou contra minha vontade. E o modo como conduzo minha vida não diz respeito a você, Sr. Carver - cuspo a formalidade na cara dele.

Oh, não. Isso não está certo. A feracidade em seu olhar... eu a reconheço de muito tempo, nos olhos de outra pessoa. Nos olhos de Jerome. O que vejo definitivamente não é gelo, e sim fogo. A mesma paixão, o ciúme, o desejo irrefreável. Jameson está agindo como se fosse seu irmão. Tudo isso pode ser fruto de um desejo inconsciente de ressuscitar Jerome e talvez viver por ele. Não é até mesmo loucura pensar em uma hipótese como essa?

Sinto minha cabeça rodar, perturbada, quando ouço:

- Você parece ter superado muito bem a morte dele.

Essas palavras... essa voz... Será que estou desequilibrada? Embora não tivesse guiado no dia do acidente, Jameson Carver poderia se sentir culpado pelo que acontecera. Além de irmãos, eles tinham sido grandes amigos durante anos. Gêmeos... ligados por esse laço forte e desconhecido.

Ele solta meu cotovelo lentamente, mantendo meu olhar insistente. Estou ficando maluca? O que estaria acontecendo comigo? Seu toque originou o fogo que está correndo por minhas veias, as familiares chamas se acendendo e me deixando subjugada pelo violento desejo que só senti por um único homem em toda a minha vida. Mas agora... estou sentindo isso por Jameson? Por Jerome? Estou confundindo os dois?

Minha respiração vai ficando lenta à medida que tento me acalmar. Eu sinto desejo por Jameson? Sim, ele é um homem atraente. É difícil admitir, mas sim. No entanto, será que eu também inconscientemente quero que ele seja como Jerome? Se comporte como ele? Me beije como ele? Me toque como ele? Ele saberia fazer isso? Será que Jerome chegara até a contar como fazíamos amor e o que me deixava excitada?

Ele dá um passo para frente, preocupado, quando vacilo sobre os saltos. Toma meus braços firmemente, segura-me para ele. Fecho os olhos e inalo profundamente. Ele tem um cheiro tão bom. Limpo e fresco, tão Jameson... Jerome... Jameson. Abro os olhos, aturdida. Ele gentilmente acaricia minha bochecha com as costas de seus dedos. Uma eletricidade sensacional se espalha em minha pele e se perde em minha nuca. Um de nós dois tem de estar desequilibrado. Está tudo acontecendo em minha mente ou... na dele?

- Ellie! - Tracy felizmente me resgata na hora certa.

Eu me desvencilho dos braços de Jameson e sigo até Tracy aos tropeços.

- Esse homem de novo? - Ela franze o cenho com reprovação para Jameson, que está exatamente onde o deixei. - Jameson pode ser o irmão de Jerome, mas não me pareceu que ele gosta de você.

- E não gosta - afirmo, duvidosa.

Faço uma careta quando sinto algo pinicar dolorosamente na região de baixo.

- O que você tem? Está bem?

- É a depilação. Ainda está ardendo.

Tracy contrai as sobrancelhas para mim.

- Desculpe, querida. Tem algo que eu possa fazer por você?

Suspiro.

- Infelizmente, nada.

- Então podemos continuar seguindo com nossa noite adiante? Tem um clube para o qual gostaria de levá-la. Vai se divertir muito e encontrar um homem solteiro, rico e sexy - ela me cutuca com o cotovelo. Depois puxa o celular da pequena bolsa de festa. - Vou chamar nossa limusine.

Assinto, aliviada que vamos embora. Tracy fala rapidamente ao telefone. Sinto um movimento ao meu lado e olho. Qualquer resquício de um sorriso some de meu rosto. Quero fugir daquele homem como o diabo foge da cruz.

- Merda - sussurro. Sei que foi alto o suficiente para Tracy me escutar e seguir meu olhar. - Rápido, aí vem ele. Finja que estamos nos divertindo muito.

Tracy e eu atiramos nossas cabeças para trás e começamos a gargalhar.

- Posso falar com você? - Lança um olhar glacial para minha amiga, depois de volta para mim. - A sós?

Tracy ergue os braços.

- Sei quando não sou bem-vinda. Estarei por perto, Ellie - avisa com um tom firme, quase protetor.

Sacudo a cabeça em afirmativa.

- Sim, Sr. Carver? - pergunto em tom formal. Intimidade é a última coisa que quero com ele.

Jameson parece ficar ligeiramente exaltado, quase magoado que eu tenha assumido uma postura tão formal.

- Pode me chamar de Jameson.

Estou ficando maluca ou esse homem acabou de desdizer o que me disse? Pela segunda vez! Em uma hora me pede para chamá-lo de Sr. Carver, em outra, me pede para chamá-lo de Jameson. Não tenho todas as certezas do mundo, mas de uma sim: Jameson Carver sofre de sérios problemas mentais!

- O senhor... - Aponto o dedo para ele. - O senhor precisa de urgentes cuidados psiquiátricos. Já entendi o seu jogo. Sei o que está tentando fazer. Está tentando me deixar louca! Mas eu? - Dou uma risada lunática e faço que não com o indicador. - Eu não perderei meu bom senso por causa de um homem confuso, prepotente e doido que diz uma coisa em um momento e a desdiz em outro. Não mesmo!

Sim, é isso. Não sou a desequilibrada da situação, Jameson é. E está querendo me levar junto com sua loucura! Falando como Jerome, comportando-se como ele, esboçando seu ciúme... Toco meu queixo ao me lembrar de que Jameson já acariciou minha covinha igual Jerome fazia. Não! Enterre isso, Ellie! Que droga!

Pressiono as têmporas com os dedos, gemendo em agonia.

- Por que está fazendo isto comigo? - Jameson permanece mudo, pensando. - É alguma espécie de tortura mental? Pois bem, não vai conseguir o que quer, porque não vou deixar que consiga! Pare de agir como ele! - ordeno, meu tom mais alto do que gostaria.

Jameson pisca, confuso. Se antes ele parecia certo sobre o que queria falar comigo, agora está mais perdido do que nunca.

- Agir como quem?

- Como Jerome! Você não é ele. Está pensando que vai me enlouquecer, não é? - Minha garganta se fecha, estou a ponto de soluçar, chorar. Cerros os punhos em busca de controle emocional. - Acha que não estou percebendo suas intenções? Acusando-me de ser leviana e sem moral, de traição, fazendo-me ameaças de contar a ele o que tenho feito... Seu crápula. Como pode brincar com a memória de seu irmão? Acha que eu não o amei? Eu o amei! Muito.

Impedindo-me de me relacionar com outro... É como se depois da despedida no cemitério, ao saber de minhas intenções sobre ir em frente, essa força desconhecida tivesse sido despertada para me assombrar e jamais me deixar em paz até que eu seja de Jerome de novo. É uma loucura pensar assim, mas, a maneira exata como Jameson me envolve me faz crer que Jerome está tentando me alcançar, além do túmulo, para possuir-me através de seu irmão.

- Ellie.

Olho para ele, bebendo-o por inteiro. Idêntico. Pecaminosamente igual. Se eu não soubesse a verdade, poderia jurar que estou vendo Jerome na minha frente. Vivo. Mas é além de impossível, pois eu o vi no volante. Ele morreu preso entre as ferragens do carro, com a explosão. Meu amor morreu e agora este homem quer me impedir de ter uma vida romântica normal.

- Você não pode se envolver com outros homens. Eu te proíbo - sentencia em um tom duro e gélido. - Não está pensando com a cabeça.

Tenho que rir em voz alta. Quem ele pensa que é?

- Sou solteira! - exclamo, muito irritada. - Solteira, solteira, solteira.

- Não é. Caso tenha esquecido, você é casada, tem um marido que se chama Jerome Carver e uma filha dele.

Ergo as mãos para o alto.

- Ele morreu, está bem! E não coloque Jackie no meio disto tudo. Fui casada, sim, com Jerome, que morreu seis anos atrás em um acidente automobilístico. Está debaixo desta terra, habitando a mansão dos mortos, e agora estou solteira.

- Casada.

- Viúva! - dou ênfase, quase sem fôlego. - Pode tentar me confundir o quanto quiser, mas não vai conseguir. Não deixarei que consiga. - Dou um passo em direção à Tracy, que está do outro lado conversando com um homem bonito de smoking. Jameson toma meu cotovelo e me imobiliza com facilidade, porém. - Me solte!

- Como ousa? - Sou sacudida pelos ombros com tanta força que fico zonza por algum tempo. - Não se envergonha de suas atitudes promíscuas?

Abro a boca, sentindo-me ofendida.

- Me envergonhar do quê? De me abrir para novos relacionamentos? Isso é totalmente saudável e se chama "ir adiante", caso nunca tenha ouvido - digo com sarcasmo para provocá-lo.

Jameson está tão endiabrado que finalmente abandona toda a polidez e frieza para expor sem filtro moral algum o que está pensando sobre mim.

- Desaforada - murmura com um brilho atípico no olhar.

Essa voz de novo, esses olhos... Sinto um ribombar em meu coração, que começa a bater com loucura em meu peito. Está a mil, acelerado, deixando-me mais confusa do que já estou.

- Você não vai estragar minha noite! - Debato-me com furor em seus braços. - Não mesmo! Precisa me soltar agora ou vou gritar.

Ao contrário do que esperava, minha ameaça apenas lhe dá uma razão a mais para me manter cativa por mais tempo.

- Não posso deixar que faça isso, Ellie. Meu irmão, ele... ficaria muito desapontado com você se soubesse o que está querendo fazer.

Já sou assombrada o suficiente pelo fantasma de seu irmão. Em meus sonhos.

Olho para Jameson e depois para Tracy, ao longe, que parece estar se divertindo tanto com aquele homem, como uma mulher normal, sem necessariamente haver grandes pretensões envolvidas.

- Eu não saio para me divertir com alguém há seis anos. - Estou choramingando copiosamente, uma triste demonstração primitiva de minha necessidade humana. - Além do mais, não beijo ninguém em um longo tempo e sinto falta disso, daquela sensação tão boa e gostosa de quando você toca os lábios de outra pessoa e então tudo explode em pura magia... - Volto a olhar para Jameson, cuja respiração está tão profunda neste momento que eu não poderia deixar de notar. - Você não conta. Beijos por engano não contam - esclareço com um fio de voz ao lembrar o beijo quente que demos no hotel.

O assunto trazido à tona me conscientiza de como realmente estamos agora. Ele está com um braço ao meu redor, apertando-me junto a ele, enquanto os dedos de sua outra mão traçam suavemente meu rosto, sondando-me, examinando-me, cativando-me para ele. Seu polegar escova meu lábio inferior e ouço sua respiração ofegante.

Cerro as pálpebras por um momento, apenas para abri-las e em seguida notar que está olhando fixamente em meus olhos. Eu luto contra isso, debato comigo mesma, e seguro seu ansioso olhar, vencida pelo que não se pode vencer, queimando por este momento mágico e ardoroso de um erotismo tempestuoso. Minha atenção é atraída por sua boca sensual. Oh, meu Deus. E pela primeira vez desde que conheci Jameson, quero ser beijada por ele. Quero sentir sua boca na minha de novo.

- Promete me deixar levá-la para casa se eu realizar seu desejo? - É uma pergunta que sai roucamente sexy.

Beije-me. Por favor, beije-me, suplico, mas não faço nenhum movimento. Estou paralisada por causa dessa necessidade desconhecida, completamente hipnotizada por ele, por sua boca perfeitamente esculpida, e ele está olhando para mim, os olhos escuros ardendo em chamas, esperando por minha resposta.

Dominada pelo desespero, faço o pacto com o diabo:

- Sim - aceito com um sussurro. Preciso saber como é beijá-lo, descobrir a sensação de seus lábios nos meus. Não achando que ele é Jerome, como no dia em que o beijei, mas como Jameson. Não me importo malditamente com mais nada, porque emergiu essa necessidade profunda e agora preciso saber como é beijar Jameson Carver... sabendo que ele é Jameson Carver.

Ele respira mais rápido do que o habitual e eu paro de respirar. Seus olhos estão com algum novo propósito, uma vontade de aço esmagador. É tão intenso que estou trêmula, respirando fundo enquanto me preparo para seu beijo, para guardar cada detalhe comigo, ainda que isso me mate.

Estou tão tonta e em ansiosa expectativa que não percebo quando sou guiada para um canto mais discreto e menos iluminado.

- Eu vou beijar você agora - ele quietamente diz e eu explodo.

A adrenalina corre por meu corpo, não sei se por causa da proximidade inebriante de Jameson ou de sua boca se aproximando da minha, mas estou fraca, arrepiada, rezando para não desmaiar em seus braços. Então acontece. Ele me beija. Minha mente grita quando sua boca toca a minha em um movimento suave e carinhoso. Um beijo gentil que me toca o coração e convence meu corpo a ser seu por inteiro para que possa ser tratado com igual gentileza. Ele se afasta e eu me sinto roubada, querendo mais, implorando desesperadamente por mais com meu olhar. Com suas mãos em meus ombros, ele analisa minhas reações cuidadosamente.

- Ah, por favor. - Respiro, achando minha voz. Tenho vontade de me jogar nos braços dele. - Você quer me convencer a voltar para casa com isso? Não fez nem cócegas.

Seus olhos escuros brilham com minha provocação.

- Atrevida.

A única coisa que posso pensar é que quero ser beijada de novo. Demonstro isso com tão maldita obviedade que Jameson volta para me beijar a fim de honrar nosso acordo.

Sua boca esmaga a minha, mais forte, substituindo a gentileza por uma certa voracidade em seus movimentos. Meu coração fica frenético. Seu hálito é um misto de suave e doce, com um leve gosto de champanhe, e me enlouquece quando não me permite ter uma prova do que é ter sua língua percorrendo minha boca com perícia.

Gemo em protesto quando o beijo termina. Eu o olho. Parece absolutamente tranquilo, como se tivesse acabado de jogar uma partida de xadrez. Isso é tão injusto. Luto para manter meu raciocínio, porque todo o meu autocontrole ficou esparramado pelo chão junto com qualquer noção de pudor.

- Ouviu isso? - Luto para articular algo coerente. - Acho que é Tracy me chamando para que eu vá com ela...

Ele dá um meio sorriso devastador e meu coração pulsa a toda pressa.

- Não é, não - murmura entrecortadamente, sugestivamente baixo a ponto de arrepiar todos os pelos de minha nuca.

Encosta-se em meu corpo e me empurra contra a parede que não sabia que estava atrás de mim. Antes que me dê conta, sujeita meu pulso com uma mão, levanta-o acima de minha cabeça e entrelaça nossas mãos com força, em uma necessidade urgente de união a qualquer preço, enquanto me imobiliza com os quadris. Agarra a parte de trás da minha cabeça, puxa-a para baixo, e meu rosto se levanta para ele. Sua boca cola à minha e fico embriagada, gemendo quando coloca a língua para trabalhar sobre meus lábios, degustando-os, depois dentro de minha boca, e exalo quando minha língua encontra a sua, timidamente, para se unirem em uma lenta e erótica dança de sensações. Entre sacudidas e empurradas, sua língua persuade a minha, subjuga-a.

Jameson me abraça e me aproxima de seu corpo, aperta-me mais forte, de modo que sinto como se estivéssemos sendo fundidos em um só. Seu beijo é uma perturbadora mistura de muitas coisas que seria capaz de mexer com o juízo de qualquer mulher. É exigente, rebelde, carinhoso, possessivo, ardente, cortês, e, acima de tudo, intenso. Convulsiono ao contato de seus lábios. É fogo e gelo, a um só tempo. Diferente de qualquer coisa que já senti.

Sinto sua ereção contra meu ventre. Santa Mãe de Deus. Ele me deseja. Jameson Carver, o homem mais frio e sério que já conheci, me deseja...

Ele de repente se separa de mim, detém-se por um breve momento para respirar, e eu sinto como se tivesse subido correndo furiosamente por um grande morro. Sacudo a cabeça. Respirar, preciso respirar um pouco. Quase esqueço o que é isso.

Eu o espio através de meus cílios. Uau... Toda a frigidez, cortesia e polidez não passam de uma cortina de fumaça que esconde o Mestre dos Beijos. Minha lista de motivos pessoais para prender este homem só continua aumentando. Acho que isso quer dizer que o nosso acordo já foi suficientemente honrado e eu devo deixá-lo me levar para casa agora.

- Mais um pouco - ele diz e me assalta novamente, com avidez.

Levanta a mão e agarra minha mandíbula para que não me mova. Estou indefesa, recebendo meu doce castigo fervoroso. Impactada, tento me resolver por dentro diante do inesperado e excitante desejo dele de prolongar nosso contato.

Ele para e me observa em êxtase. E eu poderia assumir neste momento que estou porre de bêbada dos beijos de Jameson.

- Essa boca... - ele murmura sonoramente e levanta o olhar para mim. - Quer me deixar maluco? Como pode achar que consigo resistir a isso?

Resistir? Então isso significa que ele me quer? Estamos tão ferrados, mas eu não posso evitar e com certeza não estou pensando direito ao sussurrar-lhe meu pedido:

- Só mais um, por favor. - Sinto-o hesitar. - Um beijinho não tira pedaço. - Sem perceber, faço beicinho para ele.

Aproxima-se, acaricia meu rosto, longos dedos correndo até meu queixo, depois segura minha mandíbula entre o polegar e o indicador. Inclina-se para frente e me dá um rápido e saudoso beijo em minha covinha. Arquejo, dividida entre o espanto e o desejo.

- O meu tira - sussurra-me.

Jameson me toma vorazmente. Acomodando-me em seus braços mais uma vez, mordisca meu lábio inferior e o suga entre seus dentes. Conduz um beijo como se quisesse realmente arrancar um pedaço de mim e eu cedo, apaixonada, pouco me importando com o amanhã. Jogo os braços ao redor de seu pescoço e sua boca desce para minha garganta, sinto quando inala meu aroma profundamente.

- Ellie! - ouço Tracy chamar ao longe.

Empurro Jameson automaticamente.

- É a sua vez de cumprir a outra parte do acordo. - Ele respira, olhando-me fixamente enquanto ajeita a gola da camisa branca. - Diga a ela que você vai para casa. Comigo - ordena, a fúria do desejo ainda faiscando em seus olhos. - Agora.

Fecho os olhos e tomo uma respiração profunda, em seguida cambaleio para aparecer no campo de visão de Tracy.

- Nossa limusine chegou. O que estava fazendo aí?

- Tenho que ir para casa. - Minha voz sai aos sussurros. - Não estou me sentindo bem. - Não deixa de ser uma mentira, pois os beijos de Jameson me fizeram um mal... bom. Como isso pode existir?

Tracy coloca a mão em meu ombro. Estremeço com seu toque frio na noite.

- É aquela dor ainda que a está incomodando?

- Oh, sim... mas... - Olho para trás. - Eu estava conversando com Jameson e ele se ofereceu para me dar uma carona até em casa. - Jameson surge para nós em um abrir e fechar de olhos. - Aí está ele. Tinha ido buscar as chaves do carro - falo a primeira desculpa que me vem à cabeça.

Minha amiga me olha como se eu estivesse fora de meu juízo.

- Jameson? Você vai com ele? Tem certeza?

Olho para ela. Socorro, quero gritar. Mas lembro o acordo que ainda há entre nós tão logo ele se põe com intimidação ao meu lado.

Dou um sorriso trêmulo.

- Sim. Desculpe não poder aproveitar o resto da noite com você. Tudo bem?

Tracy acede com preocupação quando me vê contorcendo com uma mão no ventre e uma careta. A merda está pinicando de novo, como várias agulhas me espetando a um só tempo. É tão doloroso.

- Sim, claro. Então... eu vou agora, está bem? - ela pergunta, o olhar desconfiado em Jameson, antes de partir de vez.

Damos um rápido abraço e planto um beijo em sua bochecha.

- Divirta-se.

Observo Tracy desfilar em seus saltos até a limusine e entrar no interior do veículo com o homem que antes conversava. Pressiono o útero novamente. Deus. Isso é normal? Essas picadas ardendo em minha pele sensível estão me matando.

- O que houve? Está sentindo dor? - Jameson envolve minha cintura com seu braço. Ele faz um sinal para o manobrista do hotel, que se apressa em buscar o carro dele.

- É só um pouco de cólica - minto. Mas sei que sou tão ruim nisso que ele já deve ter descoberto. Agora deve estar sabendo que somente aos 25 anos tive minha primeira experiência de ter todos os pelos pubianos arrancados na cera quente.

- Precisa de alguma coisa? Um remédio? - Há preocupação em sua fala atenciosa.

- Não existe remédio para esse tipo de dor. Vem de lá do fundo e mexe com tudo o que há dentro de você.

O carro aparece para nós, e de dentro sai o manobrista, que entrega as chaves ao dono. Lentamente Jameson me guia até o veículo, a testa suavemente franzida.

- Imagino que as implicações biológicas de ser mulher devam ser muito aterradoras e tortuosas.

Rio.

- Você não faz ideia. E pensar que daqui a quinze dias tudo voltará ao que era antes... - reflito com pesar.

Ele para bruscamente.

- Quinze dias? O intervalo de tempo é tão rápido assim?

Repasso mentalmente as palavras de Denise sobre o período de crescimento dos pelos.

- Disseram que vai demorar um pouco para mim, porque foi a minha primeira vez no mês - murmuro, embaraçada que estejamos conversando sobre algo tão íntimo. Mas Jameson não parece ligar para isso. - Não era para doer tanto, mas fiquei toda sensível.

Tenho dois grandes olhos pretos sobre mim.

- Por Deus, Ellie, está tudo bem com a sua saúde?

Suspiro. Às vezes é bom poder conversar com alguém que entende você, mas não compreendo porque ele está tão impressionado. Ele abre a porta do carro para mim com cortesia.

- Tudo em perfeito estado. - Gemo de dor quando me inclino para sentar no banco. - Estou lhe dizendo, foi a minha primeira vez. A desgraçada da depiladora não teve pena de mim.

- Depiladora? Primeira vez? - Jameson pisca, atordoado, e ao me deter cuidadosamente no que foi conversado, tarde demais percebo que ele achava que eu estava falando sobre meu ciclo menstrual.

Os olhos escuros mudam, ficam encobertos, ao assimilarem o que quis dizer. Enrubesço da cabeça aos pés, ouvindo sua respiração pesar sensualmente à medida que desce os olhos com interesse para o meu colo, para o interior de minhas coxas.

Numa atitude drástica, estico o braço e bato a porta do carro.

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