Capítulo 15
Ano de 2006
Apesar de reconhecer a origem de todas as coisas, hoje sou uma viciada em drogas, e não tenho razões para parar. Ou talvez meu problema seja força de vontade. Será mesmo? Quando sua vida é uma merda sem escrúpulos, as reservas de força são as primeiras a serem esvaziadas. É mais fácil e menos doloroso deixar as coisas simplesmente acontecerem. Drogas são a minha morfina e eu me sinto muito bem com elas. Tudo se torna um pouco mais... divertido.
E eu adoro rir.
A Sra. Carver está aqui. Esperou o momento certo em que Jerome me deixaria sozinha, para me abordar. É uma discussão e tanto. Estou completamente sóbria quando recuso a oferta de deixar seu filho por uma boa quantia em dinheiro, mas, após ser xingada de todas as maneiras, receber uma bofetada por não aceitar seu dinheiro e testemunhar o aumento do repertório de apelidos carinhosos da Sra. Carver para mim, eu me tranco no quarto e começo minha própria festa. Uma em que eu não choro, apenas rio.
O meu evento anestésico para a dor só está começando.
— Senhoras e senhores, é hora de uma salva de palmas para mim! — Eu me levanto e faço uma reverência que quase promove um encontro entre a minha cara e o chão. Sou segurada pela cintura antes que o desastre aconteça. Olho por cima do ombro, já sabendo quem é meu herói. Inspiro o perfume dele, deleitada, e escoro a cabeça sobre seu ombro. — Adoro quando você me pega por trás, querido.
É nesse estado deplorável que Jerome me encontra quando chega em casa. Ele finalmente cedeu ao prometer me ajudar dando o que lhe pedi, mas não está achando minha brincadeira nada engraçada.
— Cheguei agora há pouco — comenta e me dá um beijo daqueles quando o agarro pela gola da camisa oferecendo os lábios. O homem sabe como acionar o fogo dentro de mim. — E eu vi a Sra. Carver descendo a escadaria do prédio — termina.
Faço uma careta de desgosto.
— Você tinha que me lembrar desse incidente horroroso.
Agacho no chão e começo a recolher as evidências de que estive me chapando. Jogo tudo na cesta de lixo do banheiro e deixo as coisas na mais perfeita ordem.
— O que aconteceu, afinal?
— A sogrinha veio me fazer uma visita. Ela foi legal, como sempre. Saiu tão apressada. Mas tenho certeza de que se não fosse a correria, a Mamãe Ganso teria deixado um beijo para o filhinho de ouro dela.
— Palavras ácidas, Ellie — repreende.
Finjo não escutar e o ouço me seguir até a sala, onde começo a arrumar as almofadas.
— Como foi a aula, querido? Se divertiu?
Jerome coloca as chaves da casa e do carro na mesinha de centro. Em seguida, desaba no sofá com um suspiro de cansaço, e cobre os olhos com a mão como se não aguentasse mais ver a luz do dia.
— Foi um saco — responde.
— Eu avisei que se ficasse aqui comigo seria muito melhor.
Ajoelho-me na frente dele e apoio as palmas da mão sobre suas coxas musculosas. Começo a esfregá-las com um sorriso indolente enquanto o assisto ficar perturbado com minhas carícias.
— Sabe que eu teria feito isso, se pudesse. — Ele cobre minhas mãos com as suas a fim de parar meus movimentos excitatórios. — Amanhã inicia o período de exames finais — diz, sério. — Isso significa, portanto, que minha noite vai ser uma porcaria que vou passar em claro.
— Bobagem. Você sabe o conteúdo de cor. É inteligente.
Ele ergue uma sobrancelha.
— Poderia até ser, se você não tivesse me desconcentrado nas últimas semanas.
Rio ao me lembrar das nossas noites "exóticas".
— Mas você não reclamou em nenhum momento. — Deslizo o indicador pelo nariz dele, depois, traço uma linha reta de seu queixo até o abdômen. — Pelo contrário, pareceu gostar até demais... — Meu dedo tarado teria chegado ao zíper de suas calças, se não fosse Jerome contê-lo a tempo.
— Ellie, é sério. Preciso de espaço para me concentrar, ou então vou me ferrar nos exames.
Assumo uma postura defensiva.
— Está me mandando embora?
— Não, estou pedindo que se contenha e me deixe estudar para amanhã. É o meu futuro que está em jogo. — Ele beija a covinha de meu queixo e me faz rir quando os pelos de sua barba que está por fazer me fazem cócegas. — O nosso futuro — acrescenta e com essa consegue me convencer.
Levo as mãos para o alto num gesto de paz.
— Está bem. Como desejar. — Ergo o corpo para ficar ereta. — O que quer para o jantar? Aprendi umas receitas novas com Tracy.
O resto de nossa noite passa sem muitos incidentes. Nós conversamos, bebemos, Jerome arranca a taça de minhas mãos quando vê que estou me empolgando demais com o vinho, e depois o deixo estudando no quarto.
Estou na cozinha, ouvindo cada tique-taque do relógio que é como uma tonelada de tijolos sobre mim. Limpo a testa com a costa da mão para perceber que estou suando. Eu sei por quê. Ele está me chamando. O vício. Ele quer que eu ceda a ele.
Não. Não. Não.
Estou pouco a pouco me traindo. Não sou mais fiel a mim mesma. Mas preciso ser forte por Jerome. Ele precisa que eu seja. Nosso futuro depende disso.
Olho para o lado, sobressaltada com o vulto que pensei ter visto. O barulho contínuo do relógio agora se mistura ao do vulto. É tudo tão feio. As coisas nesse mundo são tão sorrateiras e pérfidas. Fecho e abro os olhos. Procuro respirar com calma.
Ouço ao longe um zumbido constante que parece o som de um mosquito. Olho ao meu redor e não encontro nada. O zumbido logo é adicionado à sincronia de barulhos que está enchendo meus ouvidos. Respiro e inspiro, fragilizada. Suando. Estou claustrofóbica. Zonza. O tique-taque, o vulto e o zumbido. O tique-taque, o vulto e o zumbido. O tique-taque, o vulto...
Levanto-me de repente da cadeira e os sons param. Quando encontro meu reflexo no espelho da sala, percebo que estou muito pálida. Olheiras fundas, lábios quase brancos como cera, olhos cansados das noites em claro.
Eu pareço a Morte em pessoa.
Como Jerome ainda pode gostar de mim? Pareço pior do que quando o encontrei.
Uma vez no banheiro, resolvo tomar uma ducha rápida. Ando pelo quarto procurando fazer silêncio, enrolada na toalha, quando abro o guarda-roupa e começo a me vestir com a camisola. Jerome me pareceu tão concentrado quando entrei que não me ocorreu que ele estivesse me espiando com o nariz por cima de seu livro enquanto me vestia, pois, ao me virar, deparo com dois olhos pretos e selvagens.
Permaneço imóvel por achar que alguma coisa está acontecendo ali, até ele voltar a atenção para seu livro, completamente apático. Então não passou de curiosidade. Pisco, desnorteada. Devo estar imaginando coisas.
Vou me sentar na cama e fecho brevemente os olhos tentando aguentar a avalanche de necessidade que está querendo ruir dentro de mim e me detonar.
— Quer que eu apague a luz?
— O quê? — Giro o rosto para olhar Jerome, que está sentado na cama ao meu lado.
Ele sorri.
— É óbvio que está cansada. Posso ir para a sala, se quiser.
— Ah. Está tudo bem, não vou dormir agora.
— Certo.
Minutos depois estou deitada de lado, observando-o, ouvindo-o murmurar para si mesmo quando anota com a caneta algumas coisas em seu caderno. Estudo cada detalhe de seu rosto e mergulho em seus olhos. Que o diabo o carregue, ele é lindo de morrer. Jerome é a única coisa no mundo que consegue capturar minha atenção por tanto tempo.
Apenas por olhá-lo assim, entretido em seus estudos, grande parte de minha mente é ocupada. Meus pensamentos vão para ele, ao invés das drogas que mantenho guardadas junto com os meus pertences no guarda-roupa.
— O que é? — Sou flagrada por ele. — Por que está me encarando? — Continua escrevendo no caderno, focado.
— Você fica sexy quando está estudando.
Ele permanece sério.
— Vou parecer muito sexy quando estiver fazendo uma prova sobre a qual nada sei.
— Besteira. Às vezes você é tão inseguro — comento sem pensar nas consequências.
— Sou, é? — Ele para de escrever e, enfim, consigo sua atenção.
— É. Mas não são todos que conhecem esse lado seu. Me pergunto se sou a única.
Ele cerra os lábios e noto que é porque está querendo rir de mim.
— Acha que estou falando bobagens, não é? — resmungo e me apoio sobre o cotovelo. — Mas, sabe, Jerome, você não se recorda muito bem do pai que teve e viveu grande parte da sua vida sem saber direito o que é ter uma mãe. É normal se sentir inseguro com uma garota por achar que ela pode ir embora da sua vida da mesma forma que os seus pais foram embora da sua.
Jerome enrijece o corpo, os olhos faiscando para mim.
— Touché? — falo com um sorriso doce. — Já estava na hora de aprender alguma coisa sobre você depois de todos esses meses juntos. — Sento-me no colchão sobre meus calcanhares. — Não vou deixar você.
Ele volta a escrever furiosamente no caderno enquanto segura o livro com a outra mão.
— Juro que não pretendo abandoná-lo. Dou a minha palavra.
— Ellie...
— Porque eu gosto tanto de você que eu...
— Ellie! — Jerome fecha o livro com força e está tão irado que cada respiração é rápida, curta e pesada. — Quer parar com isso? — Ele esfrega a testa com a mão e depois os olhos. — Preciso de foco aqui e você não está ajudando em nada ao ficar falando comigo.
— Desculpe. — Baixo o olhar, culpada. — Você me desculpa?
Eu me movo sobre os lençóis para ficar mais perto dele e, neste exato momento, a alça da camisola cai de meu ombro esquerdo. Jerome a segue com os olhos como o metal que é atraído por um imã. Olha para cima e encontra meu olhar fixo.
— Você sabe que desculpo — ele diz, aparentando profunda aflição com minha aproximação.
— Prove — peço, incapaz de aguentar mais um segundo sequer sem os toques dele. — Prove que está tudo bem entre nós. Me beije.
Ele ri com ar irônico.
— Não caio nesse jogo. Quantos anos acha que tenho?
— 21 e eu, 18 — respondo, sarcástica. — É apenas três anos mais velho do que eu. Não pense que isso faz de você o cara mais velho do mundo para ficar me dando lições.
Sei que peguei pesado, mas pelo menos ele fica em silêncio. Ele parece querer me beijar, mas não o faz. Está dividido entre a faculdade e o que estou oferecendo. E eu sei que obrigá-lo a fazer uma escolha neste momento pode ser cruel.
Toco seu nariz com o meu e então o beijo. Leve, depois profundo, e então leve novamente, da forma que eu sei que o excita para ficar querendo mais. Em menos de alguns minutos estou sentada sobre seu colo, de frente para ele, após ter tirado o livro e o caderno de suas mãos.
— Por Deus, Ellie — sussurra quando beija meu ombro com a alça da camisola tombada para o lado. — Quer me enlouquecer? Você é tão macia e cheirosa... Sabe que não posso pensar nessas coisas agora.
— Faça amor comigo, Jerome — ronrono em seu ouvido. — Agora. Sei que você quer.
Eu o olho bem dentro de seus olhos, sem vergonha de expor o que sinto por ele. Jerome havia me ensinado que nunca precisamos sentir vergonha entre quatro paredes. Sinto que está cedendo e fraqueja quando me beija mais uma vez, na covinha de meu queixo. Meu queixo de bandida, segundo ele. Com o tempo, foi impossível não perceber que ele gosta dessa peculiaridade em mim.
— Não — ele declara em alto e bom som, esmigalhando qualquer esperança minha, frustrando minhas expectativas, e me afasta sem gentileza para recolher os materiais e pousá-los impacientemente sobre a escrivaninha. — Não tem o direito de me confundir desse jeito. — Ele está louco da vida. Comigo ou com ele mesmo? — Pensei que tivéssemos feito um acordo. — Puxa a cadeira para se sentar. — Já chega. Deveria ir dormir. — Então volta para os livros e me ignora totalmente.
Não sei o que há comigo, mas tenho uma mudança brusca de humor. Fico irada, talvez mais do que ele. Não é a primeira vez. Simplesmente vem de dentro e quer ser liberado.
— Não quero ir dormir — falo com raiva e saio da cama marchando até a escrivaninha. Deslizo a mão sobre a superfície e derrubo propositalmente todos os livros e o caderno de Jerome no chão. Então sento sobre a mesa e fico na frente dele, com os braços cruzados e a cara emburrada. — Até quando vai ignorar que existo?
Pacientemente ele baixa o tronco para juntar o caderno do chão, ao que eu tomo agressivamente de suas mãos e o atiro para longe do quarto.
Jerome esfrega o rosto e suspira fortemente.
— Pare com isso. Você não é essa megera.
Ergo o queixo.
— Será que não? Preciso de você...
— Agora não. — Ele está terminando de juntar o que derrubei no carpete.
— Agora não — repito sarcasticamente. — É sempre bom ouvir que não tem tempo para mim.
Sobressalto-me quando ele pousa com força o livro e o caderno ao meu lado. Sou fuzilada com seu olhar demoníaco.
— Não comece com a chantagem emocional. Sabe que preciso estudar. Deveria tentar o mesmo, agora que terminou o Ensino Médio. Poderia tentar a chance em uma faculdade. Poderíamos estudar na mesma instituição, o que acha? Faço questão de ajudá-la com as mensalidades.
Faço uma careta.
— Nem morta. Terminar a educação secundária foi um enorme alívio para mim. Não estava mais aguentando professores me dizendo o que é certo e o que é errado. São tão cheios de si!
Ouço o barulho da cadeira se arrastando. É Jerome se levantando, irritado, para colocar os livros e o caderno no braço.
— Caramba, Ellie! Às vezes você sabe ser bem insuportável. E muito geniosa.
Com isso, ele vai embora. Bate a porta e me deixa sozinha naquele quarto frio e sem vida. Sou tão idiota. O que eu fiz? Enfio os dedos em meus cabelos. Quero gritar. Estou perdendo o bom senso. Estou perdendo as rédeas da minha vida, o controle das minhas emoções está escapando como água entre meus dedos. O que está acontecendo comigo?
Perdi ele? Perdi Jerome para sempre? Ele finalmente viu a droga de pessoa que sou. Certamente agora deve estar repensando sobre me colocar para fora de seu apartamento. Me expulsar de sua vida.
Não, não posso deixar que isso aconteça.
Salto da mesa, com o coração batendo forte por causa da adrenalina. Abro a porta do quarto e me livro da camisola assim que o encontro esparramado no sofá da sala, rodeado por seus livros. Paro ao seu lado, em frente ao sofá.
— Posso me deitar com você?
Ao tirar os olhos da página que está lendo, ele não disfarça o desejo avassalador em seus olhos quando me encontra nua. Depois os desvia e fala num tom de reprovação:
— Onde estão suas roupas?
— Por favor, me deixe deitar com você — imploro. — Não vou fazer nada de mais. Só quero tocá-lo, senti-lo e ficar perto de quem eu gosto.
Assisto os nós de seus dedos ficarem brancos enquanto aperta o livro. Penso que ele vai gritar comigo, me mandar ir embora, e realmente estou quase desistindo de minha última tentativa, quando o vejo se afastar para abrir espaço para mim no sofá.
Sorrio.
— Obrigada. — Então me aconchego ao corpo masculino, com seu braço em volta de mim. Deslizo a palma da mão sobre seu peito desnudo. — Era só isso o que queria: ficar perto de você. Somente isso.
Planto um beijo de agradecimento perto de um de seus mamilos. Observo-o fechar os olhos por alguns segundos, exalando, os longos e grossos cílios pretos encostando nas pálpebras, e em seguida tenho minha mão segurada pela sua. Ele entrelaça nossas mãos em cima de seu abdômen e retorna para o livro posicionado em frente ao seu rosto.
Estou encantada como ele ainda parece me querer junto dele, apesar de tudo. Jerome pode ser um cara impulsivo e rebelde, mas ninguém pode negar que ele tem sido muito paciente comigo. Penso em agradecê-lo por tudo o que já fez por mim, por isso começo a distribuir pequenos beijos em seu peito e depois em seu rosto, perto de sua boca. Maravilhada ao constatar que ele ainda se excita com minhas carícias, sussurro gracinhas em sua orelha e fico mordendo o lóbulo para provocá-lo.
— Ellie... — ele começa em tom de repreensão.
— Faça amor comigo — despejo meu desejo novamente. — Eu imploro. Por favor. Preciso saber que não estou perdendo você. Sei que me quer. — Cubro sua ereção com a mão. Em resposta, ele se encolhe, impotente ao me olhar. As barreiras que ergueu para me afastar estão ruindo uma a uma. — Não adianta esconder de mim. Sei que guarda algo dentro de você que não quer me mostrar. Algo feio — sussurro perto de sua boca e consigo finalmente beijá-lo ali. — Mas não precisa esconder nada de mim. Não precisa se conter. Pode me usar para expulsar o que há aí dentro. Eu quero saber. Me mostre. — Os olhos negros mudam completamente e eu mergulho neles. — Me mostre o quão sujo você pode ser.
Um bom tempo parece passar, até que obtenho minha resposta:
— Eu desisto — ele diz alto, frustrado. — Simplesmente desisto de tentar me afastar de você. — Fecha o livro e o joga para o chão. Pega a minha mão e me faz levantar com ele. Certamente não perco seu olhar lascivo sobre minha nudez ou o modo como suas faces se endurecem de uma hora para outra. — Quer saber o que tem aqui dentro? Pois bem, mostrarei. E você tem razão, não é algo nada bonito.
Acordo na manhã seguinte com uma dor de cabeça horrível, sem entender por que meu corpo está doendo tanto. Que horas são? Não me lembro de nada do que aconteceu ontem. Merda, eu fiquei chapada de novo?
Sento-me sobre o colchão e os lençóis deslizam para baixo em meu corpo. Tomo um susto com os hematomas horrorosos que encontro desenhados em minha pele pálida. Braços, pernas, e muito provavelmente as costas, porque também estão doendo como o inferno. Parece até que saí me batendo em todos os móveis da casa. Nunca pensei que eu fosse tão sensível a... o que quer que tenha acontecido.
Franzo o cenho. Que diabos aconteceu ontem à noite?
Quando fito o relógio do criado-mudo, constato com surpresa que dormi por muitas horas. A hora do almoço já passou há muito tempo, mas meu estômago está roncando de fome.
Desabo na cama, detonada. Poderia dormir por mais horas. Fecho os olhos, gemendo de dor, quando a porta do quarto é escancarada. Me assusto quando papéis aterrissam com violência sobre meu corpo.
Olho para cima, com olhos sonolentos. Jerome está de pé ao lado da cama. Não me lembro de vê-lo tão possesso como está agora.
— Deve estar muito satisfeita! — Seu grito estridente é como milhões de agulhas cutucando meu cérebro. Ele espera eu me sentar e, confusa, folheio os papéis que quer que eu veja. Identifico na primeira folha o que parece ser uma nota muito baixa. — Eu fui péssimo na prova, graças a você e sua brilhante ideia de virarmos a noite transando como se não houvesse amanhã.
— O quê...? — Pisco algumas vezes, minha visão querendo embaçar com o cansaço mental e físico que não sei de onde vem. Pela forma como ele me olha, só pode querer dizer que tenho culpa no fato de ter ido muito mal na prova. — Sinto muito.
— Mentirosa.
Dou de ombros e largo o papel.
— Tem razão. Não tenho por que me desculpar se não me sinto culpada. Mal me lembro do que aconteceu. Mas pelo que estou vendo, a foda foi boa. — Fito os hematomas novamente, então, ergo o rosto para ele. — Gostou?
Ele está rangendo os dentes, ensandecido pela minha falta de consideração. Jerome se ferrou por minha causa e eu nem ao menos sei o que dizer para consolá-lo. Encolho-me nos lençóis, medrosa demais para sustentar seu olhar agressivo.
Num súbito ataque de raiva, ele arranca os lençóis de mim com violência e me faz descer da cama para me arrastar em direção ao banheiro. Nunca estive tão ciente de minha nudez como quando ele me coloca debaixo do chuveiro e o liga sem acionar a opção morna.
A água cai como pedras de gelo sobre mim.
— Está frio! — reclamo em voz alta, e sou empurrada para trás quando tento fugir do que parece ser o meu castigo. Jerome me obriga, com um aperto doloroso em meu braço, a ficar debaixo da água gelada por bastante tempo. — Estou congelando! — continuo gritando, a ponto de chorar. Bato o punho em seu peito e ele não faz nada. — Isso dói... — murmuro, perdida numa dor insuportável, e o olho através da cortina de água sentindo as lágrimas mornas serem lavadas pelo banho frio.
Estou tremendo da cabeça aos pés quando ele resolve, enfim, desligar o chuveiro.
— Você tem testado muito a minha paciência ultimamente. — Sua voz quer se abrandar, apesar de saber que ainda está enfurecido comigo.
Por incrível que pareça, mesmo estando dominado por sentimentos violentos, Jerome não consegue não prestar atenção em mim. Meus seios subindo e descendo, os mamilos enrijecidos, as gotículas de água descendo em meu corpo como pingos de chuva na janela. Evitar a feroz atração entre nós é como tentar parar um trem de carga com as mãos. Eu sei disso, porque sinto o mesmo em relação a ele.
No entanto, pior do que tentar evitar é negar qualquer coisa a Jerome.
É o que faço, porque estou rancorosa sobre o que aconteceu.
Impetuosamente cubro os seios com o braço e tapo as partes íntimas com a mão. Proíbo-o de me olhar por mais tempo. Nego-lhe o que ele gosta. É a primeira vez que faço isso em meses que estamos juntos. Ele pode não ter admitido, mas é inseguro e tem medo de me perder, e é exatamente isso o que não tenho pena de usar contra ele. Porque, sim, homens acham que podem ser maus, mas mulheres sabem ser muito piores.
Em ponto de ebulição, ele aparenta estar prestes a explodir de raiva.
E ele explode, com o rosto vermelho, quando berra:
— Por que está se cobrindo para mim?
Não respondo. Permaneço calada, como Jerome muitas vezes já fez comigo, para ele saber que isso irrita. Já me deixou louca da vida e agora o deixa também. Contra todos os princípios de moralidade, um sorriso quer se desenhar em meus lábios.
— Acha isso engraçado? — Sua voz reverbera no banheiro, o rosto quase roxo. — Vai ver o que é engraçado, sua garota insolente...
Já estou quase caindo às risadas quando tenho meus cabelos segurados para trás com muita força. Com sua mão na parte de trás de minha cabeça, sou forçada a arquear as costas. Abro a boca para gritar de dor e ele pressiona os lábios nos meus, me imprensa com brutalidade contra a parede e faz meus ossos doerem, enquanto saboreia minha boca com sua língua invasiva.
Minha cabeça que bateu no azulejo da parede está latejando de dor por causa da falta de cuidado e carinho. Devo estar completamente fora de meu juízo, porque estou me excitando com a agressividade que não conhecia em Jerome.
Ele se esfrega em mim, me aperta contra a parede e me esmaga com uma força incalculável sem se importar com o tamanho de minha dor. Entendo, então, a origem dos meus hematomas. Jamais experimentei preliminares tão hostis. Sei que sexo é naturalmente agressivo. Fazer sexo exige certa agressividade. Acho que estamos ultrapassando esses limites.
— Isso é meu. — Ele massageia meus seios e mordisca um dos mamilos intumescidos. Fecho os olhos e quase engasgo com meus próprios gemidos de prazer. — Meu. — Dá um tapa na mão com que cubro meu sexo e começa a estimular meu clitóris com seus dedos peritos. Minhas pernas ficam bambas enquanto tremo de prazer contra a parede. — Tudo meu — sussurra firmemente perto do meu ouvido.
Lentamente, seus dedos abrem caminho entre as minhas dobras e sou penetrada. Estou de olhos fechados, vibrando com meus delírios eróticos, porém, de alguma forma sinto que ele está me observando. Sua respiração pesada é como uma brisa morna em minha bochecha, que logo em seguida é lambida e mordiscada com um beijo.
— Você é minha, Ellie. Não tem mais para onde fugir.
Minha mandíbula é apertada de modo tão brutal que quase sinto a carne de minhas bochechas internas serem cortadas contra meus próprios dentes. Meus lábios se separam para recebê-lo. Estremeço quando ele me beija novamente. É possessivo e cru. Se ele soubesse que não tenho intenções alguma de me afastar dele... Nunca.
— Estamos destinados a ficar juntos. Para sempre — digo ao abrir os olhos para encontrar os dele. — Diga que é meu.
— Eu sou seu. E seu eu morrer primeiro, voltarei para assombrá-la. Não tenha dúvidas disso. Não vou deixar você viver em paz até nos encontrarmos novamente. Entendeu? — Balanço a cabeça em afirmativa e os olhos escuros descem para meu queixo. — Tire meu cinto agora.
Desencaixo a fivela de metal e tiro o cinto dos passadores da calça jeans. Atiro o couro para longe de nós, sem me importar quando sou virada como se fosse um saco de batatas, para ser colocada contra a parede.
Sua mão desliza pelas minhas costas até minha bunda e a aperta.
— Vou te foder por trás.
Minha respiração engata. De cara com os azulejos, espalmo as mãos no nível de minha cabeça. Estou em suas mãos, em sua misericórdia. Uma risada selvagem brota do fundo de minha garganta quando ele segura meus quadris para ele.
— Você pode fazer o que quiser — balbucio, luxuriosa.
Meu sexo está úmido e pulsando com uma necessidade incontrolável. Uma ereção grossa está sendo esfregada em mim. Jerome me quer por trás e isso nunca me pareceu tão proibido.
Não entra imediatamente. Em vez disso, seu dedo escorrega na fenda de minha bunda, então, lentamente, ainda mais para baixo, para a abertura de minha vagina. Volta-se novamente, arrastando a umidade até minha bunda.
Fico tensa quando circula a abertura apertada. Nunca fizemos algo assim antes. Como é a sensação?
Completamente febril para tê-lo, empino a bunda para ser mais uma vez segurada pelos quadris por suas duas mãos fortes e algo empurra de uma vez para dentro de mim. Tenciono. Respiro fundo várias vezes. Dói um pouco e vou lentamente me acostumando a ser esticada. Então gemo quando sou jogada para frente de novo, com Jerome transando com minha bunda. Me sinto completa e ao mesmo tempo estranha. Porém, é algo incrível. Exatamente o que eu precisava.
— Relaxe. — Ele coloca o cabelo molhado atrás de minha orelha. Seus dedos começam a brincar com o meu clitóris e me deixam mais quente. Quase explodo. — Vai se sentir melhor se relaxar.
Faço um barulho de concordância com a garganta e o obedeço. Seu pênis está na ponta da minha bunda de novo. Três dedos estão deslizando sobre meu centro em uma carícia íntima que me traz para o clímax, enquanto Jerome geme, e eu estou me desfazendo no auge da luxúria.
Não posso acreditar que tenho toda sua ereção enorme dentro daquele lugar. E então ele puxa para fora, muito lentamente, muito dolorosamente lento. Quero tudo de novo. Tudo o que ele tem para me oferecer. As coisas boas e feias, não me importo. Quero esse homem por inteiro.
— Jerome — choramingo de prazer. — Meu Deus, Jerome.
Ele faz cada músculo meu tremer em resposta. Pulso e viro fogo. Ele desliza um pouco, depois de volta para fora, e começo a ofegar com força, impelida contra a parede, com a muralha de músculos atrás de mim.
Levo as mãos para seus quadris, para sentir os movimentos.
— Mais rápido — peço.
Uma mão acaricia minhas costas, dedos correndo sobre minha pele macia, e então nossos corpos se chocam em um impulso que me empurra novamente para frente sem piedade. Gosto disso. Estou entre a parede e ele, e isso me deixa sem saída. Não tenho para onde escapar. Amo a sensação.
— Mais forte — ordeno, enlouquecendo com o movimento vaivém de seus quadris.
Ele está gemendo e rosnando, o ritmo profundo me chacoalhando de novo e de novo quando sou golpeada por trás sem descanso.
— Adoro a sua bunda — ofego e arqueio a cabeça para trás. Deixo minhas mãos caírem de seus quadris para a bunda e a aperto para mim.
— E eu, a sua. Tão apertada e doce... — Ele me arranca da parede, cobre selvagemente os meus seios por trás e mergulha o rosto em meu pescoço.
Ele me sacode com mais uma penetração, suas mãos em meus seios obrigam-me a ficar colada ao seu corpo, a jamais deixá-lo. Como se fôssemos apenas um, acorrentados um ao outro por nossa paixão desmedida.
— Goze para mim, Ellie.
Há um pulsar dentro de mim que me coloca frente a frente com o abismo, uma pressão esmagadora pedindo para ser liberada. É tão intenso que estou quase com medo disso. Só podem ser os prazeres do inferno, porque somos dois pecadores. Dois amantes em perdição, sem pudor algum.
Que Deus tenha piedade de nós. Porque o diabo não está tendo nesse momento.
— Ellie — sussurra entrecortado no meu ouvido.
— Agora.
Ele investe uma última vez atrás de mim e é uma estocada que proporciona uma explosão de tremores. Arqueio a cabeça para trás e o sinto contrair os músculos dos braços ao meu redor, mantendo-me cativa e não proporcionando nenhuma saída para minha iminente liberação orgástica longe dele.
Logo o banheiro é preenchido pelos ruídos selvagens de nosso gozo.
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