7. Revelação
Este é o penúltimo capítulo sob o ponto de vista do Jerome. Não sei vocês, mas já estou sentindo aquele apertozinho básico no coração por estar chegando ao fim de mais uma jornada hahah
Como sempre, torço para que gostem =3
- Tenho uma coisa para contar a todos vocês - eu disse, respirando fundo, antes de começar a falar.
À medida que eu revelava toda aquela história sobre a troca de identidades, sentado à mesa de jantar, os rostos dos nossos familiares se transformavam. As expressões passavam desde descrença total até o estarrecimento. As reações foram as mais variadas possíveis.
Tio Mike engasgou com a comida, e levou alguns minutos até que ele tivesse se recuperado do choque.
- Meu Deus! - tia Daisy repetiu inúmeras vezes, incapaz de dizer outra coisa para expressar o que estava sentindo.
Kim, minha prima, ao contrário de tia Daisy, tinha muitas coisas a dizer.
- Só pode estar brincando! Que história mais... absurda. Jameson, fale sério! Quer mesmo que nós acreditemos que...
- Sim - respondi incisivamente. - Kim? Meu nome é Jerome. Conforme expliquei, não sou Jameson. Foi meu irmão quem morreu naquele dia do acidente. - Virei-me para o resto das pessoas à mesa. - Sei que tudo pode parecer absurdo, mas estou completamente são. Tenho consciência do que estou dizendo. Eu sou Jerome... Por favor, me perdoem por todo o mal-entendido. Roubei a identidade de Jameson em uma vã tentativa de viver a vida que eu sabia que ele não poderia mais viver. Talvez este tenha sido um jeito que encontrei de lidar com a culpa... somado ao fato de que eu queria me distanciar de Ellie por achar que ela tinha me traído com outro, enquanto ainda éramos casados.
- E ela traiu? - você perguntou, atenta. Seu rosto era o único ali que não denunciava suas emoções. Isto não me surpreendia.
- Não, ela mentiu. Fingiu ter tido um caso extraconjugal porque sabia que essa era uma forma eficaz de me afastar dela. Ellie sabia acertar onde mais me doeria. Quando a ouvi mencionando sobre a traição, o ciúme explodiu dentro de mim como fogo.
Continuei a falar, e Kim, a me observar, os olhos cada vez mais arregalados e a boca aberta. Finalmente, me calei. Por algum tempo, todos ficaram em silêncio e não se ouviu nada além do fogo queimando atrás da grade de proteção da antiga lareira.
- Nunca desconfiei. - Seus olhos estavam diferentes e sua voz dava indícios de que começava a falhar. Você estava chocada, consternada, amargurada. Agora eu estava surpreso, porque jamais a tinha visto fragilizada assim antes. - Meu próprio filho... Certamente eu, como mãe, tinha que saber... Fui visitá-lo no hospital e não suspeitei de nada.
- Não tinha como saber - atalhei, tentando remediar a situação.
- Mas você disse que a Ellie percebeu no minuto em que pôs os olhos em você, no dia em que se reencontraram - tio Mike lembrou.
- É verdade - concordei.
- Mas que coisa extraordinária! - tia Daisy interveio, atônita. - Esta mulher certamente o amava... Pobre moça, deve ter pensado que estava ficando biruta! Nunca ouvi falar de nada assim. Parece até coisa de filme!
Kim sorriu levemente.
- Você a fez sofrer muito, não foi? Você foi um bandido, Jerome!
- Fui um cafajeste - admiti.
- Isso também! - tio Mike comentou, mas agora ria com descontração.
As memórias me alcançaram e me recordei, com um peso no peito, de como Ellie ficou transtornada toda vez que me via. Eu era a cada instante um homem diferente! Não era para menos que ela havia ficado insegura e confusa.
De repente você murmurou um pedido de desculpas e educadamente se retirou da mesa. À essa altura, os membros da família Carver não paravam de tagarelar sobre o quase infarto que dei aos seus pais, que agora se encostavam ao espaldar de suas cadeiras, ligeiramente abalados. A repercussão que a revelação teve durou mais do que o tempo que fiquei sentado à mesa. Não pude deixar de notar, no instante em que você saiu, que algo estava errado.
Encontrei-a no escritório daquela casa de campo pertencente à nossa família. Você estava perto da janela, olhando para fora. Parei na soleira da porta e a observei silenciosamente.
- Para cada lado que eu olhar, virão as lembranças - você disse. - Será um eterno reencontro com o passado. Não importa se foi um filho ou o outro... ainda assim, continuará sendo meu filho a pessoa que perdi naquele dia. Não seria capaz de parar de amar Jameson. E se alguma vez não expressei de maneira clara, quero que saiba que jamais deixarei de amar você, Jerome.
Você se voltou para mim e nossos olhares se encontraram. Fechei a porta atrás de mim e caminhei, estabelecendo uma posição na sua frente. O que eu vislumbrei nos seus olhos naquele momento me destruiu por inteiro. Vi suas dúvidas, sua dor. Uma dor de anos e anos de existência à qual, pela primeira vez, você me deixava ter acesso.
- Será que fui uma mãe tão ruim assim? - você se indagou.
- Posso garantir que não foi.
- Lamento tanto se errei com vocês dois em algum momento...
- Você foi a mãe que pôde ser. Foi a mãe que precisávamos - interrompi e segurei sua mão. - E não existe a mínima possibilidade de eu estar magoado com você por causa disso. Não mais.
Sua mão alcançou meu rosto e o acariciou com a palma, então inesperadamente você me abraçou e tudo o que pude fazer foi colocar os braços à sua volta e aproveitar o momento. Eu só sabia de uma coisa: que abraço mais agradável, Sra. Carver. Acho que teremos que repetir essa experiência algum dia.
- Está tudo bem - murmurei alguns instantes depois. - Nada do que se passou importa mais. Sabe, lá no fundo a Ellie sempre esteve certa sobre você. Tenho minhas suspeitas de que ela começou a compreender certos comportamentos seus depois que deu luz à Jackie e descobriu o que era ser mãe. Por motivos óbvios, nunca saberei como é isso, mas pelo menos agora estou tendo a oportunidade de ser o pai que deveria ter sido para a minha filha.
Você recuou um pouco.
- Filha?
- Jackie é fruto do meu amor por Ellie. Em outras palavras, sua neta.
- Mas... como?
- Depois que tínhamos chegado ao fundo do poço, eu e Ellie nos descuidamos em muitos momentos da nossa relação no passado. Não sabia que ela estava grávida quando tomei a decisão de voltar para a Inglaterra. Até onde sei, ela ia me contar a novidade no dia em que ocorreu o acidente de carro. Acabamos brigando e foi assim que passei seis anos da minha vida sem saber que tinha uma filha.
- Estou arrasada, Jerome.
- Não imagina como eu fiquei quando descobri.
- O nome...?
- Jacqueline Rose Banks.
- É um nome incompleto - você acusou friamente e a olhei sério, ressentido que você ainda parecia implicar com Ellie e qualquer coisa relacionado a ela.
- O que quer dizer com isso?
- Falta um "Carver" nesse nome - você apontou e eu relaxei, desfazendo a dureza em meu rosto. - Isso deveria ser corrigido imediatamente.
- Tem razão. Quando eu voltar para Atlanta, avisarei Ellie sobre este lapso imperdoável.
Puxei meu celular do bolso e comecei a lhe mostrar uma série de fotos que eu, Ellie e Jackie tínhamos tirado semanas atrás, durante alguns de nossos passeios. Você deu zoom várias vezes no rosto da sua neta com curiosidade indisfarçada.
- Ela está tão diferente.
- Jackie é mesmo uma gracinha, não é?
- Estava me referindo a Ellie.
- Ah. Ela está realmente mudada... tanto quanto eu estou.
- Essa garota Ellie... ela sempre te amou, não foi?
Incrível como eu ainda ficava nervoso quando falava dela para você.
- Ao que parece, sim. Ela percebeu imediatamente... Só Deus sabe por quê. Intuição feminina, talvez? Nunca mais duvidarei dessas coisas.
Continuei passando as fotos.
- Talvez eu devesse visitá-los um dia desses - você declarou, para minha incredulidade.
Guardei o celular antes que ele caísse das minhas mãos.
- Sabe de uma coisa? Acho a ideia fantástica. Talvez você devesse mesmo.
- Mas não prometo nada.
- É, eu sei. Sei bem como é, mãe. - Sorri discretamente quando nos viramos para olhar através da janela, e captei sua muda aceitação do que escolhi para minha vida.
Mãe. Uma única palavra. Uma única palavra que eu disse e que te fez sorrir. E dessa vez, você não escondia nada. Seu rosto refletia exatamente o que havia no meu: esperança.
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