‹⟨ 26: O despertar do Dragão ⟩›
Yen
Água adentra minha boca, tento subir para a superfície mas sou puxada pela correnteza. Puxo o ar com dificuldade nos poucos momentos que consigo chegar acima da água. Estendo meu braço e consigo agarrar a grama próxima, cravando minhas unhas para não ser levada, me arrasto para fora do rio de musgo. Bato minhas costas no chão exausta. Não tenho muito tempo até a dor na minha barriga lembrar de tudo que aconteceu nos últimos instantes. Ponho minha mão sobre a ferida aberta, onde a cada pressão tenho a impressão que mais sangue escorre se misturando com a minha roupa molhada.
Na água, avisto Vivian desmaiada sendo levada pela correnteza. Estendo meu braço para pegá-la e a puxo para terra firme. Respiro, buscando fôlego e forças para levantar. A mulher desacordada cospe água, expelindo tudo de seus pulmões não antes de voltar para o seu desmaio. Que ótimo... Levanto, cambaleando. Cuspo a água misturada com o ferro do sangue da minha boca. Meus olhos com certeza brilham quando uso meu poder para conseguir curar a ferida na minha barriga. Isso vai exaurir minhas forças. Saio dali, mancando e me apoiando no que consigo encontrar pela frente.
No campo de batalha, o que vejo é a morte. Crianças largadas ao lado de seus pais mortos, famílias destroçadas, corpos de magos e feiticeiras, o som de mosntros devorando suas carnes até sobrar apenas os ossos manchados.
—alguém... Alguém me escuta? Preciso ir para a linha de frente... Mais deles estão chegando da floresta, não podemos desistir!
Olho para trás, vendo a muralha ser completamente invadida e dominada pelas formas dos corvos. Em meio a névoa em minha frente que se dissipa agora, dois soldados com o símbolo da bandeira da casa Haveron se erguem. Esses dois corvos avançam com suas espadas. Arqueio meus dedos, o pescoço do primeiro quebra e ele caí, faço o mesmo com segundo passando pelos dois mortos. Faço isso com gosto e raiva.
—tem alguém aí? Por favor... Alguém responda! Tem alguém vivo?!
Continuo meu caminhar desajeitado e cansado. Com a mão onde estivera antes cravada a adaga, continuo enquanto mergulho na fumaça da névoa. O dia se seguiu, até a noite cair sobre nós e não parei de chamar e clamar por sobreviventes.
—Ayo... Preciso de você!
Castiel
Deitado sobre trapos de panos, em frente a uma fogueira que é o único ponto de luz na noite, cercado por árvores, uma mão feminina estende uma tigela com um líquido estranho. Bebi fazendo cara feia.
—tem gosto de merda...
—huh—ela ri—já provou merda pra saber?—tudo embaçado, sem conseguir ver seu rosto—está gangrenando. Precisei neutralizar as toxinas—fica mais próxima, revelando o rosto de Yen.
—tem magia aqui...
—seu ferimento é perigoso, mas você irá ficar bem. Você foi salvo pelo seu pulso, quatro vezes mais lento que de um humano normal.
—sou um caçador...
—su sei o que você é.
—ah, cê tá na minha cabeça...
—pode ser... Ou pode ser que eu nem esteja aqui e você esteja delirando em seu leito de morte.
—não vou morrer tão cedo—digo erguendo meu tronco, para olhar melhor quem é mas não consigo ver, está tudo borrado e sem confirmação certa.
—concordamos. Não é aqui que seu destino acaba—ela se aproxima—pessoas que tem seus destinos ligados sempre vão se encontrar, Castiel, lembre-se disso. O garoto, ele vai precisar de você mais do que nunca... Está na hora de seguir em frente, pai...
—não pode ser...
Finalmente tenho a visão completa de seu rosto angelical. Meus olhos se enchem com lágrimas mas não descem, ficam presas pelas minhas orbes.
—eu sei o que você está pensando.... Você não falhou comigo. Estava escrito. E está escrito que você não vai morrer agora. Siga em frente, pai, não viva de seu passado nem seja duro consigo por isso.... Não é isso que quero para você.
Deperto rapidamente, erguendo meu tronco. Cabelo bagunçado e rosto sujo, com um suor que deixa meu corpo todo grudento. A dor no corpo passou, o delírio foi embora e me sinto um pouco melhor.
—pra onde ela foi?—Dylan deixa de fazer carinho nos cavalos e caminha na minha direção—a garota.
—qual?—se encosta com o ombro na árvore—você disse o nome de muitas heheh—reviro os olhos.
Levanto sem delongas. Não sei porque, mas manco ao caminhar. Minhas forças não devem ter voltado por completo.
—qual a distância da fazenda que estamos indo até o campo de batalha?—questiono rangendo os dentes com as pontadas que acontecem perto do meu peito.
—que?
—até Stagobor! Até a muralha... Ah, porra!—me agarro a carroça e então subo com esforço, encostando minhas costas na madeira.
—eu sei lá. Uma, talvez meia hora com um cavalo rápido o suficiente. Ai, valeu por ter me salvado—ergo o cenho de olhos fechados—nem sei como te pagar.
—só me dá uma cerveja e tá tudo certo. Agora VAMOS!
Yen
Na noite, alguns de nós resistem mas somos massacrados. Os soldados inimigos avançam junto dos monstros que são uma enorme vantagem sobre nós. Os reinos do norte não vão chegar a tempo... Na minha caminhada pelo terror do campo de batalha, avisto Ayo de costas. Corro até ela.
—Ayo! Está viva!—chego ao seu lado.
—Yen...—quando se vira, ela fraqueja e despenca em seus joelhos.
Me apresso em segura-la. Percebo um grande trapo enrolado em sua cintura, com grande aperto na área que é manchada pelo vermelho do seu sangue.
—precisamos de você! Todos nós!—seguro suas mãos, encarando seu rosto machucado e sujo, cansada e acabada—não podemos desistir!—baixa o cenho, fechando os olhos cansados—você me salvou...—digo com a voz embargada—nunca vou me esquecer!—meus olhos transbordam lágrimas. Ergue o rosto, com suas orbes se abrindo fitando-me.
—é a sua vez agora. Salve essas pessoas, Yen. Esse país, esses reinos, esse continente... Ah, e-esse... Uhg, esse é o seu propósito!—deixo as lágrimas escaparem pelo meu rosto.
—como?! Eu não posso!—seguro mais firme em suas mãos.
—v-você pode...! Tudo que você já sentiu, tudo que você escondeu...—uma de suas mãos se desgruda da minha e pousa na lateral do meu rosto—chega de se controlar. Deixe o que há dentro de você sair... Deixe tudo explodir! Use toda a sua essência!
Pouso minha mão em seu braço, fechando meus olhos em seguida enquanto lágrimas rolam pelas minhas bochechas. Nossas testas se encontram, as duas juntas num momento de desespero e último surpiro para uma última chance. Me levanto, desfazendo qualquer contato entre nós duas. Caminho a passos lentos, chegando até uma grande rocha que aponta para os soldados com a bandeira da casa dos corvos: Harveron. A muralha atrás de mim arde em chamas, os monstros atacam e ajudam a destroçar meus irmãos, ateiam fogo na floresta. Na ponta da rocha, encaro todos em suas lutas. Ayo se levanta, ficando abaixo de mim. Abro minha boca, deixando um curto e pequeno suspiro sair. Fecho os olhos. Desfaço as trancas que criei, abro as portas que fechei... Quando dou por mim, meus pés não encontram mais o chão. Flutuo no ar, de braços abertos mas curvados. Abro os olhos púrpuras que queimam junto das chamas da mesma cor que ardem em minhas palmas.
Encaro todos os meus inimigos, e então... Explodo todo o meu poder em uma onde de energia, uma chama púrpura que se torna um grande mar que queima todos pela frente, se expandido por lados e para trás, não deixando nenhum dos corvos escaparem. Grito pela raiva, pela dor, por tudo que sofri enquanto mais jovem e até agora, libero toda minha ira para cima deles.
Liberto todo meu poder para cima de todos eles, sem deixar um vivo, sem deixar nada além de cinzas dos meus inimigos. Mas... Todos aqueles que lutaram ao meu lado ou são importantes para mim, esses, esses eu poupei. A última visão que tenho, é de Ayo se erguendo quando as chamas mágicas a cercam e então, com a terra queimada, eu apago.
Narrador
Quando Ayo olha ao redor e para a pedra que a sua melhor aluna subiu, Yen desapareceu sem deixar qualquer rastro.
Na fazenda na floresta, Calen observa o céu que não está tão estrelado como de costume. Elisa surge ao seu lado na janela de casa, com uma vela em mãos.
—o céu parece estranho hoje... Sem nenhuma estrela quase.
—é...—Calen concorda, mexendo os pés, baixando e levantando o cenho—Darkvin está próxima.
—a batalha está próxima mas pelo que sei, os Haveron estão indo para o norte. Eles não tem motivo para vir aqui—a luz da vela reflete o brilho dos olhos da ruiva. As duas mantém um contato visual emocionante—eu sei, é uma vida simples, realmente, mas se eu partir amanhã estarei feliz, tive tudo que sempre quis: saúde, um teto sobre a minha cabeça, um belo marido e uma linda filha.... Mas uma família não precisa ser apenas de três—suas mãos tocam a da elfo—não paro de pensar que o destino cruzou nossas caminhos...—ela suspira docemente, com um sorriso emocional. Calen não sabe como reagir e apenas deixa um pequeno sorriso aparecer no canto de seus lábios—vá dormir, querida. Vocês todos merecem isso.
Ela se vai, levando a luz quente do fogo. Calen sobe as escadas, a passos lentos rangendo a madeira do assoalho. Adentra seu quarto e senta em sua cama, encarando aquele tecido macio e cheiroso. Se aproxima do balcão ao lado e com um sopro, mergulha o quarto no escuro.
No campo de batalha queimado, com brasas púrpuras se erguendo pelo ar. Ayo confusa pela fumaça que cobre todo aquele terreno. Estufa seus pulmões para gritar, mesmo com dor e ferida.
—Yen! Yen! YEN!!!!
Castiel em seu mundo de escuridão da floresta queimada e confusa, ele grita:
—Yen! YEEEENN!!
Edward
Uma voz masculina e áspera grita em meus ouvidos, me fazendo despertar na cama ao lado de Loren que ainda dorme. Respiro fundo, com o coração acelerado e a respiração descontrolada. Olho pro elfo ao meu lado e olho pra janela, o dia já raiou e o os pássaros cantam com o acordar do sol. Me levanto, agarrando minhas roupas rapidamente. Visto minha camisa, minha calça e botas e enfim desço as escadas apressado. Não paro de sentir algo me atraindo e me chamando.
Encontre Castiel de Yosoda.
—Edward?! Edward, espera!
Escuto a voz de Loren e o Ignoro, assim como todos que despertam de seus quartos confusos com os gritos do elfo.
Parto para a floresta, sem olhar para trás e deixando todos eles. Eu preciso encontrar, preciso encontrar ele agora! Ele está perto!
Castiel
Dylan finalmente chega na tal fazendo que ele disse. Ao chegar, amarro com mais firmeza o trapo que faz pressão na minha ferida que se cura agora. O garoto desce da carroça, encontrando o casal que parece preocupado e aflito com algo.
—opa, oi, tudo bem? Meu nome é Dylan, aquele é Castiel—apenas lanço um olhar sem emoção—estavamos procurando um local que pudéssemos descansar e comer alguma coisa. Eu soube dessa fazenda que ajuda refugiados, queríamos pedir isso e logo depois partiremos.
—ah, me desculpe—a mulher ruiva se põe a frente—meu nome é Elisa. Sim, podemos ajudar. Só peço que tenham paciência, já estamos com a casa cheia e precisamos ver se achamos lugar para acomodar vocês dois. No momento estamos mais preocupados com o garoto que fugiu para a floresta.
—garoto?—Dylan arquia o cenho—aconteceu alguma coisa? Podemos ajudar?
—ah, não se preocupe. Os outros três que estavam com ele já partiram em busca dele. Esperamos que encontrem ele, Edward é um garoto tão doce e bondoso, tomara que não se depare com soldados de Darkvin.
Com o pronunciar daquele nome, faço contato visual com Dylan, com a fala da mulher chamando nossa atenção imediatamente. Rapidamente pulo pra fora da carroça, correndo para dentro da floresta, adentro as árvores sem ouvir aqueles que me chamam. Não é apenas uma busca mas um chamado que parece me instigar a adentrar mais aquelas árvores indo de encontro com algo que me atrai.
Em passos calmos, na manhã melancólica e com as nuvens que cobrem o sol. De roupas sujas e mal ajeitadas, caminho pisando nas folhas secas. Meus passos cessão. Baixo o olhar, escutando o barulho de tudo ao meu redor, escuto o vendo e o sinto passar pela minha pele. Respiro fundo, erguendo o queixo, olho as árvores calmas que refrescam o lugar. Não escuto nada além da natureza. Me viro, desistindo disso com a intenção de voltar mas antes de continuar, olho por cima do ombro, viro de volta assim que avisto um garoto de cabelos brancos prateados correndo em minha direção, o vejo se aproximar e tudo parece em câmera lenta. Não esboço nenhuma reação, minha boca abre e fecha com os olhos dilatados assim que ele fica frente a frente a mim. Nossas respirações agitadas tomo coragem em dar um passo erguendo meus braços abertos e o garoto rapidamente se atira neles, entrelaçando na minha cintura com sua cabeça encostada em meu peito. Não consigo acreditar, não consigo reagir direito apenas deixar acontecer o que adiei e ignorei por anos.
—pessoas ligadas pelo destino sempre vão se encontrar.
Desfaz o abraço e encaro seus olhos azuis como o mar e ele os meus, amarelos profundos.
—quem é Yen?—em choque pela sua pergunta, apenas solto um suspiro segurando seus ombros.
—não importa.
—Edward!—avisto um grupo de pessoas se aproximando.
Duas mulheres e um garoto próximo a idade de Edward, mas logo vejo que não são humanos e sim elfos. O garoto se afasta de mim, recebendo um abraço coletivo dos outros. Desfaz o contato ficando entre nós.
—esse é Castiel—recebo olhares dos estranhos—Castiel, esses são Calen, Anna e Loren—sorri principalmente para o garoto elfo—eles me ajudaram muito e são extremamente especiais para mim.
—hum—respondo com um resmungo.
O clima fica estranho principalmente com aqueles estranhos ali.
—muito bem, Edward Wyndrivver e Castiel de Yosoda—sou surpreendido com o surgimento de um cervo branco que se aproximou tão silenciosamente, que nem ao menos o notei.
—Kaolim!—Edward corre até ele, o abraçando. Noto uma cicatriz profunda no pescoço do animal.
—que bom vê-los, meu amigos—diz amigavelmente—o destino nunca erra, cumpriu seu papel e uniu vocês—todos trocamos olhares—deverão vir comigo, agora! Os reinos do norte não chegaram a tempo e Darkvin passou pela muralha, estão a caminho de Druitalux. Mais 50 mil corvos estão vindo. Ahady precisa falar com vocês. Vamos agora ou será tarde demais!
O restante do exército dos corvos sobreviventes terminam sua marcha pesada que tremia a terra. Com os Sombras na linha de frente, eles esperam o comando de Sayon. O mesmo anda com seu cavalo cinza a passos calmos, entre seus homens. Chega na frente, contemplando o imenso muro que cerca o reino abandonado: Druitalux.
—olhe para isso—diz a Rita que se aproxima ao seu lado—um pedaço da história, hah!—sorri sem seu capacete para a feiticeira—os Wyndrivver comandaram esse país por séculos, criaram os cavaleiros prateados e depois veio o império.... Hoje, hahah, os Haveron reinarão sobre tudo!—puxa sua espada da bainha, erguendo para o alto.
O exército volta a marchar, pisando firme fazendo a terra tremer. Os Sombras a frente manifestam sua essência das trevas, fazendo o portão de ferro se levantar e permitir a passagem.
Os corvos adentram o reino esquecido que agora será lembrado mais uma vez. Percorrem as ruas tomadas pela mata, pela vegetação. Enquanto o exército avança cada vez mais em seu percurso na direção do grande Castelo, os Sombras usam sua magia para limpar e se livrar da vegetação no caminho. Depois de uma longa caminhada, passam pela ponte que passa por cima do grande lago que cerca a frente do castelo e tem uma conexão direta com o mar. Sayon e Rita sempre a frente. Adentram a grande fortaleza, finalmente, depois tantas lutas e mortes eles conseguiram: a casa Haveron, do reino de Darkvin com a bandeira do corvo conquistou Druitalux, o maior reino dos noves reinos.
Quando adentram, Sayon observa o lugar. Caminha a passos avistando o grande trono do dragão. Tão lindo, tão poderoso visto de longe onde somente aquele que é digno pode se sentar.
—você já ouviu a história de como ele foi construído?—aponta conforme da mais passos.
—desde quando era pequena—Rita responde sem interesse.
—os Wyndrivver tinham dragões, dragões poderosos e somente eles domavam essas belas criaturas—se vira para a feiticeira, animado e com um sorriso de mostrar os dentes—imagine um dragão entre nós, agora, imagine isso no auge do poder deles: mais de 10 dessas criaturas aladas voado sobre nossas cabeças! Isso era poder!—esmaga seu punho—e desse poder eles fizeram esse trono. Com escamas de dragões eles fizeram isso!—aponta para o grande trono empoeirado—escamas cinzas e pretas depois da morte do dragão mais antigo de sua terra natal: Draahgo, o eclipse negro! Derreteram, entortaram e juntaram com lâminas de antigos guerreiros da dinastia. E tudo isso pra que?—a encara no fundo dos olhos—para que todos que olhassem para aquele que se sentasse nesse trono, saberiam o verdadeiro poder.
—ótima história, Sayon, mas nossa rainha está a caminho. Vamos preparar o local para recebê-la e após isso, sobre as ordens dela, reconstruiremos esse reino e então, será a vez da dinastia Haveron ficar na história.
Após a limpeza do castelo, usando muito da magia para revitalizar tudo a como se nunca tivesse sido usado. Uma fortaleza nova em folha erguida para aqueles que quiserem vir e morar no mais poderoso de todos os reinos. E o trono, ah, o trono... Esse sim foi limpado com dedicação. As antigas bandeiras do império e dos Wyndrivver foram queimadas, no lugar, a bandeira do corvo sob o escudo vermelho foi posta. A rainha estava chegando.
—senhora—um dos soldados surge—nossa graça acabou de chegar.
Sayon caminha até o lado de Rita. Ela acena para o soldado que logo se vai.
—ela chegou rápido—comenta o outro enquanto a dupla caminha até a porta do salão recém restaurado.
—o que acha que aconteceria? Antes de passarmos pela muralha ela já devia estar a caminho.
A imensa porta do trono se abre, com um soldado vindo a frente em um grande grito:
—a rainha Scarlett da casa Haveron, senhora de Darkvin, guardiã das terras do sul e agora, senhora dos 9 reinos!
O grupo de soldados dá espaço para a monarca surgir. Expõe uma perna lisa em um corte lateral do grande vestido preto, brincos e maquiagem leve. Cabelos brancos dourados soltos com uma coroa negra sobre a cabeça, um ar de superioridade e elegância, orgulhosa e arrogante mas carismática e com um sorriso belo e de causar inveja, parecendo a mais bela do mundo.
Ela admira o lugar e então começa seus passos lentos e elegantes, com a grande calda de seu vestido se arrastando pelo piso. Passa por Rita e Sayon, que imediatamente baixam suas cabeças. Scarlett sobe as escadas do trono, o poder que planejou e sempre almejou está finalmente ali, diante de seus olhos e agora, a ponta de seus dedos tocam o braço afiado do trono. Suspira satisfeita e vencedora. Se vira, encarando todos ali dentro, mulheres... Homens que a seguem sem questionar e os quais ela conseguiu rebaixar perante seu poder. Se senta, erguendo o queixo com suas unhas pretas batendo contra o braço do acento.
—bom—libera uma voz tão bela quanto sua aparência—temos muito o que fazer—sorri, com acidez—uma preocupação primária: Sayon, não vejo o garoto aqui—ele dá um passo a frente, baixando um de seus joelhos, com cabeça baixa.
—perdoe-me, minha rainha, estamos cuidando disso.
—estão cuidando disso? Huh, eu deixei vocês cuidando disso por muito tempo—com voz aveludada, encara eles mas ambos os dois fogem do contato de seu olhar—irão fazer certo dessa vez, seguindo a risca o que eu vou falar agora. O garoto vai morrer, e isso será hoje—Sayon se põe de pé.
—sim, vossa graça.
Todo o grupo seguiu Kaolim pelo percuso todo até chegarem em um campo aberto no pé de uma montanha. Os quatro avistam algumas tendas vermelhas erguidas em um acampamento. No topo da montanha, visto contra o sol, ruínas antigas e abandonadas, de algum castelo ou estrutura semelhante. Ficaram conhecidas como "Ruínas de Prata" pela sua aparência, óbvio, construído com cores tão claras e brilhantes que parecia prata visto de longe e também por ser onde os Cavaleiros prateados, se abrigaram por curto espaço de tempo. Há soldados, no máximo mil, há pessoas abrigadas e humildes que saem de suas tendas assim que o grupo passa com o cervo branco. Uma corneta de chifres toca na chegada deles. Todos encaram, principalmente o garoto de cabelos brancos, esse recebe a atenção de todos por onde passa. Alguns cochichão, mas com sorrisos e parecem felizes em ver Edward ali entre eles.
—fiquem aí—diz o cervo, no pé de dois degraus naturais de pedras formados pela natureza.
Ele os sobe com suas quatro patas. Fica do lado esquerdo oposto a maior das tendas. Se vira para todos aqueles que se aproximam e encara o grupo composto por um caçador, três elfos e um garoto de humano de cabelos brancos prateados.
—hum—Castiel encara ao redor, ao lado de Edward—onde tá o tão famoso Ahady?
Mais cochichos entre todos. Kaolim não responde, apenas olha para a grande tenda ali. Todos os soldados e pessoas presentes se ajoelham imediatamente, sem sobrar nenhuma de pé além dos cinco recém chegados. Eles olham ao redor para aqueles de joelhos, depois trocam olhares entre si. A visão de todos vai para a tenda, onde uma movimentação na sua entrada acontece. Uma expectativa corroe todos.
A figura se revela, emergindo de dentro com uma enorme presença que arrepia a espinha de todos ali. Em suas quatro patas, ele caminha glorioso, belo, grande, forte, com uma enorme juba exaltando todo o seu ser. O grande leão caminha até o centro, ficando de frente para eles. Imediatamente os quatro se ajoelham, com Edward tendo que puxar Castiel no processo ou o mesmo não ajoelharia.
—bem-vindos Loren, Calen e Anna Liadon, elfos das florestas. Bem-vindo Castiel de Yosoda, o caçador—o olhar do grande felino vaga por todos aqueles que ele cumprimenta. Sua voz é bela e grossa, mas é calma, suave e aveludada, leva uma paz aos corações de todos aqueles ouvem. Seus olhos encontram os de Edward—e bem-vindo Daregon Wyndrivver, do vilarejo caído e verdadeiro herdeiro do trono do dragão.
—o quê...?—a boca do garoto abre e mas não fecha.
Perto de uma das tendas, comida é servida aos visitantes. Castiel não comeu, apenas ficou de braços cruzados observando distante os passos de Edward, se afastando ao lado de Ahady em uma conversa entre eles dois.
—quanto tempo acha que irão demorar?—Loren aparece ao lado de Castiel. O caçador o encara de cima a baixo.
—eu não sei.
—que ele volte logo. Vou guardar um pouco de comida para ele—volta para a mesa. Castiel se vira, descruzando os braços.
—você é o namorado dele, certo?—aponta desleixado—gosta dele?—Loren sorri, largando o prato com bolo em cima da mesa. Se vira para o mais alto.
—eu amo ele—Castiel serra os olhos, encarando e analisando aquele elfo.
—hm.
Passa por ele, em passos calmos indo para longe de todos ali. Enquanto isso, Edward e Ahady cominham pelo pé da montanha. O Grande Leão é maior até que o próprio garoto, sendo lindo de se admirar.
—porque me chamou de Daregon Wyndrivver?—pergunta. O caminho que seguem os levará para uma floresta.
—Daragon, significa "nascido do fogo" em dothrariano. Foi o nome que sua mãe e seu pai escolheram no seu berço.
—meus pais?—se demonstra espantado.
—sim—os olhos do felino fitam o garoto por um momento—seu pai era Degon e sua mãe era Bêilla Wyndrivver. Após a queda do império, os reinos se tornaram independentes mas seu pai era o herdeiro dos nove reinos e tinha direito na linha de sucessão para o trono do dragão. Ele poderia unir os reinos novamente e desejava isso, assim como sua irmã, Scarlett, a herdeira dele já que o mesmo e sua mãe nunca conseguiram ter algum filho. A relação dos irmãos era boa, eles sonhavam em conquistar o que haviam perdido mas em uma noite onde o frio e a chuva arrasaram a terra, onde se era lembrado de quando o último dragão foi avistado, você nasceu... E isso fragmentou a relação de seu pai com Scarlett. Em segredo ela invocou a essência profana e deu esse poder para aqueles fiéis a ela, os Sombras haviam voltado. Ela ordenou a eles que matessem o herdeiro de Degon mas ele e sua mãe conseguiram fugir. Os Sombras os caçaram, seu pais sem muitas escolhas lhe entregaram a um cavaleiro de extrema confiança de nome Alexander. Scarlett vem caçando você por todos os noves reinos a anos enquanto usurpa o trono para si. Você é descendente direto de Varson Wyndrivver, o primeiro Cavaleiro prateado—adentram a floresta, ensolarada e iluminada pelas luzes douradas e quentes—muitos acham que os cavaleiros eram seres de extremo poder, mas eram apenas um rei e seus lordes buscando manter os nove reinos de pé. A dinastia Wyndrivver governou por décadas, até seu fim... Edward—seus passos param, o garoto vai para sua frente—você é tudo isso e muito mais. A essência guia o destino de todos. O seu, e o meu...—os olhos de ambos se enchem com lágrimas—os poderes que você tem, vem da antiga linhagem Wyndrivver direto de Dothra, somente Varson e você possuíram tais poderes.
—então, minha vida inteira foi uma mentira? E-eu... Ahhh...—suspira—primeiro achei que era descendente de apenas um linhagem de heróis... Agora descubro que é uma dinastia inteira que nunca ouvi falar. Poderes vindo de um homem que nunca li em um livro se quer...
—sua confusão é justificável. Mas mesmo quando a verdade não estava estendida na mesa, ela estava próxima em algum canto que você sempre soube.
—onde você estava por todos esses anos?—ele sorri.
—num dia estarei, no outro não...—caminha ficando mais próximo do garoto, ele dá espaço para o leão. Observam a vida selvagem da floresta—mas eu sempre retorno, sempre me verão de novo, na hora certa—olha nos olhos com as cores do mar—venha, temos que voltar—ele dá a volta—você nunca teve contato com a sua verdadeira cultura e origem, sempre soube por terceiros e quartos, culturas foram formadas ao redor de lendas ou incertezas sobre as histórias passadas de geração em geração. Busque as respostas você mesmo, Daregon.
O garoto encara o chão enquanto anda. Informações conflitantes, sentimentos confusos, histórias que lhe contaram, de sua vida e sua origem entram em conflito e ele não possui certeza de nada. Eles voltam para o acampamento, os elfos e caçador vão de encontro ao garoto. Loren abraça e beija o menor, que aceita o carinho com muito prazer.
—tudo bem?—pergunta preocupado.
—uhum—desfazem o contato, mas se mantém próximos—o quê farei agora?
O grande leão encara a todos presentes. Os olhos de todos aqueles que ele sabe e conhece. Olha pra Edward.
—eu tenho um presente para você.
Um soldado vem com um baú preta, com destaques dourados e símbolo da casa Wyndrivver no centro. Entrega nas mãos do garoto.
Deixa o baú em seus pés, seus dedos puxam as trancas e abre a tampa. Três ovos escamosos, a direita um da cor vermelha, no centro um totalmente preto e brilhoso e já na esquerda, um da cor verde. Castiel imediatamente reconhece o ovo preto.
—eu tomei a liberdade de enviar Kaolim para Yosoda—diz ao caçador—os outros, são de minha parte. Daregon—recebe a atenção do garoto—eu temo pela sua vida—começa. Um soldado leva o baú para guarda-la—Scarlett acendeu ao trono do Dragão. Ela já começou sua conquista com os outros reinos, pessoas estão chegando para morar em Druitalux. Ela está erguendo seu império—eles trocam olhares—um navio espera vocês no mar de Meylem, deverão ir o mais rápido possível. Scarlett não vai descansar até você estar morto.
—vamos fugir então?—Castiel questiona.
—sim—o responde simples.
—hum—resmunga.
—essa é a melhor opção. Você deve ir para sobreviver. Preparem-se, vocês irão amanhã a noite.
Castiel afia sua espada, enquanto Edward e Loren ficam abraçados juntos em um canto da tenda e Anna prepara a comida. Calen chega ao lado do caçador, balançando sua espada.
—Castiel, né?—ele não responde, continua afiando sua espada enquanto encara a noite pela entrada, sentado em uma cadeira—nunca tinha visto uma espada de Katilun, é mesmo muito bonita.
—hum. Que sorte você tem—comenta sem se quer dar ao trabalho de olhar para a elfo.
—ha...—solta um único som de rizada, pressionando a língua contra a bochecha. Ela olha de relance para o casal que está abraçado em vários afetos num sofá.
—não tá com sono?—pergunta o elfo.
—nhum...—boceja. O outro sorri, deposita um beijo na testa do mais novo.
—eu acho que tá sim. Vamos dormir?
—tá bom—se levantam.
—nós já vamos—anuncia para os outros. Castiel acena, Calen acena com a mão e Anna dá um tchauzinho sorridente para os dois.
Eles passam pela entrada da tenda. O caçador os observa se distanciando até sua atenção ser fisgada por um grupo de homens de Ahady. Eles surgem com uma carroça em movimento, com pessoas estranhas acima da carroceria. O caçador se ergue, segurando o cabo de sua lâmina. Vai até o casal, ficando ao lado de Edward.
—quem será que são?
—vamos ter cuidado—responde.
O comandante do local vai de encontro a eles. Castiel acompanha cauteloso, distante mas perto o suficiente para ouvir. Loren e Edward logo atrás.
—quem são?—questiona o soldado.
—são refugiados vindo direto da muralha de Stagobor. Os corvos passaram pelos magos—responde com temor. Castiel olha lentamente para o menor. O caçador tem preocupação e também pensa em Yen.
Os refugiados foram ajudados e banhados, e então um jantar foi feito para todos presentes e todos os recém chegados. Ahady, observa todos distante, ao lado de sua tenda. Edward o avista, um troca de olhares antes do grande leão voltar para dentro.
Uma mulher humilde que veio junto com os refugiados serve todos com a bebida.
—não gosto disso—comenta Castiel ao lado da elfo irmã mais velha. Ele observa atento a todos presentes ali fora.
—você não gosta de pessoas, né?—diz sorrindo. Castiel cruza dos braços.
—não—parte dali, agarrando uma caneca de vinho da mesa, vira em um grande gole.
Um jantar feliz e tranquilo de clima leve. Edward e Loren desistiram de irem dormir para se juntar aos recém chegados. Todos se divertem, menos o caçador que continua suspeito, bebendo distante enquanto sua atenção está principalmente no garoto que sorri e bebe junto com seu namorado. Eles se beijam alegres. O caçador inveja isso, de alguma forma queria poder ser feliz desse jeito, mas o destino não está sendo fácil para ele.
A mulher entrega um novo copo para Edward e o namorado. Os olhos amarelos do caçador se afiam mais ainda. O menor cutuca ela.
—qual seu nome?—pergunta sorridente, agarrando o copo.
—é-é Daiana, senhor.
—Daiana...—repete—não precisa me chamar assim, Daiana. Porque não se senta e toma com a gente?
—oh, n-não, e-eu tenho que continuar servindo os outros—os olhos amarelos observam, levando o copo para seus lábios.
—bobagem. Você já deve ter passado por muita coisa. Eu entendo. Nós passamos por muita coisa também—entrelaça seus dedos com o do elfo—mas passamos por isso juntos e vamos continuar.
Após os dois namorados trocarem um beijo, Edward devolve a atenção para Daiane. Ele arquei o cenho.
—tudo bem?—deixa seu corpo entre os dois.
Ela parece distante, com os olhos longe. Após mais uma chamada do garoto ela o fita por completo.
—ah, t-tudo bem sim... Eu, é, tenho que ir—corre para longe.
—o que será que deu nela?—pergunta ao namorado.
—não faço ideia. Mas seja o que for, espero que esteja bem, deve ter passado por muita coisa como você disse.
—tem razão...—mesmo ainda estranhando, os dois se beijam com ternura, paixão e amor—eu te amo—diz com sinceridade.
—eu também te amo, meu oceano—responde na mesma proporção.
Loren agarra o copo de Edward, leva até os lábios. Derrama o líquido pela sua garganta, engolindo por inteiro. Castiel encara as costas da mulher indo embora, rápida e sem olhar para trás. Ele olha de volta para o elfo.
—merda!
Larga seu copo. Começa a correr, o máximo que consegue.
De repente, Loren despenca de sua cadeira, assustando a todos. Edward se ergue o acolhendo em seus braços, as irmãs do elfo correm até os dois. As pessoas se agitam e alguns gritam. Castiel finalmente os alcança, tarde demais. Loren se agita nos braços do amado, tendo algum tipo de colapso. Seus olhos mostram o desespero e lágrimas escapam, sua boca cospe uma espuma branca que explode em bolhas.
—Loren, Loren, Loren! Não! Loren! Por favor, não!
O garoto começa a chorar, enquanto o outro morre em seus braços.
—não! Não! Por favor, não!
Pede, implora aos prantos com a voz embargada. Agarra a mão do amado e segura firme. Ele não para de tremer e se colapsar.
—Edwa-ah!
Seu corpo para, sua mão afrouxa e seus olhos se fecham lentamente. É escutado um último sopro de vida vindo de Loren, o último sopro que Edward vai ver.
—ah, não!—mais rios e rios de lágrimas descem. Encosta a cabeça no peito de seu amor em seus braços—Loren, não...!
Anna busca o abraço da mais velha, chorando desesperadamente enquanto a outra deixa as lágrimas rolarem, ao lado de Edward e do corpo do irmão morto. O menino de joelhos com o amado nos braços chora silenciosamente, sem revelar o rosto coberto de lágrimas dolorosas. Mais uma vez, lhe arrancaram algo importante.
Na tenda de reparos médicos, Edward encara o corpo do elfo posto sobre a mesa, com os olhos e nariz vermelhos, ninguém ousou falar com ele. Calen se mantém em um canto do local, a pedido de Castiel para ficar com o garoto antes que acontecesse algo com o mesmo. Anna, por insistência de Calen, foi dormir.
Pela entrada, Castiel deixa Daiane de joelhos amarrada por uma corda, segurando sua espada em uma das mãos. Edward encara a mulher de joelhos, é a primeira vez que olha para alguém sem ser o corpo do amado. Seus olhos vermelhos e dentes rangendo o deixam mais decadente. Se levanta, agitado, Calen dá um passo descruzando os braços mas não intervém. Edward se aproxima da mulher, com o olhar de cima.
—porque fez isso?—continua em silêncio—porque?!—exige.
—e-ela mandou, ela ameaçou a minha família, eu não tive escolha!—finalmente fita seus olhos. Edward relaxa os ombros.
—teve... E você a fez—olha para Castiel—irão fazer uma pira para ele, quero ela amarrada ao lado dele—passa pelo caçador.
—Edward!—Calen o chama e o garoto move levemente a cabeça para o ombro esquerdo.
—.... É Daregon—se vai, sem olhar para trás.
Os dois de pé trocam olhares, Castiel suspira encarando a mulher que apenas aceitou seu destino e não parece se arrepender.
A pira foi montada, a mulher amarrada e o corpo do elfo morto posto no topo. Nenhum sinal de Edward, ou melhor, Daregon... Todos se reuniram ao redor em respeito, enquanto isso, ao longe, Ahady observa perto de sua tenda, sentado e calmo.
Um soldado espera a chegada de Daregon, com uma tocha em mãos. Castiel se apoia em sua espada, mechendo em seu medalhão no pescoço. Calen ao seu lado e Anna segurando um lencinho para assoar o nariz. Uma movimentação estranha, as pessoas começam a abrir o caminho, se afastando e deixando uma estrada livre entre elas por onde Daregon surge e passa a pessos lentos. Em seus braços, carrega os três ovos de dragão. O vermelho e verde que ganhou do grande Ahady, e o preto, que lhe foi posto em seu berço. Chega até a pira. Madeiras empilhadas para o corpo de Loren, pedras ao redor que cercam totalmente. A cremação ocorre distante do acampamento. Daregon olha para o solado e a tocha em suas mãos.
—apague isso—ele faz imediatamente. O garoto encara a mulher amarrada—suas últimas palavras!
—não me arrependo! Faria tudo de novo pela minha família!—ele engole em seco mas não treme.
—eu também—olha para os ovos em seus braços. Seus olhos ficam brancos—me tomaram mais uma vez um pedaço de mim... Eu vejo vocês!—diz para todos ouvirem, se virando para todos—pessoas que perderam muito assim como eu, todos sem excessão. E isso nos muda... Isso nos endurece—o olhar do oceano fita todos os presentes—eu sou Daregon da casa Wyndrivver!—eleva a voz para todos—do sangue do dragão! Eu sou o verdadeiro dragão! Eu juro para todos vocês que aqueles que tirarem mais alguma coisa de vocês irão morrer queimando aos gritos!—fica de costas para todos, com o olhar para a pira—toda a minha magia, toda minha essência, eu não me importo, eu entrego aqui, para eles! Katronak, versrom se náh! Quirin nokrastah, na'rrin tô mikarr!—palavras de uma língua que não conhecia mas agora parece dominar o idioma: dothrariano. Deixa os ovos por um momento no chão, tira uma adaga de trás das costas e faz um grande corte em sua mão, sangrando em cima das escamas deles. Os segura novamente em seus braços. Encara a pira, o corpo de seu amado e sente a dor, a dor em seu peito que se contorce e parece que vai explodir dentro de si. Mas com a dor, o sentimento de raiva, ódio e ira, sentimentos que nunca o dominaram tão intensamente, respostas a tudo que lhe tiraram. Ergue a cabeça, sem baixar, determinado e sério—drahgon!
A pira se incendeia e o fogo toma a madeira, devorando o corpo do elfo e da mulher, que começa a gritar e gritar enquanto o fogo rápido e mágico, mais quente que o natural começa a derreter sua pele. Os olhos de Daregon queimam na mesma fervura. Em passos lentos, caminha até o fogo sumindo no meio das chamas. Todos falam entre si e as duas irmãs e Castiel trocam olhares, com olhos esbugalhados e sem reação.
—Edward!—grita o caçador sem obter resposta.
O sol acordou e a manhã despertou, os pássaros contam e as chamas se apagaram e se satisfizeram devorando tudo até sobrar nada além de madeira queimada e pó. Todos ficaram ali, a noite toda esperando as chamas acabarem e isso demorou, demorou bastante. Castiel toma a atitude que todos queriam dar, mas nenhum teve coragem. Caminha até lá, passando pelas madeiras. Puxa a pilha queimada, levantando as cinzas que sobraram da chamas. Ali, o caçador encontra um garoto de cabelos brancos sujos deitado igual a um bebê, o corpo todo sujo sem roupa, mas com a pele intacta. Ele ergue sua cabeça, encontrando o caçador acima de si. Castiel não consegue acreditar, ninguém jamais sobreviveria a isso, absolutamente ninguém. Ele se afasta enquanto Daregon se ergue. Em seus braços, onde havia três ovos de dragões que eram pedras apenas, agora há realmente três dragões vivos, filhotes e recém nascidos. O dragão verde desce dos braços do garoto para seus pés, o preto sobe para seus ombros e o vermelho continua em seus braços. Todos ali, boquiabertos e sem acreditar no que seus olhos vêem se ajoelham para ele, as elfos fazem o mesmo e Castiel, Castiel não resiste e se ajoelha também. Todos aceitam e o reverenciam. O oceano de suas orbes vão até o pé da montanha, onde o grande leão Ahady observa distante. Ele acena lentamente para o garoto, que enfim foi mudado e moldado a partir da dor.
Daregon Wyndrivver do vilarejo caído, nascido da dor, moldado por ela, o primeiro de seu nome, sangue do dragão e verdadeiro herdeiro do trono dos nove reinos.
E enfim presenciávamos o início da era de fogo e sangue.
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