O cachorro e o mendigo
Dia desses, num táxi, tive tempo de observar coisas que há muito não observava enquanto motorista. Não poder dirigir, tem, afinal, suas vantagens. A gente acaba percebendo as paisagens naturais e as urbanas. Infelizmente, a gente às vezes acaba observando demais, não o que não deve, mas o que não gostaria de enxergar.
Tem um sinal num bairro de Blumenau que dificilmente pego aberto, e sempre praguejo contra ele, mas nessa fatídica tarde, eu agradeci por ele ter fechado e o taxista ter parado calmamente.
À nossa frente, um palhaço malabarista fazia graça para entreter os motoristas, pedestres e claro, para garantir o seu sustento. Não somente o seu, mas o do cachorro. Isso me chamou muito a atenção.
Imaginem vocês, que o cachorro estava devidamente amarrado à bicicleta do artista, devidamente confortável, com um colar elisabetano (deveria estar doente), na sombra e com potinhos de água e ração. Muito bem tratado, parecia mesmo um cachorro feliz.
Gente, vamos parar para refletir um pouquinho? Um malabarista, no sinal, com toda essa preocupação com o fiel amigo! Quantos e quantos casos nós vemos por dia de abandono e maus-tratos a animais? Isso é uma vergonha! E digo mais, é caso de polícia! (ou ao menos deveria ser!).
Senti um orgulho imenso do malabarista, e mesmo que o sinal tenha ficado fechado por uns quatro minutos, fiz questão de pedir pro motorista encostar num estacionamento - ele não gostou muito - pra eu poder conversar um pouco com o palhaço.
Pedi se esse era o emprego dele e ele afirmou que sim, que vivia de sua arte. O cachorro era na verdade uma cadela, vira-lata de médio porte, super fofa! O malabarista precisava de dinheiro pra poder pagar o tratamento da amiguinha. Não pensei duas vezes: puxei um tanto de dinheiro da carteira sem contar e dei pra ele. Ele disse que era muito dinheiro, mas eu disse que dinheiro nunca é demais quando você precisa cuidar de um ser vivo, quem dirá de dois!
Voltei pro táxi e o taxista ficou me indagando porque eu tinha dado esmola pra um mendigo mulambento que deveria estar trabalhando, que isso era uma vergonha e blá, blá, blá. Me resignei a dizer que o que eu fazia com o meu dinheiro era problema meu.
Graças ao bom pai, cheguei logo ao destino e pude sair do climão que o taxista tinha feito questão de criar.
Paguei o taxista, pulei do carro e segui vida afora. Não dei gorjeta ao taxista, julgue quem me julgar.
Por Fabi Lange Brandes
Crônica publicada em abril de 2017.
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