Marcas
Era verão. Calor de 40 graus na minha cidade eu lutando contra ele. Mesmo assim, fui na academia vestindo uma regata, exibindo meus braços flácidos pela perda de gordura. Eu já me sentia envergonhada quando ia de regata, mas decidi que eu tinha de me importar comigo, e não com os outros. Lembro como se fosse hoje: eu estava na esteira, terminando meu exercício aeróbico quando uma senhora se aproximou e me perguntou se eu não tinha vergonha das minhas várias estrias no braço. A pergunta me pegou de surpresa, já que a dita cuja nunca havia falado comigo.
Eu olhei pros meus braços, as linhas tortuosas e brancas mostravam que um dia a pele tinha esticado demais. Respondi à senhora que não me incomodavam, e continuei a andar na esteira, um pouco envergonhada. Insistente, ela disse que já havia solução pra isso, como se fosse o fim do mundo eu me conformar com aqueles traços marcados nos meus braços.
Fitei-a novamente, e disse que aquelas eram marcas da minha história tatuadas na minha pele, e que todas as vezes que eu olhava pra elas, eu me lembrava que um dia eu tive 130 kg e que nunca mais eu queria chegar naquele estado. Ela deu um sorriso amarelo e se afastou. Nunca mais nos falamos, também não achei necessário. Se a solução para as estrias existe, eu fico muito contente, mesmo, porém, eu ficaria mais contente se existisse a cura para as pessoas que insistem em se meter no corpo dos outros.
Por Fabi Lange Brandes
Crônica publicada em 9 de dezembro de 2015.
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