Eu era
Eu era pra ser tantas coisas. Começou com a coisa toda de ser um menino. Meus pais desejaram tanto por um menino que por muitos anos eu tentei tomar esse lugar, mesmo que fosse na minha imaginação, mas era apenas pra ser, e não foi.
Aí, eu era pra ser a melhor da turma, a nota dez em tudo, e isso era sempre. Era pra ser no jardim de infância, no primário, no fundamental, veio o médio e a universidade, e de novo, eu não fui. Era pra ser, mas não fui.
Ah, e quem sabe eu era pra ser uma médica! Sim, porque afinal, médicos são ricos, salvam vida e têm prestígio que professores e letrados não têm. Mas, o que era pra ser, não foi, e eu me tornei essa pessoa comum que tenta salvar as pessoas da ignorância através das palavras.
Eu era pra ser a esposa exemplo, que limpa a casa, tem filhos e dá conta de agradar o marido, mas aí, eu descobri que nada era como eu planejava: eu não dei conta de nada disso. Até agora, não fui nada disso direito: não fui mãe, a casa está sempre uma zona e nem sempre eu consigo agradar o marido do jeito que ele merece. Eu não consigo nem mesmo ME agradar!
Houve um tempo que esperavam que eu fosse a profissional perfeita: aquela que nunca fica doente e que recebe cada pessoa com um sorriso nos lábios. Mas eu não fui, e daí eu caí em desespero pela primeira vez, porque foi aí que eu percebi que na minha própria ilusão eu não era o que eu mais queria ser: perfeita.
Era pra eu ser magra. Bom, eu estou no caminho, mas será que é pra ser?
São nesses dias nostálgicos, tardes de domingo intermináveis em que nós nos perguntamos o que realmente queríamos ser e não fomos, e se , quem sabe, talvez, numa dessas, ainda dê tempo pra ser o que não se foi até agora.
Talvez, não era pra ser. Talvez, não fosse pra ser. Era pra ser?
Por Fabi Lange Brandes
Crônica postada em 24 de Julho de 2016.
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