Capítulo 46 - Ataque ao Monte Burlmugaron (Parte 4)

Atrás deles, Sagitta desceu dos céus e pousou perto deles, e recolheu suas asas. Ela trazia consigo sua arma sniper. A discussão com o guardião estava acabada, mas eles ainda tinha o problema da travessia do abismo. Folgo fez uma careta para a manivela. Aquele era certamente o momento certo para montar uma harpia domada. Ou até mesmo uma coruja. Se eles realmente tem que chegar ao Oráculo, ela deveria pelo menos oferecer montarias aladas como aquelas que habitavam aquelas cordilheiras.

-Mas o que... – Amirah arregalou os olhos, assustada.

-Porque você fez isso? – Perguntou Beat, incrédulo.

-Estamos com pressa, não temos tempo a perder com alguém que nos está impedindo – respondeu Sagitta.

-Mas não era necessário matá-lo!

-Somos piratas, esqueceram? Piratas não são salvadores, nós roubamos e matámos porque é isso que nós fazemos!

-Mas...

-Chega – respondeu Dymas – não temos tempo. Não podemos chorar pelo leite derramado, não conseguimos salvar a todos aqui. Resolvemos isso depois.

Nem harpias amigáveis, nem outras criaturas aladas fizeram  uma súbita aparição. Wiz fez novos sinais de mãos e novos relâmpagos crepitaram em sua mão direita.

Ela deixou-o voar até a manivela, explodindo-a até virar sucata. As correntes enormes emitiram um som agudo enquanto a ponte levadiça descia. O estampido finalmente apagou os ecos da morte do guardião.

Wiz fez uma pausa para julgar a lacuna restante. Oito ou nove metros, não mais, mas um mau julgamento da distância significava suas mortes nas rochas abaixo.
Eles precisaram de alguns passos para dar o impulso e se atirou para o ar. Enquanto voavam em direção aos destroços do final da ponte, outro assobio vindo do céu elevou-se a um guincho. Eles alcançaram o final da ponte, seus dedos agarraram lascas de madeira e pedras, e virou-se em um salto para trás que os deixaram em uma estrutura um pouco mais sólida e um pouco mais próxima do templo. Dymas olhou o guincho e viu outra bola de fogo voando, vindo diretamente para eles. Mesmo que sobrevivessem ao fogo, ela certamente destruiria a ponte; Dymas e os outros não tinham vontade alguma de acompanhar o guardião e acrescentar seu corpo a pilha sangrenta abaixo.

Agindo institivamente em vez de decidirem conscientemente, Wiz soltou outro relâmpago de sua mão, cortando os ares para chocar-se com a bola de fogo.  A detonação espalhou a bola de fogo por todas as direções. Wiz se virou para evitar que pedaços de piche escaldante chovessem sobre ele. A última coisa de que eles precisavam eram de mais cicatrizes e ferimentos em seus rostos. Alguns atingiram o piso da ponte e inflamaram.
Wiz levantou um grande escudo mágico.

Eles saltaram para o outro lado, correndo para superar a velocidade das chamas, mas antes que eles pudessem chegar a segurança das pedras, eles sentira a estrutura vacilar sob o seus pesos, tremer e, por fim, desmoronar. Os piratas escalara as pranchas ardentes como se fossem uma escada, mal atingindo o caminho rochoso antes da ponte despedaçar-se e cair no abismo.

Dymas olhou de volta para a abertura rochosa por um breve momento. Pelo menos, o guardião devia estar sorrindo no Inframundo. Nenhum monstro atravessaria aquele precipício, a menos que pudesse voar. Eles viraram-se e seguiu em frente.

O caminho íngreme tornou-se uma escadaria que levava direto para o topo da montanha. Na cúpula, erguia-se uma estrutura vasta, de muitos níveis, três ou quatro vezes o tamanho do templo de Esdras abaixo e dez vezes a altura, todo construído com elegante mármore e folheada com mais puro ouro montanha adentro.

Enquanto subiam os degraus, sons de batalha vieram de cima. Eles se endireitaram e cada um empunhou suas armas, que assobiaram e deixaram uma trilha de faíscas. Folgo e os outros empregaram os passos em direção ao templo rápido e silenciosamente, movendo-se tão furtivamente quanto podiam, até encontrar a fonte do barulho de espada contra espada.

Uma grande área devocional no centro do templo estava suja com sangue fresco. Dois soldados elfos cambalearam de trás da estátua de Esdras que se erguia sobre o outro lado da câmara, tentando desesperadamente refrear os ataques de cinco ou seis mortos-vivos da infantaria pesada.

Dymas assentiu consigo mesmo. É claro, tão logo a Kartacos localizou o templo, suas imundas desovas do Inframundo começaram a aparecer. Mesmo ali, no santuário sagrado da Oráculo.

Eles caminharam suavemente através da área aberta e cortaram as pernas de quatro mortos-vivos antes das criaturas perceberam a sua presença. Alguns golpes rápidos liquidaram os outros. Um soldado estava ferido, vertendo a última gota de sua vida no chão imaculado da Oráculo. O outro elfo acenou a Dymas sombriamente em agradecimento, em seguida, soltou um grito de guerra e investiu para trás da estátua de Esdras.

Sua cabeça rolou um instante depois.

O monstro que havia acabado de enviar o valente soldado para o paraíso circundou a estátua e veio a eles. Outro legionário morto-vivo, mas esse se elevava mais alto que um minotauro, estava vestido com uma armadura impenetrável, e ambos os seus braços terminavam em uma foice mortal no lugar das mãos.

Os fogos venenosos de suas órbitas oculares vazias fixaram os piratas como se lançassem um desafio silencioso. O monstro horrível atacou com uma velocidade que pegou eles de surpresa.

Mal desviando das lâminas perniciosamente afiadas, Dymas e Beat adiantaram-se e chegou ao centro do templo, onde ele poderia lutarem desimpedidos. A criatura avançou sobre eles e perdeu uma perna. Quando ela caiu, Dymas desferiu um segundo golpe, que arrancou as duas mãos do legionário. As foices mortais retiniram no chão. Dymas olhou para o monstro que se contorcia, então golpeou com sua espada uma última vez vez. A cabeça rolou para além das foices.

Mesmo com todo o seu aspecto feroz, o legionário provou não ser nada demais, nem mesmo um adversário.

-Ajudem-me! – veio um novo grito de trás da estátua – ao meu lado, que Esdras o guie na sua busca sublime!

Um terceiro soldado élfico lutava sozinho contra um par de legionários, batalhando ainda que enfraquecido por conta de uma dúzia de cortes, alguns profundos e pelos menos um provavelmente moral.

Os piratas acrescentaram a luta. Seal afastou os legionários e viu por que os soldados élficos estavam lutando atrás da estátua: havia uma porta escondida que fora quebrada em cacos, abrindo um corredor estreito que levava, Dymas supôs, para os aposentos do Oráculo.

Esses legionários não eram desafio maior do que fora seu irmão maior. Seal e Folgo teceu uma cortina de morte sobre eles, avançando para a matança, e o mundo explodiu ao seu redor.

Uma bola de fogo estourou no telhado do templo e queimou o que havia em seu caminho, abrindo um buraco na estrutura. Um bocado grande de chamas caiu inteiramente no elfo e o matou instantaneamente. Os mortos-vivos com os quais os piratas duelava também, voltando ao Inframundo em um instante de combustão. Mesmo os legionários que Folgo e Seal combatia pereceram, quando uma bola do tamanho de um punho de fogo gigante espirrou em cima de seus capacetes e queimou até que nada mantivesse acima dos ombros ossudos, fora uma poça de bronze fundido.

A armadura que Folgo havia roubado de suas vítimas também  chamejava com dezenas de gotículas de fogo. Um rápido floreio de sua katana cortou suas ligações improvisadas, e a armadura caiu no chão, onde foi rapidamente consumida. Dymas também o fez.

Dymas se sequer olhou para trás.

Ele passou por cima do cadáver élfico que ardia em chamas e entrou no corredor estreito.

-Khirmina? – ele chamou – sou eu, Dymas, o rapaz da taverna.

A mulher espectral que veio a eles antes agora apareceu em carne e osso, a pelagem alaranjada com feições felinas. As tiras translúcidas de seda verde que ela usava como saia iludiam, movendo-se para esconder e ao mesmo revelar suas pernas, coxas e quadris. Envolto em torno de seu corpete, o pano diáfano se agarrava com ferocidade estática a cada uma das suas curvas delicadas.

-Você veio – o Oráculo sussurrou. Sua voz o acalmava – eu tinha começado a duvidar que você viria.

-Eu falei que vinha ajuda-la. Eu até fiz biscoitos amanteigados mas... acho que deixei em algum lugar durante o ataque. E eu só não sabia que você fosse o...

-Oráculo de Burlmugaron? Eu pensei em conta-lo, mas... não sei... não queria esconder. Me desculpe.

Lá fora, um tremor forte aconteceu e balançou todo o templo.

-O templo não é seguro – disse ele. - Os seguidores obscuros do Inframundo caçam aqui dentro.

Khirmina fechou os olhos e suspirou. Por um momento, o pirata achou que ela iria cair no choro.

-Meus defensores sucumbiram. Que suas almas encontrem nada além de alegria ao se juntarem a seus amados no paraiso. Só você perdura, Dymas – seus olhos, como piscinas de luar, fixavam-se em Dymas, e por um momento o pirata não se lembrava sequer de quehavia uma batalha em torno dele – você é tudo o que eu tenho agora.

Ele se sacudiu para voltar a realidade.

-E eu sou tudo de que você precisa. Apresse-se.

Ele olhou ao redor da pequena sala onde o Oráculo se encontrava: apenas uma cama e alguns objetos pessoais. Ela levava uma vida pouco sofisticada, inocente, livre de vaidade ou malícia.

-Você mentiu sobre você – disse Dymas – você inventou toda aquela história porque você sabia sobre mim desde do inicio. Por isso você me pediu para ir atrás de perdão.

Mas a câmara em si era um pesadelo tático. Se os asseclas do Inframundo chegassem a essa sala, o teto baixo e as paredes próximas impediriam o uso das suas armas, e desencadear qualquer magia poderosa ali poderia ser suicídio. Pior, o corredor que levava ao templo era a única saída da sala. Uma força suficiente na porta os deixaria abertos a qualquer investida, como moscas em uma garrafa.

-Devemos conversar, você e eu -, o Oráculo disse, um banquinho de quatro pernas ao lado da sua cama. – Sente-se e eu vou dizer o que você precisa saber.

-Por que você não me disse logo?

O Oráculo fez um movimento de desprezo para silenciá-lo e disse:

-Eu vou revelar o que eu vi. As vezes, minha visão é precisa, outras, é como se eu tivesse olhando através de um véu. Ou, talvez, seria melhor dizer através de uma mortalha. – uma expressão distante alterou-a de ansiosa para etérea. Dymas viu o poder de seu talento, ou seria uma maldição?

-Revelados a mim são os segredos escondidos das deusas – o Oráculo disse. Por mais que sua sabedoria atinja mundos longínquos, há algumas coisas que, mesmo a elas, são privadas.

Dymas se sentiu exposto sob seu olhar firme, centrava-se não sobre ele, as aparentemente em algo além, algo dentro dele.

-As visões preenchem todos os meus momentos despertos, cada instante dos meus sonhos, dizendo-me o que vocês devem fazer. – a sua voz diminuiu para um pouco mais que um sussurro. – Eu sei como acabar com as trevas.

Gritos muitos familiares ecoaram entre as colunas do templo, e Dymas empunhou suas espadas prontas para a ação.
-Esta sala é uma armadilha. O que quer que esteja invadindo Burlmugaron, vai acabar matando-a se a encontrar. Mova-se e eu vou mantê-la viva.

Ele correu de volta para o templo e derrapou em volta das grandes estátuas de Esdras. Fora os cadáveres e o sangue espalhados no chão, a sala se estendia vazia e silenciosa. Ele olhou para o teto rompido e encontrou um enxame fétido de harpias.

Ele dirigiu-se para um terreno mais aberto, onde poderia ataca-las com toda a sua força. Os outros piratas haviam desaparecido, mas Dymas ainda podia ouvir o tilintar de suas espadas confrontando os inimigos. Uma harpia gritou e atirou-se violentamente para baixo, como uma água em ataque. Ele esfaqueou-a, levando a ponta da espada ao peito da criatura horrenda. O sangue explodiu e espirrou em seus olhos, mas ele ainda desmembrava o monstro com apenas um movimento do pulso. Ele cortou o ar com suas espadas enquanto piscava firmemente para limpar seus olhos.

Mais harpias gritantes enxameavam ao redor dele. Suas lâminas encontraram a carne monstruosa mais de uma vez, mas as garras rasgavam a sua pele de todos os lados.

Quando finalmente limpou o sangue de harpia de seus olhos, ele viu harpias feridas se contorcendo pelo chão do templo. Uma secreção continuava a escorrer de suas feridas enquanto elas usavam suas asas de couro para se arrastar. Quando uma delas percebeu que ele observava, gritou para ele mais uma vez, e todas rangeram seus dentes irregulares, produzindo um som agudo, em desafio feroz.

Dymas viu um último golpe passar diante de seus olhos e moveu-se para matar.

-Dymas!

O terror na voz do Oráculo fez Dymas volta-se para as costas da estátua de Esdras. Duas harpias seguravam o Oráculo com suas garras imundas. Ele na direção delas, lâminas empunhadas. Ele vira muito bem quão rapidamente uma única harpia podia assassinar alguém, e as memórias assombrosas do que avistara enquanto corria para a direção do templo açoitados pelos paralelepípedos das vilas fez a sua bile subir a garganta, mas elas pareciam ter algum outro plano para a sua prisioneira.

Elas bateram as asas no ar, arrancando a mulher do chão. Garras poderosas afundaram nos ombros do Oráculo. As harpias gritara com alegria maléfica e levantara voo, o Oráculo suspenso e suas garras punitivas.

-Dymas! – ela gritou, sua voz enfraquecia em desespero – Dymas, me salve!

Dymas saltou com toda a sua força, mas outra harpia havia cronometrado a sua corrida e chocou-se contra ele, atingindo suas costas, como uma flecha acertando o alvo. Ele girou, soltando um grunhido, e um único corte das espadas tomou uma asa e o topo da sua cabeça. Ainda não compreendendo que havia sido mortalmente ferido o monstro investiu com suas garras apontadas furiosamente para ele. Um segundo golpe das espadas enviou as garras para o chão do templo, desprendidas dos braços onde um dia estiveram anexadas.

Mas mesmo esse único segundo de distração havia se provado muito dispendioso.

Antes que ele pudesse recompor-se para saltar de novo, as harpias carregaram o Oráculo, bateram as asas com força e desapareceram através do buraco no teto do templo, e todas as suas irmãs seguiram-nas. Dymas assistiu, impotente, as criaturas e sua prisioneira sumirem entre as nuvens escuras das chamas dos ataques.

Sozinho, Dymas virou-se para a estátua inexpressiva de Esdras e estendeu as mãos.

Ele não rezou para Esdras, ou implorou por perdão, ele o amaldiçoou. E arquitetou um plano para resgatar o Oráculo.

A inspiração do Grão-Sacerdote não parecia que se apresentaria. Dymas teria de criar um plano sozinho. Como sempre.

Ele olhou pelo buraco fumegante no teto do templo, tentando avistar as harpias e o Oráculo. Sem sorte. Ele correu para fora e circundou o templo, pensando furiosamente. Como ele poderia resgatar a mulher sagrada, se a encontrasse nas alturas? Os relâmpagos de Wiz irira fritar o Oráculo juntamente com as harpias, e Sargitta não daria conta daquele enxame de criaturas. A probabilidade de que qualquer coisa que ele fizesse ela cair acoplada a um par de harpias furiosas, ou de que ela morreria na queda ou antes, ou depois.

Um arco, pensou ele, lembrando saudosamente do bom e forte arco que ganhara do soldado élfico oribundo na brecha das Longas muralhas montanhosas. Um arco e duas flechas.

Duas seria tudo o que ele precisaria, para ferir, para enfraquecer, para caçar nos céus.

Procurando desesperadamente nos céus, ele demorou para captar um som de fricção ao lado do teplo. Dymas rodeou as laterais do edifício e viu uma sepultura recém-cavada. Ele deu u passo para trás quando uma enxurrada de sujeira emergiu do buraco. Ele avançou com cautela, sem saber o que estava acontecendo. Quando uma mão gelada apareceu sobre a borda rochosa, Dymas girou e empunhou suas lâminas, pronto para a luta. Grunhido, resugando para si esmo, um homem idoso e roupas maltrapilhas e sujas arrastou sua carcaça murcha até a borda da sepultura. Ele piscou para Dymas com olhos negros como a noite, envelhecidos e enigmáticos, então jogou ua pá no chão perto da pilha de sujeira e colocou suas mãos espalmadas para fora, tentando se puxar para fora. Ele falhou.

-Você vai me ajudar ou vai ficar ai me olhando?

Dymas olhou ao redor e não viu seus companheiros. Ele se perguntou onde eles estavam lutando. Ele só podia encarar aquele homem, como poderia alguém, ainda mais um velho, ter cavado uma sepultura em um solo tão rochoso como de uma montanha? E ainda mais: no meio de um ataque em grande escala?

-Vamos – o velho falou rispidamente – o quê, o desertor de Thiel tem medo de mim? Você não vê que eu sou mais velho que o Rei Oberon?

Dymas liberou as laminas e pegou a mão do homem. O velho camarada parecia não pesar nada. O pirata achou que fosse quebrar seus ossos com um único movimento.

-Você me conhece?

-Claro que sim. Eu posso ver mais do que com olhos normais pode enxergar. Mais do que qualquer bruxa ou alquimista. Eu vejo o que você é e o que já foi. O porque está aqui. – o velho gargalhou – mas tenha cuidado. Não quero que você morra antes de eu terminar este túmulo.

-Um túmulo? No meio de uma batalha? Que vai ocupa-lo, velho?

O velho coveiro apontou para o grandioso templo de Burlmugaron, casa do alto iluminado Esdras.

-Alguém lá encima morrerá e ocupará – o coveiro olhou Dymas, de suas botas de couro até o topete loiro bagunçado na sua cabeça. – Olha, eu tenho um monte de escavação para fazer, de fato. Em alguns momentos, muitas pessoas morreram então tudo isso precisa estar pronto.

Seus olhos brilharam como diamantes negros, como se escondessem um segredo tenebroso por de trás daqueles brilhos amaldiçoados. Ele continuou:

-Tudo será revelado no momento certo. E quando tudo parece estar perdido, Dymas, lembrem-se que tudo que não esteja pior, pode piorar.

-O Oráculo – Dymas disse. – Você a viu? Ela foi levada por harpias.

-Ah, certamente, eu a vi.

O coveiro pegou sua pá e encravou sua lamina na terra, ao lado da sepultura, com energia surpreendente.

-Eu poderia contar umas coisas sobre ela, se eu tivesse alguma vontade – disse ele.

-Tudo o que eu preciso saber é para onde elas estão levando.

O coveiro ancião voltou-se para o pirata, e toda a aparente senilidade foi drenada de sua voz. Seus olhos queimavam com o fogo negro.

-Bem, para onde você acha que as harpias vão leva-la? – o velho homem disse com desdém. – Você não sabe o principal sobre as harpias?

-Eu sei como mata-las.

-Essa é a última coisa que você deve aprender sobre harpias, meu chapa! A primeira é: as harpias gostam de comer onde elas matam. A segunda coisa é... seus ninhos fica nas alturas!

O velho jogou a cabeça para trás, rindo enquanto Dymas o olhava de cima, sua raiva crescendo. Então o velho ficou em silêncio, virou-se e olhou para cima, para o teto do templo. Dymas ouviu um guincho de uma harpia e o grito de uma mulher em agonia, mas ouviu também sons pesados de armaduras pesadas. Quem poderia ser?

As laminas encontraram suas mãos, e Dymas correu de volta para o templo. Suas botas escorregara em uma poça de sangue e ele derrapou pelo chão, um joelho deslizando pelo sangue sobre o mármore frio. Bem acima do chão do templo, apenas um nível ou dois abaixo do ápice de seu ponto mais elevado, as harpias aparentavam estar em algum tipo de desacordo, coo se ua delas quisesse carregar o Oráculo para alguma área de refeições segura, onde elas pudessem se divertir sem medo de serem rudemente interrompidas pelas laminas do pirata, enquanto a outra parecia decidida a renunciar as formalidades e comer o Oráculo ali mesmo.

O Oráculo lutou com toda a sua força e determinação, batendo nos monstros com seus punhos e extraindo com dificuldade as garras poderosas afundadas em seus ombros. Enquanto as harpias contra-atacavam, o sangue do Oráculo escorria pelos seios e flancos e costelas, pingando nas pontas dos dedos dos pés. Sua força começou a diminuir.

Dymas deixou que as lâminas regressassem as bainhas improvisadas. Sua única arma eficaz a essa distância seria os relâmpagos de Wiz, que fritaria todas as três quando as atingisse... a menos que ela errasse. Parecia improvável. Por outro lado, poderia valer a pena o trabalho de não acertar o alvo, mas de um modo útil.

Ele deu uma olhada ao redor e encontrou alguns corpos de soldado elfos mortos e combate, alguns tinham espadas e flechas encrostados em suas carcaças, e foram essas que ele retirou e atirou um pouco acima, perto do suficiente para assustar ambas as harpias e fulminar a varanda acima delas. Os disparos das flechas fora atiradas com tanta força que arrancou enormes pedaços de mármores brancos, que caíram com um estrondo sobre elas, que aparentemente decidiram que essa refeição especial estava se tornando mais perigosa do que havia imaginado.  Elas reprimiram a rixa, soltara o Oráculo e bateram as asas tão forte quanto podiam, tentando achar cobertura. Uma avaliação rápida da velocidade de queda do Oráculo informou a Dymas que ele tinha tempo para um outro disparo, e a flecha perfurou os corpos das harpias, empalando-as.

Dymas correu para o local onde o Oráculo iria atingir o chão no templo, almejando salvá-la. Mas ela não pousou.

-Ajude-me!

O Oráculo estava pendurado em uma corda, suspensa e um suporte afixado no telhado do templo. O bombardeio de fogo da Kartacos havia deixado algo solto; o Oráculo agarrava-se por sua vida, a centenas de metros acima do pátio do templo. Pior, a corda balançava de forma irregular e ameaçava lança-la na direção da montanha, para além do penhasco íngreme. Dymas sabia que, se ela caísse assim, toda a sua força não serviria para nada.

Ele examinou o pátio do templo, tentando encontrar alguma forma de se aproximar dela. Ele viu uma estrutura frágil de adeira, que talvez lhe permitisse chegar uma camada superior.

-Dymas, salve-me! – ela gritou acima. Esse salvamento precisava ser realizado agora.
Ele inverteu as suas laminas para baixo, como se segurasse adagas (com seu enorme tamanho, ela pareciam mesmo adagas), e saltou tão alto quanto suas coxas poderosas poderiam impulsioná-lo, até as pernas da estátua de mármore. As mesmas qualidades que faziam dele uma boa escolha para construir escadas.

Golpe após golpe, as laminas talhavam o mármore, fazendo fendas profundas o suficiente para que Dymas pudesse escalar cada vez mais alto. Quando ele retirava as laminas para finca-las novamente, os buracos deixados por elas serviam admiravelmente bem para firmar os pés. Dessa forma, ele subiu pela estátua, atingindo a balança da estátua e apenas alguns segundos.

-Dymas! Eu não aguento mais segurar!

-Você não vai precisar – disse Dymas, enquanto dava três passos para impulso e lançava-se no ar.

Ele se esticou e, no último instante, a corda balançou de volta para ele. Ele atingiu o Oráculo com o ombro, como se enfrentasse um adversário no pancrácio. Isso fez com que ela soltasse a corda, e os dois caíra livres...

Com um braço em volta da cintura fina do Oráculo, ele agarrou outra corda com a mão livre. Seus dedos tocaram a corda, fecharam-se e, por um momento, ele pensou que eles estavam seguro. Até que a corda começou a ceder em cima da roldana.

Dymas grunhiu, torceu e partiu a corda duramente, enviando um choque ao longo dela que a desalojou da roldana. A queda cessou de repente, quando a corda ficou travada em um gancho, e Dymas e o Oráculo balançaram para frente e para trás, como um pêndulo. Afrouxando seu aperto, Dymas deslizou pela corda elástica e encontrou o chão do templo mais uma vez Dymas soltou o Oráculo, que olhou para ele atentamente.

-Dymas! Você está atrasado, talvez atrasado demais para salvar o senhor Esdras. Sua redenção só será concedida se ele estiver vivo.

-Mas... você é a minha redenção... – Dymas passou seus olhos por todo o Oráculo e notou diversos arranhões e hematomas feitos pelas harpias. Ela perdia muito sangue.

-Está tudo bem... você está destinado a algo maior. Eu sou apenas uma ponte para fazer com o que você alcance seu objetivo. Você salvará a todos, menos duas pessoas que ama...

Os olhos de Dymas se encheram de lágrimas.

-Eu não sei se posso continuar sem você. Você foi quem despertou em mim, um sentimento a tempos esquecidos, e eu não vou conseguir me perdoar pelas coisas que eu já fiz.

-Não é culpa sua. Nunca foi culpa sua. Lá encima estão os responsáveis por fazerem isso de você. Há forças tão antigas quanto o cosmos agindo no nosso mundo. As trevas primordiais estão agindo nesse exato momento.

Acima dele, um estrondo poderoso ecoou no salão do Grão-Sacerdote Esdras.
Os olhos da Oráculo foram se fechando lentamente. A grave hemorragia a estava fazendo perder a consciência. Ela segurou seu rosto e o encarou:

-Eles não são quem dizem ser. O seu capitão sabe. – Seus olhos se fecharam.

Dymas passou algum tempo a encarando, até que sentiu uma mão sobre seu ombro esquerdo. Era Folgo e Seal. Eles estavam ofegantes e cansados e com alguns ferimentos pelo corpo. Eles estavam batalhando pelo templo.

-Precisamos ir, amigo. Esdras está em perigo – disse Seal.

Atrás deles, mais disparos de fogo sacudiram a montanha. Dymas se pôs de pé, se dirigiu até os aposentos onde eles haviam se encontrado e a pousou gentilmente na cama. Seus olhos lacrimejavam fortemente. Uma raiva cresceu dentro dele como há muito não brotava. Ele voltaria a ser o General que havia sido antes, quando comandava homens do exercito de Thiel.

O grupo se dirigiu para as grandes escadas de mármore. A cada degrau, sons de batalha podiam ser ouvidas: elfos lutavam contra alguém no grande salão.

Ao adentrarem no grande salão, avistaram não uma batalha, mas uma chacina. Aquele enorme urso poderoso esmagava seus inimigos com suas duas grandes espadas serrilhadas, com pequenas serras ao longo do seu fio. Usava uma armadura imperial e estava inteiramente suja de sangue de seus inimigos. Ele parecia se revigorar a cara morte. Em suas costas, uma grande capa rasgada esvoaçava a cada golpe pesado. Aquele guerreiro  emanava uma aura negra e sombria.

-Ah, os piratas. Talvez vocês possam me animar um pouco. Vocês vieram salvar o velho?

Folgo rangiu os dentes furioso. Aquela armadura, aquela capa, é a mesma que destruiu sua terra natal. A mesma que tinha achado que havia levado sua esposa e sua filha. Se era o mesmo responsável ou não, não importava. Ele era do império que estava destruindo Pangeia, que destruiu seu antigo lar.

Ele sacou sua katana e apontou para o guerreiro a sua frente.

-Marechal Kuma. Eu esperei por anos por este dia. O dia que eu arrancarei seu coração, maldito!

A risada robótica e abafada debaixo daquele elmo imperial. Kuma também apontou sua espada para ele.

-Venha.

Todos os outros piratas sacaram suas armas e se posicionaram para o combate. Marechal Kuma encarou o olhar raivoso de Dymas. Ele parou por alguns segundos, encarando o pirata atentamente, até que ele deu um leve sorriso sarcástico.

-Então ela morreu. Me poupa trabalho. Não se preocupe, vai se juntar a ela logo.

Com um rápido movimento, mais rápido que um piscar de olhos, Sargitta atirou para o alto e acertou na corrente que segurava um grande lustre brilhante repleto de diamantes. O grande lustre despencou pesadamente encima do Marechal.

-Isso foi fácil – disse ela.

-Se o seu plano era irritar ele, então eu diria que sim – respondeu Beat, enquanto sua espada emanava uma fumaça gelada.

De repente, o grande lustre explodiu em milhões de pedaços devido a uma aura negra que rompera abaixo dele. Lá, Marechal Kuma rugiu e com um simples balançar de sua espada esquerda, ele criou um turbilhão de cristais e arremessou nos piratas.

Os piratas conseguiram se desviar do ataque bem a tempo. Sargitta decolou, mas a ventania estava muito forte. Milhares de pequenos cacos de cristais acertaram em cheio, a jogando violentamente contra as pilastras. Com um rápido movimento, Beat arremessou um caco de gelo, que acertou de leve o elmo de Kuma. Do flanco esquerdo, Dymas deslizou pelo chão e com sua espada, acertou uma das pernas do Marechal. Na mesma velocidade, se pôs de pé e avançou contra seu inimigo. O báculo de Wiz flutou até o inimigo e agindo por conta própria, começou a atacar Kuma como se fosse uma espada.

A luta era feroz. Marechal Kuma havia anos de treinamento e havia lutado em inúmeras guerras, matado o triplo de inimigos. Ele dominava sua espada como se fosse uma extensão de seus braços. Com sua espada direita, bloqueou um dos ataques de Dymas, e depois o chutou violentamente contra a parede. O báculo lutava da forma que podia, mas Kuma apenas bloqueava facilmente os ataques. Mas o báculo não queria lhe acertar para valer, era apenas uma distração para que Wiz, caminhando sobre os ventos com sua magia, lhe acertasse um violento e poderoso relâmpago. Mas o ataque não foi muito eficaz, uma vez que o só fez perder seu equilíbrio e deixa-lo de joelho. Ela conjurou uma esfera branca e arremessou em seu braço esquerdo, o tornando-o mais pesado.

-A chance é agora!

Mandalas rúnicas projetaram-se diante de suas mãos e ela criou vários portais em diferentes posições. De dentro deles, Folgo e Amirah surgiam e atacavam rapidamente com suas espadas. Os cortes consistiam em ser letais e rápidos, com cortes limpos e cirúrgicos. Era como ser atacados por mil facas sendo arremessadas de todas as direções. Mas de nada adiantava, sua poderosa armadura protegia seu corpo como uma carapaça intransponível.

Em poucos segundos, Kuma identificou os padrões de ataques. Fincou sua espada direita no chão no momento em que os dois lobos estavam a centímetros dele, e com uma aura negra, expeliu de dentro de seu corpo, os arremessando para longe.

-Você não passam de insetos para mim! – gritou Marechal Kuma, para ele, o confronto não passava de uma brincadeira de criança.

A aura sombria se acumulou em volta de seu braço esquerdo e dissipou o encantamento que Wiz havia lançado. Ela apertou os olhos.

Atrás do Marechal, grande estalactites de gelo brotavam do chão e como uma cordilheira espinhosa, cresceu em direção a ele. Mas o urso tinha resposta para isso. Ele tocou no gelo com sua espada e absorveu todo aquele frio, evaporando as montanhas de gelo que o circulava. A frente dele, Beat e Seal, com suas espadas em punho, correram para ataca-lo. Kuma apontou sua espada para os dois e liberou poderosas rajadas de ventos gelados contra os dois. Os ventos eram tão fortes que levantaram Beat do chão e o fez se acertar no teto, a quase vinte metros acima deles.

Seu ataque foi interrompido por um disparo da arma de Sargitta, que lutava para se levantar. Atrás de Kuma, Dymas havia erguido uma grande rocha e o arremessou contra o Marechal. O choque foi violento, o fazendo se chocar contra uma outra pilastra e a fazendo desmorona-la encima dele. Mas Kuma era resistente, no mesmo instante, ele se pôs de pé novamente. O choque da rocha danificou uma parte de sua armadura, mas não chegou a quebra-la. Vindo de algum canto a sua frente, rápida como uma flecha, Amirah o acertou no elmo.

-Ora, ora – debochou o urso.

-Devia ter me matado quando teve a chance, matando apenas minha filha, te fez chegar a este momento, o momento da sua morte! – brandou ela.

-A chance de mata-los eu sempre tive! E provarei isso para você agora!

Amirah avançou rapidamente e o atacou com sua arma. Cortes velozes e fortes por todo o seu corpo, mas Kuma estava protegido por sua armadura. Por um descuido, Kuma bloqueou seu ataque, e com simples balançar com a parte chata de sua espada, a jogou longe.

Ao longe, Wiz conjurou faixas mágicas que brilhavam em vermelho, ela serpentearam pelo ar até se agarrarem e se enrolarem no braço esquerdo do Marechal. Ele pôs uma força e notou quanto mais ele forçava, mais fortes elas ficavam, ele teria dificuldades de se desvencilhar dela. Atrás dele, Dymas o acertou na perna, o fazendo se ajoelhar novamente. Kuma empunhou sua espada da mão direita e a levantou, mas um poderoso esquife de gelo surgiu do chão e o congelou, o tornando inutilizável. Naquele momento, ele estava contido.

Wiz se aproximou rapidamente e tocou em seu elmo de ferro. Runas surgiram e Kuma começou a sentir suas forças irem embora. Folgo surgiu com sua katana em mãos. Seu sangue escorria por sua testa e sua jugular palpitava. O tão sonhado momento chegou, o momento em que ele vingaria todo a sua terra natal, seu reino, sua filha.

Kuma gritou de ódio. Ele estava inconformado por ter sido neutralizado por piratas. Seu ódio crescia, assim como as faixas que enrolavam seu braço esquerdo, e as palpitações de seu coração.

-Tem alguma coisa errada – disse Wiz – ele não deveria ser tão forte assim...

-Eu vou despedaçar seu coração, assim como você fez com minha terra natal – Folgo encostou o fio de sua katana no pescoço de Kuma.

-Não, não vai – interrompeu Dymas – ele é meu. Eu que irei mata-lo. Ele merece sofrer pelo o que ele fez com... este povo. Este povo que já está fugindo de guerras.

Marechal Kuma urrou mais uma vez.

-Vocês sabem que não podem me matar agora. Vocês não vão me matar agora. Eu sei disso, ele está me falando que você, seu cachorro imundo, seu desejo é morrer aqui e agora para encontrar a desgraçada da sua filha. Você está disposto a deixar a imunda da sua esposa que acabou de encontrar porque você sabe que é fraco.

Folgo sentiu seu sangue ferver. Chega, ele havia falado demais.

Dymas interveio.

-Você não é o único que te contas a acertar com ele. Ele é meu! E eu irei mata-lo! Ele vai pagar por ter matado Khirmina! Isso é assunto de Thiel, e não de samurais!

Kuma riu.

-Thiel? Eu já suspeitava, eu senti seu cheiro assim que pisei neste lugar imundo. E pelo o que você quer me matar? Sob a jurisdição de quem? Você parece que era da ralé, sempre foi e sempre será. Um cão que apenas segue ordem, e pela sua raiva, você é apenas um monstro que mata sem nenhum motivo. Acertei?

Dymas urrou de raiva para o Marechal. Ele levantou sua espada para o alto para dar o golpe final. Kuma continuou:

-Tudo por causa daquela vadiazinha? Daquela Oráculo imunda? Você tem o sangue de conquistadores, de guerreiros, de Thiel?! Como ousa desprezar o sangue que corre em suas veias para se igualar a estes merdas?!

Dymas desceu sua espada. Mas centímetros antes de acertar o Marechal, a espada de Folgo a bloqueou. Com um rápido golpe, o lobo o acertou o fazendo cair.

-Você não vai tirar isso de mim, amigo. Essa vingança é minha, e eu só existo por causa dela.

-O que vocês estão fazendo?! Rápido, ele é muito forte! – berrou Wiz.

-Vocês não vão me matar – disse Kuma novamente – Ele disse que vocês não irão me matar aqui.

Uma aura negra emanou do corpo de Kuma mais uma vez, e novamente uma energia foi expelida de forma violenta em todas as direções, arremessando os piratas novamente para o chão, a metros de distancia dele. Ele havia se livrado de todas aquelas amarras que o imobilizava. As runas que já começavam a se espalhar por toda a sua armadura, agora começavam a perder força e sumir. Beat, Seal e Amirah se levantaram rapidamente e correram direção do urso para ataca-lo. Mas o Marechal apenas balançou  sua espada novamente e os três fora arremessados novamente contra a parede, se desvaindo de suas ultimas forças.

Folgo correu e saltou para frente de Kuma. Sua katana estava sedenta pelo sangue do inimigo, ele atacou mas Kuma o bloqueou com sua espada, e com seu elmo de ferro, o acertou pesadamente com sua cabeça.

Uma aura negra envolveu novamente Kuma, o deixando coberto sob uma densa barreira negra. De repente, estrondos poderosos do lado de fora do templo ecoaram por toda a cordilheira. Pesadas bolas de fogos começara a chover do céu. O inferno havia se restaurado. A cada poderosa explosão, a montanha inteira tremia e pedaços do templo desabavam ao redor deles. Pesadas bolas de fogo caiam do céu como se fosse uma densa chuva de meteoros. A naves menores que ainda sobrevoavam Burlmugaron, tinham energia para passar horas, talvez dias, atirando aquelas bolas de fogo.

Wiz conjurou um  grande e poderoso escudo de brana acima deles: um escudo com formato de uma mandala de Seraphim. As bolas de fogos que se chocavam contra o escudo eram absorvidos e sua energia era usada para fortalecer o próprio escudo.Ela caminhou lentamente e parou em frente ao Marechal Kuma. Ela estava visivelmente abalada e quase sem energias.

Mandala de Seraphim


-Você é perigosa – disse Kuma – é cheia de truques na manga.

O báculo de Wiz flutuou para perto dela. Ela uniu suas mãos como numa oração, e eletricidade começou a faiscar entre seus dedos, e então ela arremessou poderosos raios. Kuma saltou por cima dos raios e apontou suas duas espadas para Wiz. Um feixe de raio negro foi atirado das espadas, mas Wiz ergueu uma barreira semelhante a um espelho, que se quebrou como pequenas peças de cristais.

A pontas flutuaram no ar, e com um simples gesto de mão elas se tornara pontas afiadas e voaram em alta velocidade ao Marechal. Kuma rugiu mais uma vez e uma aura negra novamente expeliu de seu corpo de forma violenta, evaporando aqueles cristais. Com a brana enegrecida que agora flutuavam ao redor deles, Kuma fincou sua espada no chão e com sua mão esquerda ele acumulou toda aquela brana, a transformando num pequeno buraco negro. Ele arremessou em direção a maga. Aquela esfera negra sugava tudo ao seu redor, o espaço, o tempo, os ventos, uma parte do escudo de Seraphim, os ventos. E metros antes de puxar Wiz para dentro dele, ela conseguiu reunir energia suficiente para abrir um portal para o vazio. Fazendo até mesmo Kuma ficar surpreso.

-Mas... como é possível?

-Há poderes neste mundo que até você não conhece. Há magias tão antigas que nem mesmo o tempo deve se recordar de sua existência. Para alguém que está vivo desde do Genesis, isso é vergonhoso, não acha?

-Ela é perigosa... ela é uma ameaça a Thiel, não acha? A Leore? Devemos acabar com ela aqui e agora, e pulverizar seus ossos e sua carne irá alimentar o que há de pior no Inframundo!

Kuma ergueu sua espada para Wiz novamente. Novas runas surgiram em seus punhos fechados, e com mais sinais feito com as mãos. O espaço ao redor deles começou a ser modificado. Réplicas de colunas, pilastras e paredes começavam a se multiplicar na frente de Kuma como fractais. De repente, de todos os lados possíveis, de todas as posições possíveis, as nuvens no céu haviam se multiplicado infinitamente.

-Mas o que... oque? Dimensão espelhada? O que é isso?!

Na sua frente, os braços de Wiz brotavam infinitamente, e no instante seguinte, havia infinitas versões dela por todos os lados. Todas elas conjuraram um poderoso relâmpago e arremessou contra o urso, que mais uma vez foi envolto por uma densa barreira de energia negra.

-CHEGA! – gritou Kuma.

Ele ficou sua espada esquerda novamente no chão e uma nova explosão emanou de seu ser, desfazendo toda a dimensão espelhada e os clones de Wiz. Na frente dele agora, apenas uma fraca e já quase sem energia maga ainda lutava para continuar de pé. Com apenas um único balançar de espada, Wiz foi arremessada contra uma pilastra que ainda lutava para se manter de pé.

Kuma caminhou pesadamente em direção a ela. Wiz havia lhe despertado um certo interesse.

-Ainda não... acabamos... – uma voz soou atrás dele.

Dymas cambaleava pesadamente, tudo no seu corpo doía e era contra qualquer esforço para continuar se esforçando.
Kuma o encarou.

-Dymas El Trych. – disse.

-Você me conhece?

-Não só como conheço, como lembro de você. Você fazia parte do meu batalhão, foram ordens minhas você iniciar o ataque que daria inicio a invasão em larga escala. Após sua deserção, eu o amaldiçoei muito após deixar seu cargo. Prometi que eu mesmo iria mata-lo caso cruzasse eu caminho, em vida ou no inferno.

-Minha maldição é você, e você morre agora –Dymas empunhou sua espada e avançou.

-Vamos ver do que você é capaz.

Dymas correu o mais rápido que pôde e se chocou violentamente contra o urso. Kuma chocou-se contra a parede, e Dymas foi rápido mais uma vez para acertá-lo novamente. Uma serie de ataques se iniciou e Kuma não podia fazer muito há não ser desviar dos golpes e defender dos mais perigosos. Até que em um momento, Dymas deixou sua guarda mais aberta, e foi a abertura perfeita para que Kuma o contra-atacasse.

Acertando-lhe um golpe pesado, Kuma arremessou Dymas a metros de distancia, que conseguiu parar em pé, mas no mesmo instante que levantou sua cabeça, Kuma já estava a sua frente, e com o cabo de sua grande espada. Dymas rapidamente bloqueou o ataque com sua mão esquerda, enquanto que com a direita acertou um poderoso e potente soco em Kuma.

A risada abafada e robótica de Kuma ecoou debaixo daquele elmo.

-É tudo o que pode fazer? Que decepção. – com sua espada bloqueada, ele forçou e acertou o rosto de Dymas violentamente. Com sua espada esquerda, ele a balançou e derrubou o grande pirata no chão.

Com violência ao extremo, Kuma queria acabar com o pirata ali e agora por inúmeros motivos. E com seus punhos fechados, começou a socar violentamente  o rosto de Dymas até desfigura-lo. Kuma só parou a sequencia de ataques violentos quando alguém se esbarrou dele, o tirando de cima de Dymas.

Na frente dele, Folgo nas ultimas forças empunhou sua katana. Kuma caminhou lentamente em direção ao velho lobo. Folgo ergueu a katana na sua frente, e sem mais velocidade, atacou. Kuma fincou suas duas espadas no chão e desviou para a direita. Com sua mão direita ele imobilizou Folgo, e com a esquerda, lhe tomou sua katana sem muita resistência, e num rápido ataque, fincou a espada no abdômen de seu mestre.

Folgo vomitou sangue. Muito mais do que ele achava que tinha naquela altura da batalha. Sua visão se tornou turva. Seu corpo ficou dormente. Ele sentia sua jugular enfraquecendo e suas forças indo embora.

-Vocês possuem meu respeito, mesmo sendo apenas piratas. Eu era contra nosso antigo imperador dar permissão para vocês voarem por nosso espaço aéreo ou até mesmo se alistar no nosso exército como mercenários. Fico surpreso que existam pessoas como vocês por este mundo. É uma pena acabar aqui e agora. Quando encerrarmos, toda Pangeia se curvará a Thiel, mas vocês não estarão aqui para presenciar isso, você vai estar com sua filha que tanto quer ver não é? Eu espero que seus familiares lembre-se de vocês.

Kuma caminhou pesadamente até suas espadas e as empunhou. Ele virou para os piratas uma nova aura negra começou a emanar de seu corpo. Ele apontou sua espada para Folgo, que o encarava com um olhar distante, quase morto.

Um disparo atingiu seu elmo, fazendo-o rachar e quebrar uma parte, fazendo revelar sua orelha direita e parte de seu rosto feroz.

-Eu também espero que lembrem de você. – disse Gerlon na entrada do templo, com a arma apontada para a cabeça do Marechal. – Pode apostar que eu não erro o próximo tiro.    

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