Capítulo 46 - Ataque ao Monte Burlmugaron (Parte 1)
Beat acordou no seu quarto enjoado. Um refluxo embrulhou sua barriga e subiu por sua garganta. Ele acordou rapido e correu para o banheiro para vomitar. Ele não entendia o que aconteceu. Parado por alguns segundos diante do espelho, ele reparou que a Bichano estava balançando, como se estivesse em alto mar. Ele correu rapidamente pelo corredor e subiu até o convés. O rio havia derretido e voltado a ser um grande rio com fortes correntezas e água cristalina. O céu estava limpo pela primeira vez desde que chegaram. No lugar que antes estava neve, agora estava um tapete de grama verde. Os ventos frios das cordilheiras balançavam as pradarias como um imenso mar verde. No alto, pequenos pássaros passavam cantando acima. As coisas confundiram Beat, até ontem tudo estava frio e silencioso. Era como se a primavera tivesse invadido o hemisfério norte em uma única noite.
Atrás dele, Folgo e Seal subiram até um convés, ambos vinham bebendo café e biscoitos recém tirando do forno, feito por Dymas.
-Bom dia, Beat, café? – ofereceu Seal.
-Vocês estão vendo isso? Como isso é possível? – Perguntou Beat.
-Cara, relaxa, devíamos ter chegado na transição das estações – disse Seal.
Beat levantou as sobrancelhas. Subindo ao convés, Dymas trazia consigo quatro grandes bandejas lotadas de biscoito.
-Ah, como o dia está belo. Gente, estou indo ajudar no banquete das deusas, voltarei no final do dia. Oh Beat, pegue esses biscoitos de manteiga, vai ajudar no seu enjoo. – E ele entregou cinco grandes biscoitos.
-Ouvi dizer que o festival é aberto para os moradores da região, será que podemos ir? – Perguntou Seal.
-Bom, acho que sim, não vejo porque não. Se vocês forem, peguem suas coisas logo e vamos logo.
Folgo e Seal trocaram olhares.
A agua cristalina do rio fazia o barco balançar. No fundo, criaturas marinhas e náiades nadavam ao redor das pedras e do barco.
-Por que você está tão empolgado, Dymas? – Perguntou Beat – é por causa da garota da taverna?
-Também, mas vocês não querem ajudar essas pessoas no dia das deusas? É uma data importante.
-Certo, pela sua sinceridade, eu vou com você – e Beat correu para o casco e vomitou novamente no rio, na qual náiades jorraram um jato d’água em seu rosto.
Mas algo lhe chamou atenção. Uma grande sombra cobriu aquele pequeno vilarejo. De repente, uma frota imperial sobrevoava em formação em direção ao monte Burlmugaron. O sol nascia no leste e dava seus primeiros raiar de luz solar quando disparos com bolas de fogos começaram a destruir as montanhas e os vilarejos entre eles por ali. Ataques violentos e coordenados faziam toda aquela região tremer. Em minutos, grandes colunas de fumaça começaram a subir aos céus. Incêndios se alastraram pelas florestas e pelos vilarejos espalhados em Kravaattii.
Beat desceu rapidamente até seu quarto e pegou sua espada. Na lateral, Donpa abriu o compartimento lateral. E as pressas, os primeiros a correram foram Beat, Dymas, Folgo e Seal. Eles correram o mais rápido possível em direção ao Monte Burlmugaron.
Beat subiu até o alto da torre que vigiava aquele pequeno vilarejo, e com sua rapidez e habilidade felina, ele alcançou a parou ao lado do grande sino. De lá ele podia ver as enormes Longas Muralhas que interligavam os vilarejos pelas montanhas, por vários quilômetros pelo interior. Com apenas alguns cidadãos como soldados protegendo-as, essas grandes muralhas ainda estavam intactas apesar da chuva de fogo. Uma conquista impressionante, mesmo contra um exército de elfos e defesas convencionais.
Vilarejo de Cy'e, ao pé do Monte Burlmugaron
Acima deles, contra as hordas de harpias e legionários mortos-vivos, ciclopes e sabe-se que outras monstruosidades rastejavam das profundezas do Inframundo, a capacidade dos elfos de protegerem suas muralhas era surpreendente, algo que eles não teriam acreditado, se não tivesse vistos com seus próprios olhos.
-Há alguns dias, ouvi na capital de Falconia, que Thiel faria um ataque em massa por essas região, mas não acreditei – disse o capitão da torre, uma espécie de xerife do vilarejo – vocês são piratas, não é?
Beat o ignorou. Não de proposito, ele estava tão focado naquela frota áerea que ele não percebeu que tinha alguém naquela torre com ele. Sua mente estava focada em outra coisa, em que ele não teria acreditado, a menos que tivesse visto com os próprios olhos, ele virou para lançar uma direção do templo de Rahma Haruna, na esperança de ter um vislumbre de seu capitão.
Beat voltou sua atenção para seus amigos lá embaixo. As legiões da frota imperial foram ejetados dos compartimentos laterais da Kartacos e se espalhara com um enxame de abelhas, mas não de forma uniforme. Por alguma razão que Beat não podia compreender, as criaturas pareciam evitar os bosques e grutas que demilitavam o campo em torno dos vilarejos. Beat sacudiu a cabeça, sem entender – atear fogos nos bosques faria mais sentido, mas eles não conheciam bem quem era o autor daquele ataque. As táticas de guerra ainda estavam nebulosos. Ao contrário de Henry e Cela, aquele responsável pela frota preferia simplesmente dirigir seus exércitos para o ataque em grandes ondas, mas uma onda crescente de morte, até que finalmente esmagasse as defesas de seus inimigos e abatesse todos os seres vivos em seu caminho.
Beat, Dymas, Seal e Folgo sabiam muito bem disso. Por anos, ele havia enfrentando aquele exército em diversos lugares em Pangea e Laurásia. Principalmente Dymas, que ele havia sido aquele que empurrava os exércitos como grandes e sangrentos aríetes de carne. Por muitos anos, ele riu como um monstro sedento de sangue enquanto seus homens punham fogo em nações. E ele ainda estaria fazendo isso, se não fosse por aquela pequena cidade...
Dymas se livrou das memórias. Como areia movediça, a loucura que sempre se escondia sob a superfície de sua mente ameaçou suga-lo e afoga-lo em um implacável pesadelo.
Sua avaliação da situação tática não era emocional. Apenas uma fileira de carros ainda se arrastava na estrada larga entre as Longas Muralhas. Pelo o que ele havia visto em outros cercos durante os primeiros meses da invasão, onde a maioria dos outros animais de carga fora abatido como alimento. Nenhuma caravanas entravam nos portos com novos suprimentos; depois das montanhas do leste, dezenas de destroços queimavam e enviavam fumaça dos elfos e evanianos mortos em direção aos céus e formavam uma advertência persuasiva, prevenindo quem ousasse enfrentar aquela região. Por conta do desastre de fumaça se agitando sobre os vilarejos, Dymas adivinhou que as criaturas selvagens daquela região haviam encontrado uma maneira de adentrar para dentro das muralhas montanhosas, ou talvez, criaturas treinadas estivessem transportando panelas fumegantes de fogo verde e lançando-as ao chão.
Quando as legiões do Império de Thiel rompessem as Longas Muralhas montanhosas, qualquer esperança de reforço ou suprimentos estaria perdida, e, pior, essas legiões teria uma larga estrada pavimentava para marchar contra o ponto mais fraco das defesas de Kravaattii, nas colinas e montanhas acima.
Seu exército terreste marcharia rapidamente e abateria tudo em seu caminho, Burlmugaron iria cair, sem dúvida. Para o olhar experiente de Dymas, parecia que a cidade e o Templo não estaria de pé até a próxima manhã.
Beat saltou o conduziu a estrada, antes encoberta pela neve. Ele caiu nos ombros de Dymas e com passos ávidos que usara no campo tantas vezes para colocar seus soldados em posição. As Longas Muralhas montanhosas lançavam uma sombra fria em toda a estrada. De cima, arqueiros elfos disparavam saraivadas de flechas e chamas. Dymas não tinha necessidade de ver seus alvos, ele os ouvia. Rosnados, bufos, ruídos de seres selvagens, gritos e rugidos que não poderiam vir de nenhuma garganta normal.
Dymas continuou, Beat em seus ombros e seguido por Seal e Folgo. Eles não viram nenhuma razão para desperdiçar tempo lutando contra essas paredes, quando qualquer idiota podia ver que elas não durariam mais um dia.
Um arqueiro elfo, caindo de uma parede, atingiu a estrada alguns metros a frente deles. O elfo tinha uma grande lança perpassando seu corpo, e seu rosto fora rasgado por garras de harpia, mas, quando ele chocou-se contra a estrada com força esmagadora, ele ainda segurava um arco em posição, protegendo sua arma com suas últimas forças. Dymas aprovava isso – o guerreiro era bem disciplinado. Dymas foi até ele, ajoelhou-se e ouviu o elfo murmurar suas últimas palavras.
-Tome meu arco. Defenda Burlmugaron! Defenda o senhor Esdras! Defenda o povo... – foi tudo o que o arqueiro falou, antes de seu espírito se encontrar com o senhor do Inframundo.
Dymas pegou o arco das mãos do cadáver e pegou a aljava com uma dúzia de flechas que ainda restava. Mesmo que ele preferisse machados ou espadas, até mesmos suas grandes mãos nuas, Dymas era um mestre em todas as armas. Ele testou o arco e deixou a corda vibrar, sem o armar com uma flecha. O arqueiro elfo fora forte, e essa arma poderia ser útil.
Como se convocados por seu pensamento, gritos agudos de pânico viera dos civis que dirigiam os carros a frente. O pânico se transformou em agonia quando uma seção inteira da parede desabou, fazendo chover pedras soltas e arqueiros em queda. Em um instante, dez metros de parede desmoronaram.
Sem agir conscientemente, Dymas ajustou uma flecha no encaixe e deixou-a voar. Seu eixo flutuou direto para o legionário morto-vivo que forçava seu caminho através da brecha no muro. A flecha prendeu na cabeça do legionário em uma parte do muro que ainda estava de pé. Mais dois legionários mortos-vivos equipados com armaduras de bronze forçaram a passagem, apenas para encontrar o mesmo destino, com uma flecha para cada um. As flechas não destruíram as criaturas, mas, fizando-as a parede como coelhos em um espeto, deixou-as no lugar, de modo que os poucos guerreiros daqueles vilarejos pudessem desmembrá-los.
-Fujam –gritava Folgo e Seal para os civis – vocês estão bem no fogo cruzado.
Sem hesitação, eles entraram em uma brecha, atirando enquanto andava. Beat, Seal e Folgo sacaram suas armas e avançaram, matando todo tipo de criatura. Mais seis flechas voaram diretas e certeiras, empilhando os legionários uns sobre os outros e protegendo a brecha, mas os mortos-vivos atrás deles simplesmente cortaram em pedaços e continuaram avançando. Três setas despacharam mais cinco ou seis deles. Enquanto mais dois se aproximavam, brandindo espadas, ele tentou pegar outra flecha, só para encontrar a aljava vazia.
Ele jogou o arco de lado; sem flechas, ele era tão inútil quanto um copo sem cerveja.
As duas monstruosidades pútridas que se aglomeraram em cima dele não mereciam seu tempo. Dymas simplesmente se adiantou ao encontro deles e dirigiu seus punhos através de suas peitos putrefatos, sem deixar que as bandejas de biscoitos fossem danificadas. Suas mãos se fecharam em torno de suas espinhas, e ele balançou-os como se tirasse pó de suas mãos, rasgando suas espinhas dorsais. Como esses dois legionários entraram em colapso, Dymas usou suas espinhas como manguais, despachando seus companheiros, um após o outro, Os arqueiros de ambos os lados da fenda se juntaram a ele, chover flechas e mais flechas nos monstros abaixo.
As manoplas de ferro nos braços e antebraços de Dymas se esquentaram quando as criaturas se comprimiram em cima dele. Ele empunhou duas espadas que estavam fincadas no chão ali próximo e movimentou na frente do corpo para proteger contra os golpes de lança. As manoplas ardiam como fogo em seus ossos.
As lâminas cortavam a carne dos mortos-vivos e cobriam os cascalhos da parede com monstros desmembrados. Sua espadas lampejava rodas de faíscas ao redor dele, lançando as criaturas do Inframundo para fora da fenda da muralha, mas os legionários mortos-vivos recuaram apenas para permitir o avanço de um ciclope.
-Mas que m... – xingou Seal – não encontramos essas criaturas quando tudo estava coberto de neve.
-O corpo dos legionários mortos-vivos provavelmente são de guerreiros que nunca foram enterrados e seus corpos se perderam na neve – disse Beat atrás deles – há vários assim?
-Ciclopes habitam por quase toda Evânia, essas pragas se reproduzem igual pestes – anunciou Folgo, enquanto partia cinco legionários mortos-vivos de uma só vez com sua katana.
-Eles devem ter aproveitado o caos para emergir de seus esconderijos – gritou Seal.
O monstro de um olho só movia-se pesadamente, tinha quase três vezes a altura de Dymas e mais de dez vezes o seu peso. A criatura veio balançando uma maça com pregos de ferro tão grande quanto um homem comum poderia ser derrubado pelo vento de seu deslocamento.
O ciclope correu para a frente, ansioso para matar, ou morrer na tentativa. Ele empunhava a maça enorme como se fosse apenas uma varinha de salgueiro. Elevando-a acima de sua cabeça com as duas mãos, o ciclope bateu a maça na parte superior de Dymas, como se estivesse tentando enfiar o pirata no chão como uma estaca.
Dymas interceptou o golpe com suas espadas cruzadas acima de sua cabeça. O impacto pôs Dymas de joelhos. Brevemente. Um instante depois, reuniu forças para se levantar e usou as lâminas como uma tesoura que poda em torno do punho da arma. A extremidade da maça explodiu como uma pedra atirada de um estilingue.
O ciclope soltou um rugido de pura descrença. Dymas enfiou seus pés no monte de pedras da parede quebrada em torno dele, encontrou um aponto de apoio e atirou-se no monstro. Ele atingiu-o duramente, abaixou-se sob a tentativa desajeitada de o ciclope agarrá-lo, então esfaqueou o gigante com as duas lâminas, cravando-as em sua barriga saliente.
O ciclope gritou. Horrivelmente.
Dymas torceu as lâminas e enfiou-as de volta nas feridas. Quando ele finalmente as retirou, vieram entranhas com elas. Desviando de outro agarrão desordenado, Dymas mergulhou para rolar por entre as pernas do monstro. Atrás do ciclope, ele girou e olhou para suas costas largas e peludas. Ele pulou, agarrando os arreios de couro do ciclope como apoio e enterrando a ponta dos pés na carne da criatura para se impulsionar. O ciclope gritou e começou a se debater, tentando desalojar Dymas de suas costas vulneráveis. O pirata continuou subindo, mesmo quando o ciclope começou a girar sem parar. Chegando ao pescoço do monstro, Dymas agarrou o seu cabelo gorduroso e atingiu seu objetivo para repetidamente enfiar o punho de uma lâmina no rosto do ciclope.
Quando ele atingiu a órbita solitária, o ciclope enlouqueceu.
Dymas conseguiu agarrar o nariz e encontrar o protuberante e danificado olho. Ele o arrancou, fluido viscoso esguichando entre seus dedos. O ciclope havia ficado frenético antes. Agora ele jogou os braços para o alto, inclinou a cabeça para o céu e rugiu de raiva. Essa era a única oportunidade para Dymas realizar uma morte limpa. Quando o ciclope se inclinou para trás, Dymas atacou. Pés sobre os ombros da criatura, ele levantou as lâminas sobre sua cabeça e cravou as espadas diretamente na cavidade ocular aberta.
Pouco a pouco, os esforços poderosos do ciclope enfraqueceram-se, até ele cair de joelhos, o sangue jorrando de sua cavidade ocular rompida. O ciclope caiu de bruços no chão. Somente quando teve certeza de que o monstro estava morto, Dymas saltou de suas costas e chacoalhou o sangue de suas espadas, mas com cuidado para não respingar nas bandejas de biscoitos.
Acima deles, na muralha, os soldados de Burlmugaron estavam imóveis, em choque, olhando incrédulos, boquiabertos. Então, um soldado solto uma aclamação feroz. Ela foi assimilada pelos outros por toda a extensão das Longas Muralhas montanhosas.
-Morte aos monstros!
Uma unidade inteira de legionários mortos-vivos se precipitou na direção de Dymas e seus amigos, mas uma chuva emplumada de flechas picou-os em pedaços. Mais uma vez, uma agitação cresceu ao longo da parede.
Dymas havia começado a correr para o buraco na parede, quando viu que o que agora se movia para enfrenta-lo. Espectros, monstros ressequidos cujos braços ossudos terminavam em lâminas cruelmente afiadas. Da cintura para baixo, seus corpos eram nada mais do que um redemoinho de fumaça preta. Eles flutuaram em direção a ele com facilidade traiçoeira e avançaram para o ataque. Dymas mal teve tempo de desatar suas armas para se defender, Os espectros coordenavam seus ataques perfeitamente, circulando-o e atacando a esquerda, depois a direita. Mas Seal havia bloqueado todas as investidas feitas contra seu companheiro com maestria.
As flechas que vinham de cima não fizeram nada para repelir essas criaturas. As flechas os atravessavam completamente, sem causar danos, como se seus corpos não fossem mais do que vapor.
Com um ofuscante floreio de suas armas, Seal cortou uma mão laminada, mas com os fantasmas se espremiam em torno dele. Ele se defendeu habilmente quando recuou para a abertura; a melhor maneira de enfrentar essas criaturas era lutar com uma de cada vez.
Um esquadrão de espadachins apressou-se para ajudar os piratas, batendo suas armas contra os escudos de bronze. Sua coragem ultrapassava em muito suas habilidades, mas eles podiam tirar alguma pressão de cima dele, mesmo contra os fantasmas.
-Fechem a lacuna – Seal gritou, empregando uma mão e uma lâmina habilmente para cortar um pulso esquelético. – Vocês não podem defender esta brecha por muito tempo.
E os espectros começaram a cortar as bordas irregulares da parede para aumentar o orifício. Se ficasse muito maior, os elfos não poderiam contê-los, e os piratas não queriam ter de defender sua própria retaguarda enquanto corria para o monte Burlmugaron.
-Eu não os reconheço – disse um jovem soldado, atrás deles – vocês são moradores daqui? Onde estão suas armaduras?
-Chame os engenheiros, garoto! – Seal rosnou. – Se os monstros abrirem essa brecha, a barriga do monte Burlmugaron estará exposta!
O jovem elfo começou a bradar ordens, e os outros elfos pareciam aliviados por terem alguém que lhes dissesse o que fazer. Os soldados mais próximos puseram-se contra a brecha, fazendo uma parede com seus escudos e seus próprios corpos para deter as hordas de monstros. Outros arrastavam madeiras pesadas, entulhos e qualquer coisa que pudessem usar como barricada para cobrir a brecha, mas para Seal estava claro que isso seria inútil. A pressão contra um punhado de homens era muito grande, e nenhum reparo permanente poderia ser feito com fantasmas e legionários constantemente atacando para ampliar o fosso.
Os últimos elfos na brecha morreram com os ataques dos arqueiros mortos-vivos. Uma meia dúzia irrompeu, saltando flechas de fogo descontroladamente, em todas as direções. Cada uma que acertava seu alvo explodia em chamas e tomava uma vida élfica. Seal empunhou sua cimitarra, sua leal espada mais uma vez e matou duas criaturas esqueléticas antes que pudessem criar mais estragos ao longo das passarelas aéreas. O resto dos arqueiros mortos-vivos concentrou sua munição contra os soldados que corriam para tapar a brecha. Eles eram devastadoramente eficazes, No momento em que Beat e Folgo matavam os arqueiros que estavam perto do buraco, os espectros haviam aberto uma brecha suficientemente grande para fazer passar outro ciclope.
Dymas mergulhou para a frente para encontrar o monstro. Usando sua força sobrenatural, ele levantou o ciclope do chão e arremessou-o de volta pela brecha, acertando fantasmas e mortos-vivos do lado de fora. O ciclope abriu caminho com o agitar de sua maça imensa, rasgando mortos-vivos em pedaços e lançando fantasmas para o ar, e caminhou para a frente mais uma vez para rivalizar com Dymas. Novos legionários empurravam as paredes, ampliando a brecha com cada pancada.
Dymas mediu sua distância e lançou as suas duas lâminas com violência. Ele cortou a garganta do ciclope em ambos os lados, em seguida, puxou severamente as lâminas, usando suas curvas como ganchos atrás do pescoço da criatura. Quando as lâminas rasgaram livres, a cabeça do ciclope saltou de seus ombros, quicou no chão e rolou até os pés de Dymas. Uma fonte de sangue jorrou do pescoço da criatura em direção ao céu, e Dymas elevou o rosto para a ducha escarlate, como se fosse uma chuva fria de primavera. Ele arrancou o olho cego e segurou-o sobre sua cabeça, então o ergueu, desafiando aquelas monstruosidades, que avançavam para a batalha.
-Mais! – ele gritou para a multidão do lado de fora – Vamos lá! Venham para a morte!
Um pontapé tombou e corpanzil inclinado do monstro morto através da brecha, criando uma barricada que as criaturas deveriam sobrepor com dificuldade. Os arqueiros na muralha acima cobravam um pedágio terrível, atirando suas flechas nos legionários e os empilhando próximo ao ciclope morto.
Antes, sua vitória fora aplaudida. Agora não havia tempo.
Um par de ciclopes dirigiu-se para a brecha e começou a tirar os legionários mortos-vivos da pilha crescente, abrindo caminho para mais monstros, enquanto espectros flutuavam acima de suas cabeças e suas lâminas horríveis retalhavam os arqueiros mais próximos em pedaços sangrentos de carne.
Dymas fez novamente uma avaliação sombria das probabilidades. Ele não sabia como eles esperavam que eles salvassem a cidade, mas tinha uma razoável certeza de que eles não queriam que eles desperdiçassem sua vida por conta de uma abertura na muralha a mais de um quilômetro e meio da cidade.
Ele guardou suas lâminas e olhou para suas mãos.
Empurrando os lutadores que se debatiam, ele subiu em cima do ciclope morto e olhou para as centenas de milhares de assassinos se preparando para se verterem através do cada vez maior furo na parede. Dymas estendeu as mãos como se quisesse empurrar todos. Ele cambaleou enquanto uma força mágica crescia ao redor dele.
Uma energia aniquiladora irrompeu em seu redor, criando um sulco de mais de um metro e meio de profundidade na frente dele. Wiz surgiu atrás deles, flutuando no ar com seu báculo girando rapidamente, ela afastou suas mãos uma da outra, e o sulco se tornou uma cratera. Ela guiou a sua cólera para baixo, para fora e para baixo mais uma vez, antes que ela caísse de joelhos em exaustão pelo esforço. Atrás dela, um grande corvo voava com suas plumas negras. Sagitta pousou numa alta torre e com sua grande arma sniper, ela disparava contra vários inimigos.
Uma outra máquina voadora com asas em formato da de morcego, Donpa e Recon sobrevoavam atirando milhares de flechas por segundo e acertando vários inimigos.
O cadáver do ciclope se foi, tão rapidamente queimado que não havia sequer fumaça, assim como todos os outros ciclopes, os espectros, várias centenas de legionários mortos-vivos, alguns metros das Longas Muralhas montanhosas, e alguns arqueiros élficos.
Entre eles e o restante do exército de monstros havia agora um poço comprido, com cem metros de profundidade, e quase tão largo quanto profundo. Para chegar até a brecha agora, a horda enfrentaria uma longa descida e uma queda perigosa em uma encosta íngreme e escorregadia de cinzas, totalmente exposta aos arqueiros acima.
-Ainda há civis pelos vilarejos, tirem eles daqui. Iremos abrir uma brecha no front desses monstros, iremos segurá-los – disse Dymas para Wiz.
Os monstros pareciam destemidos; pois eles já estavam deslizando pela borda mais distante do poço. Mesmo que tivessem de preencher toda cratera com seus próprios corpos, logo essas criaturas bastardas transbordariam através da parede em milhares e milhares. Nada poderia detê-los.
Beat ergueu sua espada, que começou a brilhar num tom de azul gelado. Seal levantou sua cimitarra. Folgo levantou sua katana e pôs na sua frente. Dymas ergueu suas espadas e se tranquilizou, esperando inflexivelmente na brecha. Eles segurariam para que aqueles civis fossem salvos, eles confiavam cegamente em Wiz e os outros.
Mais criaturas surgiram. Essa seria uma longa luta.
Legionários mortos-vivos andavam pesada e firmemente ao longo de uma trilha descendente na mata, suas armas retinindo a cada passo. Alguns carregavam foices e outros balançavam maças com espinhos enquanto abriam caminho para reforçar a retaguarda das forças que atacavam a brecha nas Longas Muralhas montanhosas. O líder diminuiu o ritmo e então diminuiu o ritmo e então levantou um membro ossudo para deter sua patrulha.
Arbustos farfalharam. Os legionários se viraram na direção do som e sacaram as armas, mas por trás deles saltou um grande lobo cinzento, rosnando para o líder enquanto golpeava o legionário ao chão. Mandíbulas fortes se fecharam em um pescoço esquelético, esmagando e rasgando a cabeça do morto-vivo. Quando o lobo se virou para fazer o mesmo com o próximo, os seus selvagens rosnados convocaram o resto do bando a galopar para fora da floresta em sua emboscada. As criaturas tentaram se defender, mas esses lobos guerreavam com uma astúcia e uma ferocidade que surpreenderiam qualquer caçador. Alguns dos seres esqueléticos só conseguiam se debater, enquanto suas pernas eram arrancadas. Outros atiraram facas e machados e até mesmo espadas nos lobos, mas os elegantes assassinos cinzentos desviaram, em seguida retornaram para cravar suas mandíbulas contra as garras ósseas dos mortos-vivos. Logo, “desarmar” já não era uma figura de linguagem.
Uma calmaria descendeu sobre a floresta mais uma vez, assim que a matilha de lobos desapareceu, rodando seu território em busca de novas vítimas. Os monstros marchavam em considerável desordem. As criaturas que ocupavam o lugar de oficiais gritavam e guinchavam, tentando organizá-los em algo que se assemelhasse a um comando de batalha. Quando eles começaram a sua marcha até a clareira, eles se dirigiram para uma linha de árvores que estavam a um metro e meio de seu flanco.
Um alce enorme irrompeu dos arbustos, abaixou sua galhada, e atacou honradamente o grupo de esqueletos arqueiros. Sua galhada lançou quatros deles, e um movimento de sua cabeça arremessou fragmentos de mortos-vivos para o ar. O alce urrou e se virou para atacar novamente, mas os arqueiros restantes já traziam flechas em suas cordas. A dúzia de arcos zuniu como um, e as flechas inflamadas cravaram-se profundamente dentro do peito do animal poderoso. Ele cambaleou, caiu de joelhos e morreu.
Antes que ele pudesse sequer tocar o chão, bandos de lobos saíram de seu esconderijo para cobrir todos os lados, atingindo intensamente a formação dos arqueiros enquanto eles lutava para sacar novas armas. Suas presas arrancaram carnes podres, e suas mandíbulas esmagaram ossos expostos. Mas um monstruoso estrondo de árvores se partindo anunciava a chegada de uma nova ameaça.
Ciclopes, muitos deles.
Cerca de dez dos grandes ciclopes vieram para frente, suas poderosas maças de guerra assassinando árvores inteiras. O maior deles tomou a liderança, ribombando na direção dos lobos, mas, antes que ele pudesse atravessar metade da distância, endureceu-se, seu olho girou em sua órbita e derramou líquido em seu rosto.
-Peles e chifres estão longe de ser as armas mais mortíferas dos meus súditos – disse alguém que provavelmente estaria controlando aqueles animais – Víboras podem derrubar até mesmo ciclopes.
Como os outros brutamontes, hesitaram, inseguros sobre o que fazer, agora que o seu líder estava morto, o céu se cobriu do chiado agressivo das águias gigantes com dois pares de asas e envolto por raios e furacões. Mergulhando como flechas dos céus, os grandes predadores dourados mergulharam em direção aos olhos ciclópicos, cortando-os com suas garras estendidas. Alguns golpes com o bico arrancaram talhos de carne sangrenta das faces adjacentes; em seguida, as aves levantaram voo novamente.
-Agora vamos compeli-los – disse a comandante dos animais.
Ela apontou para um clarão na floresta, onde um trio de ursos enormes se movimentava pesadamente. Enquanto os lobos afastavam os legionários e outros mortos-vivos, os ursos atacavam os ciclopes remanescentes com garras empastadas de sangue coagulado.
O exército inimigo começou a se dissolver quando o medo se apoderou das criaturas. Bandos de lobos, ataques de alces, os ursos, as águias e as serpentes, tudo para arrebanhar a manada dos monstros para as Longas Muralhas montanhosas.
Em um instante, os céus foram rasgados em pedaços a Kartacos entrou em cena, tão enorme eram os canhões e asas que poderiam destruir montanhas e queimar nuvens. O ronco de seu motor abalou a própria terra. Um dos canhões baixou, e disparou grandes bolas de fogo. Vários animais começaram a morrer por causa das explosões, e outros fugiram de medo.
-Não! – gritou a domadora.
Explosões com bolas de fogo explodiram por todos os lados.
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