Capítulo 44 - As aprovações de Sedna (Parte 2)


Eles entraram por uma porta que se fechou atrás deles. Eles tinham se acostumado aos aprisionamentos recorrentes no Templo de Rahma Haruna. O Arquiteto Cadmio havia sido astuto em seu projeto (e brilhante também),  mas agora Gerlon sentia uma raiva crescente. Seu humor não condizia com o resto do grupo, apesar de medo, insegurança e pavor pairar sobre ele, mas ele estava enganado. Muito enganado. Eles haviam andando um círculo completo e agora estava no corredor em anel que circulava o núcleo central. Todos os seus esforços haviam sido em vão.

Encolerizado, ele bateu o punho com força contra a parede interna, e retrocedeu, quando um painel deslizou, permitindo-lhe entrar em um outro corredor anelado. Mas esse mostrava uma curva mais acentuada, o que significava que eles estavam mais perto do centro. Sua raiva diminuiu quando percebeu que estava mais perto de completar sua missão. Não havia outra explicação. Eles entraram pela porta, que se fechou imediatamente atrás deles.
Além de ter uma curvatura mais acentuada, esse corredor podia ser uma espécie de “irmão gêmeo” do anel externo. Ele começou a procurar diferentes maneiras no interior para localizar o tesouro do Rei. Eles estavam perto. Ele sentia. Então sentiu algo mais: o chão vibrou.

Virando-se, eles viram um grande cilindro que se estendia de um lado a outro do corredor começou a girar, lentamente no inicio, e, em seguida, aumentando de velocidade. Gerlon soltou um palavrão afiado, calculou que o peso e o poder total do rolo excediam as suas capacidades de detê-lo.

Eles correram na direção contrária ao cilindro, seguindo a curvatura do corredor. Escadas em ambas as paredes acenaram para ele, mas um rápido olhar bastou para convencer Gerlon de que eram armadilhas. Seus degraus permitiram que um homem escalasse bem alto, antes que abrissem caminho para derrubar o pirata no chão, e ele fosse esmagado pelo rolo.

Ele percebeu que o anel no qual estava tinha de fornecer algum tipo de rota de fuga. Eles correram, passando pelas escadas que cortavam a parede e levavam para cima. Eles arriscaram saltar para o degrau inferior, enquanto o rolo se movia rapidamente, raspando a pele de seu braço quando ajudou Sirius. Ele olhou para os degraus acima, mas não subiu. Em vez disso, esperou, contando lentamente. Demorou quase três minutos para que o cilindro passasse por eles mais uma vez.

Pular de volta para o corredor e seguir o rolo não parecia ser uma saída. Se eles cansassem por um segundo, ou tropeçasse, correria o risco de o rolo continuar em seu caminho inexorável e, eventualmente, atingir as suas costas e esmaga-los por trás. Eles subiram os degraus de pedra até o topo da parede. De cima, avistaram que o centro continua uma rampa, mas as suas atenções estava focada em outra rota de fuga. No outro lado do corredor estendia-se uma passagem que desaparecia no coração do templo.

Alcançá-la seria difícil, pois eles julgaram que o caminho pela escada, passando pelo corredor até a passarela poderia ser uma armadilha traiçoeira como as outras escadas. O rolo zuniu por eles mais uma vez. Um sorriso surgiu nos lábios do pirata. Gerlon se preparou, esperou o cilindro passar por ele mais uma vez, e pulou em cima dele.

A pedra girando abaixo de suas sandálias obrigou-o a ajustar sua marcha para combinar a sua velocidade com a do rolo. Enquanto atravessava a circunferência completa do anel, os outros fizeram o mesmo que ele.

Gerlon deslizou para o outro lado do cilindro e, quando viu uma passarela em cima deles, saltou. Suas pernas ágeis e felinas impeliram-no para a frente, mas, ainda assim, ele errou o alvo. Freneticamente, ele alcançou a borda de outra escada e ele estava correto em seu julgamento prévio. Uma armadilha. A escada desabou sob seu peso. Ele alcançou o cabo de sua arma e disparou contra a parede. Os disparos eram tão poderosos que criavam grandes buracos, suficiente para acomodar seus pés e suas mãos. Com um chute, ele bateu seus pés contras a parede, inclinou-se para trás e começou a escalar. Então ele viu que o rolo retornava, mais rápido agora.

Seus amigos não estavam mais lá e um sentimento de desespero tomou conta. Com um empurrão forte, Gerlon impulsionou para a passarela no momento em que o cilindro passou por ele. Ele escapou de ser esagado por uma fração de segundo.

Ele correu ao longo da passarela, fazendo uma curva que adentrava em um túnel, no final dela, acabou encontrando seus amigos.

-O que você fez foi muito imprudente – brigou Flora – você poderia ter morrido!

-Vocês poderiam ter morrido! – rebateu Gerlon – eu não pedi pra virem atrás de mim. Eu estava procurando uma rota para seguirmos.

-Somos um grupo, ninguém se separa. Entramos juntos e sairemos juntos – disse Zafira atrás deles.

Atrás deles, Sirius chamou sua atenção: ele apontava para uma longa escadaria. Um sopro de ar alertou eles de que eles estavam saindo do templo. Eles diminuíram a velocidade e parou, pensando se teria algo que demonstrasse a fora adequada de chegar ao âmago do templo, longe dos anéis concêntricos atrás dele. Então toda a chance de retroceder desapareceu. Dos degraus acima veio um rugido ensurdecedor. Delineado contra a luz pálida, estava um legionário amaldiçoado, sua espada zunindo no ar. Fugir dele seria um anátema para Gerlon.
Spike e Zafira sacaram suas espadas e investiram, subindo os degraus, suas lâminas teciam uma terrível cortina de massacre e morte na frente deles. Suas lâminas bateram na espada longa empunhada pelo legionário morto-vivo e ricocheteraram. Spike desviou para o lado, para evitar que um prego na ombreira da criatura perfurasse seu peito, quando o legionário virou.

O monstro expeliu gritos horrendos enquanto retomava o seu ataque. Spike lutou furiosamente, empurrando lentamente a criatura para a luz do dia. A ampla área em que estavam agora eram total aberta e vazia, a não ser por uma enorme caixa que se elevava atrás da cabeça do guerreiro amaldiçoado.

O coração de Spike quase diminuiu uma batida. Poderia ser ali onde estava o tesouro do Rei?  Redobrando seus esforços, ele forçou a criatura a recuar, mas o legionário era um adversário valente, inteligente, rápido e mortal, o que Spike descobriu quando a criatura quase talhou sua perna; o golpe foi parado pela espada de Zafira, que o derrubou-o no chão.
O golpe encaixou a borda irregular da espada no peito de Zafira, mas também deu ao capitão uma chance de chutar, torcer e pisar com força contra a lamina.

Ele desalojou a espada das mãos do guerreiro. Com a espada ainda mais presa em sua greva, Spike girou e ficou de pé a tempo de usar suas laminas contra um ataque furioso de punhos ósseos e cotovelos blindados. Os pregos em cada cotovelo poderiam ter estripado o capitão de Henry, mas uma volta rápida fez com que seus golpes não o acertassem completamente, deixando apenas uma sangrenta cicatriz em seu ventre.

O legionários tentou desequilibrar Spike para recuperar a sua espada, mas não teve chance. Spike abandonou a sua espada e decidiu usar seus punhos para socar a criatura, deixando-a de joelhos. Essa era a abertura de que ele precisava.

Evitando os pregos nos ombros e cotovelos, Spike ficou atrás do legionário amaldiçoado e segurou seu queixo e cabeça, protegida com um capacete. Uma poderosa força quebrou o pescoço do morto-vivo. Spike se abaixou e retirou a espada da criatura, ainda agarrada a sua armadura. Ele jogou-a de lado, mas a armadura pesada que vestia parecia melhor do que a que havia improvisado rusticamente, usado e descartado em Yanilad. Spike raspou o sangue seco e as crostas de ferida em sua carne nua, demorando-se apenas em suas cicatrizes . Trevas ameaçaram-no de novo.

Spike se recusou a permitir que as memórias o inundassem novamente, embora tivesse pouco controle, sua força d vontade impediu-o de cair em profunda depressão e vivenciar os pesadelos assustadores. Ele vestiu a armadura de bronze do morto-vivo caído e descobriu que ela chegava mais perto de se encaixar e seu corpo poderoso que a maioria das proteções que não haviam sido especificamente forjadas para ele no passado. Só então ele voltou-se para examinar a enorme caixa. Ela tinha quase três metros de altura e brilhava como brasa. Zafira e Gerlon haviam se aproximado da caixa e a analisava cuidadosamente.

-Mas será que... – Zafira colocou a mão contra o lado sem adorno, pensando em como tão potente artefato irradiaria a sua energia. Ela não sentiu nada. Saltando, ela segurou na beirada e se lançou para a parte superior. Um ferrolho simples se abriu e ela olhou para uma caixa vazia. Antes que ela pudesse amaldiçoar de novo, uma flecha flamejante ricocheteou em uma recém-adquirida armadura de bronze que Spike colocara, o abalando seu equilíbrio. Ele lutou para se manter de pé, e seguida, viu uma boa razão para continuar sua queda. Ele caiu atrás da caixa um instante antes de mais de uma dúzia de flechas flamejantes preencherem o espaço onde estava. Perto dele, Flora havia realizado alguns sinais de mãos e invocou um escudo de brana.

Pequenas explosões abalavam as rochas onde as flechas impactava o solo. Spike olhou para uma depressão em sua nova armadura e viu que uma flecha quase a penetrara.

O legionário amaldiçoado tinha o apoio de um esquadrão de arqueiros amaldiçoados.
Spike arriscou um olhar rápido ao lado da caixa enorme e viu seis arqueiros na borda mais alta ao longo do caminho que levava em direção a montanha.

-Para frente – gritou Gerlon – não podemos recuar agora.

Gerlon mirava friamente e atirava, fazendo várias cabeças explodirem, mas parece que não importava quantos disparos com sua arma ele fizesse, ais mortos-vivos reapareciam.

Spike ficou atrás  da caixa, apoiou os pés no chão e empurrou com toda a sua força. A caixa rangeu por alguns centímetros, quase parada; em seguida, rendeu-se a pressão constante. Ela começou a deslizar mais rápido. Ele sentiu o impacto de flecha após flecha contra o outro lado da caixa. Cada batida causava uma pequena explosão. Se estivesse sem proteção, certamente estaria morto.

Spike empurrou ais rápido, deixando a caixa perto da borda de onde os arqueiros mortos-vivos disparavam contra ele. Quando ele chegou a parte inferior da beirada, descobriu que tinha apenas um pequeno espaço seguro atrás da caixa para ficar em pé. Mas o capitão de Henry não se levantou. Ele sacou sua nova espada e arremessou  contras os legionários.

A lâmina não feriu o arqueiro, mas fez com que ele virasse ligeiramente e soltasse sua flecha na frente dos outros. Isso forçou os outros a errarem o alvo. Flora desfez o escudo de brana e todos correram para perto de Spike. Com todos tendo que sacar suas novas flechas simultaneamente, Spike ganhou um instante para atacar. O que ele fez. Com magia de vento de Flora, ele saltou para o topo, onde girou o corpo com ataques furiosos. Ele abriu a palma de sua mão e a espada que estava encravada no peito do legionário e a espada voou de volta para sua mão. A lamina cortava pernas e braços descuidados. Depois, ele começou um ataque mais dirigido.

Dois dos arqueiros amaldiçoados caíram. E um terceiro. Os remanescentes dispararam suas flechas mortais poucos metros de distância. A primeira flecha bateu em sua armadura e detonou, arremessando-o longe. Ele aterrizou com força e patinou. Outro arqueiro atirou e sua flecha foi interceptada por uma flecha de Flora. De sua posição, Spike não podia lançar sua espada ou fugir das flechas por muito mais tempo.

Ele alcançou as suas costas e sua espada emanou um brilho roxo mais intenso, quase uma luz enegrecida. O rilho explodiu, paralisando os arqueiros restantes e transformando-os momentaneamente em puro medo, petrificando os legionários. Spike sabia inconscientemente que tinha apenas alguns segundos. Ele pôs-se de pé e girou a lamina em um círculo furioso. Ele sentiu sua espada bater repentinamente enquanto rodopiavam; então se apoiou em um joelho, afastou as espadas e as flechas, e deu uma olhada experiente no campo de batalha. Ele vira tal carnificina antes, muitas vezes, talvez com demasiada frequência quando capitão de Henry.

Seus inimigos estavam espalhados, os braços de um lado e pernas do outro.
Uma cabeça decepada estava a poucos metros de distância. Dois dos arcos dos arqueiros amaldiçoados haviam sido cortados como lenha. Spike e seus companheiros haviam sobrevivido.
O capitão de Henry se juntou com seus amigos e correram através da estrada esculpida cruelmente na lateral do templo.

O rochoso caminho rapidamente se transformou em um túnel que conduzia a encostas da montanha, e Spike viu a sua passagem bloqueada por um guerreiro minotauro. A criatura levantou o martelo de guerra, fixado onde a sua mão esquerda deveria estar, e bateu ameaçadoramente no chão. As reverberações passaram pela rocha até as pernas de Spike, dando-lhe uma sensação de fraqueza nos joelhos.

-Mas que diabos, não para de vir inimigos! – amaldiçoou Gerlon.

-Eu aposto que o Arquiteto Cadmio ou o Gaiseric teve que passar por tudo isso que estamos enfrentando – disse Mikka num tom de tristeza.

-Não baixem suas guardas! – gritou Zafira.
O guerreiro minotauro urrou, na tentativa de intimidar Spike e os outros, mas nada além da morte poderia ter esse efeito. Em vez disso, Spike ouviu ecos, avaliando o tamanho do cômodo atrás da enorme criatura que ameaçava bater em sua cabeça até a transformar em pasta, se ele tolamente tentasse avançar.

Ele ampliou sua postura e esperou pelo inevitável. O minotauro apressou em sua direção. Spike abaixou a cabeça, mas o minotauro foi mais rápido do que ele esperava e girou para trás dele. Com um salto, a criatura foi para o ar e apontou seu martelo diretamente para a cabeça do capitão, enquanto despencava.

O grupo se separou, Spike deu um salto mortal para a frente, e a marreta pesada passou perto de seu crânio. Ele talhou a criatura com a lamina enquanto ela passava, mas infligiu apenas ferimentos superficiais.  Ele se virou em encarou; como antes, o guerreiro minotauro provou ser mais agressivo que o usual, e os homens touro em geral eram combatentes tenazes e temíveis em batalha. Evitando o golpe do martelo, Spike mirava em qualquer alvo minúsculo que o minotauro deixasse sem proteção. Um pulso. A parte de trás de um joelho. As costelas. Um golpe de Spike atingiu um chifre preto como ébano e causou uma rápida inclinação da cabeça. Não importava o quanto Spike lutasse, ele não conseguia desferir um golpe mortal.
Eles se moviam para frente e para trás, rolando e se esquivando. Aos poucos ele enfraqueceu o touro. Ele se esquivou de outro golpe do pesado martelo, pensando em escorregar para trás da guarda da criatura e cravar sua espada em seu intestino.

Em vez disso, Spike levou uma chifrada em seu braço. O sangue jorrou e a sua mão direita ficou dormente. Sua espada deslizou de sua mão, o deixando indefeso.
Acreditando que essa era sua chance de acabar com a luta, o minotauro investiu, de cabeça baixa. O homem-touro percebeu que Spike talvez não empunhasse a espada, mas isso não significava que ele estava desarmado, ou sozinho. Spike evitou o ataque e envolveu seu braço esquerdo em volta do pescoço do touro. O minotauro tentou se erguer, balançou sua cabeça, e tentou atirar Spike para o lado.

Severamente, Spike aguentou todas as investidas, sua mão encontrando um chifre ímpio. Atrás dele, Flora atirava uma saraivada de flechas em suas costas. Nas setas, um brilho reluzia: eram flechas enfeitiçadas. Spike jogou o braço direito sobre o ombro inclicado do minotauro e puxou com força. Seu primeiro esforço só enfureceu a criatura, mas ao mesmo tempo, sua força se esvaia, e ele sentia isso.

Longe de estar ferido, ele ainda tentou esmaga-lo com seu martelo. O esforço só fez o minotauro avariar a si mesmo. Spike deixou o golpe do martelo de guerra encontrar o ombro da criatura e segurou a arma com sua outra mão. Agora, ambas as mãos era funcionais. Com o braço direito e torno da garganta musculosa do touro, ele soltou o martelo e agarrou o chifre com mais força, arqueando suas costas para trás, em um esforço extremo.

-Morra, seu desgraçado!

Spike girou pelo ar e bateu contra uma parede distante. Ele ficou em pé, atortoado, mas pronto para continuar a luta. Mas não havia necessidade. Ele havia quebrado o pescoço do homem-touro com as próprias mãos. A criatura imensa estava deitada no chão, grunhindo deploravelmente em seus últimos momentos. Para acabar com seu sofrimento, Gerlon disparou um tiro de sua arma bem no meio da sua cabeça, fazendo espirrar sangue e miolos cefálicos por todo lado.

Ofegante, Spike passou por cima do cadáver e se juntou aos outros.

-Você tem se esforçado muito, meu amigo – disse Gerlon, passando os braços de Spike por cima de seu ombro.

-A restauração de nossa casa depende disso – disse Spike, sentindo muitas dores pelo corpo.

Flora correu em direção deles e fazendo alguns sinais de mãos e colocou sobre o corpo de Spike. Um calor confortável se espalhou pelo corpo e a dor ficou mais suportável.

-Eu não tenho palavras para agradecer o que você tem feito por nós – disse Zafira, ela estava ajoelhada ao seu lado – falta pouco para nós chegarmos ao Tesouro do Rei.

-Sim, minha senhora.

-Ainda bem que temos alguém como você conosco – disse Sirius atrás deles.
Todos riram.

-Eu sinto mesmo que estamos perto, mas... tem algo que vem me incomodando... algo nesse templo me assusta.

-O que nesse lugar colocaria medo no senhor? – perguntou Mikka.

-Você e Sirius não sentiram pois não possuem sensibilidade mágica, mas tem algo escondido nas  profundezas desse lugar que emana morte...

Flora assentiu com a cabeça. Era como se ela agradecesse as deusas por alguém ter falado como aquilo era assustador.
O caminho atrás dele emanava uma onda de calor e uma luz intensa de lava escorrendo em bicas de pedra. O grupo apressou os passos e se dirigiu ao portal e rapidamente avaliaram toda a sala imensa. O teto arqueava a mais de uma centena de metros, com drenos de lava despejando as aquecidas rochas fundidas e nocivas respigando a seis metros acima de suas cabeças. Na extrema esquerda, erguia-se uma estátua em homenagem a alguém importante no Inframundo, mas, a direita, eles viram um dispositivo mais curioso, uma balista montada sob uma passarela. Zafira encontrou uma escada, subiram e caminhou até uma alavanca de fogo. Num impulso, ele acionou a alavanca, sentiu a passarela tremer debaixo de seus pés, e então uma enorme bola de fogo explodiu ao colidir com o centro da estátua.

Cada um agarrou suas armas quando viu um iluminado círculo giratório aparecer no chão, na base da estátua. As gravações que tinham atormentado desde de que eles entraram no Templo de Rahma Haruna pulsaram com luz azulada, e, movendo-se para a arena, entre a passarela e o círculo giratório, vieram quatro centauros, cada um armado com uma lança.

-Centauros? – disse Flora, confusa.

-O que aconteceu? – Perguntou Gerlon.

-Centauros normalmente são sociáveis e bem íntegros, inteligentes. Não me convence que eles tenham se rebaixado a meros seres corrompidos.

-Eles não me parecem amigáveis – disse Zafira atrás deles.

-Tomem cuidado, são bem poderosos – alertou Flora.

-Sirius, fique atrás e proteja Mikka, aconteça o que for, não interfira – disse Spike invocando sua espada roxa.
Mikka entregou sua gladio para Flora, e com Sirius, eles se afastaram.

Gerlon sacou sua arma do coldre. Flora ergue a gladio a sua frente. Zafira desembainhou sua katana. Spike ergue sua espada. Suas armas estavam confortáveis em suas mãos. Mas o capitão ouviu uma voz em sua cabeça. A sua nova espada sussurrou e brilhou em seus punhos. Com um salto longo, eles caíram agachados próximos aos centauros. Spike reagiu imediatamente ao seu ataque, balançando sua espada para cortar as pernas do centauro líder. Um rápido movimento rápido circular cortou a cabeça do monstro e fez uma chama azul ardente irromper em um dos pontos cardeais no padrão circular no chão.

Ele capotou, rolou para o lado e esquivou-se de outras criaturas geradas pelo Inframundo. Ele se levantou, balançando a arma que aquela entidade lhe havia concedido com cutiladas poderosas que mantinham os três centauros restantes acuados. Mas esse não era o feitio do capitão de Henry. Defender era morrer. Zafira atacou. Com um grito louco, Zafira, Flora e Gerlon a seguiram para frente, desferindo golpes de lâmina exatos e perigosos. Ela derrubou outro homem-cavalo, pulou em de seu corpo caído e cravou a espada em sua garganta. Um novo e diferente ponto de luz resplandeceu no padrão circular, o segundo antípoda ao primeiro.

Os dois centauros remanescentes provaram-se mais cautelosos, ou menos confiantes, do que seus companheiros mortos, mas essa precaução não os salvaria dos ataques dos dois piratas, que girava, cortava e rasgava com a lamina de fogo azul mágico. Flora conseguiu enfiar sua gladio no peito do centauro, atravessando seu peito nu e musculoso e Gerlon aplicava fortes golpes com suas mãos nuas e combava com tiros de sua arma, que quebrou a lança do centauro, e o finalizou com um tiro na cabeça. Quando eles enviaram os dos centauros de volta para o Inframundo e iluminou os pontos finais sobre o anel giratório no chão, ouviu um barulho estrondoso. Portas de pedra se abriram para revelar mais um corredor corredor iluminado com a luz vermelha-alaranjada do inferno.

Um sentimento de urgência os os compelia agora. Eles correram para as portas e, atravessando-as não se preocuparam em olhar para trás enquanto elas colidiam e se fechavam. O túnel era estreito, e ele rapidamente encontrou mais dispositivos do Arquiteto Cadmio: alçapões no chão começaram a se abrir para mostrar poços de lava sulfurosas, antes de se fecharem com um estalido. Eles saltaram essas armadilhas, só para encontrar-se quase empalados por dardos que irromperam das paredes.

Sirius riu sem humor. Eles haviam resistido a coisa muito pior para chegar a esse ponto. A eles não seria negada o Tesouro do Rei. Eles a recuperariam a Gran-Solaris e destruiriam os Tesseratos. Impediriam a guerra e enfim terminar esse pesadelo.
Eles correram pelos corredores sinuosos, assassinando espectros e matando legionários amaldiçoados, dificilmente desacelerando sua corrida desenfreada. Pela sua intuição, ele sabia que sua missão estava acabando. Apenas uma câmara a mais, outro adversário para exterminar e o Tesouro do Rei seria seu prêmio.

O corredor levava a uma passarela, a metade do caminho para o teto abobadado, permitindo-lhe olhar para trás e visualizar o local onde havia disparado a balista no meio da estátua. Mas Zafira olhou para baixo e riu, saindo do poço de lava, uma cabeça, uma cabeça com chifres. Em seguida vieram os ombros e braços cruzados feitos de um metal negro e opaco. Flora mais uma vez, fez sinais de mãos e realizando magias de vento, eles saltaram em direção a estátua e seus saltos eram mais altos e os ventos ajudavam a irem mais longes, caíram e rolaram para a passarela.

Uma alça se salientava ao lado do pescoço. Como um marinheiro girando um molinete, Spike e Sirius empurraram, girando a cabeça da estátua lentamente. Enquanto a rotacionava, a boca da estátua se abria e um feixe de luz amarela ofuscante atravessava a enorme sala. Zafira viu que a luz atingiu o outro lado sem efeito. Eles continuaram pressionando a manivela, até que a cabeça mudou de ângulo e o feixe brilhou totalmente em uma estátua queimada na outra extremidade da câmara.

O local queimado começou a incandescer até se tornar um laranja efervescente. Depois, um vermelho intenso. Eles levantaram seus braços para proteger seus olhos quando a cor mudou para branco. Mesmo a essa distância, o calor foi suficiente para fazer o suor adornarem seus peitos. Com uma lufada contaminada com o cheiro de metal derretido, o peito da estátua se abriu.

O grupo voltou ao chão e imediatamente enfrentou outra armadilha diabólica do Arquiteto Cadmio. Autômatos metálicos feitos de um ouro coberto de chamas foram vomitados da abertura do peito, por eles deveriam passar. O calor ameaçou chamuscar suas peles e seus pelos, mas eles não reduziram a velocidade. Para Spike, isso significaria fracasso. E fracasso, naquele caso, levava a morte.

Com os pés batendo contra o chão, eles correram o mais rápido quanto eles podiam, esquivando-se daqueles autômatos mortais enquanto trotavam. A menos de quinze metros do túnel, uma porta estampada com rostos em desespero e sorriso sádicos maliciosamente se definiu na parede. Rolando e mergulhando, eles cruzaram a trila intermitente cheia de morte morte fundida e agarraram a parte inferior da porta. Da sua direita, veio outro autômato, trovejando diretamente contra eles. Com um puxão convulsivo, Spike, Gerlon e Sirius levantaram a porta e rolou sob ela uma fração de segundo antes do touro mecânico esmaga-los e queimá-lo. 
O túnel se estendia diante deles. A passos largos e seguros, eles partiram. Eles voltaram ao piso da grande câmara, onde a rocha fundida escorria das paredes e iluminava o ambiente com um brilho estranho, mais adequado ao Inframundo do que a um templo. Seu aspecto era medonho, mas na outra extremidade da sala, guardando o caminho a seguir, ele viu o que deveria ser a criatura mais mortal que eles já enfrentaram até aquele momento de suas vidas. Blindado como um soldado, o minotauro se erguia a dez metros acima deles. Cada bufo produzia grossos pilares de fumaça preta e turva saindo de suas narinas, quando ele abriu sua boca, eles reagiram instantaneamente, girando para longe de um jorro de fogo do inferno que chamuscou suas costas e braços, apesar de sua rápida reação.

Sirius e Mikka congelaram de medo. Eles chegaram diante de uma grande fera que eles não imaginavam que existia naquele mundo. Eles finalmente entenderam a sensação de medo que Flora havia mencionado antes. Suas pernas ficaram bambas e um medo colossal tomou conta de suas mentes, o pavor da criatura era tão grande que fez Sirius e Mikka se arrependerem de terem ido junto com eles. Mas Sirius não quis demonstrar medo diante do minotauro e nem de Mikka. Seu objetivo estava depois desse ser, e assim como Spike, ele não queria retroceder.
Spike e Zafira sacaram suas lâminas e atacaram. Atrás deles, Gerlon disparava com sua arma e Flora com suas flechas dando cobertura.

A criatura blindada, que parecia mais uma máquina do que algo vivo, ou morto-vivo, moveu-se lentamente, dando a Spike e Zafira muitas oportunidades para golpeá-la. Pouco a pouco, o capitão e a princesa lascaram sua armadura, mas eles perceberam que isso não seria o suficiente. A criatura era muito grande, muito vigorosa, e resistiu aos golpes mais selvagens que eles poderiam liberar sua arma. Depois de ter usado a nova espada, Spike soube que mesmo essa potente espada não seria suficiente.

Eles rolaram, evitando um enorme punho blindado que esmagou o chão e deixou cacos de pedras para trás. Eles cortaram com suas espadas, mas não produziu nada, a não ser uma pequena fenda. O imenso minotauro levantou-se e a luz cegante disparou do gorjal que protegia seu pescoço. Onde quer que os raios atingissem as paredes de pedra, enormes buracos apareciam. O minotauro balançou sua cabeça, rugiu, e dirigiu ambas as mãos para baixo em uma tentativa de esmagar Spike e Zafira. O capitão estalou sua lamina ao seu pulso coberto de ferro e rolou para frente, atirando sua nova espada, como se fosse gancho de escalada. Atrás deles, Flora realizava magias de raios, várias runas flutuavam ao redor de seus braços. Ele prendeu a ponta da espada na armadura do minotauro e puxou, arrastando-se para cima da espinha do monstro. Oscilando no ar, ele enfiou os pés na coluna da criaturam em uma tentativa de enfraquecer os músculos de seu poderoso pescoço e empurrar a cabeça de modo a expor a garganta.

Mais raios dançavam ao redor deles, Flora tomava cuidado para não acertar Zafira e nem Spike. A fera rugiu desafiadoramente e novamente bateu seus punhos  contra o chão, fazendo Spike voar. Ele aterrizou com as costas no solo. Olhando para cima, viu os olhos do blindado minotauro brilharem uma luz infernal. O bicho abriu a boca e expeliu um fogo mortal. Spike rolou de bruços a tempo de evitar o sopro devastador. Nessa posição, atirou-se com a lamina em movimentos giratórios. Ele selecionou o pulso esquerdo e conseguiu cortar as correntes que prendiam as luvas do minotauro. Era pouco, mas um começo.
Zafira recuou, decidiu o que tinha que ser feito. Ela atacou, levando a criatura a estender-se a sua altura máxima, deu uma cambalhota para o lado da câmara, encontrou o caminho até a passarela inferior e correu até a alavanca de controle da balista. Atrás dela, ela ouviu sons de tiros e raios contra a fera. A criatura rugiu e seus olhos brilharam em vermelho ardente em retaliação. Ele abriu a boca para vomitar mais chamas, e Zafira empurrou a alavanca para baixo, lançando um disparo da atiradeira diretamente no peito do monstro. A criatura ficou um pouco mais ereta, tocou o ponto onde Spike tinha arrancado várias partes da sua armadura, gritou em fúria e investiu contra ele novamente.

Zafira saltou para fora da passarela, bateu no chão de pedra dura, e deu um impulso para aumentar o poder de seu ataque arrasador. Dessa vez, ela cortou parte do pulso esquerdo do minotauro e foi recompensada com um urro ensurdecedor. Ela soube que a coisa podia ser ferida. O que significava que ela podia ser morta. Quando ela se adiantou para desferir outro corte, foi descuidada, suas investidas anteriores o tinham deixado com uma sensação de falsa confiança.

O punho direito blindado do minotauro bateu contra suas lâminas, enredando as correntes, e Spike foi erguido. Ele olhou para o ardor nos olhos do minotauro. O monstruoso homem-touro abriu sua boca como se quisesse mordê-lo, e Spike viu o fogo dentro das entranhas da criatura crescer. Ele seria assado enquanto estivesse suspenso pelas correntes das luvas do minotauro. Um empurrão para o lado o fez girar. Spike impulsionou-se e girou no sentido posto, então enrijeceu os poderosos músculos de seu abdôme para chutar com força. A ponta da sandália encontrou um ponto de apoio contra um pico saliente na armadura do minotauro. Ele se afastou quando a criatura do inferno liberou a chama escaldante de sua boca.

Spike envolveu as pernas ao redor da armadura e deu um puxão violento, movimentando-se para frente e para trás. As correntes estalaram e ele deslizou para a coluna do minotauro, lutando para não empalar-se nos pregos montados em todos os lugares. Spike agarrou-se a um deles, parou de escorrer e imediatamente renovou seu ataque. Novamente sua nova espada serviu coo ganchos, mas dessa vez ela penetrou a armadura e afundaram suas pontas na carne do homem-touro.

O minotauro rugiu, suspendeu-se e tentou atirá-lo longe. Spike insistiu com tenacidade, recusando-se a desistir, a morrer. Ele ficou em pé sob o monstro e puxou as correntes duramente, até que a lamina se libertou, trazendo com ela pedaços sangrentos do pescoço do minotauro. Pela maneira que a cabeça da criatura pendeu, a coisa estava enfraquecida. Segurando o punho de sua espada, Spike saltou livre, picando a carne exposta do homem-touro em cada oportunidade possível. A mão esquerda, que estava desprotegida sem armadura, provou ser uma área excepcionalmente vulnerável. Ele deixou ferimentos profundos, se não mortais, em todo o comprimento de seu antebraço, antes de atingir o chão.

O minotauro rugiu de frustação por suas feridas, e por ser incapaz de esmagar o capitão de Henry. Ele bateu seus punhos em uma nova tentativa de transformá-lo em pasta de sangue, mas novamente errou por centímetros. Flora num momento oportuno, investiu e cortou uma artéria do braço esquerdo do monstro. Enquanto o sangue jorrava, a criatura berrou, e a luz inflamou tanto no pescoço quanto nos olhos. Spike notou que, cada vez que os raios mortais atingiam as vigas, menos dano era causado.

Ele rolou, evitando outro furioso golpe de punho, e correu até a passarela mais uma vez. O minotauro expressava sua ira, batia as pernas no chão e presentava Zafira com um alvo perfeito. Ela pressionou a alavanca, disparando a balista. O dardo enorme voou e acertou o minotauro no rosto, imobilizando o monstro a porta; que estremeceu com as dores mortais que torturavam o seu corpo monstruoso, com seu rugifo estrondoso desaparecendo lentamente.

Zafira prendeu a respiração, esperando a porta se abrir, o que não aconteceu. O minotauro pendia sobre ela, guardando-a.
Além do assobio da fonte de lava na mais alta distância da câmara, só havia silêncio. O último espamos deixou o minotauro com uma aparência medonha, zombando deles em sua morte.

A raiva de Zafira aumentou. Olhou ao redor, e ela tentou encontrar uma nova munição da atiradeira, que não existia. Isso só alimentou sua raiva. O minotauro havia morrido sob o dardo pesado, e Zafira pensou em enviar outro através dele para derrubar a porta, mas era impossível. Puxando sua espada, ela pulou da passarela e avançou, o assobio mortal de sua espada no ar. Ela cortaria o minotauro em pedaços e depois talharia seu caminho através da porta. Ela não seria negada!
Quando ela se aproximou, percebeu um novo perigo. Sangue escorria da cabeça rompida do homem-touro. Cada gota sibilava e queimava o chão de pedra. As piscinas de sangue negro se espalhavam, obrigando Zafira a saltar sobre elas. A cabeça chifruda relaxou para o lado e liberou o dardo. O que tinha sido um gotejamento constante de sangue agora se tornou uma cachoeira.

Zafira correu para a frente. Ela estremeceu com o sangue respigando ácido em suas costas, braços e pernas. A dor incitou-o para a frente, até que ela bateu na porta próximo a perna do touro enorme. Ofegante, ela olhou para o corpo, que deslizava lentamente para a parte de baixo da porta, sem cabeça. Mais sangue de minotauro formou uma cascata, mas Zafira ignorou-o quando viu a situação da porta que bloqueava o seu progresso.

Atrás dela, o grupo se aproximou. Gerlon assobiou em sinal de aprovação. A porta tinha uma rachadura onde a munição da balista tinha batido contra o minotauro. A esperança reluziu. Zafira levou lamina a fissura fina. Spike se aproximou com sua lamina e se juntou a ela. Seus ombros vigorosos brandaram com o esforço enquanto eles tentavam abrir a fresta. Em um primeiro momento, nada aconteceu. As espadas não se moveram e a fenda não se alargou. Seus mundos se resumiram a pressão que exercia com as lâminas e a cachoeira de sangue venenoso ao lado.
Dor. Ardência. Seus músculos estavam a ponto de romper. Então Spike soltou um grito de vitória. A fenda explodiu em todas as direções quando uma parte da porta quebrou como vidro, formando uma rachadura quase do tamanho de seus corpos. Ele virou-se de lado, espremendo-se por entre a abertura, e caiu de joelhos do outros lado da porta para rolarem para frente, quando uma chuva torrencial de sangue do minotauro esguinchou.

Eles se levantaram e dispararam pelo novo corredor, e o atravessaram até chegar a um sarcófago correspondente ao que havia encontrado anteriormente. Um livro de pedra em um pedestal recordava a morte do quinto filho do Arquiteto Cadmio.
Com um grunhido selvagem, Zafira saltou para o topo do caixão, impulsionando a tampa, e arrancou a cabeça do corpo mumificado. Ela segurou-a alto, mas, ao contrário da anterior, não pensou em atirá-la. Gerlon encarou-a e soube o que fazer com o crânio, onde ele se encaixava, soube que era a chave para o Templo de Rahma Haruna.

Refazendo seus passos em direção aos anéis do templo, ele evitou o cilindro e mais uma vez atingiu o aro do núcleo cheio de água. Abaixo, ele havia encontrado uma porta que obstruía a sua jornada, uma porta com crânio gravado na pedra. Spike mergulhou, submergindo poderosamente na água, e inclinou-se na frente do portal.

Pressionar a cabeça no contorno da porta fez com que a água fosse drenada por todos os lados. O nível da água na piscina central desceu rapidamente, permitindo que ele abrisse a porta.

Atrás da porta havia um elevador. Ele entrou, e a gaiola caiu e uma velocidade de tirar o fôlego.A parada súbita pôs Spike de joelhos, mas, quando a porta se abriu, ele sabia onde estava. Ficou um pouco incomodado com o cheiro de cachorro molhado, mas ele sentiu que estava próximo.

Ele chamou o resto dos seus companheiros para reivindicar o Tesouro do Rei.

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