Capítulo 37 - A selva de Sarin
A selva de Sarin é uma extensa área que está no limiar das interferências mágicas de Sauropsidia, permanece como sempre foi, intocada pela mão do homem. Embora as Norueguesas-da-Floresta façam suas aldeias dentro desta selva e ao longo dela, os caminhos para seus enclaves são emaranhados e escondidos por enormes árvores e galhos, cipós retorcidos e arbustos. Barreiras em toda a sela também impedem a passagem fácil, pois foram erguidos pelas Norueguesas-da-Floresta para impedi a invasão de estranhos, a benção de seu povo necessária antes de alguém possa passar.
Do alto das grandes árvores, a noite, brilhavam pequenas larvas luminescentes que podiam se facilmente com estrelas no céu. A megafauna única também é um dos pontos altos de Sarin em que seus habitantes precisam aprender a conviver com eles, tais como as Rosas de Cagliostro, sendo uma criatura horrível com pele manchada de verde acastanhado e tentáculos contorcidos, alimentando-se apenas de carne de outras feras da selva, não extraindo sustento da fotossíntese, como fazem as plantas comuns. Favorecendo a furtividade, ela se aproxima de sua presa em silêncio, então ataca sem aviso, engolindo sua vítima inteira. Sua boca está cheia de saliva fortemente ácida, e respirar o miasma que é seu hálito que pode causar envenenamento e loucura. Seus principais alimentos são as grandes hienas infernais, grandes feras com pelagem cinza escura com dentes de cor vermelha, seu focinho possui um único grande chifre apontado para cima que brilha como brasa incandescente; sendo um caçador da mais alta ordem, com um corpo de azeviche e uma aura de feitiçaria sobrenatural, perseguiria sua presa até os portões do inframundo. Originalmente um tipo de hiena, uma dieta constante de criaturas malignas e mágicas o transformou no que é hoje. O chifre afiado em seu focinho e longas presas que se projetam de sua mandíbula superior são como magma preso, e dizem que quando eles morrem, sua cor desbota, tornando-se nada mais além de uma pedra negra e opaca, o que o grupo descobriria após matar alguns que os impedia de seguir em frente.
A selva parecia que os impedia de proposito de seguir em frente, mudando as rotas que eles caminhavam, que inclusive se assemelhavam com pontes suspensas por cabos de aço, quando na verdade eram galhos enormes suspensos por cipós grossos e fortes. As paredes assemelhavam-se a cascas de árvores e musgos, com as mais variadas flores de todas as cores possíveis, indo de azul ao vermelho, passando pelo índigo e até laranjas e amarelas. Nas encruzilhadas que eles passavam, alguns itens e artifícios primitivos podiam ser encontrados, como lampiões que brilhavam a luzes de vagalumes, que se assemelhavam a postes e alguns postos de vigia que estavam vazios. Eles vagaram por um longo tempo em um calor infernal já que toda a selva era abafada e as brisas frescas se perdiam facilmente. Por uma ou mais vezes, eles escorregavam nas escadas talhadas nos troncos por causas dos musgos escorregadios, Sirius e Mikka caíram de cara duas vezes ao subirem e descerem elas. Na frente Flora os guiava atentamente aos caminhos, sempre que eles entravam em uma rota e chegava a lugar algum (ou algum lugar que ela dificilmente não se lembraria) ela ficava emburrada. Atrás deles Spike auxiliava Zafira a caminhar, Gerlon, Sirius, Miikka, Selena, Beat, Dymas e Wyz vinham logo atrás carregando o baú congelado contendo o braço da princesa. Eles só pararam quando em uma das rotas, um selo mágico bloqueava o caminho, ele brilhava num tom azul com várias runas e escritas antigas.
-O que é isso? –Perguntou Sirius.
-A selva impede nossa passagem – respondeu Flora.
-O que nós fizemos? – Perguntou Zafira.
-Nós? Não, o que eu fiz – respondeu secamente Flora, dando meia volta e procurando outra rota segura para chegar em casa, aqueles joguinhos, caminhos que levavam a lugar algum e selos mágicos impedindo sua passagem já estava deixando irritada. Ela desceu um lance de escadas que se encontrava a direita deles, Gerlon a seguiu enquanto os outros encaravam o selo.
-Mas o que isso significa? Como devemos passar por isso? –Perguntou Sirius, mas ninguém pareceu dar importância para ele.
-Olha, jamais imaginaria que você fosse voltar para cá, acredita? Nem se eu apostasse todo o meu tesouro. – Disse-lhe o pirata.
-Eu só...
-Eu achei que você tinha deixado esse lugar para sempre.
-Nossas escolhas são poucas, estamos sem opções, não é hora de se limitar ainda mais.
-Gerlon? Flora? Aonde vocês vão? –Gritou Sirius, mas os dois já estavam abaixo, nas escadas e não pareceram dar importância.
Flora continuou:
-Isso é tanto para você, quanto para mim –disse ela, apontando para o braço necrosado dele.
Gerlon franziu as sobrancelhas.
-Você está tranquilo – disse ela – você causou os problemas com os tesseratos? Você deixou seus olhos traírem seu coração. –Ela se virou e continuou descendo.
-Certo? –disse ele, confuso, a seguindo, enquanto atrás deles o grupo moviam-se para acompanha-los.
Eles caminharam por alguns metros até que pararam, Flora parou em frente ao que Sirius identificou como uma ponte quebrada de galhos secos. Seus dedos começaram a brilhar, ela recitou alguns encantamentos e de repente a floresta começou a agir como se fosse um ser vivo: o galho voltou a crescer se tornando uma longa passarela que se projetava para a escuridão dentro da floresta, alguns cipós se remexiam e grama verde começou a crescer, com algumas rosas pequenas no canto da estrada soltando aromas agradáveis.
-Mas o que... – Sirius encarou boquiaberto o caminho surgir a sua frente – para onde isso vai nos levar?
-Logo você vai saber. Vamos buscar ajuda das Norueguesas-da-Floresta que moram logo a frente.
Ela e Gerlon fizeram gestos deixando todos passarem na frente. Spike e Zafira foram os primeiros, seguidos por Selena. Atrás Beat, Dymas e Wiz os seguiram. Sirius pareceu temer um pouco o caminho criado ali a sua frente, Mikka se aproximou de Flora.
-Aposto que vão ficar feliz em te ver depois de tanto tempo.
As feições de Flora se tornaram tristes e melancólicas, e de repente, seu olhar se tornou distante e mórbido.
-Sou indesejável por aqui, uma convidada indesejável em sua própria casa.
-Mas... o que aconteceu? –Quis saber Sirius, mas Gerlon o empurrou, o fazendo seguir os outros.
Eles seguiram adiante, seguindo o caminho brilhoso das larvas no alto do teto como estrelas. Então eles de depararam como uma grande bifurcação de três caminhos. No centro deles, parados na plataforma, seres espectrais descansavam. Flora contou que eles eram panteras-espirituais, sendo um grande carnívoro, com pelo azul pálido e ondulado que queimavam como fogo fátuo, tinham longos bigodes saindo dos cantos de sua boca. Esses predadores se movem em bandos de até sete indivíduos, dividindo papéis como fazem os caçadores com uma inteligência muito maior que as dos outros animais. A extensão de seu territórios varia de acordo com a quantidade de presas disponíveis e, nos locais onde a comida é escassa, eles aumentam seu alcance para evitar a fome. Por causa de toda a sua mística, as Norueguesas-da-Florestas idolatram e protegem esses seres como divindades, tanto quanto Flora impediu seus amigos de afugentarem eles para que puderem avançar sem nenhum conflito, e uma coisa que ela percebeu, mas logo repreendeu a si mesma era que, mesmo após tanto tempo, ela ainda matinha viva aqueles costume. Por que não os deixara afugentar ou matar aqueles seres? Ela não pertencia mais a sua vila então, por que se importar? Ela era a selvagem no final de tudo, queria agir como tal, mas não conseguia. Ainda na mesma selva, uma subespécie desses seres também existia, não sendo tão majestoso quanto os espirituais, os Couglardes possuem uma pelagem mais amarelada, sendo uma criatura considerada estranha com teias, como a de um anfíbio, nos pés para ajudar na natação, um corpo longo e esguio e bigodes ainda mais longos. Preferem comer pequenos animais e afins, mas sabe aventurar-se nos baixios lagos escondidos de Sarin para pescar quando a comida é escassa. Esse consumo de presas aquáticas parece ser um gosto adquirido após a era do gelo, alguns milhões de anos atrás que assolou Evânia e ainda mais maior quando a parte fauna terreste foi extinta naquela época, e foi então que os Couglardes desenvolveu sua teia característica.
Acima deles, vultos negros voavam em bandos e os vigiava de longe com olhos vermelhos e famintos. São seres com feições demoníacas e, segundo as lendas do povo que habita tanto a selva quanto dos que vivem ao redor da sela, essas criaturas vieram diretamente das mais profundas camadas do inframundo, com seus chifres negros retorcidos para trás e caudas e asas membranosas. Sendo uma criatura com um rosto tão hedionod, diz-se que até mesmo outros demônios desviam os olhos. Sua forma lembravam esculturas e igrejas e santuários projetados para afastar os maus espíritos. A suposta eficácia de tais esculturas levou a sua colocação em muitos edifícios em todo o mundo, até que sua forma grotesca se tornou uma visão comum. Isso irritou os demônios e, no espírito de brincadeira perversa, alguns deles assumiram a forma das próprias criações destinadas a expulsa-las, tornando seres como gárgulas. As paredes e as árvores menores estavam infestados de Rosas-de-Cagliostro que, a todo momento cuspia veneno e soltava gases venenosos, tornando aquele lugar com cheiro de enxofre; eles precisaram também exterminar algumas gárgulas-da-floresta para que pudessem prosseguir. E a cada encruzilhada que eles alcançavam, Flora se irritava ainda mais com a brincadeira de mal gosto que a selva pregava neles, era como se ele dissesse que eles, principalmente ela, não era bem vinda. Eles passaram por alguns outros selos mágicos que bloqueavam certas áreas, e a medida que eles avançavam ainda mais para dentro, mais labiríntico ficava e uma sensação de nostalgia e melancolia pairava sobre ela.
O grupo parou em uma da sencruzilhadas para descansar, a temperatura estava muito quente e abafada, eles andavam por horas mas poderia facilmente dizer que havia se passado dias ou semanas. Flora se aproximou de uma grande árvore e começou a falar baixinho, para que ninguém a ouvisse. Por um instante todos sentiram uma onda de arrependimento e tristeza vindo daquela árvore, uma sensação estranha se instalou entre eles. Sirius se aproximou de Gerlon e perguntou o que ela estava fazendo, mas o pirata apenas se manteve em silêncio e a encarando. Ele sabia mais do que todos ali que seu retorno para casa ia lhe machucar muito. De repente, galhos emaranhados se desfizeram e liberaram um caminho. Flora se aproximou.
-Vamos – chamou ela.
O grupo se entreolhou mas seguiram mesmo assim. Ao caminharem pelo caminho novo, junto a eles pequenas criaturas sugiram e o acompanharam: são coelhos-de-capela, pequenos seres de corpo preto e tufos um grande e felpudo colar ao redor do pescoço, sua cauda era uma grande bola de pelos branca quase tão grande quanto seu próprio corpo, possuía pequenas mãos e pés e o que distinguia eles era suas enormes orelhas, dois pares de orelhas com padrões gentis de pelagem branca e ia ficando azul a medida que chegava perto da ponta. Flora se surpreendeu e explicou que aqueles seres só apareciam a cada oito anos e que sua cauda é usada pelas Norueguesas-da-Floresta para criar uma substância especial, chamada de Pó da Onisciência, que é usada entre as tribos como um rito de passagem. Sendo uma criatura de pelos escuros e orelhas emplumadas, as grande cauda branca contém um óleo único, usada pelas Norueguesas-da-Floresta através de técnicas seculares como um ingrediente em Unguentos e até remédios potentes. Costuma ser cauteloso com outros povos vindo de fora da Sarin, e portanto, muito difícil de capturar. O caminho deixava se der feito de tronco e musgos verdes e passou a ser de madeira refinada, folhas de árvores caiam do teto e sujavam o chão e no final do caminho, uma luz branca e alguns vultos surgiram. A medida que eles caminhavam a luz crescia e a tensão também.
Na frente deles, a vila da Ramdahmut surgiu, como se tivesse saído de um conto de fadas, suas construções élficas surgiam em meios as grandes árvores. Esculpida em um único e titânico tronco de uma colossal árvore, as casas em estilo élficos se espalhavam por sua frente, com madeiras perfeitamente polidas e estruturas resistentes porém simples e frágeis, do alto, a grande copa das deixava passar alguns fios de luz vindas do sol que batia e refletia na vila. Ao redor, a passarela principal feita de madeira polida com vários sinais e runas era sustentadas por cabos naturais que se prendiam a um grande paredão vindos atrás deles, um gigantesco tronco de árvores, e eles se perguntaram em qual momento eles adentraram numa colossal árvore sem eles perceberem. Ainda no paredão, algumas Norueguesas-da-Floresta saiam de suas casas e encaravam os novos forasteiros. Ao longe, em postos de vigilância estratégicos algumas guerreiras colocavam suas mãos no arco, para somente armar uma flecha e atirar com precisão. Elas se vestiam com malhas de couro como se fossem amazonas, carregavam em suas costas aljavas e presos em seus cintos, pequenos punhais. Ela observavam com desprezo e desconfiança, mas Flora pareceu não se intimidar, ela se virou para Sirius.
Vila de Ramdahmut
-Na aldeia a frente você ter que encontrar alguém para mim, ela se chama Fayene. Ela vai saber por que você chamou ela.
Sirius e os outros seguiram em frente, ficando para trás apenas Flora, Spike, Zafira e Wiz. Atrás deles, pequenos seres mágicos chegavam e os encaravam com estranheza: Polevik são pequenas criaturas, não passando no máximo de quarenta centímetros, sua aparência era de um baixinho homem velho, com grama no lugar de cabelos e uma grande barba verde com algumas sementes de trigo ao longo dela, seus olhos eram de cor violeta e tinha pequenos dentes afiados projetados para fora da boca. Vestiam roupas velhas e rasgadas e traziam consigo grandes sacos de sementes.
Polevik
O grupo caminhou pela passarela principal de madeira que os levou até uma plataforma central no formato de um grande octógono. Várias Norueguesas-da-Floresta descansavam em baixo de pequenas árvores ou nas escadarias centrais que levaram a outros níveis e pontos da vila. O centro se projetava como um grande anfiteatro e ao redo, grandes escadas de madeiras que subiram em longas espirais erguiam-se. Pequenas borboletas brilhavam com feixes de luzes voavam no alto, Gerlon deu a ideia de cada um se separar para facilitar as buscas. A todo instante, eles sentiam os olhares pesados das vilas de todas as Norgueguesas-da-Floresta. Seja as que passavam por perto deles, as que os vigiavam de longe com seus arcos ou as que estavam nas janelas de suas casas esculpidas em árvores ao redor. As passarelas serpentavam por todos os lados. A vila delas na Selva de Sarin os enclaves estão espalhados por toda a região, mas todos são protegidos contra a entrada de pessoas e de outras tribos e terras. As Norueguesas-da-Floresta costumam ser bastante reclusas por natureza, vivendo separados de sua própria espécie, exceto quando a necessidade exige. Esse isolamento é possível em parte pela capacidade delas ouvirem a voz do espirito de Sarin em assim, saber tudo o que está acontecendo dentro e fora de suas fronteiras. Ao longo da história de Evânia raramente elas se aventuram além das fronteiras de Sarin, e poucos forasteiros tem o prazer de conhecer seus costume e leis. As aldeias norueguesas são formadas por enormes árvores ligadas por caminhos suspensos, com habitações e pequenos santuários ao espirito da selva que circula entre os troncos. Durante o dia, muitas delas chegam a uma clareira na aldeia, onde uma fonte brilhante borbulha da terra, para meditar. Seus lideres residem no centro da aldeia e governam de acordo com a palavra da luz. Aqueles que desempenham os sagrados deveres cerimoniais de fabricante de unguentos ou guardião da vila ficam ao seu lado, defendendo os caminhos da aldeia e das próprias. Em comparação com outras raças, as Norueguesas-da-Floresta se movem em um ritmo mais lento, mais contemplativo, mais em paz com o fluxo do tempo. No entrando, algumas Norueguesas mais jovens começaram a questionar a sabedoria de rejeitar a mudança no meio de uma Evânia em rápido movimento após uns anos atrás, uma de suas irmãs fugirem da vila.
Norueguesas da Florestal encarando os forasteiros
Sirius e Mikka tomaram o caminho que a esquerda e seguiram por passarelas que davam a volta numa grande árvore, alguns caminhos estavam bloqueados com grandes portões de ferro e eles eram aobrigados a dar a volta. Eles chegaram a uma outra plataforma que havia enormes estruturas pontiagudas que se projetavam a três metros de altura, algumas nativas descansavam e outras liam livros. No outro canto, algumas praticavam feitiços e encantamentos, e mesmo sob o olhar de julgamento delas eles seguiram em direção a passarela a direita e chegaram numa bifurcação, o caminho da direita a escada descia em espiral e o da esquerda os levava para cima em espiral, eles tomaram a da esquerda e subiram as escadas. Sentadas nas bordas de um jardim, eles se aproximaram de duas Norueguesas que apenas conversavam tranquilamente, mas que fecharam a cara quando eles se aproximaram. Sirius perguntou sobre Fayene e elas fecharam a cara e apontaram para a direita delas, para um palácio de madeira erguido entre grandes e galhos das árvores, eles se dirigiram para lá.
Espaço aberto em Ramdahmut
Ao se aproximarem, um grupo de Norueguesas-da-Floresta os cercaram, com espadas e arco e flechas em prontidão. Mikka se segurou firme nos braços de Sirius, com medo.
-Com licença, Fayene more aqui? Estamos aqui para vê-la.
Elas se mantiveram imóveis, encarando seus alvos como se esperassem o mínimo de um sinal para elas decidirem que eles são um perigo para elas.
Atrás delas o portão do palácio se abriu, e de lá, veio uma Norueguesa-da-Floresta alta e trajada com uma sacerdotisa, ela vinha conversando com um grande coelho corpulento e gordo, com características faciais felinas e grandes orelhas de coelho. Sua pele é principalmente marrom claro, embora seja de cor creme em torno de seu peito, estomago e rosto, e sua cauda bem enrolada em uma grande espiral, também apresenta uma pele mais marrom mais clara em um padrão em listas. Ele usa uma camisa sem mangas verdes claras com um cinto fino amarelado em volta da cintura, essas cores também podem ser vistas m seu chapéu feito de retalhos de tecidos frouxamente costurados e de aspecto surrado e velho, tem uma aba larga e buracos rasgados para enfiar suas orelhas grandes. Na ponta do seu chapéu um anel se prende com um pequeno sino de prata, preso por meio de um laço de corda. Usa luvas de couro marrom com pulseiras de metal prateado e chinelos nos pés, o esquerdo dos quais está aberto; e um cachecol roxo listrado, ao qual está anexado um grande broche de prata em formato de medalhão e um mago desenhado. Também trazia consigo um grande cajado com algumas cordas e cintos amarrados e preso a ele, uma pequena bolsinha branca de laço violeta, e carrega em suas costas uma grande mochila amarela.
-Você vai sair de uma só vez – Disse a Norueguesa-da-Floresta – não é permitido evanianos nesta vila.
-Iremos assim que vermos Fayene – respondeu Sirius.
As guardas ao seu redor esticaram seus arcos, apontando suas flechas para as partes mais vitais do garoto. A sacerdotisa continuou:
-Se você conseguir encontra-la.
-Nós não vamos sair até que você nos deixe vê-la.
A sacerdotisa revirou os olhos, com desdém, sua cauda balançava de forma maliciosa.
-Tudo bem então, vamos procura-la nós mesmos. –Respondeu Sirius, dando meia volta.
Na entrada, Flora chegou com Spike, Zafira, Wiz e o resto do grupo que haviam se separado.
-O que aconteceu com Fayene? A voz da Selva me disseram que ela não está na vila. Fuschia, para onde ela foi?
-Por que você pergunta? A Selva não disse onde ela passou, ou você não pode ouvi-lo? Os Poliveks na entrada lhe contaram?
Flora baixou sua visão, ela sentia o peso daquelas palavras como enormes pedras em sua consciência. Fuschia continuou:
-Seus ouvidos não ouviram o seu discurso duro, não é? É provável que a Selva só lhe deixou encontrar este lugar por pena, por suas suplicas lá fora, mas a selva cobra o preço e você está apenas adiando o que ele tem a lhe dizer. Norueguesa que abandona a Sarin, não é Norueguesa. Fayene também deixou seus braços, como você.
-E você abandonou elas, por sua vez? –indagou Gerlon.
Fuschia fez uma careta, ela não admitia ser respondida por um evaniano.
-É a vontade da vila. Norueguesa deve viver sempre na Selva de Sarin. Sempre foi assim, e não há porque mudar, é a nossa lei. A vontade da Selva.
-Vamos deixa-la se preocupar em manter suas leis – disse Sirius – basta nos fazer o favor de ficar fora do noss caminho, e então nós mesmo vamos encontra-la.
A sacerdotisa refletiu por alguns segundos naquelas palavras, encarava friamente Flora a sua frente, e tentava decidir se ela merecia ou não sua ajuda, mas ao olhar para o grande coelho gordo que apenas assistia tudo das escadas, ele ascenou com a cabeça para ela. Fuschia fechou seus olhos e se concentrou, de repente, ventos fortes começaram a dançar sobre eles, fazendo as folhas das arvores balançarem, um vento rodopiou aos pés de Fuschia como se falasse com ela em seus ouvidos. Um redemoinho de folhas subiu aos céus e então a ventania parou.
-Nossa irmã deixou a Selva e foi para o leste. Ela anda em tocas e labirintos entre os evanianos que se escondem em armaduras de ferro frias e escuras. Assim Sarin falou para mim. –Fuschia deu meia volta e se dirigiu aos portões do palácio.
-As Norueguesas-da-Floresta podem estar ligadas a Selva, mas não é único fim que podemos escolher.
-As mesmas palavras que eu ouvi, quinze anos atrás.
O grupo deu meia volta, quando alguém gritou atrás deles.
-Esperem!
Flora se virou e deu de cara com o coelho gordo. Ela no mesmo instante se ajoelhou.
-Senhor Galthier! Peço perdão pela falta de cortesia! Eu estava tão focada nos meus assuntos que não percebi que o senhor estava aqui.
-Está tudo bem! Por favor, levante-se, deixe-me ver o rosto daquela garotinha que sonhava em ver o mundo fora dessa Selva.
-É muito bom rever o senhor também, como tem passado? Qual o motivo de sua visita a Ramdahmut?
-Bem, você sabe, minha peregrinação parece nunca ter fim, neste exato momento estou em busca de algumas informações. achei que Fuschia poderia saber de algo então vim vê-la.
-E o senhor conseguiu encontrar o que procura?
-Não exatamente, há alguém que preciso procurar ainda e mais alguma escrituras, eu acho que não tenho escolha se não ir para a Biblioteca de Avalon, no arquipélago de Azeroth.
-Espero que o senhor encontre o que procura.
-Eu também, mas o que você está procurando? Precisando de algo?
-Na verdade, estamos sim, mas preciso de Fayene para isso, já que eu não quero pedir nada a Fuschia.
-Ótimo! Então peça para mim! Eu quero ajudar!
-Bem, senhor, eu não sei...
-Isso é ótimo, Flora, deixo-o ajudar, você mesma fala que precisamos de toda ajuda possível – interveio Gerlon.
Galthier o analisou calmamente.
-Vocês estão impregnados de magia profana, e sinto também... magia antiga poderosa, o que você andou fazendo, Flora?
Flora relutou bastante, até que ela contou tudo o que eles haviam passado nos últimos dias, explicou o motivo do braço de seu parceiro está se necrosando e porque o braço de uma princesa de um reino distante está sem um dos braços.
-Entendo, vocês estão querendo realizar a cirurgia perene. Eu posso ajuda-los nisso.
-Você pode?! – respondeu em conjunto o grupo.
-Sim, não há com o que se preocupar, estou indo embora, mas meu amigo em Pannotia pode esperar mais um dia – Galthier se virou para Fuschia – por favor, receba meus convidados, eu os convido para meus aposentos no seu palácio, se você os recusar, estará recusando a mim também.
Fuschia o encarou seriamente e finalmente cedeu ao seu pedido e todos entraram no palácio.
Acomodada em um dos quartos, Galthier acompanhou Spike e Zafira, eles explicaram o que a levou aquele estado.
-Entendo sua inexperiência com magias antigas, realmente sem estudos e práticas se torna muito difícil e eu mesmo não indicaria, mas você não tinha a necessidade de pagar com seu braço. Os nefilins são seres poderosos, mas somente por causa de seus mestres, sempre haverá uma guerra de força de vontade de ambos os lados. Por mais bom que seja o tratado de poder que ele tenha lhe oferecido, isso não é uma troca multua, você acha que compensa perder um membro em troca de poder momentâneo?
Zafira respondeu negativamente, Galthier continuou:
-Então, sua força de vontade em destruir seus inimigos se sobrepôs a sua vontade de lutar, você colocou na sua mente que o mais importante para você naquele momento era destruí-los, quando na verdade, você precisa colocar sua vontade de manter todos vivos a todo custo nessa jornada, mesmo que a sede de sangue seja intensa, você jamais deverá ceder ao poder deles. É tentador, eu imagino, há poderes inimagináveis neste mundo que vocês desconhecem. Você deve fazer com que ele se submeta a sua força de vontade, e não você a dele, tudo bem? Garotinho, por favor, o baú.
Beat fechou a cara, mas entregou o baú.
-Preciso de alguém com experiência em cirurgia perene, Flora?
-Eu não tenho experiência nisso, senhor, na verdade, o motivo de eu buscar Fayene era pra que ela pudesse justamente me ajudar.
-Eu ajudo – Wiz se voluntariou – dentre meus amigos, eu sou a única que possui um grande poder mágico, irei auxilia-la no que precisar.
-Ótimo, sinto isso de você, suas habilidades mágicas e estudos em magicas estão aflorando dentro de você, isso é muito bom. Preciso de que todos vocês por favor, se retirem do quarto, preciso de um lugar calmo para poder trabalhar.
Aos poucos eles saiam do quarto, preocupados, e antes que Gerlon se retira-se, Galthier lhe arremessou um pacote.
-Tome, peça para Flora aplicar em você, isso vai ajudar – Disse Galthier tirando alguns outros ingredientes de dentro de sua mochila. O baú foi aberto e um vento quente e frio soprou dali de dentro, o braço amputado estava quente como se estivesse com febre, ele emanava uma aura quente sem parar. A porta foi fechada e a cirurgia se deu inicio. Na porta, o único que se manteve em pé foi Spike, esperando a princesa sair com vida.
Gerlon desceu as escadas e se encontrou com o resto do grupo no saguão principal. Ele entregou o pacote a Flora, que ela abriu.
-O coelho malhado mandou lhe entregar.
O pacote havia uma pequena caixa de madeira, e quando aberta, havia uma pena vermelha que brilhava como fogo, todos ao redor arregalaram os olhos devido a grande beleza e luz que aquele item emanava.
-Uma pena de fênix – respondeu Flora.
-Apenas uma pena? Apenas uma? O que faremos isso? Não dá pra vender só a pena da galinha – indagou Gerlon.
Ela tirou as bandagens dos braços do pirata, seu braço estava quase em estado avançado de putrefação, seu bíceps apodrecia e lhe causava dor, e os ossos do antebraço já dava para ser vistos, tendões e ligamentos também já podiam ser avistados. Ela passou a pena de fênix por todo o seu braço, e onde a pena tocava um calor aconchegante brotava, ela colocou a pena na mão de Gerlon, ele segurou com força e em alguns segundos, todo o seu braço voltou a se regenerar e voltar ao que era antes, quando se deu por conta, ele amassava a pena de fênix ao invés de apenas segura-la.
-Mas que po... – gritou Gerlon, incrédulo.
-Isso foi um milagre! – Disse Sirius.
Todos os encaravam atônitos, sem acreditar. Gerlon, que já havia se convencido de que perderia seu braço, agora estava ali, revitalizado, e achando que estava mais forte do que antes. Flora por um breve período ficou feliz em estar em casa, apesar dos olhares de julgamento de sua irmã e das outras, além do fato de Fayene ter desaparecido, ela não poderia se deixar descansar. Ela subiu até seu antigo quarto e viu que sua porta estava trancada. Recitou alguns encantamentos e a porta se abriu. Todas as suas coisas estavam no mesmo lugar desde o dia em que saiu de Ramdahmut. Sua cama estava arrumada com o travesseiro ainda em pé na cabeceira da cama, sua estante de livros ainda desorganizada com livros de encantamentos abertos na pagina quarenta e oito, ensinando como justamente falar com o espirito de Sarin. Uma das guardas de Fuschia bateu na porta.
-O que foi?
-Só para avisar que os convidados foram realocados para outros quartos...
-Menos eu. –completou Flora.
A guarda assentiu. Flora pegou seu arco num baú que havia debaixo de sua cama, pôs em suas costas e saiu, trancou o quarto e desceu para o saguão. Ao passar por ele avistou Sirius, Mikka e Selena conversando no jardim, eles sorriam e se descontraiam. Ainda no segundo andar, Spike aguardava de braços cruzados. Ela sabia o quão importante era aquele momento para ele, e no fundo, ficou feliz por ter ajudado Zafira, conseguindo reverter uma situação dada já por perdida. Trouxera também o braço de Gerlon devolta, ele não saberia, mas muito tempo depois, ela cobraria aquele favor dele. Flora saiu do palácio e trombou com Gerlon, Beat e Dymas.
-Ei, ei, ei! Para onde você vai? – perguntou Beat.
-Eu preciso procurar Fayene, ela está lá fora. Se Fuschia não se importa com ela, eu mesma vou procura-la – Respondeu Flora.
-Isso é só pra mostrar que você não é como ela, não é? – Indagou Gerlon.
-Isso não tem nada haver com Fuschia, eu só quero trazer minha irmã para casa, uma coisa é eu sair daqui, outra é uma criança sair, Fuschia nem se deu ao trabalho de mandar um grupo de batedoras irem atrás.
-Ela não deve ter mandado por um motivo – disse Beat.
-Qual motivo? Que Sarin não quisesse que elas fossem para fora? Que vissem como Evânia mudou desde de que fomos banidas? O medo não é delas, é da própria selva, que tem medo de ser abandonada.
-Você já fez isso antes – respondeu Gerlon.
-E farei de novo – completou ela.
-Eu topo ajudar. Se ela é importante para você, eu irei – atrás deles, Selena surgiu na porta do palácio, junto a dela, Sirius e Mikka.
-Eu não posso arriscar a vida de vocês nisso, é meu problema, é algo que eu tenho que fazer só.
-Ninguém tá perguntando se pode ir ou não, nós vamos você querendo ou não – Respondeu Gerlon.
-Você tá muito gaiato pro meu gosto, pra alguém que estava prestes a perder o braço – respondeu ela.
-Fazer o que? É o meu jeitinho. Olha, ninguém sabe onde sua irmã está, nem mesmo você. A sacerdotisa não falou a localização exata dela, e não temos tempo para esperar você vascular todo o lado oeste de Pangea. Precisamos de você quando formos visitar Burlmugaron.
-Vamos com você para onde for, até no fim do mundo – completou Beat, Dymas acenou com a cabeça positivamente.
Flora os encarou por alguns segundos, ela tinha arranjados ótimos amigos, pois sabia que eles jamais os abandonariam, principalmente Gerlon, que tem sido seu grande parceiro por anos.
-Então, qual é o plano? – Perguntou Sirius.
-A proposito, eu não disse, mas mandou bem, pulguento, se não fosse insistente, não teríamos descoberto muito. – Parabenizou Gerlon.
-Então, o que ela estava dizendo sobre evanianos em um labirinto? – Perguntou Flora.
-Ela deve ter se referido as Minas de Bracinzel, talvez seja isso? –Respondeu Dymas. Todos o olharam – Encontram-se na cordilheira às margens do mar de Ixion.
- A nordeste daqui – respondeu Flora – Porque acha que ela está lá?
-Toda a região é uma colônia do Império de Thiél. Não deveria haver soldados – respondeu Selena.
-Isso é um problema? Então está combinado, vamos. – chamou Gerlon.
-Esperem, acho que alguns deveriam ficar – disse Flora – Sirius, Mikka, por favor, Spike precisará ficar por perto de amigos nesse momento, não podemos deixa-lo sozinho, do jeito que ele está, ele jamais sairia de perto dela, e quando Zafira sair da cirurgia perene, ela precisara está com amigos próximos.
Sirius quis protestar, mas Mikka interveio.
-Sim! Tudo bem! Ficaremos sim, podem ir tranquilamente.
Eles começaram a se afastar quando Mikka entregou o zezirite para Selena.
-É para dar sorte, o mesmo amuleto que você me entregou.
Selena sorriu e pegou o artefato.
-Voltaremos ao amanhecer, não se preocupem – respondeu Gerlon.
Dos jardins suspensos do palácio, Sirius e Mikka puderam ver seus amigos desaparecendo na escuridão da saída da vila.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top