Capítulo 25 - A decisão tomada



A nave se dirigiu para o aeródromo de Arrokoth. Entre as milhares de outras naves, era estranho e levantaram olhares curiosos dos habitantes. No saguão principal, a vida seguia em frente. Ninguém parecia dar a mínima para eles, como se fosse a primeira vez que estivessem chegando ali.

Painéis de LED brilhavam em todos os cantos, horários de entrada e saída de aeronaves, de voo. Eles saiam lentamente do corredor e se reuniam no saguão central. O holograma da vez era o reino de Alexandria, no continente de Laurásia, do outro lado do mundo.

Mikka se aproximou de Gerlon e lhe devolveu o seu lenço.

-Gerlon, o seu lenço. Eu achei que você poderia querer de volta. Eu lavei para você enquanto eu estava refém de Rafaele.

Ele pegou o lenço com carinho e sorriu de volta.

-Eu estou honrado –Disse ele, se curvando – Guardarei perto do meu coração.

Mikka sorriu de volta.

Mais afastados um pouco, Spike, Zafira e Ferecks conversavam.

- Vou me encontrar com o Marquês Dário? Talvez você tenha esquecido tudo o que ele fez. – Disse ela, apreensiva e com a voz falha.

-Eu não me esqueço, majestade. – Confirmou Spike.

- Embora pareça seguir o Império, nunca duvide de sua verdadeira lealdade. – Disse Ferecks.

Spike assentiu com a cabeça.

-Querendo ou não, foi ele quem ajudou. Claro, embora possa ter sido perigoso e muito perigoso, somente dessa forma fomos capazes de lhe encontrar e libertá-la. É graças ao conselho dele que Vossa Alteza sobreviveu.

Zafira ainda encontrava uma certa resistência em relação a Spike, mas a aquela altura, ela já não sabia se deveria ou não. Ela baixou seus olhos e suas orelhas, estava cansada. A revolução fracassou dias atrás. E ir ao encontro de Dário? Suas intenções eram nebulosas, mas com cuidado para não levantar suspeitas de Thiel.

- Alteza, sei que ainda duvida do Spike. Mas lembre-se que seus desejos não são os desejos do país. Podemos confiar no Marquês e contar com seu poder. – Comentou Ferecks - Voltarei à Capital Império. Nosso poder ainda não é suficiente para recuperar o Reino, no entanto, se unificarmos a resistência, a ordem de ferro com as forças de Arrokoth. Deve ser possível.

Zafira ficou em silêncio por alguns segundos.

- eu entendo. Eu vou deixar para você.

Ferecks deu alguns passos de volta para o portão de embarque.

- Spike, enquanto eu estiver fora, deixarei Sua Alteza com você. Arrokoth deve ser seguro.

- Entendido – Disse Ferecks.

O velho se afastou. No meio do corredor, entre os passageiros, alguém se aproximou. Alguém com feições felinas e usava turbante na cabeça.

- O que é isso? – Perguntou o lobo.

- Senhor. Eu tenho relatório. É sobre Marlow. – Respondeu o informante.

Ferecks fechou o rosto e foi em direção a aeronave roubada. O informante o seguiu.

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-Quanto ao Marquês Dário, alteza. Você deve se encontrar com ele e ouvir suas palavras. Algo me diz que ele pode atuar em aliança com Thiel, mas seu coração não.

Sirius se aproximou.

-E então? O que faremos?

Zafira o fitou, com um olhar triste e pensativo.

-Vamos ver Dário – Disse Spike –Precisamos de ajuda. Ele precisa ver a princesa Zafira. Acreditamos que ele possa ser um grande aliado.

-Dário? Foi por causa dele que a gente quase morreu! –Protestou Sirius.

-Perderíamos muito tempo explicando. Vamos vê-lo, no caminho te explico.

Eles saíram do aeródromo e, entre ruas desertas e vielas apertadas, eles seguiram sorrateiramente. Subiram algumas vielas e se esconderam em um galpão escuro de mercadorias vindas do aeródromo, e ali eles aguardaram até o anoitecer.

A noite caiu e a temperatura também. Os ventos gélidos de Arrokoth corriam pelas ruas vazias e por bares lotados de homens bêbados. Eles saíram do galpão e se dirigiram para a mansão dos Gol. Pularam a cerca de ferro ao redor da residência. Não havia guardas naquele momento. Eles pularam a janela e começaram a explorar a residência.

Mikka subiu as escadas e no segundo andar, encontrou um feixe de luz que saía de um dos cômodos. Com um gesto silencioso ela chamou seus amigos e eles adentraram.

A porta se abriu e eles estavam de volta ao grande salão que tiveram a primeira audiência com o Marquês. A velha raposa encarava o luar através dos vitrais do salão. Havia poucas nuvens no céu e a enorme lua azul Éris brilhava no céu majestosamente.

-Sentem-se – convidou Dário – Vocês aceitam um chá?

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- Na noite da cerimônia de assinatura, ao saber da morte de meu pai, Ferecks voltou para a Capital Imperio e me ajudou a escapar. Foi antes que o alcance de Leore se estendesse demais, e buscamos proteção com você. – Disse Zafira.

Todos estavam acomodados à mesa longa do salão.

- E então, eu anunciei seu suicídio. Devo ter parecido que sucumbi ao Império. Foi essa a sensação?

Ele mudou o peso de uma perna para outra. Sua bengala reluzia.

- O anúncio foi sugestão de Leore. Naquela época, eu não conseguia entender sua intenção, mas fui forçado a aceitá-la. Agora vejo que ele pretendia nos dividir.

Zafira cerrou os olhos e rangiu os dentes.

- Mas isso já está feito! Empreste-me seu poder e juntos, podemos derrotar Leore e...

Dário virou o rosto como um sinal de desaprovação, seu olhar cansado para a princesa lhe preocupava.

- Vou oferecer-lhe toda a proteção que este país pode oferecer, porém...

Zafira se irritou e levantou.

-Mas...!

- mesmo se derrotarmos Leore, a única prova de sua linhagem, o Tesserato Safira, foi roubado. Afirmando ser a princesa morta, a nobreza não aceitará sem provas. Não preciso mencionar que os Grandes Iluminados de Burlmugaron não a reconhecerão como herdeira do trono.

- isso é... –Zafira lançou um olhar assassino para Sirius.

Gerlon interveio.

- Bem, essa conversa política parece estar ficando um pouco dura para o meu gosto – Ele passou seu braço ao redor do pescoço de Sirius - Sirius, vamos para a próxima sala, ver se podemos comer alguma coisa. Eu queria discutir a remuneração por resgatar a princesa com o Marquês, mas, bem, envolver-se ainda mais em um problema desses seria irritante.

Ele deu um sorriso maquiavélico para Zafira. Ela bateu na mesa e se levantou.

- Eu acabei por aqui. Sinta-se à vontade para falar sobre dinheiro para o conteúdo do seu coração!

Dário interveio.

-Você vai ficar comigo, e nós não faremos nada de imprudente até a hora certa.

-Eu não posso simplesmente sentar e esperar!

-Então o que vossa majestade propõe para fazermos?

Zafira relutou, ela também não sabia o que fazer. Não conseguia pensar nada nesse momento. Ela sabia que precisava agir, ela queria agir.

A cauda de Gerlon balançou vagarosamente.

-Então? Qual o preço mesmo por um resgate de uma princesa?

-Qual seu preço, pirata? – Indagou Dário.

Gerlon levou sua mão esquerda ao queixo e pensou por alguns segundos.

-Comida seria um ótimo começo... e umas coisas legais. E só então podemos discutir o valor do resgate.

-Isso pode ser arranjado, mas vai demorar algum tempo.

Zafira começou a andar devagar pelo salão, de cabeça baixa, pensativa. Mikka e Flora se aproximaram dela. Gerlon se espreguiçou

-Tempo suficiente para um banho, eu espero, negócio sujo, você me entende.

Marquês deu um sorriso amarelo ao pirata. Sirius protestou.

-Qualé, você tem um navio! E quanto a eles? Dymas?!

-Você se preocupa demais. Eles estão bem. Tem comida, água, cama confortável, baralhos, dados, jogos, cerveja, frutas, carnes, e tudo para eles se divertirem. Não é todo dia que você vai poder aproveitar da estadia de um Marquês, pulguento. Quando você começar a voar, entenderá.

O marquês Dário bateu três no chão com sua bengala e três empregados apareceram e os guiaram para uma outra sala.

-Princesa, você não vem? – Perguntou Mikka.

-Eu... eu já me junto a vocês, eu só preciso de ar fresco. – respondeu.

Os outros seguiram os empregados, Spike a encarou e os segui, deixado-a sozinha como seu pedido.

Zafira caminhou até a sacada do castelo e encarou a lua de Éris no alto.

Arrokoth era iluminada por cristais azuis presos em postes ao longo da avenida principal. Poucas pessoas andavam pela rua a essa hora da noite. As nuvens passavam entre as casas e prédios da cidade voadora como enormes massas de neblina e cobria árvores, bancos e postes e todo o resto.

A princesa desceu da sacada e se dirigiu até os jardins. Alguns guardas se aproximaram para impedi-la de sair. Ela apenas disse que queria respirar um pouco pois precisava. Mesmo alguns guardas sabendo que era mentira, ela os ameaçou de contar a falta de privacidade e importunação ao próprio Marquês. Sem alternativas, eles permitiram sua saída.

É claro que ela jamais faria aquilo, ela entende o que aquele trabalho é para os que o cumprem. Eles apenas seguiam ordens, assim como os guardas que morreram na guerra do reino no passado.

Ela desceu até o jardim e andou sem rumo pelo enorme terreno plano da propriedade. Arbustros perfeitamente aparados balançavam com a brisa gélida da noite. Ela só se deu conta de parar quando esbarrou no muro de um prédio nos fundos da casa do marquês. Era o aeródromo particular real. Lá, ainda se encontrava a pequena nave que eles roubaram do império mais cedo. Ela adentrou e seguiu para a cabine de piloto.

Sentou-se no banco do piloto, pôs as mãos no volante e parou. Por alguns segundos ela estava fora de sí. Ela estava aflita, claramente, mas sentia que o momento para agir era agora. O marquês sempre foi um aliado enigmático, era isso que ela conseguia se lembrar, você não sabia dizer se ele estava do seu lado ou do inimigo. O rei Marley demorou um pouco para entender seu velho amigo. Ela agiria agora. Com ou sem o marquês, ela provaria que o trono é seu e ela guiará contra o Império de Thiél. Ela não sabia por onde começar, talvez por que ainda estivesse confusa, mas ela iria.

Levou as mãos e ela passou vários botões até que encontrou a chave.

Ela a segurou, relutante. Até que ela ouviu sons de passos atrás dela. Alguém segurou seu pulso.

-O que você está fazendo?! – Perguntou Sirius.

- Vou recuperar a outra prova da minha linhagem, do Tesserato Zafira! Eu sei que é a localização. Os reis antigos deixaram para trás três tesouros, um dos quais é necessário para provar o direito ao trono.

Ela deixou algumas lágrimas caírem.

- Não posso fazer nada, pelo bem de todos aqueles que morreram. E mesmo assim meu tio... queria que eu me escondesse.

Ela bateu com força nos painéis de controle da nave.

- Estou preparado para lutar sozinha, se for preciso!

- Só porque te mata pedir ajuda. – Disse alguém atrás deles.

Na sombra, Gerlon se revelou. Seu olhar malicioso de gato a encarava.

Zafira cerrou os olhos.

-Você...

- Vou deixá-lo com o Marquês.

-Ei! Espere...! – Zafira queria protestar, mas Gerlon a interrompeu.

- É para o seu próprio bem. Amaldiçoe sua própria impotência. Eu entendo que é irritante. Mas não há nada que você possa fazer. Além disso, seguindo ideais tão imaturos como os seus, o que há para um pirata do céu como eu?

Zafira desviou o olhar, ela não sabia o que responder. Sua mão direita apertou seu braço esquerdo.

- o Tesserato Esmeralda... Está na Tumba de Gaiseric.

As orelhas de Gerlon ficaram em alerta. Por um momento, suas feições felinas ficaram selvagens, suas pupilas se dilataram e seus pelos se arrepiaram.

- Gaiseric? Isso é... – Balbuciou o pirata.

Sirius franziu suas sobrancelhas, confuso. Zafira continuou.

- O grande conquistador que veio de terras longínquas e dominou Pangea na sua campanha militar milhares de anos atrás. Pai do fundador do reino de Henry, o rei Dinastia Gaiseric.

- Ah, ele, claro. eu sabia – Disse Sirius, sua boca tremia enquanto falava de tamanho nervosismo.

"Terras inexploradas. Tesouros antigos" Pensou Gerlon, sua cauda balançava maliciosamente.

- Eu vejo. Como pirata do céu, não posso negar que é tentador. É tentador, mas...

- Então! Se me levar se for impossível, então me sequestra, como um pirata do céu faria... – Gritou Zafira para ele, seus olhos se encheram de lagrimas - Por favor, roube-me! Leve-me daqui!

- Você diz isso, saber que sequestrar uma amiga do Marquês é uma ofensa grave? – As feições do gato se tornaram assustadoras.

- Preocupado que sua recompensa vai subir? Ou preocupado que esse calhambeque nem voe? –Retrucou a princesa.

-Eu? Preocupado se essa porcaria não vai voar? Deixa eu te mostrar como um verdadeiro pirata do céu faz.

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