Capítulo 18 - Arrokoth
Mikka estava cansada de estar presa. Sua natureza felina ansiava por liberdade e lhe causava desconforto. Ela havia sido capturada de forma magistral por Rafaele quando estava em seu apartamento, em cidade-baixo.
Ela estava algemada, sendo mantida presa no que parece ser uma gruta que servia de abrigo para alguém. Era uma sala quadrada, com muros de pedra que pó caia do teto. Havia várias caixas de madeira e baús de tesouros entulhados por todos os lugares. Tapetes persas espalhados pelo chão e um cheiro forte de mofo. A sala era iluminada por janelas irregulares de pedra que permitiam a entrada do sol ali.
Ao longe, ela ouviu vozes e um alçapão a poucos metros dela se abriu.
-Você já alimentou ela, não é? – Gritou alguém.
Do alçapão, um lagarto de escamas verdes e vestindo uma roupa de pirata surgiu.
-Sim, meu irmão. Ela come bem! –Respondeu de volta.
Atrás dele, outros dois lagartos de escamas azuis apareceram. Um deles tinha uma cicatriz gigante em seu peito. Um outro se aproximou.
-Veja o que ela fez. Precisamos dela viva. A isca de Gerlon tem que estar fresca.
-Eu continuo tentando lhe dizer! Eu mal sei quem é Gerlon! –Gritou Mikka de volta.
Rafaele surgiu do alçapão. Ele caminhou lentamente até Mikka e sacou seu sabre preso em seu cinto. Ele a encostou no pescoço dela.
-Olha docinho, nós não queremos matá-la. Mas se for necessário, não teremos pena de você. Apenas solicitamos sua contribuição, tudo bem?
-Meu Deus! Vocês só podem ser burros! Eu já disse: EU NÃO SEI DE QUEM VOCÊS ESTÃO FALANDO! Não há motivos para ele querer me resgatar! Vocês pegaram a pessoa errada!
Rafaele abriu violentamente suas asas de dragão. Seu sabre percorreu o rosto de Mikka. Seus olhos dracônicos a encaravam mortalmente.
Do alçapão, uma outra voz surgiu.
-Capitão! Uma mensagem veio da Capital Imperio. A Bichano, ela partiu! Ela está indo direto para a cidade flutuante de Arrokoth!
Rafaele se virou para ela.
-Mal sabe, não é? No entanto, nesse instante ele está vindo atrás de você. Diga-me, como explicar isso?
Mikka se encolheu. Sua orelhas tremiam.
-Isso é o que eu gostaria de saber! Eu só o vi uma vez...
-Será que sua língua nunca para? E se a gente acreditasse em você? –Seu bafo era uma mistura de peixe e carne. – Quanto a você! Precisamos do Gerlon vivo! Vão buscar as armas, vamos apenas machucá-lo, rapazes! Nada mais que ferimentos graves e fraturas expostas!
-Uma boa surra. Essa é minha especialidade! – Disse um dos capangas.
-Não tem graça, se não podemos provocar um grito ou dois! Uns ossos expostos ou órgãos! – Disse outro. Eles riram.
Mikka baixou sua visão para a algema. Sua cauda não se movia. A cada segundo que passava, sua vontade de gritar e chorar aumentava. Sua angústia tomava conta. Ela encarou as janelas irregulares no alto da sala. As nuvens caminhavam pesadamente.
-Onde está você...?
★★★
A Bichano rasgava as nuvens. A sua frente, paredões colossais de pesadas nuvens se formavam. O ar gélido cristalizava algumas gotículas de água da atmosfera. A tripulação já recebia várias mensagens do controle aéreo de Arrokoth, lhes dando instruções e a localização para onde era melhor aterrissar o navio.
No meio daquelas nuvens, a majestosa e magnífica cidade de Arrokoth surgia imponentemente aos raios do sol vindo do leste. Era um enorme pedaço de rocha flutuante, semelhante a uma gigantesca ilha. Seus magníficos castelos, casas e a cidade ficavam em cima, enquanto a parte de baixo tinha diversos furos e buracos de todos os tamanhos, em todas as direções. Florestas e arcos de pedras compunham a paisagem da gigantesca cidade voadora. Estalactites e estalagmites esculpidos naturalmente por toda a cidade podiam ser vistos de todos os lugares.
No topo das montanhas, gigantes estruturas de cristais brotavam do solo e iam de encontro ao céu. Vilas eram construídas nas bases, ao redor e dentro desses cristais, como uma forma de mineração do evaniarite. Muitos visitantes vêm a Arrokoth para desfrutar dos parques ao ar livre com vistas espetaculares disponíveis apenas para quem vive no céu. Muito raramente alguém cai da cidade do céu e, curiosamente, nenhuma morte foi relatada como resultado de tal ocorrência até o momento.
Ilha/Cidade-Estado voadora de Arrokoth
Arrokoth tenta manter a neutralidade em todos os momentos, mas os eventos recentes no continente, os forçaram a se aliar ao Império Thieldiano. Ela fica localizada em cima quase no centro do continente de Pangea e eles se auto proclamam de um continente próprio não reconhecido pelos reinos e impérios dos outros três continentes da superfície. Eles se auto proclamam como o continente de Ixion e está localizado acima do mar de Orco, o mar morto nas fronteiras do reino do oeste. Uma cidade-estado flutuante, Arrokoth prospera na exportação de Evaniarite extraída nas proximidades das minas de Ultima Thule. Originalmente fundada pelo povo do norte, os falconis, que foram os primeiros pioneiros em viagens com dirigíveis e naves do continente (hoje eles são o povo com a tecnologia mais avançada de Evânia) Arrokoth se tornou um porto de ancoragem de diversas naves vindas de todos os três continentes e alvo de inúmeras expedições, descobriram mais minas de Evaniarite, aumentando ainda mais a receita da cidade.
Durante a era da aliança de Nibelungo, a Casa Gol assumiu a administração e iniciou um sistema para controlar as atividades de mineração de evaniarite; fechando minas esgotadas para permitir que o cristal se recupere e abrindo novas minas em outro lugar. Isso garante a produção contínua de evaniarite. Dizem por aí, rumores não confirmados, de que se o suprimento de evaniarite se esgotar, Arrokoth e o continente de Ixion descerão do céu para a superfície; esses rumores, no entanto, ainda não foram provados como verdadeiros.
Governando pelo Marquês Dário Gol Nono, Arrokoth tenta manter sua neutralidade. Foi o mediador entre Arghar, Capital do Império de Thiel e Capital Império, Capital do reino de Henry quando eles assinaram o tratado de paz, mas recentemente firmaram uma aliança formal com Arghar, embora os thieldianos não devam ter poder nenhum sobre a cidade flutuante.
A Bichano sobrevoava as minas e a cidade. O heliporto da cidade ficava numa enorme estrutura de ferro criada pelos trabalhadores da cidade. Um complexo gigantesco, onde a torre de controle autorizava a entrada e saída de aeronaves da cidade. Um enorme coliseu feito de tijolos e mármores alaranjados repousava numa estrutura artificial a parte da cidade, como uma espécie de "apêndice".
Sirius admirava a cidade abaixo dele. Era a primeira vez que ele a visitava. Ele se encantou de alegria quando viu o enorme palácio do Marquês Dário entre uma das montanhas rodeadas por gigantescas estruturas de cristal azul. As torres do palácio eram tão altas quanto as do rei Marley. A tripulação estava toda no convés. Eles sobrevoaram o palácio e as enormes estruturas de cristal espalhados pela cidade. Acima deles, rochas satélites sobrevoavam Arrokoth.
O navio procurou o aeródromo. Depois de alguns minutos, eles receberam autorização para pousar. A tripulação de Gerlon se equipava e preparava-se para sair. Minutos antes de pousarem, eles haviam debatido o que poderiam enfrentar. Ficou decidido que além de Sirius, Gerlon, Flora e Spike, outros três os acompanhariam e serão Beat, Dymas e Recon.
Eles desceram e entraram no aeródromo. Diversas espécies se encontravam ali. O chão de mármore marrom e pilastras que sustentavam o teto. Diversas cabines e balcões de check-in estavam bastante movimentados, com simpáticas atendentes despachando malas. Enormes filas sinuosas serpenteavam em todas as direções. No centro do saguão principal um enorme globo e holograma girava lentamente, com as três luas e um relógio de LED embaixo. As janelas eram gigantescas vidraças que davam para a vista da pista de pouso e decolagem. Um alto zumbido de uma aeronave prestes a decolar ouvia-se lá fora. Do outro lado, um enorme dirigível pousava suavemente e aos poucos os passageiros começavam a descer.
Ao longe, cinco guardas thieldianos andavam procurando alguma coisa, olhando para todos os lados. Eles pararam no caminho uma jovem gata. Mas logo se decepcionaram e continuaram procurando. Gerlon se virou para Spike.
-Fácil. – Spike concordou.
Um dos guardas disse, ofegante.
-Não é bom. Ela não está aqui. Continuem procurando!
Dymas se aproximou.
-Eu conheço esse tipo de armadura... Bem, não importa, será que tem cerveja por aqui?
Os guardas passaram empurrando as pessoas pelo caminho. Passaram direto pelo bando. Gerlon se virou para Spike.
-Você é um homem morto. Não se esqueça disso. E sem nomes, somos todos procurados.
-Claro. – Disse Spike.
-Você me parece bem tosado pra quem passou os últimos cinco anos preso numa masmorra. – Comentou Recon.
-Bem, eu não morri por um milagre. Talvez as deusas não queriam que eu partisse sem antes completar a minha missão.
Eles seguiram andando pelo saguão, entre a multidão alvoroçada querendo partir. Eles saíram do aeródromo e atravessaram a gigante ponte de madeira que ligava a plataforma à cidade em si. Seus altos prédios de cor marrom e colunas de tijolos se erguiam. De perto, era possível perceber que as casas (ou a maioria delas) eram esculpidas dentro das rochas que compunham o terreno da cidade aérea. Construída nos terrenos montanhosos, Arrokoth é composta por estradas estreitas e íngremes com paredes altas que impedem a entrada dos ventos. Curiosamente (ou não), as praças que dão a visão do mundo abaixo não têm nenhum tipo de trilho, e o transporte de mercadorias é feito principalmente por veículos quadrúpedes de mão menores.
Saindo do aeródromo, que é o mais antigo edifício da cidade, localizado no oeste da cidade. O prédio serve como um ponto internacional da cidade, uma espécie de alfândega antes mesmo de adentrar no outro prédio localizado na plataforma artificial criada para receber as aeronaves. A Evânia's Emirates e a North Fortress Seh-ara Company oferecem voos para Capital Império por 190 dracmas, 200 dracmas para qualquer outro reino e 450 dracmas para outros continentes. Um pouco mais afastado, num terreno a partir do aeródromo, há docas para receber voos privados de burgueses da cidade.
A principal avenida de Arrokoth, H conecta o aeródromo com a estação dos Marquêses, o terreno de Kshik (Um vasto terraço com vista para o céu a oeste que abriga diversos tipos de bares, restaurantes e áreas de lazer), A viela dos sátiros ( é um conjunto de ruelas um tanto estreitas que formam uma área residencial a nordeste, cercada por paredes e floresta um pouco mais baixas, e abriga a taverna local, a Sátiro Mágico) e ainda a Toca das Toupeira (Composta de ruas ainda mais estreitas do que a viela do Sátiros, esta área é o alojamento da maioria dos mineiros de evaniarite de Arrokoth). Outros pontos sempre comentados nos guias de turismo da cidade é o Terraço dourado ( esta praça situada no extremo leste da cidade, possui uma vista do céu mais baixa do que a sua contraparte oriental, localizada a seis quilômetros dali). A outra metade do terraço dourado é a praça de Thule, é uma área mais baixa da cidade, e é considerada a principal entrada para as minas de Ultima Thule, é uma escada longa e complexa, ofuscada por rochas escuras. É o ponto de encontro preferido dos mineiros de evaniarite, que muitas vezes compram suprimentos mágicos de cura e saúde antes de irem para o trabalho. Os itens comprados são feitos de ervas de fora do continente de Pangea, feito pelo floranianos, povos vegetais de pele esverdeada e orelhas pontudas também de fora do continente. Eles se dizem seres da própria natureza do mundo de Evânia.
No alto da grande montanha, no meio da cidade, esculpida a cristal e pedras preciosas nos muros, se estendia a propriedade do atual Marquês, casa dos Gol. Uma vasta mansão e complexo habitacional um pouco ao norte da zona que eles chamam de cidade celestial, a propriedade da família do governante de Arrokoth foi construída na montanha mais alta e arborizada, séculos atrás, com vista para a cidade. Enquanto os edifícios e torres externas menores abrigam a equipe e o conselho do marquês, a residência interna fica no topo da colina, entre uma série de cinco enormes estátuas de deuses e guerreiros de cristal de evaniarite e outras pedras preciosas, que dão a sensação de ter vida própria de e que sempre estão esperando as ordens de descer da colina e andar livremente pela cidade. Eles simbolizam a grande prosperidade de Arrokoth. Sirius pensou por alguns segundos o quanto uma única estátua daquela não valeria nos leilões da capital Império.
-As minas de Ultima Thule ficam logo à frente. – Anunciou Gerlon. –Embora, eu ouvi dizer que não há muito o que fazer por lá nestes dias.
-Então... estas são as minas da Ultima Thule em que Rafaele nos disse para encontrá-lo. – Sirius cerrou os punhos. Alguns metros à sua frente, abaixo deles, pilares de gesso sustentavam a fachada precária da entrada da mina.
-É extenso. Foi minado desde os tempos antigos. Então é como um labirinto ali. – Comentou Flora.
-E escuro. Provavelmente encontraremos todo o clã Rafaele lá. Dê um passo leve. Se não tomarmos cuidado... Bem, morreremos. Simples. – Completou Gerlon.
-Sim, tenha cuidado. – Sirius cruzou os braços.
-Eu estava falando sobre você, pulguento.
Alguém se aproximou atrás deles. Sua voz era suave e calma.
-Queiram me perdoar...
Gerlon cerrou os olhos, suas pupilas afiaram. O estranho continuou.
-Vocês estão indo para as minas? Se sim, posso acompanhá-los? – A leoa de frente a eles tinha longos cabelos pretos, usava uma blusa de manga sino com detalhes dourados por baixo de uma túnica branca, com shorts azul marinho e botas de couro verdes até a coxa. Em volta do pescoço, ela usa um laço azul da casa Klauss que está pendurado entre as lapelas do colarinho.
Spike sentiu uma sensação ruim vindo de Gerlon. Os pelos de Flora se arrepiaram. Recon e Dymas cruzaram os braços. Beat levou sua mão a sua espada. Sirius se aproximou de Gerlon.
-Amigo de Rafaele?
-Rafaele não se aliaria a algum mamífero, pelos menos que eu saiba...
"Ainda assim, eu não gosto disso. Eu não gosto nada disso." Pensou o pirata. Ele a analisou de cima para baixo. "Ela parece ser de Arrokoth, mas... ela ainda tem um pouco de sotaque Thieldiano... E esse comportamento toda engomadinha de dar nojo, de vestimenta... ela provavelmente é de uma família política ou militar de Thiel, e um de alto escalão..."
Ao longe, ela conversava amigavelmente com Sirius. Gerlon encarou Dymas e Spike. "Pode ser apenas uma coincidência, com a concentração de navios Thieldian aqui, mas uma jovem moça Thieldiana com negócios nas minas..?"
Enquanto ela conversava com Sirius sobre a cidade, ela pensava "Esses sete... são realmente desequilibrados. Mas mais do que isso..." ela encarou Spike e Dymas. "Essa pessoa poderia realmente ser o Capitão Spike, do Reino de Henry...? Ele deveria ter sido executado, então o que ele está fazendo aqui, em último lugar deveria estar...? E quanto ao musculoso, ele parece ser um thieldiano, desertor talvez?"
"O que você está planejando? Pensou Gerlon ainda mais furioso. "O que você está planejando? Não podemos nos permitir os problemas que um aliado de Rafaele traria."
A desconhecida encarou Gerlon, ela notou algo diferente. "Se este é realmente o honrado capitão Spike, então tais companheiros certamente não são encorajadores. Felizmente, nosso destino é o mesmo, então não deve haver nenhum imperial."
Seus olhares se trocaram mais uma vez. "Vai embora daqui, pirralha" , queria dizer Gerlon, "eu não vou a lugar nenhum, bola de pêlos" queria responder a desconhecida.
-Eu sou Sirius, muito prazer! –Cumprimentou o chowchow, estendendo sua mão.
Como se todos tivessem ensaiado, todos bateram a mão na testa. Gerlon levou sua mão a sua escopeta no seu coldre, mas Flora o impediu. "Como um ser tão estupido pode ser tão tapado assim" pensou Recon com a mão no rosto. Sirius continuou.
-Deve haver todo tipo de coisa perigosa lá dentro, mas não se preocupe. Você está com um grande futuro pirata do céu. Certo, Spike?
Gerlon fez um bilhete em sua mente, se lembrando de como matar e jogar Sirius do navio qualquer dia desses. Ou até mesmo dali da cidade aérea. Pronto, precisaria nem mesmo gastar combustível para tal tarefa. Sua cara de descontentamento e desgosto se tornou visível. A leoa deu um leve sorriso, que o pirata interpretou como se ela tivesse conseguido o que queria.
"Ele anuncia com orgulho o nome de um fugitivo!" Que criatura magnificamente burra!" Pensou Recon. Dymas riu. "Você é como uma caixinha de surpresa, Sirius" Pensou Beat. A expressão de Gerlon se tornou sombria.
-Tudo bem, você pode vir. Apenas certifique-se de ficar à vista. – Gerlon deu de ombros.
-Obrigada. A propósito. Meu nome é Sypha. É um prazer conhecê-los.
Sirius a cumprimentou com um sorriso no rosto.
-Certo, agora que estamos todos amiguinhos, vamos entrar?
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