Capítulo 16 - Todos a bordo da Bichano
Sirius e Spike saíram da sala. Após a breve discussão, o clima ficou tenso entre ele e Ferecks. Mas ele conhecia o amigo o suficiente para saber que ele estava cansado. Cansado de nenhuma investida dar certo, cansado de perder companheiros de guerra, cansado de nada funcionar. Compreensível. Ele achou que Spike tinha mudado alguma coisa desde da ultima vez que se viram, mas parece que não, ele estava decepcionado com ele. Não progrediram muito. O plano não havia funcionado.
-Está certo...Nidia na resistência. – Comentou Sirius, encarando o chão
-Então você sabe sobre ela? – Spike pareceu surpreso.
-Mais ou menos. Nos conhecemos pouco antes de chegarmos em Yanilad. E quer saber? Conheço pessoas mais agradáveis.
-Snowden, Yanilad, reunião de hoje e Nidia. Parece que nossos caminhos estão destinados a se cruzar muitas vezes.
-É por isso que é irritante.
Spike o encarou seriamente.
-Me desculpe. Mas gostaria de pedir mais uma coisa a você. Eu preciso ver Gerlon. Preciso de um meio de transporte, então preciso que você me guie até um lugar onde ele provavelmente estará.
-Transporte?
-Sim. No momento, a libertação não tem alcance para tal coisa, então não temos escolha a não ser obtê-la de fora. Por exemplo A cidade-estado Marquês Dário governa. Arrokoth.
Eles dobraram a esquina.
-Entendo. Mas, eles não estavam falando sobre como Arrokoth faz parte do Império? Antes de eu entrar lá.
-Isso mesmo. É por isso que preciso de um transporte, porque sou um fugitivo.
Sirius abriu um sorriso sarcástico.
-É por isso que você não pode pegar um vôo comercial. Eu entendo agora. Isso é dar e receber!
-Dar?
-Em Yanilad. Se você não estivesse lá, eu provavelmente teria acabado em um estômago de rainha peçonhenta. Essa vai ser a minha forma de agradecer um pouco. Para o meu irmão também ... e como henryniano.
Spike o encarou e apertou a espada em suas mãos. Ele via em Sirius, o mesmo semblante de determinação e coragem. Ele sentia que agora, mesmo que um pouco, Sirius confiava nele. Ele estendeu a sua mão, Sirius o encarou por alguns segundos, mas apertou.
Eles agora estavam em uma das grandes praças da cidade. Um chafariz jorrava água no centro. A grande cúpula do laboratório astronômico brilhava com a luz do sol. Nuvens pesadas faziam sombra lá embaixo, dirigíveis pousavam e voavam a todo momento. Ao longe, enormes navios voadores podiam ser vistos nas fronteiras da cidade. Um grupo de crianças passou correndo ao redor deles e começaram a brincar de pega-a-pega. Spike parou e as encarou por algum tempo, cabisbaixo.
-Muitas crianças perderam seus pais na guerra. – Disse Sirius, parando ao seu lado. – Meu pai morreu no inicio da campanha de Thiel. E minha mãe trabalhou como enfermeira na cidade de Cela. A guerra levou os dois.
-Sinto muito. Eu não sabia.
-Está tudo bem, Já se passaram cinco anos. Quando eles se foram, Snowden, Zaya e eu passamos a morar com Mikka e a família dela. Poucos meses depois Thiel chegou na porta da capital Império. Meu irmão e o pai dela foram convocados para lutar para proteger a fortaleza de Yanilad. A mãe dela tinha uma saúde frágil.
-Sinto muito.
As crianças mudaram de brincadeiras, agora elas tinham uma bola para brincar.
- Você não tem que ficar me pedindo desculpas. Realmente, está tudo certo. Eu sei que não foi culpa sua. E eu tive algum tempo para pensar naquela carroça que Gerlon roubou no deserto. Você não matou o meu irmão. –Sirius encarou a bandeira vermelha do Imperio de Thiel estirada em um dos postes da praça. – Foi o Império. Meu irmão confiou em você. E ele estava certo. Quero que saiba que tudo o que eu tenho é Mikka e Zaya.
Spike o encarou. Lembrou-se da mesma sensação de quando viu Snowden pela primeira vez. Teve pena do rapaz a sua frente, tão jovem e já vive como um adulto. Ele pensou em todas as dificuldades que ele teve que encarar. Uma sensação amarga cresceu dentro dele, apesar dele mesmo não ter culpa de que ele o tinha matado, ele achava que sim por te-lo levado consigo. Se ele soubesse que ele destruira a família daquele chowchow, ele mesmo tinha dado a ordem de retirada para e somente Snowden.
-Sirius! Sirius! –Uma voz feminina gritava atrás deles. – Um grande problema!
-O que há de errado, Piper? Você está toda frenética.
-Mikka! Mikka! Mikka foi sequestrada!
-O que você quer dizer com sequestrada?!
-Quando ela não apareceu na loja, fui dar uma olhada na casa do Ângelo, e... havia uma carta... Se fosse pelo Gerlon!
-Gerlon ...? Por que seria endereçado a ele? – Perguntou Spike.
-Eu não sei – Respondeu Piper, assustada. – Mais cedo, eu lembro dela conversando com o senhor Angelo! Quando a passei por ela, ela estava muito preocupada!
Senhor Angelo estava muito bravo. Seu escândalo no meio do bar chamava a atenção de todos, mas nada mais lhe irritava quanto a atitude desleixada e pacata de Gerlon. Ele bateu na mesa.
-Deve haver algum tipo de mal-entendido! Ela foi sequestrada por sua causa! É sua responsabilidade, pirata do céu! A carta diz que se você não vier, a vida de Mikka sofrerá as consequências!
Gerlon pegou o bilhete que Angelo havia jogado na mesa e leu.
-Que Rafaele, sem dúvida, entendeu mal.
-Ele deve ter visto quando você deu a ela o seu lenço de mão – Disse Flora, enquanto tomava um gole de leite.
-Gerlon! – Sirius gritava na porta de entrada. Ele marchou furiosamente em direção deles. – O que você tem haver com isso?!
Gerlon entregou o bilhete para o Sirius. Estava escrito: VENHA PARA AS MINAS DE ARROKOTH.
-É Rafaele. Ele estava em Yanilad. –Lembrou Flora.
-Se algo vier a acontecer com essa doce criança... tenho os pais dela em minha memória! Você vai para ajuda-la! É o que vocês piratas do céu fazem, não é?
Gerlon e Flora trocaram olhares.
-Eu não respondo bem a ordens. Você sabe que a frota imperial está se reunindo em Arrokoth?
-Então, eu vim aqui porque queria que você fizesse um trabalho. – Anunciou Spike. – Eu preciso de um transporte para Arrokoth.
-Olha Arrokoth de novo. Vocês não ouviram uma palavra do que eu disse, não é? Ouvi dizer que a frota imperial está se acumulando. E agora esta carta, todo esse caso é deprimente.
-Então esse Rafaele levou a Mikka... – Analisou Sirius.
-Ele é um caçador de recompensas profissional. Assassinato, sequestro, roubo, tudo. E se eu não me engano, ele também lida com tráfico de pessoas. Uma jovem linda intocada teria um bom preço.
Angelo sentiu um formigamento na espinha. E por um momento, um ataque de pânico o tomou conta.
-Por esse motivo que nós iremos! Você, pelo menos, tem uma nave, não é? Só me leva lá, e eu vou achar Mikka.
-Eu irei acompanha-lo. – Disse Spike. – Afinal tenho alguns negócios lá também.
-Suponho que seja uma audiência com o marquês Dário, por acaso? –Disse Gerlon, tomando um copo de cerveja.
Vendo que Spike não seria aceito na tripulação, Sirius levou sua mão ao seu bolso e tirou o tesserato.
-Gerlon, basta nos levar e isso é seu.
-As deusas estão brincando com a nossa cara, só pode – Flora terminava seu copo de leite em um gole. Ela parecia entediada.
Gerlon se levantou, indignado. Ele estava cansado de ser arrastado de um lado para o outro por causa de Sirius. Não faziam nem vinte e quatro horas direito que se conheceram e ele já tinha chegado mais perto da morte do que em seus anos de pirataria. Flora o acompanhou.
-Estejam prontos. Saíremos em breve.
-Certo! – Sirius abriu um sorriso. Ele se virou para o senhor Angelo – Gostaria de pedir um favor para o senhor.
★★★
O aeródromo da capital Império ficava a sudoeste da cidade, do lado de fora. Colossais hangares estavam enfileirados até onde a vista podia ir. Gigantescas aeronaves, dirigíveis e navios chegavam e saindo a todo momento. O movimento de mercadorias, armas, criaturas míticas eram transportadas de um lado para o outro. O barulho mais comum era de potentes motores trabalhando sem parar. O aeródromo tinha fáceis acessos as estradas, para o transporte de passageiros, trabalhadores e carga de outras cidades do reino e dos reinos vizinhos menores. Caminhando para o hangar cinco, pela primeira vez Sirius sentia a atmosfera e o ar quente que aquelas maquinas produziam ao serem ligadas.
Aeródromo henryniano 'Kings Haven', a sudoeste da Capital Império
-Aí está ele! Canalha! – Disse uma voz fina e irritante. De repente, uma chave foi jogada em sua direção.
Flutuando numa pequena casca de ovo, uma patinha amarela apareceu na frente deles carregando um megafone. Ela parecia bem irritada.
-Pessoal, esta é a Filo, a mensageira. -É uma pequena pata recém saída do ovo. De penas amarelas e grandes olhos azuis. Usa uma tiara vermelha na cabeça. Ela veste uma camisa branca sem mangas sob um colete azul curto e manga longa coberto com detalhes em couro nos ombros e nas costas, enquanto a frente tem um jabot branco rendado coberto com uma bandana vermelha amarrada ao seu pescoço. Na parte de baixo ela usava a metade da casca do ovo em que nasceu, com runas escritas a fazendo levitar. Nas suas costas, carregava uma mochila de couro carregada de papiros e em suas mãos um megafone de bronze.
-Já era hora de você chegar! O gerente já estava pensando em nos expulsar daqui!
-Por que? O combinado era de três dias, pagamos para ficar três dias.
- O problema é o que repercutiu ontem a noite. Você nas mãos dos imperiais Thieldianos. – Uma outra voz apareceu, mais calma e doce que a de Filo. De repente, apareceram dois híbridos de raposa com gato. Suas pelagens eram de cor lilás. Ambos tinha grandes olhos lilás e se vestiam quase que parecido.
-Este é Donpa, o mecânico e esta é a Recon, a batedora. Eles são gêmeos, e é capaz de eu ter dito errado quem é quem para vocês. – Disse Gerlon.
Donpa é um hibrido de raposa com gato. Tem grandes orelhas pontudas e uma cauda volumosa. Sua pelagem e seus olhos era de cor lilás. Ele usava uma calça e uma capa marrom. Na sua cintura, um cinto de couro com uma adaga presa nela e algumas bolsas de couro. Tinha um colar de pedra azul no pescoço e um óculos e touca de aviador na cabeça. Recon é irmã gêmea de Donpa, é bem parecida com seu irmão. Suas roupas também são parecidas, as poucas diferença entre eles é que ela usa uma bandana sobre suas longas orelhas e elas ficam para fora. Ela tem uma espada presa ao seu cinto e uma mecha de cabelo caia para fora da da bandana.
-Para onde vamos, chefe? Estamos de saida? –Perguntou Donpa.
-Sim, vamos para Arrokoth. Estamos indo fazer um resgate.
-UUHUU! Isso parece bom! – Sorriu Donpa, com um sorriso maquiavélico.
-Não tanto quanto eu gostaria. Avise a todos que estamos de partida.
-JÁ ESTÃO TODOS NA NAVE TE ESPERANDO! – Gritou Filo com seu megafone.
-Ótimo, me poupa trabalho. Vamos todos, temos que partir.
Eles se dirigiram ao enorme navio de guerra estacionado a poucos metros dali. O navio tinha noventa metros de comprimento e vinte e cinco de largura. Quase trinta metros de altura. Na ponta da sua proa um grande hélice. Enormes cabines de comando tanto na proa quanto na popa do navio. Ele tinha cerca de quatro deques dentro dele no meio, um gigantesco e alto mastro com sua vela recolhida. O casco era de cor dourada com várias runas e línguas diferentes escritas nele.
-Sejam bem vindos a Bichano. O meu navio pirata.
Sirius correu de empolgação para ver mais de perto. Seria a primeira vez que voaria em um. Quando se é um ladrão da cidade-baixa, você acaba sendo excluído e proibido de se aproximar dessas aeronaves, uma vez que o aeródromo estava localizado numa área da capital Império mais rica. Aquela era a primeira vez que ele pisava no aeródromo.
-Essa nave é o suficiente para você? –Perguntou Gerlon.
Sirius sorriu de todos os jeitos possíveis. Bobo, idiota, tímido, alegre, extrovertido, pelos olhos, com suas palavras, sua cauda balançava freneticamente.
-Bichano... Você realmente é um pirata do céu!
-Bem, os gatunos parecem pensar assim. Acha que eu estava mentindo?
Donpa fechou um compartimento lateral.
-Qual é a boa notícia? Ela está pronta?
-Muito melhor que antes, chefe! Essa belezinha aqui está pronta pra detonar!
-Então, ela está armada? Quão rápida ela é? Ela poderia derrubar a Bearthorn? – Perguntou Sirius, animado.
-Lógico que está armada! Eu mesmo a melhorei! E lógico que ela é rápida! Uma das mais rápidas dos céus de Pangea! Eu mesmo a melhorei! E lógico que ela não pode derrubar a Bearthorn! Aquele demônio é mais blindado que os cascos das predadoras rochosas! Mas causaria um dano, talvez... queria tentar um dia! – Empolgou Donpa, entrando no navio.
-Eu até te mostraria... mas por que você não embarca e vem descobrir por si mesmo? – Disse Gerlon. Sirius correu em direção a porta de entrada, que se fechou logo depois que ele atravessou.
Em seu convés, havia o resto da tripulação. Um híbrido de coelho com um gato, um puma gigante, um lobo, um corvo e um lagarto.
-Filo, dê o sinal de partida para Helmer na cabine de comando. Vamos colocar essa belezinha no ar! – Anunciou Gerlon.
Filo voou até a cabine de comando e lá do convés deu para ouvir seus gritos. Em poucos segundos um ronco surgiu. O teto do hangar se abriu ao meio e a Bichano começou a levitar. Ela subiu cem metros. Duzentos metros. Quinhentos metros. Mil metros. Ela subiu seis mil metros, até estar no nível das nuvens. O céu estava limpo e o azul do céu era como um oceano em suas cabeças.
-Seal, prepare a rota para Arrokoth e passe as coordenadas para Helmer. Dynas e Folgo, o mastro é de vocês. – Disse Gerlon, seus piratas começaram a se mover.
A proa começou a se movimentar como se fosse a agulha de uma bussola.
-Donpa, alimente o evanium do maquinário. – Falou Flora, e a pequena raposa lilás correu para a popa.
Duas asas de metal se abriram nas laterais do navio. Três turbinas surgiram da popa e começaram a brilhar. Do alto falante, uma voz feminina soou:
-Tudo pronto, capitão. Curso traçado. Permissão para decolar.
Gerlon fez um sinal com as mãos. Filo gritou da cabine:
-VAAAAAAAAIIII ! PAU NA MAQUINA!
Gerlon e Flora subiram as escadas.
-Senhores, sugiro que vão para os deques ou para alguma outra cabine. Logo logo vai ficar muito frio aqui.
Spike se aproximou.
-Como chegaremos em Arrokoth?
-Ah, ela é livre pelo menos, por enquanto né. O império liberou quando anunciaram o suicídio da princesa e de sua execução precoce, eu acho.
-Se ele descobrir que eu estou vivo, o marques Dário vai cancelar seu favor e o nosso voo.
-Eu tento ficar longe de tais coisas, acredite.
O navio se preparou para partir.
-Bem na hora. Vamos voar! E nada de falar ou você irá se morder, ouviu, língua roxa?
Sirius não ouviu. Ele estava muito animado para prestar atenção em alguma coisa. Sua língua roxa balançava ao vento de seis mil metros de altura. Mas a única coisa que ele conseguia pensa, além de estar num navio pirata de verdade, era Mikka. Ele faria qualquer coisa para salva-la, e isso é uma delas. Hora de retribuir tudo o que ela já fez por ele. Cada conselho. Cada livramento de enrascada. Cada conversa que tivera. Por cada momento de sua infância. Por cada pão repartido. É hora de pagar por tudo isso. Ele iria salva-la a todo custo. Ele sobreviveu ao ataque de monstros do deserto. De ratos gigantes de esgoto. De javaporcos assassinos e a masmorras de Yanilad. Ele sentia que nada mais podia para-lo. Nem mesmo Rafaele e sua fama de crueldade infames.
As três turbinas da popa explodiram, e em alta velocidade, viajando pelas nuvens, eles partiram em direção a cidade de Arrokoth.
Tempo de voo: 13h 26m e 07s. E contando.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top