Capítulo 12 - Caçadores de recompensas



Javaporcos são os carcereiros de Yanilad. Animais grotescos, beirando a monstruosidade, tinham como função tornar a "estadia" de seus escravos a pior possível. Usando enormes porretes de ferro, madeira e mármore ( o mais cruéis utilizavam isso) era sua diversão ali.

Um lugar cheio de prisioneiros de guerra, políticos e minorias era o parque de diversões desses seres que só nasciam para a prática de torturas. Gritos, sangues, decepações e entre outras torturas era as práticas perfeitas. Híbridos como os Javaporcos eram vistos como defeituosos pelo Império Thieldiano, eles não representavam o sangue puro da castas do Javalis que habitavam as terras do império. Com a maioria tendo retardos mentais e grande força bruta, eles funcionavam como mãos de ferro dentro das inúmeras fortalezas espalhadas por todo o continente. Cada micro, pequeno e médio reino subjulgado na campanha do Império de Thiel, esses seres estavam lá.

De pele grossa e cabelos desengrenados, braços fortes como ferro e uma grande barriga avantajada, e um fedor podre, carregavam Sírius pela perna e joga-lo num ringue no meio do grande salão.

Aos poucos, Sírius voltava a consciência. A única coisa que ele se lembrava antes de apagar (de novo) era uma bunda gorda caindo sobre ele. Aquilo sim o mataria. Foi como ser acertado por uma bola de ferro nas costas.

Sua pele formigava, ele sentia que estava sendo arrastado sobre uma areia fina e quente. Sua visão aos poucos voltava ao normal. No teto, sua visão do óculo era duplicada. Enormes bolas de luz no teto clareava o afresco que davam cor ao teto.

-Ei! Para onde está me levando? Me solta!

Em poucos metros, o javaporco de pele azul o jogou contra uma grade. Sírius se levantou com a mão na cabeça e deu uma olhada ao redor: ele estava dentro de um ringue circular com cinco saídas fechadas por grades de ferro. Três metros acima, outros dois javaporcos saltaram para dentro da arena.

Com porretes na mão, lentamente começaram a caminhar em direção a Sírius. Suas bocas todas babavam enormes massas de saliva. Seus olhos arregalados e sem vida focavam nele. Sírius assustado caminhou para trás até ficar contra a parede. Ele sabia que sozinho não teria condições de enfrentar três guardas fortes. Aquele pequeno cisto de arrependimento por não ter escutado Mikka voltava a sua cabeça.

Ele sempre se perguntou pra onde iria e o que aconteciam com aqueles que eram contra o império Thiel, e agora ele sabe um pouco do terror que Mikka lhe falava das masmorras.

-Opa! Pera lá. Algo está fedendo aqui! – Disse uma voz acima deles. Os javaporcos olharam para cima. –Quer saber? Mudei de opinião. Esta até que não é uma masmorra tão ruim assim.

Do alto, Gerlon se aproximava da cerca de ferro. De cima, seu olhar era bem confiante. Sua cauda balançava de um lado para o outro. Os javaporcos se irritaram., começaram a se debater e grunir.

Gerlon deu uma olhada ao redor e não viu ninguém capaz de se intrometer naquela briga, deu um sorriso, mostrando seus dentes afiados e começou a estralar seus dedos.

-Eu disse para vocês que se quiserem feder, vão se ver comigo.

Ele saltou para dentro do ringue, fazendo os javaporcos darem alguns passos para trás. Sírius abriu um sorriso. Ele nunca ficou tão grato em ver um gatuno quanto agora.

-Você está bem, pulguento?

Sírius acenou com a cabeça. Os javaporcos grunhiram mais uma vez em direção deles. Suas respirações estavam ofegantes e olhos ferozes e violentos, sedentos por sangue.

-Vou te ensinar a lutar corretamente. E comigo é assim, só aprende a brigar na prática. –Gerlon cerrou seus olhos. Um sorriso de leve surgiu em seu rosto. Era a primeira vez em muito tempo que ele não tinha uma oportunidade de brigar.

Seu olhar malicioso encarava os seus inimigos a sua frente. Os javaporcos suavam frios, mas o que era isso? Por que tanto nervosismo? Era apenas um gato magrelo bancando o valentão vestido de pirata. O outro, apesar de ser grande em tamanho aparentava ser um chowchow desengonçado, esse não aparentava ser um perigo, não tinha porte e nem ter treinamento militar, como era normal para alguém da raça dele.

O primeiro avançou. Ele correu em direção de Gerlon com o seu porrete em mãos. O gatuno saltou para trás, tocando suas costas na parede. No ultimo segundo ele desviou para a direita. O javaporco bateu com tudo na parede de tijolos, abrindo um pequeno buraco.

O javaporco começou a babusear. Gerlon montou nele e começou a soca-lo no rosto.

Um outro avançou, com o porrete no alto. Com uma cambalhota para o lado, o gatuno se esquivou e atacou. Com uma de suas garras ele cortou o pulso do javaporco de pelagem amarelada. Sangue jorrou e o porrete caiu. Com a outra mãos, ele fechou o murro e avançou, com um ataque lateral, Gerlon se abaixou para baixo e com uma serie de socos no estomago. E para finalizar, ele acertou um upper no queixo, quebrando inúmeros dentes tortos e amarelos.

Sírius ficou boquiaberto. Ele jamais iria imaginar que um gato pudesse lutar e ter uma força daquela. Em anos de rua, ele não aprendeu nada dos golpes que Gerlon aplicou para derrubar os javaporcos.

-Aquele é seu – Disse Gerlon, o tirando do transe. –Lembre-se, é fácil. Não deixe ele te bater e bata forte. Vai nessa garotão!

O ultimo javaporco avançou. Correndo em alta velocidade, agarrou Sírius pela cintura e o jogou contra a parede. O javaporco urrou de felicidade e começou a esmurra-lo no chão.

Sírius levantou seus braços para se defender. Seus golpes eram como batidas de martelo. Mãos tão fortes que poderiam quebrar pedras. Ele não aguentaria por muito tempo, o ataque do inimigo foi muito rápido.

-Isso não é um luta de rua! Ele não vai parar até você pedir pra desistir! – Gritou Gerlon – Encontre um jeito de sair dai, agora!

O sangue de Sírius estava quente. Sua respiração ficava cada vez mais ofegante. Algo dentro de si queria se soltar. Sírius sentia algo cada vez mais selvagem dentro de si querendo se libertar. Com um movimento rápido, ele se esquivou a direita, fazendo o braço do javaporco adentrar no chão. Com um movimento, ele acertou um golpe no cotovelo, o fazendo desequilibrar e com o seu cotovelo, acertou um golpe em cheio no focinho do javaporco. Ele cambaleou para trás com seu nariz sangrando. Gerlon deu um sorriso.

Com um novo avanço, Sírius partiu para cima. Cada soco que ele acertava no seu inimigo, era como socar um muro. No meio do combate ele se perguntava se ele ainda estaria com suas mãos inteiras no final. Se ele sobrevivesse.

Ele recebeu um soco tão forte que perdeu o equilíbrio e caiu. Com pisadas de afundar no chão, Sírius rolava para trás. Ele procurava o que fazer, e antes que pudesse pedir ajuda para Gerlon, ele notou que seu companheiro estava ocupado. O javaporco que tinha acertado a cabeçada na parede havia se levantado e partido para cima.

Acima deles, vários presidiários começavam a encher a borda do ringue. Aos poucos, a plateia havia crescido para assistir a luta.

Sírius levantou rápido e partiu para cima, o sangue circulava mais rápido pelo seu corpo, ele já não sentia mais dor. Adrenalina tomava conta do seu corpo. Em um dos golpes ele segurou o potente soco do seu inimigo. Ele o puxou para sí e o arremessou por cima de seus ombros e o jogou contra a parede. Ele estava ofegante.

Gerlon derrubava pela segunda vez seu adversário, que caiu inconsciente no chão. Acima deles, os prisioneiros comemoravam uns com os outros. Aplausos e assobios ecoaram por todo o salão oval.

-Queria ter apostado. Droga! Que desperdício de briga! – Lamentou o gatuno, enquanto limpava sua blusa.

De repente, sons de correntes e maquinário surgiram vindo da direção das escadas. O grande portão de ferro se abriu e vários soldados do império surgiram. Os prisioneiros começaram a correr em várias direções, com medo dos soldados. Eles desceram as escadas e em formação, tomaram conta das escadarias. Um General de armadura cinzenta com detalhes em azul desceu e parou na bifurcação das escadas, de frente ao ringue abaixo. Ele tirou seu elmo e revelou tendo como um da raça de chacal.

Olhando para ringue, ele viu os três javaporcos apagados e feridos, mas Sírius e Gerlon não estavam lá. O general-cachal apenas esculhambou baixinho os carcereiros do lugar, com nojo.

-Nem pra isso essa porcarias servem... que nojo dessas aberrações.

Bem debaixo da vista do general, os dois presos estavam encostados na parede, longe da visão dele. O general fez um sinal negativo para a escada e dois lagartos desceram lentamente as escadas. Com passos pesados e firmes, o chão tremia.

Gerlon olhou para o alto da escada e reconheceu os dois répteis que desciam.

-Ótimo, eles não desistem, não é? É claro que não.

Rafaele chegou perto do general-chacal e o empurrou com suas mãos. Ele o tinha perdido novamente. Ele xingou todos os guardas que ali estavam. Bravo cruzou os braços.

-Você conhece eles? – Perguntou Sírius, nervoso.

-Conhecer é uma palavra muito forte, eu prefiro o termo vitima, nesse caso. E agora está parecendo um bom momento para fugir.

Sírius sentiu um movimento vindo do lado deles. Flora estava abaixada, fazendo alguns sinais com as mãos no portão. O portão começou a evaporar aos poucos, até ficar faltando uma parte dele, formando uma pequena porta. Gerlon puxou Sírius com cuidado pela parede para não ser visto.

-Através da masmorra, tem uma saída. – Anunciou Flora. – Apenas...

-Apenas, você sentiu um perigo. – Disse Gerlon.

Flora assentiu com a cabeça, preocupada. Eles atravessaram o portão sem serem visto e pararam em frente as escadas que o levavam para o mesmo nível.

-Isso significa que precisamos de armas. Precisamos procurar a todo custo as nossas. E de preferencia, sair daqui vivos sem ser vistos.

No alto das escadas, gritos começaram.

-Do que você me chamou? Duvido você falar de novo! –Gritou o general chacal para Rafaele.

-Você não ouviu? Eu apenas disse que vocês são tolos e incompetentes. Para você ter a honra de ser chamado de burro, você precisa ser mais inteligente. Se você tem o pirata do céu em suas mãos, onde está ele?

-Então você poderia ter feito melhor, Rafaele? Como você mesmo disse, o exercito imperial pegou esse pirata do céu de vocês. Logo o idiota aqui é você. Nós fizemos o trabalho para você.

Rafaele o encarou. Suas garras cresceram alguns centímetros. Ele o olhava como se escolhesse a melhor maneira de fatiar um chacal e comer. O general-chacal continuou.

-Nós não precisamos da ajuda de uns caçadores imundos como vocês. Piratas do céu, gatunos, arcanos, qual a diferença entre vocês? –E cuspiu no chão. – O império irpa restaurar a ordem por aqui.

-O que? O que é que você disse agora? Talvez eu crave a minha espada em você. Que tal se eu pegar você agora e voar dez mil metros e te jogar? E quer saber de uma coisa? Eu nunca comi um chacal na vida antes. –Rafaele estava furioso, seus dentes ficaram a mostra e suas asas abriram violentamente, criando um pequeno tornado. –Eu posso matar o Gerlon depois disso, gosto de pensar nisso como um aquecimento.

Vários soldados sacaram suas espadas. Bravo sacou suas garras de metal negro de suas luvas.

-Isso é o suficiente, Rafaele. – Anunciou uma voz vinda do portão. Eles olharam para lá. E no alto da escada, um cavaleiro de armadura cinza escuro, uma cota de malha completa com um capacete com chifres e uma longa capa preta com o símbolo do Império em vermelho, empunha duas espadas de batalha na cintura. Os guardas guardaram suas espadas. Alguns tremiam de medo.

-Ótimo, um marechal. –Disse Flora, nervosa.

-Marechal? – Perguntou Sírius.

Gerlon cerrou seus olhos.

-Os guardiões autoproclamados da lei e da ordem em Thiel. Eles são a guarda de elite pessoal do imperador de Thiel. O que meio que efetivamente os torna comandantes do exercito imperial. Se você me perguntar, eles são mais do que juízes.

Sírius encarou o marechal no alto. Ele emanava uma sensação ruim, uma sensação de terror... de morte. O ar ao redor deles parecia condensar todo o salão.

-Não são muito amigáveis, de qualquer forma. O que eles estão fazendo aqui? –Disse Gerlon.

No alto, o marechal imponente descia lentamente as escadas. Os soldados faziam contigencia. Rafaele fechou suas asas e deu fez uma careta.

-O imperador está disposto a ignorar sentenças dos seus servos mais talentosos. No entanto, aqueles que não mostrarem respeito não receberão nada. – A voz do marechal soava robótica e abafada debaixo de seu helmo. Ele continuou – Você viaja através de nossas terras, voa sobre nosso espaço aéreo, navega em nosso mar pois o imperador assim quer. Estou correto?

Rafaele cerrou seus dentes. Fechou com força seus punhos. Ele era um pirata do céu experimente, já viu de muita coisa, mas o medo, a pressão e o poder dos marechais do imperio sempre o causaram pesadelos. Seu medo não se dá somente por causa dessa liberdade que os exercito e o imperador o deram, mas por causa de que ele e sua tripulação são contratados ilegalmente pelo imperio para realizar trabalhos que os juízes não estão dispostos a fazer e, embora seus métodos sejam ilegais, antiéticos, horríveis, inimagináveis e sua crueldade ser lendária, Thiel os deixa agir livremente, agindo mais como uma parceria mutua de crueldade e mortes.

Rafaele engoliu o seco e fez uma careta para o marechal. Ele sentia que seu orgulho estava sendo pisado e amassado pelas botas de ferro dele.

O marechal olhou para o ringue abaixo e avistou os javaporcos desacordados.

-Mate-os. Essas porcarias não prestam para nada.

O general-chacal fez outra contingencia e chamou mais soldados. O marechal descia as escadas quando o seguia.

-Onde está o capitão? – Perguntou o marechal.

-Temos ele na solitária, meritíssimo. Estamos prontos para começar o nosso interrogatório.

-Mas... – Disse Rafaele.

-Isso não lhe diz respeito, caçador de recompensas. – Marechal nem se quer virou para trás.

Rafaele gritou de raiva. Suas asas abriram violentamente. Ele se virou para Bravo.

-Ele está aqui em algum lugar! Chame o resto da tripulação e o Encontre-o! AGORA! – Bravo deu meia volta e correu em direção a saída, indo chamar a tripulação.

O marechal, seguido por dez soldados, seguiu em frente até desaparecer em alguns dos corredores do outro lado do salão. Os outros seguiram devolta para de onde tinham vindo. Aos poucos o salão voltava a ficar vazio. No esconderijo do ringue, Sirius, Gerlon e Flora respiravam mais tranquilamente.

-Bem, acho que agora é hora de lembrar de seguir a raposa. – Comentou Gerlon

-É muito forte, mesmo para os meus talentos. –Disse Flora – É por isso que nós vamos leva-los para fora daqui.

Sirius a encarou. Gerlon deu uma batidinha em seu ombro.

-É como ir mais fundo nesse lugar...

-Mas porque... –Sirius abriu sua boca, mas Gerlon se virou violentamente para ele.

- O que está errado? Você não confia nela? Porque ela é uma norueguesa da floresta?

Sirius a encarou novamente, mas dessa vez com um olhar triste. Gerlon continuou.

-O faro das norueguesas da Floresta para magia são infalíveis.

-Como você sabe?

-Confia. Se ela diz que há uma saída, há uma saída. E provavelmente, algo mágico por aqui.

Flora apenas observava os dois, com olhos caídos. Ela bocejou.

Eles subiram as escadas e saíram dali, em busca da tal saída.  

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