⚜️Puzzle⚜️

Tradução: Enigma.

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Já fazia dois dias que o príncipe e a princesa de Salis retornaram ao que chamavam de lar.

Em meio a todas as lembranças — boas e ruins — Giselly focava em repassar o plano, que já estava atrasado para ser colocado em prática, porém sempre lhe ocorria de uma certa jovem de cabelos ruivos e flamejantes adentrar sem qualquer permissão em sua mente. Foi paixão a primeira vista, pouco lhe importava se estava prometida ao príncipe de Avium, seu coração insistia em bater fortemente pela moça bonita e engraçada que foi designada para ser sua serva. Três semanas foi o necessário para que todas as conversas divertidas e flertes de ambos os lados, lançados despreocupadamente, resultaram no melhor beijo que já dera em toda sua vida. A loira tinha medo de que estivesse tudo caminhando muito rápido, mas sempre que encarava aquele belo rosto, sentia que precisava daquilo, que estava viciada no beijos da ruiva e que aquilo que dançava em volta delas era algo palpável, algo muito real.

Já o príncipe remoia toda a reviravolta que sua vida deu. "Como tudo pode desmoronar dessa forma?", Ele pensava. Tudo girava em torno do que Judith, ou melhor dizendo, Agatha e sua irmã lhe contará. O loiro se sentia perdido em um mar de mentira e manipulação.

Naquela noite, eles combinaram, o plano seria colocado em prática. Porém ambos pensavam em duas convicções diferentes.

Lembra do plano, certo? — a princesa questiona.

Eu vasculho o gabinete em busca da chave para o cofre, enquanto você procura no quarto. Nós encontramos no cofre e fugimos pelos estábulos. — Vincent recita de forma tediosa — Já repassamos inúmeras vezes. Tenho uma boa memória.

Nunca é demais conferir.

Eles abriram um sorriso cúmplice. Nada os impediriam, ou pelo menos era assim que acreditavam.

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— Se as informações que lorde Tarin nos enviou estiver correta, precisamos estar preparados para qualquer coisa. — Margot comenta.

Estamos a pelo menos duas horas nessa reunião sobre quais metidas preventivas podemos tomar para o caso de alguma coisa muito ruim acontecer. Já se passou uma semana que Giselly, Vincent e Annelise deveriam ter retornado. Espiões monitoram dia e noite qualquer movimento de Valentino, ele está quieto demais, a única coisa que sabemos é que está remanejando seus homens do quartel principal para duas instalações adjacentes na cidade controlando as duas entradas da cidade. Nosso maior medo é que algum tipo de apoio de Naladod possa chegar a ele, se isso correr estamos todos condenados.

Nossas baixas foram consideráveis na tomada de Crescite e mesmo a grande quantidade de refugiados das aldeias pobres em Percus não é suficiente para elevar nosso exército. As últimas contagens revelam 150 mil homens ao lado daquele crápula, são cem homens a mais que nosso contingente.

Eu não irei me agarrar a esperança de termos portadores de magia ao nosso lado, já fiz isso uma vez e quase me custou um preço alto de mais para ser pago.

— E se levantarmos uma barreira mágica? — lady Melisandre levanta a hipótese.

— Terá de ser um feitiço muito mais poderoso que aquele, ele sabe como desativar a barreira. — digo sendo nocauteada pelo gosto amargo da lembrança da forma que ele matou May — Aconselho que dobrem as vigias e os feitiços de proteção em Percus.

— Podemos tentar desestabilizá-lo. — Octávio diz com a cabeça deitada em meu colo. Adotamos o sofá, já que estava sendo um pouco desconfortável sentar naquelas cadeiras da mesa de reunião.

— Como, exatamente? — Tesla pergunta.

— Salis é um reino rico pelo mineiro e o garimpo, mas tem um péssimo solo para plantar. Eles dependem de comprar comida de outros lugares para sobreviver. — o moreno explica e todos se interessam — Vamos fechar as rotas comerciais, Crescite é a única entrada por mar que se pode navegar, será fácil para interceptar qualquer ajuda externa deles. Só nos restaria esperar até que ele decida guerrear ou que morra de fome.

— Faremos o povo sofrer por culpa de seu governante. — lady Melisandre diz piedosa.

— Consequências da guerra, é inevitável. — lorde Lírio argumenta.

— Mas mesmo que façamos isso. Meu irmão não é burro ao ponto de escolher morrer de fome à lutar logo no início quando tem mais vantagem de uma vitória. — príncipe Saul coloca nosso maior empecilho a tona — Ainda estaremos em desvantagem.

— Precisamos daquelas malditas coroas. — digo com um mal humor crescente — Não importa qual seja os planos que façamos, sempre vamos parar no fato que estamos em desvantagem e que aquelas malditas coroas são nossa única chance de sobrevivência.

Eu estou tão cansada.

Estou assustada e temerosa pelo atraso de Annelise, Giselly e Vincent. Irritada por ter quarto velhos insistentes com essa história de conselho. Com medo de falhar e mandar tudo por água a baixo. Fora o fato que não consigo dormir direito, sempre sendo atormentada por aquela maldita sequência de números.

07052020. Destrua as coroas. Acabe com elas.

As vozes do meu pai e de Crescite, rodopiam em meus ouvidos a cada instante que deito minha cabeça no travesseiro. Não me deixam dormir. Eu não faço ideia do que significam e o que os números que meu pai me disse antes de morrer tem haver com as coroas e o por que de Crescite repeti-los, já tentei de todas as formas fazerem com que essas vozes se calem e me deixem em paz, mas nada adianta. Todos as noites busco a satisfação do prazer e dos beijos de Octávio, na tentativa de estar tão cansada ao ponto de fechar os olhos e apagar, mas de nada adianta. Tudo o que resta é a agonia da falta de sono e um Octávio preocupado pelo meu abatimento.

"— Gatinha, você está meio abatida. — ele diz preocupado, após terminamos mais um de nossos banhos em conjunto — O que está acontecendo?

Nada. Eu estou bem.

Agatha, por favor. Me diz o que aconteceu. — ele me olha com súplica — Me diz o que está acontecendo.

Não estou conseguindo dormir direito, estou preocupada. Nada demais.

Tem algo que eu possa fazer para ajudar? — ele pergunta meio desconfiado de minha desculpa esfarrapada.

Só preciso que cale a boca, me beije... — o puxo para bem próximo, mordendo o lóbulo de sua orelha — E que se enterre dentro de mim."

Com rispidez me levanto da minha cadeira, rumando para fora do escritório. Não me importa mais está reunião, a guerra, eu estou farta de me manter nesse lugar. Farta de pensar tanto e sempre para no mesmo empecilho.

Preciso destruir essas coroas em menos de dois meses e derrotar Valentino antes disso.

Como princesa herdeira, a administração do reino foi colocada em minha direção. Octavio anda ajudando pelo menos com a parte do palácio. Servos foram contratados aos montes para manter esse lugar em ordem. Não importa quantos corredores eu passe, sempre tem alguém se curvando para mim e dizendo: majestade. Eu vejo a esperança que alimentam com minha imagem. Eles esperam que eu traga de volta a essas terras a vida que tinham antes da desgraça de Valentino, principalmente depois que a notícia que sou descendente direta da deusa, todos se tornam mais esperançosos e em maior expectativa.

Meu quarto se tornou meu refúgio. Um lugar para esquecer de todas as merdas que preciso encarar.

— Oi. — Octávio coloca a cabeça por uma fresta da porta. Com breves tapinhas, o chamo para que se deite ao meu lado — Quer conversar?

Nego silenciosamente e ele aceita de bom grado apenas se deitando ao meu lado, tomando cuidado para não amassar nenhumas das cartas e bilhetes da minha mãe, que espalhei para ler no intuito de distrair a mente.

— Nulla septem Nulla quinque, vigente duo milia. _ o moreno diz pegando uma carta em mãos.

07052020

— O que?

— Está escrito no rodapé da carta. — ele diz confuso com meu espanto — Sua cara está me assustando, diga de uma vez.

— Antes do meu pai morrer ele me deu a senha de um cofre. 07052020. Quando estive apagada, sonhei com Crescite falando das coroas e escutei uma voz sussurrar a mesma coisa.

— O que isso tem haver com essa carta?

Com rapidez retiro o pedaço de papel amarelado de suas mãos, encarando o conteúdo.

"Querido irmão.

Cheguei em segurança. Tudo é tão diferente e impressionante aqui, mas sinto falta do nosso reino. Sinto falta de gargalhar em família, sinto falta de implicar com minha cunhada, sinto falta de tudo.
Não suporto o fato que minha magia e minha essência tem de ser escondida por um lunático com ânsia pelo poder.
Peço que tome cuidado, mesmo não tendo poderes, temo por sua vida, da minha cunhada e de James. Se cuidem, é tudo que te peço.

De todo coração
Seu irmão e amigo, Jonathan.

Ps: Se algum dia precisar de ajuda, o enigma saberá me encontrar. Nulla septem nulla quinque, vigente duo milia."

— Essa carta não era para minha mãe. — digo tentando juntar as peças em minha cabeça — É para meu pai, o que aparenta é que ele tem um irmão portador de magia que pode ser um grande aliado, por isso as vozes no sonho de Crescite.

Octávio me encara em puro choque e eu não fico muito atrás. A verdadeira história genealógicas dos reinos estão todas erradas, todas escondem alguma coisa. Não importa qual momento sempre terá uma coisa oculta a ser revelada.

— Precisamos ir a biblioteca.

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A biblioteca é um ambiente lindo e suntuoso. Na entrada uma pela placa feita de mármore branco nomeava o local como "cofre dos conhecimentos". Inúmeras estantes enumeradas de um a quinhentos, divididas em dois andares. No teto pinturas de seres angelicais — fazendo referência aos lendários vangolis, seres mitológicos de um poder inimaginável e letal — brilham com a iluminação de grandes lustres de cristais.

Eu e Octávio entramos afobados no local, assustando um pobre senhor corcunda que escrevia algo em seu pergaminho.

— Majestade. — ele me cumprimenta com uma lenta reverência — No que posso ser útil?

— Preciso que me diga quem é Jonathan.

Por um minuto o senhor apenas alterna seu olhar entre a carta em minha mão e meu rosto, surpreso demais para ter alguma reação. Olho para seu rosto enrugado impaciente e em seguida para o crachá preso em sua túnica.

Oberin. O escriba que escreveu aqueles relatos sobre meus pais no grande livro de genealogias.

— Traga a minha caixa com as cartas. — digo a Octávio, que atende meu pedido de imediato — Agilize, Oberin. Preciso que me diga quem é Jonathan com o máximo de detalhes ainda nesse século.

— Um de seus tios.

— Como?

— O rei Luuka, seu avô, teve três filhos. — ele começa hesitante — Príncipe Justino, príncipe Jonathan e príncipe James. De todos apenas Jonathan nasceu com o poder ninfoide, ele dominava o ar. O rei Justino por ser o primogênito iria herdar o trono e o mais novo não se interessava pela vida palaciana.

"Com a perseguição aos portadores de magia, o príncipe Jonathan fugiu por ordem do rei Justino, coroado a pouco tempo. James abandonou seu título de nobreza, indo viver sua vida com um novo nome, Adriaan Redder."

Meu pai adotivo. Meu pai adotivo é na verdade meu tio?

— Por que James abandonou o título? — pergunto em um fio de voz.

— Ele alegava não ser digno de seu título por ser o fruto de uma escapada do rei com uma prostituta. Ele acabou se tornando grande amigo do herdeiro de Salis, que nunca fez ideia de sua real identidade.

— Para onde Jonathan foi? — mudo o rumo do assunto. Não posso me distrair nesse momento.

— Apenas o rei Justino e o príncipe James sabiam, majestade.

Octávio entra rapidamente, para meu alívio. Deixo o escriba para trás arrastando o moreno para uma mesa de mapas.

— Ele era meu tio. — é tudo que digo sem expressão.

— Jonathan? Já tínhamos ideia disso.

— Meu pai, que me criou, também é meu tio. — ele me olha no mais puro choque — Ele escondeu isso de mim. Eu pedi que ele me contasse toda verdade e ele ainda assim mentiu para mim.

— Ele teve seus motivos, meu amor. — ele tenta contornar minha inquietação — Vamos nos concentrar em desvendar esse enigma, tudo bem? Não se martiriza por algo que ele escolheu guardar para si.

Ele tem razão. Não posso me dar ao luxo de me distrair com tal coisa, mesmo que a raiva comece a borbulhar, preciso desvendar isso e organizar uma guerra.

— Acha que é algum tipo de coordenada marítima? — Octávio pergunta vendo eu me acalmar um pouco.

— Não faço ideia. Mas pelo conteúdo do recado, talvez possa ter relação.

Começamos a calcular rotas que pudessem apontar tais coordenadas, mas nada faz sentido. Deorum é um continente muito afastado dos outros, sem nenhum tipo de ilha ou arquipélagos próximos. Naladod é a terra estrangeira mais próxima que temos, levando a ser o único contato externo entre nossas terras e o resto do mundo.

Passamos ao menos duas horas tentando achar algo de útil para entender para onde meu tal tio Jonathan foi, mas não há nada.

— Não te deram mais nenhuma pista? — Octávio pergunta debruçado em uma pilha de papéis amassados.

— Ele só me deu a sequência de números, falou do nosso sótão, disse que minha mãe saberia do que se tratava e me pediu para fugir. — digo entediada.

— Nada mais? Não tinha nada naquele sótão que pudesse se referir a isso?

— Estava escuro, não dava para ver muito. Além que tinha várias coisas entulhadas, acho que vi até um quadro com três rapazes, mas não tenho certeza de nada. — a tensão começa a se formar em meu corpo — Tem alguma coisa que estou deixando passar. Tem que ter.

— Ele amava enigmas, certo? — ele pergunta tentando aliviar a tensão.

— Sim, acho que é de família. — abro um pequeno sorriso com a lembrança que vem a minha mente — Nós jogávamos todos os sábados à noite. Eu, Mirela e Hendrik contra Luuk, papai e May. Era um caos, mamãe sempre nos repreendia pelo barulho absurdo as altas horas da madrugada. Papai levantava, dava um beijo em sua testa, a puxava para se sentar entre suas pernas e ficamos todos lá. Não importava o tipo de enigma, o time dele sempre vencia. Sempre.

— Você tem memórias muito bonitas com sua família.

— Pelo menos isso eu posso dizer que tive. — de repente me ocorre algo curioso — Você nunca me contou sobre sua família. Ande, me conte.

— Não tem nada demais.

— Ainda quero saber. — puxo minha cadeira para mais próximo dele, o incentivando a contar — Sou toda ouvidos. Você sabe que eu adoro histórias. — ele dá um riso anasalado pelo meu interesse.

— A única memória bonita que tenho é a de quando eu tinha dez anos, Tesla tinha treze e acabará de aprender a controlar sua magia muito bem. Ela costumava me levar para o alto das colinas para fazer piquenique e às vezes ela conjurava suas asas, me agarrar nos braços e saíamos voando por toda a base. Era incrível.

"Depois que minha mãe morreu e Percus foi dizimada, eu praticamente fui criado pelas servas. Meu pai sempre vivia ocupado tentando manter a base segura, o único tempo que passamos juntos era nas refeições, por isso não somos tão ligados.

E com o tempo eu e Tesla nos distanciamos também. Ela tinha suas responsabilidades como herdeira e eu precisava me ocupar com coisas de príncipe, então acabei ficando meio solitário, mas aprendi a conviver comigo mesmo e não reclamar."

Meu coração se aperta a ouvir isso vindo dele. Eu não poderia imaginar que por trás desse homem divertido e risonho, existiu um garoto solitário.

— Deve ter sido bem solitário. — digo com pesar — Sinto muito.

— Não sinta. Se eu não tivesse levado essa vida que levei, eu não teria saído naquela noite em que te conheci e não me apaixonaria por você. — ele diz com um sorriso singelo.

Selo em seus lábios e ele sorri, logo iniciando um beijo doce e suas mãos entrelaçadas as minhas. Eu tive uma péssima vida, mas uma boa família, já ele não pode vivenciar momentos que vivi. Sempre sendo colocado a sombra, em segundo plano. Não posso imaginar o tamanho do estrago de viver essa solidão por tanto tempo possa ter feito em seu coração, mas irei me esforçar para tentar preencher, da mesma forma que ele me preenche.

— Quer que eu acerte um desses livros na cabeça do meu sogro? — sussurro para ele, que solta uma gargalhada alta.

— Esses livros guardam segredos precisos, não vamos destruir o patrimônio literário da biblioteca. — nós rimos alto, até ele olhar para mim de forma seria — Livros! É isso!

— O que?

— Você disse que a sequência numérica que seu pai te deu antes de morrer abria um cofre com livros. Essa biblioteca é nomeada de "cofre dos conhecimentos". 070520202. A senha para desvendar o enigma está nos sétimo, quinto e vigésimo livro da prateleira número vinte.

Puta merda.

— Você é um gênio! — digo empolgada, estralando um beijo em seus lábios.

Saímos em disparada entre a prateleiras procurando a correta e pegando os livros necessários. Três livros com capas desgastadas e um aspecto muito antigo, mas assim que abrimos, se transformavam em caixas, cada um com um pedaço de um mapa.

Juntando as peças forma um pequeno mapa de Deorum com uma marcação feita em tinta vermelha sobre as cordilheiras Ented e a frase:

Nulla septem nulla quinque, vingente duo malia.

Em um pedaço de papel escrevo as partes em destaque, encontrando as palavras: Nuptllaq e Vingoli.

— O que significa? — Octávio parece perdido.

— Nuptllaq é um lendários reino que pertenceu a seres angelicais a vários séculos. Os vingolis eram criaturas de orelhas ponteagudas e asas angelicais, os seres mais poderosos da terra, abaixo somente dos deuses, donos de um poder inominável e letal. Seu exército contava com mais de duzentos mil soldados altamente treinados. Eram o exército dos deuses. — recito a antiga lenda que escutei a muito tempo em minha noites da taverna de Margot.

— Pensei que esse seres fossem invenção do povo. — o moreno diz embasbacados.

— Eles existiram, mas todos sempre pensaram que tivessem voltado com os deuses para seu mundo após a guerra contra os demônios. Precisamos tentar entrar em contado, se meu tio foi mesmo para lá, temos a chance de vencer. Precisamos partir ainda hoje. — antes que eu pudesse sair em disparada, Octávio me segura, me fazendo olhar para ele.

— Você não pode se ausentar. É a princesa desse reino e a principal comandante para a guerra. — ele diz com um olhar que transmite seriedade e tristeza por cortar meu barato — Precisa ficar para proteger tudo. Terá que enviar outra pessoa.

— Não confio em ninguém que não seja eu mesma. — replico — Você é o que tem minha maior confiança.

— Então eu vou.

— O que? Não! Sem chance.

— Gatinha, é a nossa aposta. — ele diz encurtando o espaço entre nós e me abraçando — Se tivermos seu tio com o exército de vingolis, estamos com a guerra ganha.

— É perigoso.

— Pensei que eu era o super preocupado aqui. — ele diz me arrancando um sorriso — Vai dar tudo certo, estarei de volta antes mesmo que perceba.

— Ao menos use uma armadura dessa vez. Vou matá-lo eu mesma se recusar uma de novo.

— Tudo que você quiser, minha rainha. — ele beija minha testa com um sorriso zombeteiro no rosto.

Passos rápidos nos chama atenção. Uma serva entra em passos rápidos, prestando uma reverência carregada de tensão.

— Majestade. Perdoe atrapalhar, mas é algo urgente.

— O que houve?

— Annelise, a princesa Giselly e o príncipe Vincent retornaram.

— Onde eles está? — pergunto sentindo a euforia tomar conta do meu corpo, mas murcha rapidamente ao ver a expressão entristecida da moça — O que aconteceu?

— O príncipe e Annelise estão em estado crítico na ala hospitalar do palácio, e...

Sem esperar que ela termine, corro o mais rápido que posso para a ala hospitalar com Octávio logo atrás.

Precisam estar bem.

Precisam estar bem.

Precisam estar bem.

Meu peito se aperta, o coração bate tão rápido que sinto que ficarem sem ele em poucos minutos. Suja, descabelada e aos prantos encontro Giselly sentada em um canto da grande sala agarrada a uma bolsa de couro. Curandeiros tentam examiná-la, mas ela desvia do toque de todos cada vez mais desesperada e histérica.

— Agatha! — ela vem até mim aos tropeços e soluços apertando a bolsa contra o peito — Ele... Meu irmão... Aquelas bruxas... Tentaram... Fogo... Annelise... Ela...

— Calma. Está segura agora. — aperto seu corpo trêmulo contra o meu na tentativa de acalma-la — Respire.

Ela continua a repetir palavras sem sentido, até que uma feiticeira aproveita e se aproxima, lançando um feitiço que a faz adormecer.

— Como eles chegaram aqui? Como Vincent e Annelise estão?

— Calma, majestade. — ela tenta me tranquilizar, mas só resultou em um olhar pronto para matá-la — Foram encontrados dois quilômetros da entrada da cidade. Annelise está fora de perigo, apenas debilitada pela exaustão, alguns cortes pequenos e desidratação. O príncipe está em um estado mais grave, está com uma inflamação em uma queimadura na coxa esquerda e apresenta sinais de espancamento com inúmeras lesões sérias. Vamos dar o nosso melhor para que ele fique bem.

— Quanto a Giselly?

— Alguns machucados leves, nada grave fisicamente. Ela apenas está em um estado de choque e pânico, aquele feitiço vai fazer com que ela acorde mais calma. — a feiticeira vai até o peito onde colocaram minha amiga, trazendo consigo a bolsa de couro — Ela ficava repetindo a cada minuto, que deveria entrar isso a senhorita e que não podia falhar.

Devagar abro a bolsa e quase perco o ar ao ver o conteúdo. As coroas de Avium, Crescite e Percus. Eles conseguiram. Pegaram três das quatro coroas. Olho para Octávio que alterna o olhar entre meu rosto e a sacola, sem que precise ser trocada uma palavra nossos olhos transmitem o mesmo pensamento. Ele precisa partir.

— Me prometa que tomara cuidado. — é tudo que digo, sentindo meus olhos queimarem.

— Prometo. — ele entrelaça nossos dedos, sua mão cobrindo a minha — Estarei de volta antes mesmo que sinta minha falta.

— Estou com medo. — sussurro para que só ele escute.

— Eu sei, meu amor. Mas estarei sempre com você, aqui. — ele aponta para meu coração, bem abaixo do colar que ele me presenteou — Te apoiando e te amando tanto como todos que você ama.

Sua declaração me conforta um pouco, apenas para que eu veja ele sair da ala hospitalar, para então deixar que as lágrimas que tanto segurei corram livres.

Por que eu?

Por que esse fardo pesado e aterrorizante tem de cair sobre mim?

"Você não sabe agora, mas quando mais precisar celestiais estarão ao seu lado. Por que você sempre será o poder na terra."

Entre as lágrimas silenciosas, me lembro do que Lola disse no meu aniversário de quinze anos e rogo aos deuses para que estejam ao meu lado pelo menos uma única vez.

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